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Plano diretor participativo do município de Ijuí/RS: gestão dos espaços públicos de lazer

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – STRICTO SENSU MESTRADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DO MUNICÍPIO DE IJUÍ/RS:

GESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER

JEFERSON RODRIGO VALLAU PINHEIRO

Ijuí – RS 2013

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JEFERSON RODRIGO VALLAU PINHEIRO

PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DO MUNICÍPIO DE IJUÍ/RS:

GESTÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Educação nas Ciências.

Orientadora: Drª Maria Simone Vione Schwengber

Ijuí – RS 2013

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Aos meus pais Luiz e Roseni, pelas bases de vida que me proporcionaram. A minha querida orientadora, Maria Simone Vione Schwengber que soube me orientar com sabedoria e paciência. A Simone de Avila, a qual me ajudou muito, dando-me apoio nos momentos de dificuldade.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre à minha frente, guiando-me e dando-me sabedoria e força.

Ás professoras Helena Copetti Callai e Elenise Felzke Schonardie, que me ensinaram a olhar a cidade de um jeito diferente, dando ainda mais importância ao meu objeto de estudo.

Ao professor Sidinei Pithan da Silva, que me acompanha desde a graduação, dando-me força e colaborando para o dando-meu crescidando-mento intelectual e pessoal. Obrigado por ouvir minhas angústias quando no estágio, depois das aulas íamos ao Versatto conversar.

Ao amigo do tempo de graduação, Luis Fernando de Mello Vargas, que mesmo longe continua presente.

Aos demais professores do Programa de Pós-graduação em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul que muito contribuíram para a minha formação e aprendizado.

Aos colegas que me ajudaram no desenvolvimento deste trabalho.

Aos amigos que cultivei nesse tempo de um novo aprendizado e que levarei por toda aminha vida, compartilho minha alegria e esta vitória.

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RESUMO

Esta pesquisa se dedica a fazer um recorte sobre como se apresenta o lazer na cidade de Ijuí/RS pelo foco do planejamento urbano. Assim, busco analisar como o lazer é tratado na política urbana do município de Ijuí/RS. E como a cidade planeja seus espaços de lazer a partir da legislação urbanística (Plano Diretor Participativo - 2010) examinando a partir de três espaços públicos destinados ao lazer. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa com base em estudos exploratórios, observações sistemáticas diárias em períodos diferentes, registros fotográficos e pesquisa documental. A análise dos documentos indica que o lazer foi tratado de forma superficial durante o processo de tramitação dos projetos de Lei na Câmara Municipal de Vereador (2010). No Plano Diretor Participativo, aprovado em 2010, o lazer é tratado juntamente com outras áreas de interesse, isso nos possibilita afirmar que é mantido em segundo plano em termos de políticas públicas de investimento. O lazer só se torna, um pouco mais positivado, no Plano Diretor Participativo de Ijuí (2010) quando é relacionado com a perspectiva de cultura e do turismo. Constatou-se, que não houve debates suficientes entre os diferentes setores da comunidade ijuiense sobre as questões relacionadas aos espaços públicos de lazer na cidade. Apesar de haver indicações de que o lazer é tratado como um direito social, a compreensão deste ainda é restrita e muito ligada apenas a alguns espaços das práticas de lazer, como pracinha o que atinge mais a população infantil. Existe uma necessidade de se entender o lazer de forma mais profunda, e que ele possa se converter em um direito social para todos, incluído, de fato, como uma política de planejamento urbano. O Plano Diretor Participativo (2010) trouxe avanços como na criação e qualificação de alguns espaços de lazer, porém faz-se necessário criar mecanismos de acompanhamento e manutenção desses espaços.

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ABSTRACT

This research is dedicated to doing a cut as shown on leisure in the city of Ijuí/RS by the focus of urban planning. So, I try to analyze how leisure is treated in urban policy of the municipality of Ijuí/RS. And how the city plan its leisure spaces based in urban legislation (Participative Master Plan - 2010) examining from three public spaces for leisure. The qualitative research methodology was based on exploratory studies, systematic daily observations at different times, photographic records and documentary research. The analysis of the documents indicates that leisure was treated surface during the processing of projects in the Municipality of Law Councilmen (2010). In Participative Master Plan, approved in 2010, leisure is treated together with other areas of interest, what allows us to state that is kept in the background in terms of public policy investment. The leisure only becomes a little more positivised in Participative Master Plan Ijuí (2010) when it is associated with the prospect of culture and tourism. It was found that there were not enough debates among the different sectors of the ijuiense community on issues related to public recreational areas in the city. Although there are indications that leisure is treated as a social right, this understanding is still limited and very connected to only a few spaces of leisure practices, such as the small square that reaches moreover the childhood. There is a need to understand deeply the pleasure, and it may turn into a social right for everybody, even as a policy of urban planning. The Participative Master Plan (2010) brought advances such as the creation and qualification of some leisure facilities, but it is necessary to create mechanisms for monitoring and maintenance of these spaces.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa urbano do município de Ijuí (2012) ... 35

Figura 2: Parque poliesportivo do bairro Storch (imagem por satélite – ano 2012) ... 45

Figura 3: Parque poliesportivo do bairro Storch (imagem por satélite – ano 2012) ... 46

Figura 4: Área do Bairro 15 de Novembro antes do loteamento (imagem de setembro de 2008) ... 50

Figura 5: Área da “pracinha” do Bairro 15 de Novembro construída pelo poder público, durante o loteamento do espaço (imagem de janeiro de 2013) ... 50

Figura 6: Imagem por satélite do Bairro Tancredo Neves (dezembro 2012) ... 52

Figura 7: Espaço de lazer Bairro Thomé de Souza (imagem de janeiro 2013) ... 54

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 APRESENTAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA ... 9

1.1 TEMA ... 9

1.2 JUSTIFICATIVA ... 9

1.3 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA ... 10

1.4 METODOLOGIA DA PESQUISA ... 15

2 A CONSTRUÇÃO DA CIDADE E O LAZER ... 19

2.1 CONSTRUÇÕES DAS CIDADES E A DISPUTA DO SOLO URBANO ... 19

2.2 DEFINIÇÕES DE LAZER ... 26

2.3 ESPAÇOS DE LAZER ... 30

2.4 O MUNICÍPIO DE IJUÍ/RS ... 33

2.5 A GÊNESE DO PLANO DIRETOR DAS CIDADES A NÍVEL NACIONAL ... 356

2.6 PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DE IJUÍ ... 39

2.7 OS ESPAÇOS DE LAZER QUE A LEI NÃO VÊ ... 41

3 DESCRIÇÃO DOS ESPAÇOS E DAS PRÁTICAS DE LAZER ... 45

3.1 A REALIDADE CONSTRUÍDA DE LAZER NO PARQUE ... 45

3.2 ESPAÇO DE LAZER DO BAIRRO QUINZE DE NOVEMBRO ... 50

3.3 ESPAÇOS DE LAZER DO BAIRRO TANCREDO NEVES ... 52

3.4 ESPAÇOS DE LAZER DO BAIRRO THOMÉ DE SOUZA ... 54

3.5 OLHANDO OS ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER EM IJUÍ ... 55

3.6 A “NATURALIZAÇÃO” DE DETERMINADAS PRÁTICAS DE LAZER EM IJUÍ NOS ESPAÇOS DESERDADOS ... 58

3.7 A EDUCAÇÃO PARA SE VIVER NA CIDADE ... 61

3.8 RECONQUISTANDO O ESPAÇO DA CIDADE ... 63

3.9 DISCUSSÃO DOS DADOS DO PLANO DIRETOR E OS TRÊS ESPAÇOS MAPEADOS ... 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 67

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INTRODUÇÃO

As inconstâncias econômicas que se instala na vida contemporânea das cidades, e a aceleração do tempo de produção provocam acelerações paralelas, como as de consumo, que não tem a ver apenas com roupas, ornamentos e decoração, mas com uma ampla gama de estilos de vida e de atividades de lazer, com o consumo de serviços em detrimento do consumo de bens. Também são marcas dessa era de imediatismos os serviços prestados para a diversão, espetáculos eventos e distrações.

