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DISCUSSÃO DOS DADOS DO PLANO DIRETOR E OS TRÊS ESPAÇOS

Com base no exposto ao longo desta dissertação, verifico que os objetivos orientadores da política de produção e organização do espaço urbano, dispostos no Plano Diretor Participativo (2010) da cidade de Ijuí, principalmente em seus artigos 05, 10, 15, 17, 33, 65, 110, 125, 139, 160, 163, 173, 175, 178, 218, 230, não foram totalmente alcançados. Os problemas que se apresentavam quando da elaboração deste plano ainda persistem e, em alguns casos, se tornaram mais críticos. A experiência do Plano Diretor Participativo (2010) vem sendo discutida já há alguns anos, sendo esta proposta um meio de integração entre forças políticas que decidem as aprovações e reprovações das leis e a população em geral. O Plano Diretor Participativo de Ijuí, pretende organizar e planejar a cidade de forma que todos possam se sentir parte dela. Tal elaboração possibilitou a criação de uma metodologia específica de participação popular, que tentou garantir o estabelecimento de critérios urbanísticos condizentes com a realidade social e cultural da área.

Para que o Plano Diretor Participativo se concretize de fato quanto aos espaços públicos, e de lazer, e ainda contribua na educação para o viver na cidade, é indicada a realização de estudos específicos para a avaliação das práticas de lazer que existem em cada bairro ou área da cidade, e do impacto social e cultural que cada espaço construído oferece a seus frequentadores. Deve-se considerar especialmente a valorização imobiliária, a

mobilidade das camadas populacionais e as condições de acessibilidade, assim como a realização de planos de desenvolvimento local para a preservação das características sociais e das potencialidades econômicas da área.

As atas que trataram das quatro reuniões públicas para as decisões do Plano Diretor Participativo, não citaram em nenhum momento discussões sobre o lazer. Sem dúvida, é preciso pontuar que a institucionalização do direito ao lazer não garante o acesso a ele, e muito menos a sua vivência crítica e criativa. Tê-lo como direito é um grande avanço social, incorporando como direito algo que abre as potencialidades dos sujeitos em busca da qualidade de vida.

É fundamental que sejam criados espaços de diálogo entre as pessoas de diferentes origens culturais que vivem na mesma comunidade sobre questões relativas à vida na comunidade, assim como incluir questões de interesses específicos de minorias culturais na agenda de reuniões públicas. Criar e fomentar apropriações compartilhadas do espaço público e também desenvolver políticas integradas para que se viabilize a criação de um espaço “aberto”, destinado a uma diversidade de usos, usos imprescindíveis e também inesperados. Precisamos, acima de tudo, envolver ativamente os membros da comunidade (lideranças, minorias culturais e comunidade em geral) no debate público, criando estruturas (consultivas) por meio das quais toda pessoa possa expressar sua opinião no processo de tomada de decisões públicas, (HEINRICH, 2008).

A descentralização dos espaços públicos e das atividades de lazer e serviços não está sendo conseguida como descrita no Plano Diretor Participativo (2010), embora, tenha ocorrido uma pequena melhora na manutenção dos espaços já existentes e na construção de um novo parque descentralizado. Como o território da cidade tem mudado constantemente, a política cultural precisa ficar mais atenta à mudança das sociedades urbanas.

Na atualidade, a parte periférica da cidade de Ijuí vem sofrendo um processo de urbanização significativo, o que requer políticas específicas que atinjam a realidade das comunidades, principalmente no que diz respeito à cultura e ao lazer. Nesse contexto, o processo de revisão pelo qual passou o Plano Diretor Participativo 2010 aponta ainda para a necessidade de realização de novos estudos e pesquisas em relação ao lazer que subsidiem a readequação das diretrizes de estruturação urbana, constantes nesta Lei, e o estabelecimento de novas estratégias, condizentes com a realidade urbana atual e com as possibilidades de capacitação institucional e administrativa do município, sobretudo na efetiva aplicação das diretrizes que estão descritas no Plano Diretor Participativo (2010) para o lazer.

