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Discussão e Conclusões Finais No presente trabalho procurou-se apresentar os aspectos mais relevantes relacionados

com a regulamentação da gestão integrada de resíduos industriais, quer no estado de São Paulo quer em Portugal, identificando-se, para além das leis básicas referidas, uma variada e extensa legislação específica. Assim, fica claro que não é por insuficiência de dispositivos legais e regulamentares que o problema da gestão dos resíduos industriais não parece ter solução.

A forma como são geridos os resíduos pode ter um papel fundamental no desempenho ambiental de um estado como São Paulo ou um país como Portugal, e ser uma ferramenta central para o desenvolvimento sustentável, quer por via de um melhor aproveitamento dos recursos quer pela redução dos impactos das soluções que são implementadas.

A indústria brasileira e a portuguesa pode-se tornar mais competitiva, com o foco na sustentabilidade, já que os resíduos sólidos têm valor econômico. Tendo em conta que quando não for possível evitar a geração de um resíduo, este deve ser transformado em recurso, considerando-o como matéria-prima ou energia.

Embora a nova PNRS do Brasil e o RGGR de Portugal tenham muitos pontos em comum, possuem também diferenças que refletem as particularidades do sistema de gestão de resíduos dos dois países (ver Tabela 34).

Não obstante o RGGR (2006) ter sido publicado antes da PNRS (2010), convém salientar o fato de a PERS do estado de São Paulo ter sido instituída em 2006, e ter no seu conteúdo muitas semelhanças com a PNRS, nomeadamente em relação aos seus princípios, objetivos e instrumentos, uma vez que a PNRS foi inspirada e baseada na PERS do estado de São Paulo.

As exigências da legislação comunitária, aliadas à disponibilidade de verbas importan- tes comparticipadas pela União Européia, no âmbito de sucessivos quadros comunitários de apoio, permitiram um progresso considerável de Portugal no domínio da política de gestão dos resíduos industriais. Nomeadamente, foram encerrados inúmeros lixões (em Portugal os lixões foram erradicados em 2002, de um total de 341 em 1996, (MAOTE, 2007)) e, em sua substituição, construídos aterros sanitários. Foram, também, limitadas

as disposições incontroladas de resíduos, pondo-se assim um freio à acumulação do pas- sivo ambiental. Observou-se, ao mesmo tempo, um aumento das taxas de reciclagem e foram-se generalizando as várias modalidades de valorização dos materiais usados, ainda que os resultados estejam abaixo das metas anunciadas ou dos índices já alcançados em outros Estados-membros da União Européia (CNADS, 2011).

Contudo, constata-se da parte de Portugal alguma passividade no acompanhamento da elaboração da legislação comunitária e sua transposição para o ordenamento jurídico nacional. Daí resulta, acima de tudo, a insuficiente audição prévia das partes com pre- juízo efetivo da participação e, em alguns casos, a inadequação das soluções adotadas, às especificidades da situação interna (CNADS, 2011).

Atualmente, a principal preocupação em Portugal passa por maximizar a valorização de resíduos, minimizando a eliminação de resíduos por disposição em aterro, em especial através do desvio de resíduos biodegradáveis da disposição em aterro para equipamentos de valorização orgânica.

Por outro lado, apesar de a PNRS ser um novo marco político e histórico para o Brasil (uma vez que levou mais de 21 anos sendo debatida no Congresso Nacional, considerando apenas o período de tramitação), de se encontrar numa etapa de muita responsabilidade, mas ao mesmo tempo um desafio muito importante para toda a sociedade em ter um ambiente sustentável, ela será possível de ser aplicada em sua essência, superando os desafios. Porém, a PNRS tem como um dos objetivos a erradicação dos lixões até agosto de 2014, que se considera, infelizmente, uma meta praticamente impossível de ser atingida. Apesar de terem sido instituídos a nova PNRS e o novo RGGR, e de ter sido padro- nizada a informação relativa a cada tipo de resíduo produzido, – o que virá facilitar e padronizar toda a informação a ser compilada e analisada –, deverá haver, simultanea- mente, uma série de esforços para que estas políticas sejam efetivamente implementadas, nomeadamente:

1. Resolução urgente do ainda significativo passivo ambiental acumulado, resultante da persistente disposição não controlada de resíduos, apesar da evolução positiva recentemente registrada;

2. Maior conscientização e sensibilização de todos os intervenientes na gestão de resí- duos para uma conduta responsável, incluindo estimular a profunda mudança cul- tural das empresas com condutas que as caraterizam como negligentes e cautelosas, os padrões comportamentais das sociedades civis brasileira e portuguesa face aos resíduos e ao consumo mais sustentável, não esquecendo os governos e também a comunicação social;

3. Aperfeiçoar os instrumentos de fomento e incentivo para uma conduta responsável, por parte das empresas;

4. Incentivar o fortalecimento do gerenciamento de resíduos sólidos nas indústrias; 5. Tornar mais eficaz a fiscalização e a respetiva penalização, por parte das autori-

dades competentes (CETESB juntamente com os municípios no caso do estado de São Paulo; Autoridades Regionais dos Resíduos, a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, os municípios e as autori- dades policiais no caso de Portugal), para contrariar o alto índice de sonegação nas informações sobre a gestão e a produção de resíduos industriais, e o alto índice de irregularidades ambientais encontradas.

Impõe-se destacar que a sociedade como um todo corre contra o tempo, sendo ne- cessário acelerar a definição e a implementação de soluções competentes na direção do desenvolvimento sustentável.

Em conclusão, deve-se ressaltar a importância da implementação da PNRS e do RGGR para a obtenção de resultados efetivos e duradouros para um ambiente sadio e corres- pondentes reflexos na saúde pública. Mas para estas obrigações legais surtirem efeito é necessária a efetiva participação do setor público, do setor privado, e da sociedade como um todo.

Referências