A fragmentação da cidade, afeta diretamente a vida em sociedade. Essa fragmentação não é apenas material, mas também social, e assume forma que as pessoas são “forçadas a lidar com a descartabilidade, a nocividade e as perspectivas de obsolescência instantânea” Harvey (1994, p. 258).

O tempo assim como o espaço ganham novos sentidos na era da prestação de serviços. Segundo Harvey (1994, p. 256) “a mudança da experiência do espaço e do tempo teve muito a ver com o nascimento do modernismo e com seus confusos vagares de um lado para o outro da relação espácio-temporal”. As pessoas tendem a buscarem as formas espaciais personalizadas, ou seja, buscam seus desejos, necessidades e fantasias particulares.

Nesse quadro geral, é preciso pensar soluções para enriquecer a vida na cidade. Enriquecer as manifestações que ainda se encontram nos espaços públicos construídos e ocupados pelas culturas populares. As pessoas não podem se deixar levar pela conformidade dos usos da terra, que alguns processos de mercado estão tentando fazer.

Desse modo o estudo que apresento sobre esta temática investiga as relações que existem entre a lei do Plano Diretor Participativo (que no ano de 2010 foi reformulada para atender a crescente urbanização da cidade de Ijuí/RS) e o espaço público construído de lazer (como o espaço que “sobra”, principalmente para o cidadão mais pobre); analisando o papel social que tem este espaço, e a educação para o viver na cidade como fundamental no plano da administração municipal.

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1 APRESENTAÇÃO DO TEMA DE PESQUISA

Neste capítulo apresento o tema, justificativa, problematização e a metodologia da pesquisa. 1.1 TEMA

Planejamento Urbano: Plano Diretor Participativo e seu alcance na construção e na gestão dos espaços públicos para o lazer no município de Ijuí/RS.

1.2 JUSTIFICATIVA

Esta dissertação se justifica pelo interesse e envolvimento acadêmico anterior com a temática do lazer. Quando acadêmico do curso de Educação Física, tive a oportunidade de ser bolsista, e foi nesse momento que o interesse sobre este assunto aumentou e se consolidou. Inicialmente, na pesquisa como bolsista1, procedi ao mapeamento dos espaços de lazer da cidade de Ijuí, aqueles espaços de lazer considerados formas (construídos pelo poder público) e informais (construídos pela população de forma rudimentar).

Com esse mapeamento, pude constatar a precariedade de espaços formais e organizados. Percebi também que, nos espaços existentes, a população que mais frequentava, em sua grande maioria, era composta por jovens (masculino) entre 10 a 18 anos. Diante desses fatos, surgiram-me algumas dúvidas: Onde as pessoas que não se enquadram nessa faixa etária – crianças até 10 anos ou adultos acima de 18 anos e idosos vivenciam suas práticas de lazer?

Com a pesquisa realizada para o trabalho de conclusão de curso2, constatei que é rara a presença de mulheres e de idosos nos espaços públicos de lazer no município de Ijuí/RS. É possível que isso ocorra por que o poder público municipal parece não priorizar áreas concretas de lazer para as diferentes populações. Alguns dos espaços utilizados, por exemplo, várzeas e campinhos de futebol pelos jovens da periferia de Ijuí, são terrenos baldios pertencentes à própria prefeitura.

Quando bolsista então, busquei mapear e compreender os espaços e a estrutura física desses locais. O resultado dessa busca me surpreendeu, pois comprovei que a estrutura em

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Em um projeto que tinha como objetivo mapear todos os espaços de lazer existentes na cidade de Ijuí/RS. No ano de 2008. Projeto este mantido pela rede CEDES (Centro de Desenvolvimento do Esporte Recreativo e do Lazer)

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grande parte desses lugares é precária. Essa pesquisa me proporcionou importantes dados para enriquecer as investigações acerca do lazer na cidade de Ijuí. Decidi, então, aproveitá-los no meu Trabalho de Conclusão de Curso, pois tinha em mãos um panorama dos espaços públicos de lazer de Ijuí. De posse de informações, efetuei uma comparação entre os espaços de lazer e o conhecimento dos cidadãos acerca do seu direito constitucional ao lazer.

Percebi que há uma organização precária dos espaços de lazer, tanto públicos quanto privados. E que também há uma participação feminina escassa nos espaços de lazer no município, e uma distribuição pobre das condições de bens e serviços de lazer. E ainda, que grande parte desses moradores não conhece seu direito constitucional em relação ao lazer. Já os moradores do centro têm alguns espaços públicos de lazer à disposição (basicamente praças), porém a maioria não recorre a eles. A maior parte dos moradores do centro da cidade prefere frequentar os espaços particulares, e conhecem seus direitos constitucionais ao lazer. Muito dessa escolha tem a ver com a “pobreza” de estímulos para o lazer nos espaços públicos (praças sem estrutura). Exemplo disso é a inexistência de quadras para as práticas esportivas de lazer nesses lugares, gerando a preferência pelos espaços privados de lazer.

Um olhar detalhado sobre a cidade permite afirmar que há falta de espaços e de políticas públicas pontuais (os espaços públicos não estão materialmente acabados) em relação ao lazer. Pela minha história como morador de um bairro e usuário de transporte coletivo urbano, percorro parte dos bairros de Ijuí em função dos meus deslocamentos, e o que sempre me chama a atenção é a presença maior da população masculina mesmo nos espaços informais de lazer.

A partir dos estudos do Mestrado, comecei a compreender que a modernidade provocou uma ruptura entre as formas racionais da organização social dos espaços e as próprias organizações das cidades. Por isso resolvi estudar a cidade de Ijuí, a organização do espaço urbano, a educação que recebemos para viver este lugar, e, sobretudo, viver os espaços públicos de lazer, compreendendo-os a partir do Plano Diretor Participativo.

1.3 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA

O espaço das cidades no Brasil do século XXI cresce e se desenvolve de forma fragmentada, aumentando intensamente a diferenciação socioespacial. As habitações populares servem de exemplo para esta reflexão, uma vez que são construídas nas periferias, 2 O lazer como bem estar social: Aspectos relevantes na baixa procura de espaços públicos de lazer pela

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certamente pelo fato de os terrenos adquiridos pelo poder público serem de baixo custo econômico, em razão do seu isolamento, pois, quanto mais próximos do centro comercial da cidade, mais caros se tornam.