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O Plano Diretor Participativo (2010) deve orientar e rever os mecanismos de controle e a definição de instrumentos jurídicos, financeiros e tributários que possam ser efetivamente aplicados em Ijuí, possibilitando assim ao poder público municipal o efetivo controle da expansão da cidade.

De fato, precisamos de uma intervenção urgente das lideranças municipais na qualificação dos espaços na cidade. A lei do Plano Diretor Participativo não está garantindo investimentos, tampouco qualificando os espaços que temos e esperamos ter na cidade. A política cultural urbana, no que diz respeito ao espaço público de lazer de qualidade, não está clara, não está conseguindo proteger a diversidade nem promover a cultura como pilar da sociedade civil. Todo este emaranhado de causas e efeitos nos estimula a nos engajarmos na busca de soluções para esses desafios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, o lazer descrito no Plano Diretor Participativo (2010) (Lei 5.630/2012) é apontado como uma necessidade a ser suprida assim como a saúde, a educação, o desenvolvimento social, o abastecimento e o turismo. Entretanto, é tratado mais especificamente no texto juntamente com as áreas de interesse turístico e recreação, não sendo encontrado na lei uma seção ou subseção que de orientações ou que tenha diretrizes específicas para as políticas de lazer. O lazer tratado dessa maneira não encontra autonomia, assim sua importância fica sempre relegada a outras diretrizes dentro do plano.

O que os documentos analisados deram a entender é que o lazer, embora reconhecido como direito social, não tem indicação de que seja compreendido de forma mais ampla, como dimensão da cultura. O lazer parece ser compreendido como uma série de atividades aleatórias pelo espaço urbano, o que sonega uma parte significativa de possibilidades de lazer pela cidade. Para que o lazer possa ser entendido como prática cultural, se faz necessárias ações que entendam a infraestrutura da cidade como eixo articulador, a “coluna vertebral” na regeneração urbana para o lazer no espaço público.

A lei como a do Plano Diretor Participativo (2010) deve atuar como elemento impulsionador, catalisador, da dinâmica inclusiva e cultural do espaço público da cidade, e criar por sua vez, as condições materiais e também sociais para o desenvolvimento de operações urbanísticas contingentes com a realidade que se apresenta para a cidade no momento.

Dessa forma, o Plano Diretor Participativo (2010) poderia repensar ao promover como meta principal as grandes infraestruturas centralizadas e “regionalizadas”, como os parques que na maior parte do tempo ficam ociosos, por abrangerem muitos bairros, e não levarem em conta atividades culturais de lazer que se desenvolvem no seio de cada lugar.

Ademais, as grandes infraestruturas e projetos devem ser parte de uma conscienciosa promoção da cultura e não para fazer parte de uma campanha de promoção de “marketing” urbano dirigida para construir a imagem da cidade com arquiteturas emblemáticas.

Parafraseando Gomes (2009), o lazer como dimensão da cultura deve considerar o tempo/espaço disponível e a atitude assumida pelas pessoas nessas experiências, que são marcadas por um sentimento de liberdade (mesmo que seja apenas imaginada), impulsionada pela busca de satisfação e pelo desfrute do momento vivido. Isso indica que o lazer precisa de mais abertura no plano, embora já associado à cultura e ao esporte.

Em uma cidade como Ijuí se faz necessárias conferências municipais, que venham tratar de políticas urbanas, em especial de lazer. Não se trata aqui de inspecionar o que o trabalhador faz com seu tempo livre, mas sim quais as condições de lazer que são oferecidas pelos administradores municipais que possam ter efeitos no campo do lazer na cidade. As ações administrativas não podem se resumir na oferta de condições para o lazer. Precisam conceber o lazer como um importante meio de desenvolvimento cultural na cidade.

