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3.1.4 Sistemas de Classificação de Resíduos

A PNRS prevê várias classificações para os resíduos, com base nos seguintes critérios já presentes e consolidados no contexto brasileiro:

∙ Quanto à destinação – separa os resíduos, basicamente, em recicláveis e não recicláveis;

∙ Quanto à origem – o legislador levou em consideração a natureza da atividade que ocasionou a geração de resíduos, estabelecendo a denominação e as categorias dos resíduos sólidos conforme tais atividades. O presente estudo foca unicamente um destes tipos de resíduos, os resíduos industriais. A PNRS estabelece que os resíduos gerados nos processos produtivos e instalações industriais são classificados como resíduos industriais, independentemente de suas caraterísticas (Art. 13.o, I, f)). Já

dispõe sobre o inventário nacional de resíduos sólidos industriais, a definição é mais abrangente:

resíduos que resultem de atividades industriais e que se encon- trem nos estados sólido, semissólido, gasoso – quando contido, e líquido –, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgoto ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água e aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição.

De forma simplificada, é apresentado na Figura 4 um esquema de classificação dos resíduos sólidos quanto à origem, tendo por base a PNRS (Art. 13.o, I);

Figura 4 – Esquema de classificação dos resíduos sólidos segundo a fonte geradora Fonte: Schalch (2012)

∙ Quanto à logística – há os Resíduos de Fonte de Geração Fixa (RFGF) e os Resíduos de Fonte de Geração Difusa (RFGD);

∙ Quanto ao grau de periculosidade – os resíduos são classificados como:

a) Resíduos perigosos: são resíduos inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos, pato- gênicos, cancerígenos, teratógenos e mutagênicos, que apresentam significativo

risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com Lei, regula- mento ou norma técnica. Já o Decreto n.o 7.404/2010, que regulamenta a

PNRS, procura conceituar os geradores e os operadores de resíduos perigosos; b) Resíduos não perigosos: aqueles não enquadrados como resíduos perigosos. A classificação dos resíduos é feita a partir da Norma Brasileira ABNT NBR 10004:2004 – Resíduos Sólidos – Classificação, juntamente com a Lei 12.305/2010 que a complemen- tou (nomeadamente adicionou três caraterísticas de periculosidade: carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade).

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), único órgão brasileiro com sta- tus de Fórum Nacional de Normalização, elaborou em 1987 a primeira versão da Norma para a classificação dos resíduos sólidos: a NBR 10004 – Resíduos Sólidos – Classificação. Esta Norma foi criada com base no Regulamento Técnico Federal Norte-Americano, de- nominado Code of Federal Regulation (CFR) – Title 40 – Protection of environmental – Part 260-265 – Hazardous waste management (ABNT, 2004).

O objetivo principal descrito nesta Norma é classificar os resíduos sólidos quanto à periculosidade, considerando os riscos potenciais à saúde pública e ao meio ambiente, para possibilitar um gerenciamento adequado dos resíduos. Os cuidados relativos ao manuseio, transporte e armazenamento de um resíduo são norteados também por esta classificação. Entretanto, a utilização destes resíduos pode ser determinada em função de vários fatores, entre os quais: ambientais, tecnológicos e econômicos.

No fim de 2004 a NBR 10004 foi atualizada. A versão anterior da norma era mais focada na classificação dos resíduos para a disposição final (aterros), porém nesta atuali- zação é possível classificar os resíduos de forma a facilitar o gerenciamento, independen- temente da destinação final. Isso deve-se à segregação dos resíduos na fonte produtora, aspecto essencial para uma classificação correta e melhores oportunidades de reciclagem e reaproveitamento. Essa classificação baseia-se na presença de substâncias perigosas, rela- cionadas na Norma, e em testes laboratoriais complementares, nos quais vários parâmetros químicos são analisados nos extratos lixiviados e solubilizados dos resíduos.