O território faz parte da identificação das pessoas, porém agora, em tempos de valorização econômica e social do solo urbano, a apropriação desses espaços acontece de forma mais seletiva. Com isso, as interdependências funcionais ou de interesses substituem a solidariedade de vizinhança e as dependências de proximidade na base das relações sociais.

Nos dias de hoje, a cidade se organiza e controla os blocos de interesses voltados para a economia local. O poder público coordena e induz a organização da população, o tipo e a localização das atividades econômicas e as ações do Estado sobre toda a sociedade. Para esse papel, existe uma lei específica, o Plano Diretor Participativo, que determina a obrigatoriedade de o município organizar as áreas construídas (delimitações rurais e urbanas). Na lei está também a base para a localização e descrição dos espaços públicos para o lazer.

Autores como Milton Santos (1997), Callai (2000) e Cavalcanti (2001) escrevem sobre a importância de pensar o mundo a partir do lugar (do local). Desse modo suas posições me estimularam a investigar a representatividade e os lugares das práticas de lazer no município de Ijuí/RS.

É comum sabermos sobre coisas do mundo, admirarmos paisagens maravilhosas, nos deslumbrarmos por cidades distantes. Temos informações de acontecimentos exóticos ou interessantes de vários lugares que nos impressionam, talvez não conhecemos o que existe e o que está acontecendo no lugar onde vivemos. No entanto, os espaços construídos revelam a história das pessoas, dos grupos que neles vivem, como trabalham, produzem, se alimentam e como são suas práticas de lazer (CALLAI, 2000). Segundo a autora (2000, p. 84), “o lugar está presente de diversas formas. Estudá-lo é fundamental, pois ao mesmo tempo em que o mundo é global, as coisas da vida, as relações sociais se concretizam nos lugares específicos”. Esta é uma das justificativas para o estudo, nesta dissertação, do lugar que ocupa o lazer na cidade (o lugar vivido, o cotidiano).

Estudar a cidade a partir dos seus espaços é fundamental para a compreensão das possibilidades do que nela acontece (ou não) e suas implicações sociais. Cavalcanti (2001), em suas investigações, destaca a cidade como um espaço geográfico, o qual não teria sentido sem os processos sociais e culturais que nele se desenrolam. Os espaços na cidade são marcados de histórias, sobretudo os espaços de lazer que são modificados constantemente pelos agentes públicos.

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Em nosso cotidiano, ocupamos diversos espaços da cidade, mesmo que apenas passando por eles. Podemos nos deslocar pelo espaço de diversas maneiras e em tempos diferentes, por exemplo, de carro, de avião, de ônibus e até mesmo a pé. O diferencial nessas trajetórias é a velocidade do tempo e a distância que pode ser percorrida. Porém, o espaço pensado somente dessa maneira, torna-se pobre, com poucos sentidos culturas e sociais. É preciso entendê-lo não somente como uma superfície na qual podemos transitar, mas como espaços representativos.

Uma reflexão que se faz necessária, principalmente se tratando da implantação de novos equipamentos para o lazer, é sobre a representação que temos para os espaços de lazer próximos de nós, e como encaramos as mudanças bruscas que sofrem esses espaços quando modificados pelo poder público ou privado. O que ocorre quando o terreno (que não é público) ocupado para as práticas de lazer é vendido, quando se esvaziam os espaços das ruas e se tornam escassos os espaços baldios, ou seja, quando não se dá a apropriação do novo lugar pelos frequentadores antigos. Quando agentes públicos constroem novos espaços de lazer sobre os já existentes, parece não levarem em conta suas antigas práticas, o que, segundo Massey (2009), não é uma manobra inocente; desta forma eles ficam desprovidos da lógica de funcionamento anterior.

Reconheço as possibilidades do/no espaço público como “produto de inter-relações, como sendo construído através de interações, desde a imensidão do global até o intimamente local (pequeno)” (MASSEY 2009, p. 30), sendo também compreendido pela existência da multiplicidade e pluralidade. Portanto, está sempre em construção, sempre no processo de fazer-se. Sendo o espaço urbano uma produção social, cultural e política, me pareceu pertinente buscar entender a organização espacial para o lazer público através da lei do Plano Diretor Participativo do município de Ijuí/RS. Como a política local busca a efetividade de suas diretrizes por meio da obtenção de recursos, cuja maior parte é repassada pela União.

Os ideais utópicos de uma cidade sustentável em todos seus segmentos encontram limites impostos pelo próprio Estado, por meio de seus órgãos oficiais e também pelo modelo econômico que impõe diversas dificuldades para a efetiva elaboração, planejamento, construção e manutenção dos espaços públicos de lazer na cidade.

O lazer fica prejudicado quando uma cidade tende a oferecer espaços físicos escassos para seu desenvolvimento. Gomes (2004, p. 29) explica que o “lazer é a cultura vivenciada (prática, fruída) no espaço e no tempo e disponível das obrigações profissionais, familiares, escolares, combinando tempo, atitude e espaços possíveis para sua realização”.

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O lazer é uma necessidade humana básica, em todas as idades e modos de vida. O lazer necessita de espaços públicos para se realizar, no entanto parece encontrar, em grande parte das cidades, barreiras para o seu desenvolvimento. No caso desta pesquisa, busco conhecer os espaços públicos de lazer que o poder Público da cidade de Ijuí oferece.

Políticas municipais em relação ao espaço público que não assumem o compromisso de alocar, planejar seus espaços de lazer acabam impedindo um compromisso pedagógico. Com isso, sonegam à população espaços indispensáveis para o exercício da cidadania, seus direitos, em diversificadas e ricas oportunidades e experiências de lazer que podem ser construídas pela cidade. No Brasil, o lazer é uma obrigação constitucional, estabelecida pela Constituição Federal de 1988, artigo 6º. Portanto, cabe aos órgãos públicos oferecer e garantir políticas públicas, com ações diversificadas de lazer para todos.

O lazer tem uma historicidade, sua gênese não é moderna. Para Santos (2000), o lazer é um fenômeno imemorial e é também um fenômeno moderno, porém não devemos correr o risco de confundi-lo em suas épocas. No começo da história, dominavam as técnicas, as quais eram governadas pelo grupo e pelo território do grupo, diretamente ligadas à vida do grupo e a seus ritmos próprios, um lazer subordinado ao ritmo da natureza. Nos dias de hoje, estamos distantes da situação passada de lazer, produzindo outras condições para a sua prática.

Segundo Santos (2000, p. 32), “avultam as técnicas não territoriais, frequentemente exógenas, predominantemente ao serviço do mercado e sem respeito obrigatório pela natureza e pela vida”. Frente a essas condições, as cidades se organizam e buscam oferecer à população espaços para as práticas de lazer. No entanto, a modernidade trouxe alterações para o mundo do trabalho, o que mexeu também com o “tempo de não trabalho”, repercutindo, sobretudo, nos laços sociais e pessoais. Os fatores modernos de tempo e espaço são diretamente afetados na modernidade e ganharam novos sentidos.

Giddens (1991), relata alguns pesquisadores que já se referem a um novo momento histórico, além da modernidade. Segundo Giddens (1991), antes de formularmos novos termos para tentar dar sentido ao período no qual vivemos, devemos entender sua significância. Segundo o autor (1991, p. 09), em vez de “estarmos entrando num período de pós-modernidade, estamos alcançando um período em que as consequências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes”. A modernidade está relacionada com um processo de mudança. Segundo o autor (1991), o plano extensional serve “para estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos intencionais, elas vieram a alterar algumas das mais íntimas e pessoais características de nossa existência

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cotidiana” (GIDDENS, 1991, p. 21). Uma das alterações é o modo como encaramos o tempo e o espaço na modernidade, destinados para os encontros/lazer.

