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O presente trabalho propôs avaliar o desempenho e o comportamento da atividade elétrica de músculos respiratórios e periféricos durante a execução do ISWT e do Teste

Glittre- AVD, em indivíduos asmáticos e não- asmáticos. No ISWT nossos resultados

demonstraram, nos asmáticos, uma ativação elétrica crescente e coordenada dos músculos ECOM, ESC, RA e RF ao longo do teste, semelhante ao GC, com um aumento principalmente entre o período basal e o pico do exercício, e retornando aos níveis próximos do basal após a recuperação. No Glittre- AVD o GA apresentou uma ativação semelhante ao GC para os músculos ESC e DM. Entretanto, os músculos RA e RF, nos asmáticos exibiram uma menor ativação durante a realização do teste. Mesmo com o nível de ativação muscular semelhante aos não-asmáticos, o grupo asma exibiu um menor desempenho em ambos os testes, porém sem diferença na CI e na sintomatologia de dispneia e fadiga em MMII.

Um aumento expressivo da atividade elétrica do ECOM no ISWT para o GC ocorreu no pico do exercício ou 100% do teste, ao comparar com o GA. O ESC manteve- se o comportamento da ativação semelhante entre os grupos, com um aumento para GC também no pico do exercício, porém sem diferença significativa. Isso pode ter ocorrido devido ao aumento do trabalho respiratório, imposto pelo teste, visto que há um aumento da demanda ventilatória à medida que a velocidade de caminhada aumenta.

Ao contrário dos nosso achados, Duiverman et al. (2009) observaram que nos sujeitos com DPOC, a atividade elétrica dos músculos intercostais e ESC aumentaram significativamente nos estágios iniciais do exercício, durante um teste incremental máximo no cicloergômetro, quando comparados aos saudáveis. Além disso, eles associaram a atividade elétrica desses músculos respiratórios com o aumento da sensação de dispneia, o que não foi observado no nosso estudo. As características da população estudada apresentaram uma maior idade, 60 anos em média, e níveis de obstrução brônquica com VEF1: 32%pred, diferentemente do nosso estudo onde a população asmática

era mais jovem (35 anos em média) e com melhores valores de (VEF1: 78%pred) o que

sugere que as alterações na mecânica ventilatória causadas pela limitação do fluxo aéreo ainda não foram instaladas

Para o RA e RF no ISWT, o GA apresentou um comportamento de ativação semelhante ao GC, mas com maiores diferenças no RF, em que o GA exibiu uma maior ativação, entretanto não significativa. O músculo RF foi escolhido para avaliação pelo

seu fácil acesso e ativação durante a locomoção. O nível da amplitude é a atividade do sinal e esta modifica - se com a quantidade de atividade elétrica detectada, fornecendo informações sobre a sua intensidade (AMORIM; MARSON, 2012). Aparentemente, os sujeitos asmáticos necessitam um maior recrutamento de unidades motoras para a ação desse músculo durante a caminhada, entretanto eles executaram o teste a níveis mais baixos, com menor distância percorrida. Devido o ISWT ser considerado um teste cadenciado externamente (externally-paced) em que um estímulo externo impõe ao sujeito aumentar a velocidade, esses achados poderiam explicar a maior amplitude de ativação nesse músculo, indicando um aumento da frequência de disparo, a qual tem fortes indícios uma fadiga na unidade motora.

Apesar da semelhança de ativação eletromiográfica nos músculos avaliados e ausência de sinais de fadiga no sinal elétrico, os asmáticos apresentaram valores de distância percorrida menores do preditos quando comparados ao não-asmáticos (71% vs 91%, respectivamente). Esse resultado corrobora com Ramos et al. (2015) onde concluíram que os asmáticos apresentaram maiores limitações na capacidade funcional avaliada pelo ISWT, exibindo valores até 25% menores em distância percorrida quando comparáveis aos saudáveis (p<0,05).

O ISWT mostrou-se seguro, exigiu poucos equipamentos e foi bem tolerado pelos asmáticos na avaliação da capacidade funcional. Além disso, nossos resultados mostram que o ISWT foi capaz de diferenciar os indivíduos doentes dos saudáveis, através da análise da curva ROC. Isso torna-se relevante na abordagem terapêutica desse público nos programas de reabilitação, devido a boa sensibilidade em avaliar as mudanças após protocolos. Miyamoto et al. (2014) avaliaram tanto asmáticos quanto DPOC, após um protocolo de intervenção, e observaram aumento da distância percorrida dos asmáticos no ISWT (168±109m vs 222±139m; p= 0,006).

Alguns estudos tem utilizado o teste Glittre-AVD como ferramenta de avaliação da capacidade funcional de pacientes com doença pulmonar e cardíaca crônica (Skumlien et al. 2006; Correa et al., 2011; Valadares et al., 2011). Até o presente momento não existe relatos sobre a aplicação desse instrumento na população com asma, o que torna o presente estudo pioneiro na avaliação desse público com um teste capaz de simular as atividades cotidianas.

No teste Glittre-AVD, a atividade elétrica dos músculos ESC e DM comportaram- se de forma similar entre os grupos e sem diferença nos sintomas de dispneia. Na análise do RA e RF foi observado uma menor ativação do GA, bem como ausência de sinais de

fadiga no sinal elétrico, para ambos os músculos, e ausência de sintomas de fadiga em MMII. Por possuir características auto-cadenciado (self-paced), em que o próprio participante impõe sua velocidade de execução, os asmáticos possivelmente caminharam na zona de conforto evitando altas velocidades a fim de reduzir a sensação de dispneia e fadiga em MMII. Essa estratégia de comportamento já foi observado anteriormente em pacientes com DPOC (KARLOH et al., 2015). Da mesma forma que o ISWT, os asmáticos obtiveram baixo desempenho no teste Glittre-AVD, onde finalizaram as 5 voltas em torno de 1 minuto a mais. Isso sugere que nas atividades cotidianas que envolvam além da caminhada, atividades de MMSS, essa estratégia é utilizada a fim de evitar os sintomas limitantes.

Diferentemente da nossa hipótese, não houve aumento da atividade muscular avaliado através do EMGs nos músculos respiratórios: inspiratórios e expiratórios, sem modificação na capacidade inspiratória e sem hiperinsuflação. Outros autores identidficaram a hiperinsuflação dinâmica durante teste Glittre-AVD em pacientes com DPOC (SANTOS et al., 2016). Entretanto, no presente estudo, avaliamos a hiperinsuflação dinâmica através da CI em um subgrupo de pacientes e não houve modificação ao final do teste. Diferentemente dos DPOCs avaliados no estudo de Santos et al. (2016), os nossos asmáticos possuem uma menor limitação ao fluxo aéreo expiratório. Sugerimos uma análise na população asmática mais grave para confirmar esses achados.

Como potenciais limitações, podemos citar o baixo número da amostra estudada e a ausência da avaliação do nível de aptidão física dos participantes que poderia influenciar no desempenho dos testes.

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