Já há muitos anos, os órgãos ambientais brasileiros têm considerado os critérios da ABNT NBR 10004 para classificar os resíduos quanto ao grau de periculosidade. Na última revisão, a norma, em uma primeira avaliação, divide os resíduos em dois grupos, designados classes I e II, respetivamente, resíduos perigosos e resíduos não perigosos. Em uma segunda abordagem, os resíduos não perigosos (classe II) são subdivididos em classe II A – não inertes – e classe II B – inertes. Esta classificação baseia-se nas características dos resíduos, se reconhecidos como perigosos, ou quanto à concentração de poluentes nas matrizes. A Figura 5 mostra um esquema simplificado desta classificação de resíduos.

A classificação de resíduos envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem e de seus constituintes e caraterísticas, e a comparação destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente é conhecido.

CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS

CLASSE I CLASSE II

PERIGOSOS NÃO PERIGOSOS

Subdivididos em:

A Não inertes

B Inertes

Figura 5 – Classificação de Resíduos segundo a NBR 10004:2004 Fonte: elaboração própria

A identificação dos constituintes a serem avaliados na caracterização do resíduo deve ser criteriosa e estabelecida de acordo com as matérias-primas, os insumos e o processo que lhe deu origem.

Os resíduos podem ser declarados e reconhecidos como perigosos por Lei, ato do poder executivo ou ainda por meio de normas técnicas, como é o caso da NBR 10004.

De acordo com a NBR 10004:2004, um resíduo é considerado perigoso quando as suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas representam: a) risco à saúde pública, caraterizado pelo aumento de mortalidade, incidência de doenças ou acentuando seus índices e b) risco à qualidade ambiental, quando gerenciado de forma inadequada.

Em acréscimo, a NBR 10004:2004 estabelece que caso uma amostra do resíduo em estudo constar dos Anexos A (Resíduos perigosos de fontes não específicas) e B (Resíduos perigosos de fontes específicas), ou seja enquadrada em pelo menos um dos oito critérios de periculosidade: a) inflamabilidade, b) corrosividade, c) reatividade, d) toxicidade, e) patogenicidade, f) carcinogenicidade, g) teratogenicidade e h) mutagenicidade (estes três últimos foram adicionados pela PNRS, (Art. 13.o, II)), ele será considerado classe I –

Perigoso6.

Descartados os critérios de periculosidade e o não enquadramento nos Anexos A e B, deverá ser realizado o ensaio de lixiviação. Serão, então, considerados classe I – Perigosos, aqueles resíduos cujas amostras, submetidas ao teste de lixiviação, apresentarem nos extratos lixiviados concentrações superiores às previstas no Anexo F (Concentração – Limite máximo no extrato obtido no ensaio de lixiviação). Se as concentrações forem inferiores às do Anexo F, deverá ser realizado um ensaio de Solubilização previsto no Anexo G (Padrões para o ensaio de solubilização), a fim de se avaliar se o resíduo é classe II B – Inerte.

6Nos termos da Lei, as caraterísticas dos resíduos perigosos e o entendimento de cada uma delas são

de acordo com o âmbito da Diretiva 2008/98/CE, da União Européia, conforme explicitado em seu Anexo III.

Os resíduos classe II A – Não inertes, são aqueles que não se enquadram nas clas- sificações de resíduos classe I – Perigosos ou de resíduos classe II B – Inertes. Podem apresentar propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água identificadas através da realização de análises laboratoriais. Estão incluídos nesta categoria os papéis, papelão, matéria vegetal e outros.

Os resíduos classe II B – Inertes, são aqueles que submetidos ao teste de solubilização, não tiverem nenhum dos seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água (excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor), previstos no Anexo G. São as rochas, tijolos, vidros e certos plásticos e borrachas que não são decompostos facilmente. Se as concentrações forem superiores às do Anexo G, os resíduos serão classificados classe II A – Não inertes.

Como instrumentos auxiliares na classificação dos resíduos, podem ser consultadas as listagens seguintes integrantes da NBR 10004:2004, na qual constam:

∙ Anexo C – Substâncias que conferem periculosidade aos resíduos; ∙ Anexo D – Substâncias agudamente tóxicas;

∙ Anexo E – Substâncias tóxicas;

∙ Anexo H – Codificação de alguns resíduos classificados como não perigosos.