Não desejo colocar as consequências de um provável esvaziamento do espaço público na modernidade, mas é inegável sua parcela de culpa (mesmo com ou sem intenção) quando de forma geral trouxe mudanças extremas não só nas tecnologias, como também em todas as esferas de nossas vidas pessoais. O ciberespaço é um exemplo.

Para Massey (2009, p.103).

o que se desenvolveu dentro do projeto da modernidade, em outras palavras, foi o estabelecimento e a (tentativa de) universalização de uma maneira de imaginar o espaço (e a relação sociedade/espaço) que afirmou o constrangimento material de certas formas de organizar o espaço e a relação entre sociedade e espaço. Ela prevê, também, a base para noções muito mais comuns – persistentes e cotidianas – de que o “lugar”, ou a localidade (ou mesmo o “lar”), fornece um porto seguro onde podemos nos refugiar.

Na modernidade, a globalização é um dos fatores responsáveis pela aceleração do tempo, o que favorece um espaço menos perceptível, no sentido de vivências e não somente de passagem. Todos, segundo a globalização, devemos estar nos dirigindo para um único sentido, o do capital financeiro, o que economicamente não coloca ninguém em desigualdade, apenas em atraso econômico. Sendo assim, para que possamos atingir os “melhores” (os primeiros), não podemos “perder tempo”. Essa luta pelo dinheiro e por mais tempo leva a uma reflexão do espaço como “lugar” no contexto de um mundo que é, certamente, cada vez mais interconectado.

Segundo Massey (2009, p. 25), para alguns, o lugar:

[...] é a esfera do cotidiano, de práticas reais e valorizadas, a fonte geográfica de significado, vital como ponto de apoio, enquanto “o global” tece suas teias, cada vez mais poderosas e alienantes. Para outros, “um refúgio no lugar” representa a proteção de pontes levadiças e a construção de muralhas contra as novas invasões.

A proposta de pensar os espaços de lazer de forma multidisciplinar, plural e interpessoal é o que me moveu e desafiou a pesquisar o Plano Diretor Participativo de Ijuí, indagando: O que traz o Plano Diretor Participativo como lei para os espaços de lazer na cidade? Procuro identificar aspectos relativos às definições sobre a temática do lazer, do espaço e tempo urbano de lazer, da cidade, da educação para se viver na cidade e, sobretudo, da aplicação do Plano Diretor Participativo de Ijuí (2010).

Quanto ao espaço público da cidade, principalmente o de lazer, é importante que haja uma reflexão sobre o que essa ou precisa ser feito pela administração local, na tentativa de

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educar os cidadãos para a participação popular. Segundo Villar (2001), é necessário iniciar esse processo educativo pela escola, e posteriormente aproveitar o território como meio e fim de possibilidades educativas para viver na cidade de tal forma a aproveitar suas possibilidades estéticas, ambientais e de convivência como espaço natural de encontro, comunicação e criação, interagindo com os distintos agentes.

A abordar esta temática, limito-me a trazer reflexões e contribuições à comunidade acadêmica a partir da interlocução e da compreensão dos documentos do Plano Diretor Participativo (2010). No próximo capítulo, construo as bases iniciais de reflexão que me ajudam a delimitar e sustentar o meu objeto de estudo.

1.4 METODOLOGIA DA PESQUISA

Destaco aqui, que esta pesquisa caracteriza-se por ser exploratória, uma vez que busco analisar o Plano diretor de Ijuí e ações de aplicabilidade (ou não) das diretrizes relacionadas aos espaços públicos de lazer da cidade. Dessa forma, a construção desta pesquisa é também qualitativa, combinando com a abordagem da pesquisa documental. Para Gil (2002, p. 44), a pesquisa documental é “(...) desenvolvida com base em material já elaborado”. Assim, tomo como base documentos, leis, planos e atas do Plano Diretor Participativo de Ijuí.

Como objeto de análise, utilizo-me do Plano Diretor Participativo de Ijuí de 2010, contrapondo este com as constantes mudanças, sobretudo mudanças espaciais e temporais, ocorridas no espaço urbano, realizadas pelos cidadãos e pelo poder público. A delimitação temporal a partir de 2010 se deu devido à notória expansão territorial da cidade de Ijuí e a ocupação maciça das áreas periféricas. Esta pesquisa tem os seguintes objetivos:

- analisar a cidade de Ijuí e como esta planejou os espaços de lazer na legislação referente ao planejamento urbano (Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo Urbano, Plano Diretor Participativo);

- compreender quais critérios orientam a distribuição dos espaços de lazer públicos que está explícita na forma de gestão da cidade (nas legislações);

Analisar o Plano Diretor Participativo municipal implica, inicialmente, destacar a sua relação com a Constituição Federal brasileira de 1988 e o estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001. É também compreender a responsabilidade da União, dos Estados e dos municípios com os munícipes. Os municípios, para elaborarem seus planos e

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ações como leis municipais, precisam considerar os direitos dos cidadãos de conviver e viver a cidade.

O Plano Diretor Participativo das cidades é a principal Lei sobre a organização material e social do espaço urbano. Social, porque existem várias maneiras de se perceber e se viver a cidade, embora os agentes hegemônicos façam tentativas de unificar e concretizar alguns espaços de lazer como um produto exclusivo, planejado e seguro, principalmente para a classe média-alta. O Plano Diretor Participativo abrange também os aspectos organizacionais da cidade, ou seja, as delimitações territoriais e suas estruturas materiais. É um instrumento de efetivação do cumprimento dos artigos 182 e 1833 da Constituição Federal de 1988, que tratam da ocupação urbana. Dessa forma, analiso o Plano Diretor Participativo (2010) extraindo informações sobre a efetivação de espaços públicos de lazer, recortando para estudo alguns bairros da cidade de Ijuí.

Sinto-me atingido por este mundo global que modificou a “natureza” do lugar. Viver o local para mim é ver mudanças, é observar os movimentos de transformação de minha cidade, meu bairro, meu espaço. Dedico-me também nesta pesquisa a buscar informações empíricas indo a campo. No estudo de campo, para Gil (2002, p. 53) “o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é enfatizada a importância de o pesquisador ter tido, ele mesmo, uma experiência direta com a situação de estudo”.

Escolhi pesquisar a cidade. A cidade é formada por um conjunto de lugares que entre si têm relações contraditórias e de interdependência. Por trás de um caos aparentemente instalado na cidade, com pessoas, carros e todo tipo de acontecimentos simultâneos, há uma organização, uma certa estrutura que a ela dá ordem. “A estruturação do espaço urbano segue uma lógica que se relaciona com a própria forma de funcionamento da sociedade que ele expressa e abriga” (CAVALCANTI, 2007, p.11). É preciso captar o sentido social (viver, participar do/no espaço de lazer) do movimentar-se na cidade e viver alguns lugares para entender e falar dele com intimidade. Foi daí que nasceu a ideia de ir a campo, como meta para descrever melhor o espaço de que esta pesquisa se propõe falar.

