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Na primeira etapa da pesquisa foi feita a coleta de dados com literatura inerente ao tema, onde foi criado o repertório teórico do presente trabalho. Na segunda etapa foi feita uma observação de campo, com a visitação dos espaços do Museu do Brinquedo do Rio Grande do Norte e da Brinquedoteca. Com essa visita foi possível entender como é criada a teia de conteúdo e conhecimento advinda do Museu, pois essa inserção no contexto estudado oportunizou o conhecimento da realidade e entendimento com prioridade do objeto estudado. Na terceira etapa foi aplicado um questionário a uma professora que no momento da minha visita estava no Museu acompanhando duas turmas de alunos. A professora atua na rede pública de ensino em Natal há mais de 6 anos, tem formação superior em pedagogia e é especialista em Arte e educação.

Na entrevista foram utilizadas seis perguntas discursivas e quatro objetivas, nas quais a docente, utilizando de suas concepções pedagógicas de ensino, teria toral liberdade para responde-las. A partir da interpretação das respostas coletadas por meio do questionário foi possível compreender a importância do Museu para a utilização da ludicidade como recurso pedagógico em suas aulas.

Levando em consideração que:

Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade, o que dela resulta, mas a própria ação, o momento vivido. Possibilita a quem a vivencia, momentos de encontro consigo e com o outro, momentos de fantasia e de realidade, de ressignificação e percepção, momentos de autoconhecimento e conhecimento do outro, de cuidar de si e olhar para o outro, momentos de vida (SILVA, 2011, p.20).

Na pergunta número 1, ao ser questionada sobre o que vem a ser o lúdico, a professora respondeu que: “o lúdico é tudo aquilo que nos faz aprender brincando, é algo agradável”.

Nas perguntas 2 e 3, onde se questiona os benefícios da utilização do lúdico no contexto escolar e se o professor tem acesso a recursos que permitem essa utilização na escola, obeteve a seguinte resposta:

É importante a utilização do lúdico na sala de aula, principalmente para mim, que trabalha no ensino Infantil e Fundamental, pois dessa forma os alunos se interessam mais pelas atividades e aprendem de forma agradável. Na escola temos total liberdade para trabalhar de forma lúdica com os alunos, desde a utilização de cores, brinquedos e brincadeiras na sala e também em ambientes externos da própria escola.

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A função da escola, no que tange o quesito educacional, é ensinar, e por isso, o entendimento do jogo como recurso pedagógico passa por essa concepção, fazendo com que o jogo também tenha seus objetivos educacionais a atingir; o aluno faz parte da elaboração e orientação para que se chegue aos objetivos, fazendo parte da construção dos seus próprios conhecimentos. Dessa forma, toda e qualquer atividade dirigida e orientada tem como objetivo um resultado e possui finalidades pedagógicas, portanto, a ludicidade utilizada como recurso pedagógico também tem objetivos educacionais a atingir, Portela (2018).

Nas questões relacionadas as consequências causadas a partir da visitação ao Museu, como ferramenta e conteúdo para o trabalho do lúdico escolar, a professora respondeu que com o ensino infantil ela vai utilizar o arsenal de brinquedos apreciados pelos alunos e vai adaptar as atividades propostas pra repassar novamente em sala. Para os alunos que não puderam ir é necessário que também vivenciarem a cultura, pois, por mais que já tenha usado várias brincadeiras, o Museu trouxe uma gama de novas possibilidades pra ela trabalhar em sala.

Já para o ensino fundamental, ela disse que iniciou o trabalho com o conteúdo de jogos e brincadeiras e antes de ir ao Museu. Ela mostrou em vídeo jogos, brinquedos e levou vivências de algumas brincadeiras culturais para os alunos, utilizando o Museu como aula de campo para que os alunos pudessem ter acesso a todos os brinquedos citados em sala e muitos outros, além da atividade de fabricar brinquedos, que foi essencial para consolidar esse conteúdo na sala de aula.

O desenvolvimento e a aprendizagem do sujeito são possibilitados por meio do jogo, visto que ele conta com conteúdos do cotidiano, como por exemplos: as regras, as interações do sujeito com os objetos e com o meio e a diversidade de linguagens envolvidas em sua prática. Com base no pressuposto de que a prática pedagógica tem a possibilidade de proporcionar momentos de alegria aos alunos no processo de ensino-aprendizagem, o lúdico deve ser levado a sério na escola, utilizando-se desta ferramenta para o ensinar-aprender por meio do jogo e, dessa forma, aprender brincando. Pode-se deduzir que a formação lúdica do professor favorece essa prática pedagógica na escola, Portela (2018).