Para complementação da NBR 10004:2004 são destacados, além dos seus Anexos, outras Normas que definem: procedimento para obtenção de extrato lixiviado de resíduos sólidos – NBR 10005 –, procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos – NBR 10006 – e referente à amostragem de resíduos sólidos – NBR 10007.

As empresas, quando solicitadas a informar as características e quantidades dos re- síduos produzidos à agência ambiental competente, além da classificação dos resíduos descrita na NBR 10004, são obrigadas a apresentar um relatório de classificação no qual deve constar a origem do resíduo com a identificação das matérias-primas e insumos, des- crição do processo de separação, descrição do critério adotado na escolha dos parâmetros analisados e, se necessário, resultados das análises laboratoriais.

Como curiosidade, segundo a Resolução n.o 420 – Agência Nacional de Transportes

Terrestres (ANTT) –, de 12 de fevereiro de 2004, que aprova as instruções complementares ao regulamento do transporte terrestre de produtos perigosos, e para efeitos de transporte, define resíduos como: substâncias, soluções, misturas ou artigos que contêm, ou estão contaminados por um ou mais produtos sujeitos às disposições deste Regulamento e suas Instruções Complementares, para os quais não seja prevista utilização direta, mas que são transportados para fins de despejo, incineração ou qualquer outro processo de disposição final.

A Figura 6 ilustra as etapas necessárias para a caracterização e classificação dos resí- duos sólidos quanto ao risco para a saúde pública ou para a qualidade ambiental, segundo a ABNT NBR 10004:2004 e as alterações complementares introduzidas na PNRS.

Infelizmente, em alguns casos, os geradores tentam descaraterizar a periculosidade dos resíduos. Em outras palavras, em uma visão míope e distorcida, veem-se alguns geradores que não percebem que a única classificação conclusiva e definitiva é a mais conservadora: classe I – perigosos.

Apresentar aos órgãos ambientais, portanto à sociedade, um resíduo como classe II A ou II B, correndo o risco de em um segundo momento, em uma avaliação mais criteriosa, chegar-se à inequívoca conclusão de que, de fato, trata-se de um resíduo classe I, pode trazer inúmeros transtornos para o gerador, inclusive em abrangência judicial.

A Norma estabelece critérios analíticos, mas também considera a origem dos resíduos para o enquadramento em uma das classes.

A experiência acumulada, nos muitos anos de utilização da ABNT NBR 10004 e, como consequência, no gerenciamento dos resíduos perigosos, demonstra, claramente, que a melhor opção sempre é ser conservador, ou seja, nos casos de dúvida, deve-se considerar a classificação mais restritiva, pois isso sempre induz ao gerenciamento mais criterioso, em especial no que diz respeito ao acondicionamento, ao transporte e à destinação (JARDIM

ET AL., 2012).

A escolha de uma alternativa para a destinação de um resíduo sólido, por sua vez, depende da composição química, do teor de contaminantes, do estado físico do resíduo sólido, entre outros fatores.

A classificação de um resíduo sólido, por si só, não deve impedir o estudo de alter- nativas para a sua utilização. No entanto, é essa classificação que orienta os cuidados especiais no gerenciamento do resíduo sólido, os quais podem inviabilizar sua utilização quando não se puder garantir segurança ao trabalhador, ao consumidor final ou ao meio ambiente.

Para a utilização de um resíduo sólido ou de misturas de resíduos sólidos na fabricação de um novo produto ou para outras finalidades, este último deve estar em conformidade com os requisitos estabelecidos pelos órgãos responsáveis pela liberação do produto.

Destaca-se ainda que, da mesma forma que para qualquer atividade industrial, as restrições a que estão sujeitas as unidades receptoras de armazenamento, utilização, tra- tamento ou disposição final de resíduos sólidos são resultantes dos seus projetos, das con- dições de saúde ocupacional e outros fatores determinados pelos órgãos regulamentadores pertinentes, por exemplo: Órgãos Estaduais de Meio Ambiente, Ministério da Saúde, Ministério do Trabalho e Emprego, entre outros, dependendo da extensão/aplicação do resíduo (ABNT, 2004).