Na pesquisa, escolhi primeiro localizar e descrever como o Plano Diretor Participativo trata os espaços formais de lazer, aqueles construídos de fato pelo poder público com o intuito de oferecer um bom lugar para o lazer municipal; segundo, recorro às

3Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Art. 183 - Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

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transformações das áreas de lazer informais4 de que determinada população usufrui, mas que não estão descritas no Plano Diretor Participativo, ou não se encontram em condições adequadas, como estipula este plano. Para tanto, utilizo-me de um acervo fotográfico organizado das áreas informais que foram mapeadas em 2008, o que me possibilita mostrar parte das transformações espaciais ocorridas nos últimos quatro anos nesses espaços.

Desse modo, penso poder destacar as associações entre o que define o Plano Diretor Participativo para o espaço público de lazer e o vivido no espaço público real da cidade, na tentativa de entender as condições da ordenação territorial (das áreas para o lazer) e das políticas formadoras de ações através do Plano Diretor Participativo da cidade de Ijuí/RS (2010), na construção, manutenção e aplicabilidade dos espaços públicos de lazer na cidade.

Metodologicamente, esta dissertação se classifica como qualitativa, uma vez “que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números” (SILVA, 2001, p.20). É preciso ir além da capacidade da quantificação neste trabalho de pesquisa para que seja possível entender não somente o espaço urbano de lazer físico como fim em si mesmo, mas também como meio, onde a vida social, política e cultural o animam. Ou seja, é possível captar o ordenamento urbano, mas isto não é suficiente. O crescimento das cidades se dá por muitos fatores que atraem as pessoas. Os recursos disponíveis e os meios conduzem a vida humana e, em geral, estão muito mais próximos nas cidades do que em qualquer outro lugar.

Com uma parcela significativa de pessoas hoje nas cidades, o pensamento sobre as modificações e aplicações de medidas para melhorar a vida nessas aglomerações são percebidas pelos órgãos públicos e também por algumas áreas do conhecimento científico, como a geografia, o direito, a arquitetura e urbanismo. Poucos estudos encontrei sobre o tratamento que é dado ao lazer e aos espaços públicos que deveriam ser destinados às suas múltiplas vivências nesta proposta de planejamento do solo urbano. Da mesma forma, nenhum estudo desta natureza foi realizado tendo como foco a cidade de Ijuí.

Atualmente, os especialistas estimam que somos sete bilhões de seres humanos (mal) distribuídos sobre a terra. Cavalcanti (2007, p. 12) afirma que:

[...] há uma lógica, pois, que orienta a produção do espaço urbano. Ela está relacionada com a característica de ser ao mesmo tempo produto e condição de produto social, já que o processo é contínuo e inclui o de reprodução. Isto refere-se a todas as esferas da vida: social, econômica, cultural. Por isso, produzir espaços,

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cidades é produzir em todas estas esferas, desde a macro-econômica, que diz respeito, por exemplo, à dinâmica da cidade no contexto da globalização, colocando para ela novas tarefas e desafios, até a social, mais micro, como a organização diária da vida privada, no âmbito das residências e de seus habitantes.

As cidades não param de crescer, e os espaços são modificados, sobretudo o espaço urbano público de lazer. Para discutir o tema do espaço público de lazer (construído fisicamente), utilizo alguns documentos e imagens, tais como:

- Lei complementar nº 5630, de 24 de maio de 2012, referente ao Plano Diretor Participativo de Ijuí RS;

- Atas de Reuniões da Comissão Especial da Câmara Municipal de Ijuí, constituída para proceder a estudos sobre o Plano Diretor;

- Atas de Audiências Públicas realizadas na Câmara Municipal de Ijuí para a aprovação dos projetos de Lei do Plano Diretor Participativo e da Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo, realizados entre 26 de novembro de 2009 e 28 de outubro de 2010;

- Legislação urbanística:

 Lei complementar nº 5630/2012 - Institui o Plano Diretor Participativo de Ijuí  Estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001;

 Lei complementar nº 2.887, aprovada em 19 de julho de 1993, dispõe sobre o Plano de Uso e ocupação do solo Urbano de Ijuí e dá outras providências.

 Lei do Parcelamento do Solo Urbano em vigor, aprovada em 19 de julho de 1993. Para a organização e análise destes documentos, levei em consideração o documento inteiro e não apenas as informações contidas nas partes especificas que discutem o lazer. Dessa forma, o Plano Diretor Participativo foi lido e analisado por inteiro, tendo como uma das principais metas de análise verificar nas outras seções e subseções se existiriam importantes informações a respeito do tratamento que é dado ao lazer.

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2 A CONSTRUÇÃO DA CIDADE E O LAZER

A seguir discuto as constituições das cidades e sua relação com as questões do lazer. 2.1 CONSTRUÇÕES DAS CIDADES E A DISPUTA DO SOLO URBANO

Já não é mais possível caracterizar uma cidade somente como o oposto do campo, ou um tipo de agrupamento extenso e denso de indivíduos socialmente heterogêneos, como fazia o pensamento urbanista até meados do século XX. Para Canclini (2008, p. 15), compreender o que é uma cidade vai além:

[...] nas últimas décadas, tenta-se caracterizar o urbano levando em conta também os processos culturais e os imaginários dos que o habitam. As cidades não existem só como ocupação de um território, construção de edifícios e de interações materiais entre seus habitantes.

Para Canclini (2008), muitas são as maneiras de se entender a cidade. Cada ser humano tem seus modos pessoais de experimentar, sentir, viver esse espaço. Para o autor (2008), os processos culturais ajudam a compreender melhor a cidade e suas constantes mudanças, as quais só ocorrem pelas transformações pessoais dos sujeitos. As cidades são espaços de convivência de pessoas e, por isso, passam por processos constantes de afirmação, resultados transitórios de ações e de identificação.5 As identidades culturais possibilitadas pelas cidades não são sólidas e tampouco imutáveis. Sendo assim, mudam conforme os sujeitos e as interações sociais entre eles.

Para Lefebvre (1991, p.103), a cidade tem necessidades humanas e sociais:

[...] opostas e complementares, compreendem a necessidade de segurança e de abertura, a necessidade de certeza e a necessidade de aventura, a da organização do trabalho e a do jogo, as necessidades de previsibilidade e do imprevisto, de unidade e de diferença, de isolamento e de encontro, de trocas e de investimentos, de independência (e mesmo de solidão) e de comunicação, de imediaticidade e de perspectiva a longo prazo. O ser humano tem também a necessidade de acumular energias e a necessidade de gastá-las, e mesmo de desperdiçá-las no jogo.

Das diversas necessidades sociais do ser humano, destaca-se a necessidade fundamental da atividade de lazer. Sendo assim, entendo que as necessidades espaciais vinculadas ao tempo e ao espaço público de lazer são importantes para a vida humana em

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Ijuí, por exemplo, ostenta alguns modos de identificação: "Colmeia do Trabalho", "Cidade Universitária", "Terra das Fontes de Água Mineral", "Portal das Missões", "Terra do Capitão Dunga" e “Capital Nacional do Biodiesel”.

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sociedade. A esse respeito, Lefebvre (1991, p. 104) destaca algumas atividades específicas do lazer humano: (...), “do qual o jogo, a sexualidade, os atos corporais tais como o esporte, a atividade criadora, a arte e o conhecimento são manifestações particulares e momentos, que separam mais ou menos a divisão de parcelas do trabalho”. (grifo meu).