Utilização da ludicidade na prática pedagógica não pode ser considerada uma ferramenta pronta e acabada que ocorre com rápida escolha de um desenvolvimento de jogo retirado de um livro didático. A ludicidade na educação é uma ferramenta

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pedagógica com conteúdos representativos do cotidiano, onde são utilizadas regras, interações com objetos e o meio e a diversidade de linguagens envolvidas em sua prática.

Nesse prisma de abordagem, ao se utilizar o jogo em ambiente escolar, ele se torna uma ferramenta para a realização das metas educacionais e pedagógicas, e, ao educando, ao vivenciar o jogo nesse contexto, deve ser garantida a livre ação, que se iniciará se manterá pelo prazer de jogar, e também deve atrelada aos objetivos educacionais sistematizados pelo educador, Portela (2018). Essas questões iniciam discussões sobre a apropriação do jogo pela escola, em especial, o jogo educativo.

Quando questionada sobre a importância da ludicidade para a aprendizagem e desenvolvimento da criança, a professora respondeu que é essencial utilizar a ludicidade na escola, principalmente nos anos iniciais e ensino fundamental I, “que é quando o aluno está em fase de descoberta e precisa de um ensino que seja convidativo à sua atenção, agradável e eficaz para sua aprendizagem”.

Levando em consideração as respostas dadas pela professora, percebe-se que há uma convergência com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que diz:

A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação. Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer às crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de desenvolvimento infantil (BRASIL, 1998, p.23)

Portanto, as intervenções e observações feitas pela professora são tidas como suporte para que as habilidades e capacidades já adquiridas e articuladas no momento da brincadeira sejam potencializadas e aperfeiçoadas dentro dos objetivos determinados em seu planejamento pedagógico.

Diversos autores estudiosos sobre os jogos educativos, dentre eles Kishimoto (2008), defende que esses jogos surgiram na Roma e na Grécia antigas, quando já havia a produção de diversos doces em forma de letras, objetivando o aprendizado do alfabeto.

Santos (2010, p.11) cita Platão (427-348), ao dissertar sobre o lúdico destaca que:

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Na Grécia Antiga, a educação infantil era baseada, principalmente, em jogos educativos, estes praticados por todos os alunos, independente do sexo, em comum. A ênfase era dada ao esporte, por sua capacidade de colaborar com a formação do caráter e da personalidade do sujeito, bem como também tinha a possibilidade de introduzir a prática da matemática lúdica, quando aplicado exercícios que utilizavam cálculos ligados a problemas concretos extraídos da vida.

As pesquisas desenvolvidas por Kishimoto (2008) discutem as diferenças e semelhanças entre o jogo e o material pedagógico, trazendo reflexões sobre a utilização do jogo educativo em sala de aula. Nas palavras da autora (2008, p. 26),

O jogo tem uma característica que deve ser levada em conta pelos professores: [...] o controle interno: no jogo infantil, os jogadores que determinam o desenvolvimento dos acontecimentos. Quando o professor utiliza um jogo com intuito educativo em sua aula, sem dar liberdade ao aluno, não oportuniza o controle interno. Predomina, neste caso, o ensino, a direção do professor.

Diante desse contexto, é importante que o educador tenha clareza nessa diferenciação, pois o jogo é utilizado com o objetivo de ensinar e o deve saber o que realmente pretende estimular no aluno naquela relação de processo ensino- aprendizagem.

Há uma diferença de significado do brinquedo na ação lúdica da criança e na sua utilização como recurso pedagógico. Uma mesma ferramenta de ensino pode ser utilizada em ambos os casos, como por exemplo: utilização de um livro de literatura infantil para estimular a expressão corporal e lúdica dos alunos ou para contar histórias e uma bola para estimular o desenvolvimento da lateralidade e coordenação motora; e seu uso para brincadeiras livres.

Nas situações, o livro pode ser considerado um recurso lúdico e/ou uma ferramenta de suporte para uma ação pedagógica relacionada à literatura infantil. Enquanto a bola pode ser um recurso para a atividade pedagógica em uma aula de psicomotricidade e/ou suporte de brincadeiras.

Dessa forma, o que diferencia as duas situações é a forma de identificação e utilização do objeto de estudo em cada atividade envolvida. Quando o livro é ferramenta de suporte de atividades lúdicas espontâneas, de brincadeiras, ele é utilizado como um recurso lúdico, um brinquedo e, quando é utilizado como ferramenta de suporte da literatura, torna-se um material didático.

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bola, trata-se de um brinquedo, mas é utilizado também como um recurso pedagógico na aula de Educação Física, trabalhando a psicomotricidade.

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