A esse respeito, os apontamentos encontrados nessa dissertação vêm ao encontro da pesquisa realizada por Silva et al (2011). Eles constatam também, que o lazer é uma importante dimensão da cultura e há muito está presente na declaração universal de direitos do homem e da mulher. E que não foi de maneira simples que esses direitos foram conquistados pelos brasileiros. Foi só na Constituição Federal de 1988, que o Lazer apareceu no Título II, Capítulo II, Artigo 6º, como um dos direitos sociais: o termo aparece em outras partes, mas só é tratado, quanto à formulação de ações, no Título VIII, Capítulo III, Seção III, Do Desporto, no Artigo 217, no 3º. E último parágrafo do item IV – O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social. O lazer nesse trecho da constituição é percebido e vinculado a um único conteúdo cultural (esporte), restringindo as possibilidades de abrangência dos vários grupos de interesse.

Em Ijuí, há poucas iniciativas de educação para se viver na cidade e tampouco para se aproveitar os espaços públicos de lazer, uma das coisas que a população poderia tomar consciência e aproveitar é o orçamento participativo e voltá-lo para a melhoria dos espaços de lazer. Sendo que para isso não precisamos deixar de lado as outras reivindicações que aperfeiçoam a infraestrutura urbana, moradia, transporte, educação e saúde. Além de todas

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estas dimensões importantes da vida na cidade encontramos outras que potencializam a vida dos moradores como: os salões de baile, os pontos de encontro, os centros culturais, as praças, as áreas verdes de lazer. É necessário entendermos as demandas culturais e locais de cada ponto da cidade.

Urge discussões entre administradores/gestores municipais ou regionais e comunidade em geral na perspectiva de pensarmos a cidade que somos em favor da cidade que queremos. Essas questões só fariam enriquecer o planejamento urbano, incorporadas à legislação municipal depois de realmente tratadas com a sociedade, pois as audiências públicas que se disseram necessárias para a elaboração do Plano Diretor Participativo da cidade não foram capazes de discutir em sua integridade as questões do lazer, tampouco de qualquer outra área.

O lazer, embora tenha ganhado espaço nas legislações como as do Plano Diretor, ainda é tratado de forma limitada, o lugar que o lazer ocupa é limitado. O lazer ainda não está em um lugar de destaque na busca pela qualidade de vida nas cidades. Considero, para que isso venha acontecer, que tenhamos mais espaços para as vozes dos que vivem a cidade. Um planejamento estratégico, com uma gestão estratégica, pode fazer a diferença em favor da qualidade de vida. Considerar a visão de projetos englobando a sociedade como orientadores no desenvolvimento urbano, estabelecendo uma relação dialética com as reais prioridades da cidade, rompendo com as hierarquias tradicionais nas tomadas de decisões.

Diante da análise dos documentos e dos espaços públicos construídos de lazer, concluo que sem dúvida o espaço urbano é político e que haverá sempre vínculos entre os principais agentes culturais: Estado, setor privado e grupos populares. O lazer é oferecido cada vez mais pelas empresas que o privatizam, aproveitado pelas pessoas que podem pagar por ele nessas condições e oferecido pela cidade (como pracinhas) para as pessoas que não podem pagar.

Para finalizar esta dissertação, desejo dizer que o lazer precisa ainda de estudos mais alargados, ampliando os entendimentos acerca do tema, favorecendo uma maior garantia de direitos e que estes sejam realmente obedecidos e incluídos na política do planejamento urbano. Entendo que o Plano Diretor Participativo de Ijuí, mesmo com seus problemas, traz importantes considerações sobre o lazer. Dessa forma, poderíamos avançar mais se propostas de discussão para o lazer forem levantadas pelos moradores da cidade. Para tanto, é imprescindível que todos possam conhecer o Plano Diretor Participativo da cidade, só assim é possível à participação de todos sem a simples condução das decisões, fazendo com que todos entendam acerca do que estão falando, para que seja possível tornarmos o lazer uma realidade na política de desenvolvimento urbano.

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