Nessa perspectiva, algumas indagações são pertinentes e necessárias para buscarmos compreensões mais alargadas da significação do espaço e tempo de lazer nas cidades contemporâneas. É preciso compreender como se inicia o processo de formação dos espaços físicos construídos nas cidades. As cidades tornaram-se centros de atração a partir do momento em que se desenvolveram e se tornaram meios de grande produções de capital. Em certo momento da sua história, o espaço urbano deixou de ser ocupado sem planejamento e passou a ter uma ordenação, o que aumentou as diferenças territoriais, passando de diferenças naturais para diferenças sociais (SANTOS, 2005).

As cidades, a partir da modernidade, tornaram-se a base do comando da economia, que passa para uma nova configuração a partir do surgimento e ampliação dos meios de transporte, os quais colaboraram para a instalação das empresas em qualquer lugar do território, como desejassem. Através das estradas, foi possível que empresas se instalassem em locais onde a oferta de mão-de-obra era maior, potencializando sua produção, já que antes era quase que obrigatório ficarem próximas à matéria-prima. Com essa liberdade, as empresas passam a buscar áreas pontuais (estratégicas) do território para suas instalações, o que gera um crescimento inevitável, causando um aumento “desordenado” da urbanização.

Há outro fator, paralelo ao transporte, que também contribuiu para a aceleração da informação entre os setores econômicos da época é o livre mercado. Neste, as empresas podem transferir seus produtos para qualquer parte que desejam, tornando, assim, o espaço geográfico um caminho a ser vencido, iniciando uma concorrência no aumento do capital. E que, segundo os objetivos (discursos modernos) da modernidade, apresentava somente um caminho, o caminho do global, do inevitável.

No Brasil no século XIX, o número de favelas nas cidades aumentava quase que proporcionalmente ao número de pessoas que deixavam o campo, o que foi significativamente grande. Algumas das primeiras crises do território e de sua seleção espacial passam a ocorrer a partir desse fenômeno. O crescimento do êxodo rural é acompanhado também pelo crescimento das cidades, o que acaba por aumentar a mão-de-obra no processo de produção.

Mas as fábricas, em alguns momentos, chegaram a uma produção além da capacidade de venda, gerando um estoque de material. E é justamente esse estoque o causador

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de uma série de desempregos. Grande contingente da mão-de-obra precisa ser dispensado, uma vez que a produção parada não precisa dos trabalhadores.

Essa oscilação da produção desempregava temporariamente muitos trabalhadores até a fábrica vender seu estoque excedente. Essa condição gerava um mal-estar à população da classe trabalhadora, que, quando não empregada, perdia espaço na cidade, precisando se deslocar para as áreas urbanas mais pobres, explicando o crescimento desordenado de algumas dessas áreas, sobretudo as periféricas, hoje conhecidas como favelas. A cidade, a partir dessa aparente desordem, precisa agora de certa ordem, o que também implica para as fábricas e empresas de iniciativa privada uma ordenação das suas instalações em solo urbano. O principal fator gerador da desigualdade socioespacial é a produção do capital de uso da terra urbana, marcada pela coesão das atividades, que, segundo Corrêa (1995, p. 56), “é definido como aquele movimento que leva as atividades a se localizarem juntas” Essa coesão revela a divisão econômica do espaço, e não as residenciais, ainda que destas não estejam desvinculadas. A segregação residencial é, na realidade, um processo que origina a tendência a uma organização espacial em áreas de forte homogeneidade social interna e também disparidade entre elas (CORRÊA, 1995). Este processo remonta ao surgimento da cidade, portanto, caracteriza a cidade, e não apenas a cidade capitalista, mesmo que, sob a égide do capitalismo, a segregação assuma novas dimensões espaciais (CORRÊA, 1995).

Para Corrêa (1995, p. 61), “a segregação residencial é uma expressão espacial das classes sociais”. Segundo o autor, da localização diferenciada no espaço urbano das classes sociais fragmentadas, emerge a segregação residencial da cidade capitalista, ao mesmo tempo em que se verifica o aumento da concentração de atividades e da população na cidade. A cidade cresce (em número de pessoas), e com isso os espaços residenciais que nela são encontrados se tornam escassos, sendo seletiva e capitalista a forma e o local onde se compram terrenos. Isso, segundo Corrêa (1995, p. 62), “verifica-se basicamente devido ao diferencial da capacidade que cada grupo social tem de pagar pela residência que ocupa, a qual apresenta características diferentes no qual se refere ao tipo e à localização”.

O solo urbano é a principal mercadoria oferecida para quem deseja morar na cidade. Como ele é caro, exclui uma parcela considerável da população de seu acesso, atendendo apenas parte da população. Isso requer uma intervenção do Estado, quer direta ou indiretamente. Indiretamente, viabilizando linhas de créditos aos consumidores; e diretamente, através de construções, pelo próprio Estado, de habitações.

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A partir da elaboração do Plano Diretor, a urbanização começa (ou pelo menos deveria) ficar mais “organizada”, atendendo a todos de forma igual. Lefebvre (1991) faz algumas perguntas: Que necessidades a cidade e a vida urbana deveriam garantir? Seriam lugares específicos e qualificados, lugares de simultaneidade e de encontros entre as pessoas?

Assim como Lefebvre (1991), também faço algumas perguntas que tentarei responder ao longo desta dissertação. Como pensar a cidade? Qual o papel do lugar/espaço público de lazer na vida do cidadão da cidade? Qual o lugar do lazer ao integrar o Plano Diretor Participativo? Qual educação para viver na cidade estão os órgãos públicos passando para os cidadãos? Com respostas a essas perguntas, busco entender o problema estrutural, diretamente relacionado com o lazer público na cidade, sobretudo na cidade de Ijuí.

Cada pessoa tem seus próprios meios de viver e de se apropriar da cidade e dos espaços públicos que ela oferece. Desse modo, podemos entender os espaços da cidade pela ótica da representação social. Mesmo que tempo e espaço gerem determinadas formas de representação, é na dualidade sujeito e objeto que reside o denominador comum que pode conceber toda forma de representação.

O espaço de representação refere-se a uma instância da experiência da espacialidade originária na contextualização do sujeito. Sendo assim, trata-se de um espaço simbólico que perpassa o espaço visível e nos projeta no mundo. Desta maneira, articula-se ao espaço da prática social e de sua materialidade imediata (GIL, 2003 p. 02).

As pessoas possuem com o espaço de lazer uma ligação que não se pode construir em outras esferas da vida. O caráter cultural, social e lúdico é possível na esfera do lazer. No espaço de lazer está presente o tempo integral, sem fragmentações, sem preocupações com o que advir, um tempo de livre escolha, onde a pessoa pode escolher o que deseja fazer, onde deseja gastar seu tempo de lazer.

O tempo da produção econômica (em quase cem por cento dos casos) na modernidade inevitavelmente reduz o tempo de lazer das pessoas. O ajustamento das pessoas ao tempo de produção e das novas condições econômicas do período industrial apresenta dados particulares que apontam para uma possível diminuição da permanência dos indivíduos nos espaços públicos, principalmente nos espaços públicos de lazer. Isso, em parte, pode explicar a ocupação das pessoas com outras tarefas que não o lazer ou divertimento. A chegada da modernidade, com seus avanços tecnológicos, foram alterando a ordem do mundo do trabalho e algumas escolhas dos seres humanos, como as horas-extras de trabalho, o mais de um emprego, as qualificações profissionais e a busca constante por estabilidade financeira.

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O “tempo livre” se esvazia tão rapidamente quanto as relações interpessoais que, muitas vezes, ele mesmo permite. Em consequência, a sociedade também se modifica intensamente.

Bauman (2001) sugere uma reflexão sobre a sociedade contemporânea, que, segundo o autor, vem se transformando profundamente numa sociedade moderna, mas de um modo diferente. E um dos aspectos dessa mudança está diretamente ligado à emergência de experimentar o tempo e os espaços, destaco aqui os espaços de lazer. Bauman (2001) destaca ainda a natureza extremamente dinâmica da modernidade (ritmo de mudanças extremo e sem precedente histórico) e o seu longo alcance (as transformações atingem toda a superfície do Planeta – alcance global6). A organização social dos espaços públicos e privados na cidade se altera e com ela se altera também a vida em sociedade. Bauman (2009) nos faz refletir acerca da busca de refúgio/segurança pelos moradores na cidade e sobre a dificuldade de convivência com estranhos, o que deixa talvez as comunidades cada dia mais isoladas entre si, e as pessoas mais individualistas.

Explica-se, em parte, esta condição de um provável isolamento pela própria “condição global” em que se vive nos dias de hoje. Para Santos (2010, p. 65), “a globalização mata a noção de solidariedade, devolve o homem à condição primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada”. O próprio território assume cada dia mais valor dentro da cidade, o que faz do dinheiro, cada vez mais, um dado essencial no uso do território (SANTOS, 2010).

O aumento da população na cidade, (mesmo que agora esteja menor do que já foi no século passado) gera a procura por um lote, o que para o mercado imobiliário é motivo de altos lucros. Com a “falta” de espaços para toda população em áreas centrais da cidade, a própria classe média é obrigada a procurar terrenos na periferia imediata, o que empurra as pessoas já desfavorecidas para mais longe dos centros. É neste momento que se faz necessária a presença do Estado, que, no caso do Brasil, tem atuado na tentativa de minimizar o impacto da falta de moradia para população. Com 82% da população7 brasileira vivendo nas cidades, a questão habitacional se tornou urgente, passando a obter uma atenção especial através de políticas públicas assistencialistas, na tentativa de construir conjuntos habitacionais públicos

6 A característica do alcance global das transformações tem a ver com o chamado “lado sombrio” ou “dual” da modernidade, especificamente a questão da degradação ambiental e das transformações do mundo do trabalho por meio da “mundialização do mercado” e da “flexibilização” do trabalho, que acarretam consequências drásticas para milhões de pessoas no mundo inteiro com o desemprego estrutural e o desprotecionismo (ou precarização) trabalhista.

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que cumpram o seu papel social e, acima de tudo, permitam maior aquecimento na economia do país.

O governo brasileiro na primeira década do século XXI investe densamente na questão da moradia, e com isso condiciona as cidades a se organizarem de maneira diferente, estabelecendo novos limites para a área urbana, modificando também as antigas normas para os estabelecimentos comerciais e industriais em solo urbano. Na cidade, a especulação imobiliária aumentou, e os terrenos antes conseguidos em áreas centrais tornaram-se cada vez mais raros. Ocupando-se os espaços periféricos das cidades, consequentemente se aumenta a área populacional do município, “empurrando” quem não tem condições financeiras de adquirir uma residência digna, e mesmo os que são alcançados pelos projetos habitacionais populares, para ainda mais longe do centro comercial da cidade.

Partindo do pensamento político de que as cidades precisam de mais recursos, é que surgem algumas ideias de leis para a organização do território urbano. A primeira lei que busca a organização do território em Ijuí, por exemplo, está consolidada na lei orgânica8 (1913), que, mais tarde, veio a ser acompanhada pela obrigatoriedade do Plano Diretor Participativo (no casso de Ijuí em 1969) para cidades com mais de vinte mil habitantes. Para que os projetos de mudanças na estrutura dos espaços da cidade sejam realizáveis, é necessária a prévia elaboração desses no Plano Diretor Participativo. Através desses projetos elaborados previamente (quase sempre com anos de antecedência), é que o município se habilita a receber verbas federais.

O Plano Diretor Participativo da cidade de Ijuí, reformulado no ano de 2010, é um indício do aumento populacional da cidade (não só isso). Teve suas metas reformuladas, pois em sua antiga configuração não havia possibilidade de acompanhar o crescimento populacional, mantendo a ordem e a organização territorial.

É importante a intervenção (participativa) da sociedade na formulação (ou reformulação) dessas leis, pois, caso isso não aconteça, podemos ficar à mercê de uma hegemonia de mercado. Santos (2005) enriquece este debate ao afirmar a unipresença da metrópole, considerada por ele o lugar de todos os capitais e de todos os trabalhos e também o teatro de inúmeras atividades marginais.

Um gasto público orientado à renovação e à revitalização urbana e que, sobretudo, interessa aos agentes socioeconômicos hegemônicos, engendra a crise fiscal da cidade; e o fato de a população não ter acesso aos empregos necessários, nem aos bens e serviços essenciais, fomenta a expansão da crise urbana (SANTOS, 2005, p. 10).

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Com os programas de acessibilidade à moradia com crédito facilitado principalmente para a nova classe média do Brasil, a casa ganha uma atenção especial também do poder público municipal9. Este é dividido em secretarias e coordenadorias para que possa atender de forma objetiva os cidadãos. Para tanto, o município de Ijuí conta com as secretarias de Administração, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Desenvolvimento Rural, Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Urbano, Educação, Fazenda, Governo, Meio Ambiente, Planejamento e Saúde. E as Coordenadorias, Coord. de Trânsito, Coord. Especial de Cultura, Coord. Especial de Desporto e Lazer, Coord. Especial de Habitação, Defesa Civil, Procon.

Destacam-se as secretarias que possuem participação importante na elaboração do Plano Diretor Participativo do município de Ijuí. Chamo atenção para a falta de uma secretaria de Esporte e Lazer no município. A não participação direta da Coordenadoria Especial de Desporto e Lazer (CEDL) na elaboração do Plano Diretor Participativo municipal não beneficia a colaboração desta repartição com as ações integradas, as quais o próprio município se dispõe a fomentar entre suas secretarias.

Os desenvolvimentos desiguais (econômicos, políticos e sociais) são muitos na história da humanidade, por isso chamar a atenção para o espaço urbano desigual é fundamental para entendermos a cidade contemporânea, o valor que tem a moradia, a saúde, a educação, o lazer na vida da população da cidade. Culturalmente, o lazer está no fim dessa ordem, o que não faz dele menos importante. O lazer faz parte da vida do homem desde o princípio de sua história, porém apenas nos últimos anos está ganhando ares maiores acadêmicos e politicamente.

O Plano Diretor Participativo é o instrumento básico de política de desenvolvimento urbano e da expansão urbana do município. Ele orienta as ações dos agentes públicos e privados na ordenação de espaços e na gestão da cidade e das outras áreas urbanas de Ijuí. É parte do seu papel favorecer a realização de políticas urbanas e assegurar o direito de acesso à cidade para a população urbana, em especial a população urbana mais carente.

Lefebvre (1991) afirma que a urbanidade ainda não existe como realização plena, uma vez que os anseios das classes desfavorecidas pelo reconhecimento de seus direitos, tais como o direito à instrução e à educação, direito ao trabalho e à cultura, à saúde, à habitação, ao repouso, ao lazer, ainda não se deram de fato.

9Financiadas com dinheiro da União.

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Com o constante crescimento (territorial) da cidade, torna-se difícil captar seu estado social. Assim como já descrito, penso que cada morador, cada ser humano que vive na cidade tem sua própria representação, e faz sua leitura da cidade a partir do seu lugar/local. Dessa maneira, não vejo outra forma de ser público (todos fazem parte, é de todos) a não ser oferecendo o mesmo suporte social, político e cultural a todos os indivíduos de uma mesma cidade, que, ao mesmo tempo em que é igual, é diferente, principalmente em seu caráter social. Assim, vejo o Plano Diretor Participativo como vetor principal, o documento oficial que organiza e distribui os cidadãos e suas construções pelo espaço urbano. O espaço não é homogêneo, mas oferece um caráter social de referência para as pessoas que nele vivem. Desse modo, são os atores sociais que, através de parâmetros coletivos, atribuem sentidos e significados aos espaços, revestindo-os de natureza social.

O espaço de lazer no Plano Diretor Participativo de uma cidade precisa ser localizado, pois envolve o cotidiano, bem como as crenças, valores e mitos criados no seio da sociedade de classes e, que, em parte, estão projetados nas formas espaciais, ruas, monumentos, praças etc. “O espaço urbano assume assim uma dimensão simbólica, entretanto, é variável segundo os diferentes grupos sociais, etários, etc.” (CORRÊA 1995, p. 9). Todas as distinções que provêm dos espaços de lazer acontecem em função dos valores afetivos diferentes que são atribuídos a ele. O espaço de lazer faz parte de um espaço maior, que é o espaço urbano, sendo assim, torna-se também fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um espaço simbólico e campo de lutas (CORRÊA, 1995).

Santos (1997, p. 31) afirma que “o espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo, senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há espaço mundial. Quem se globaliza, mesmo, são as pessoas e os lugares”. Não se pode permitir que o tempo e o espaço de lazer sejam atacados pelos tempos metafóricos de que hoje se valem os discursos sobre o tempo e o espaço (SANTOS, 1997).

Na reflexão sobre espaço público de lazer e o tempo de lazer, é válido trazer às discussões e definições de como foi e como é pensada hoje a temática do lazer. Este é o assunto da próxima seção.

2.2 DEFINIÇÕES DE LAZER

Os estudos sobre lazer, embora estejam aumentando em número, considerando as publicações contemporâneas, não permitem dizer que as suas definições estão fechadas, concluídas, e é por este motivo que conceituar lazer não é uma tarefa fácil. Algumas

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definições trago aqui, mas não será possível tratar de toda produção acerca do tema, além de ser ambicioso demais. Então, nesta seção, busco discutir o conceito de lazer na perspectiva de alguns autores, como Dumazedier (1980, 1999, 1995, 2002), Gomes (2004, 2008, 2009), Marcellino (1996, 2000, 2001, 2002), De Masi (2000) e Mascarenhas (2004), que se mostram importantes para esta análise.

Em grande parte da literatura, as discussões e compreensões de lazer se relacionam intimamente com o mundo laboral, especialmente a partir de uma visão mais clara construída com as lutas dos trabalhadores pela redução das horas de trabalho e aumento das horas de descanso e/ou de lazer. Períodos de mais tempo livre para quem trabalha, sobretudo horas a mais fora da jornada de trabalho, significaram uma conquista considerável para os trabalhadores. E assim as primeiras questões teóricas sobre o lazer discutiam a importância, creio mais subjetiva, das atividades de lazer para os sujeitos trabalhadores.

A começar pela modernidade, até o momento histórico atual, temos uma produção teórica considerável para compreendermos o universo das práticas de lazer. No entanto, como o lazer é conceituado culturalmente, suas características e fundamentos têm sido construídos a partir de diferentes pontos de vista. Os conceitos de lazer estão ligados à produção e ao modo de trabalho dos homens e das mulheres. Alguns dos estudiosos, como Dumazedier (2002) e Gomes (2004), escrevem sobre lazer em épocas distintas da produção econômica, o que indica uma distinção de momentos sobre o entendimento do que é lazer, sobretudo quando vinculado aos meios de produção do trabalho.

O lazer, entendido como manifestação cultural, no período industrial é estudado em oposição ao mundo do trabalho, em especial por Dumazedier (2002). Esse pensamento, aos poucos, na contemporaneidade, vem deixando de aparecer, pois as linhas de pesquisa sobre lazer entendem que este se relaciona com as atividades de trabalho e não em oposição. Essas discussões e divergências colaboram para comprovar a complexidade do tema lazer, e trazem a extrema relação que existe entre lazer e trabalho, tanto no que se refere ao tempo quanto ao espaço.

Estudar o lazer significa pensar a dimensão lúdica do ser humano, presente nas vivências de lazer. Quando Dumazedier escreve acerca do tema, ele fala de um período industrial e de outras relações de trabalho, as quais se modificaram amplamente, e ainda estão se modificando. Para Dumazedier (1980, p.19), lazer é:

[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja divertir-se, recrear-se, ou ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou

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sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.

Dumazedier (1980) foi um dos pioneiros a aprofundar-se no campo teórico dos estudos sobre o lazer e influenciou os pesquisadores brasileiros. Embora tenha influenciado e contribuído para as pesquisas sobre o lazer no Brasil, os estudos atuais se mostram, em algumas linhas de pesquisa, opostos ao entendimento do autor quando este descreve que o lazer está em oposição ao mundo do trabalho. Mesmo sendo questionadas, as contribuições de Dumazedier (1995; 2002) sobre o universo de lazer estabelecem bases para seu entendimento. O autor destaca o lazer como sendo as atividades em áreas de interesse diferenciadas que compõem um todo interligado. Este autor classifica as atividades de lazer em categorias quanto ao conteúdo: do universo estético feito de imagens, de emoções, de sentimentos (como cinema, tv, igreja); do universo intelectual: cognição, informação (exemplo: busca de conhecimentos, jornais, revistas, acesso à literatura); do universo físico: desenvolvido através de práticas corporais e esportivas, (exemplo: caminhadas, ginástica, esporte e atividades correlatas, executadas de maneira formal ou informal, em espaços tecnicamente planejados, como pistas, academias, clubes, escolas esportivas; do universo social: espaços como os da balada noturna, boate, pubes, discotecas); do universo turístico: desenvolvido através de atividades turísticas (viagens, passeios).

Sendo o período em que vivemos diferente do universo encontrado por Dumazedier no Brasil na época da industrialização, justificam-se em alguns aspectos as divergências de entendimento sobre o universo do lazer, principalmente quando tratado em relação/oposição ao mundo do trabalho. As “novas” reconfigurações do sistema produtivo, juntamente com as mudanças econômicas, sociais, políticas, técnicas, educacionais e culturais, passam a temática do lazer para outro plano, colocando à frente de uma longa discussão outros elementos a serem considerados na teoria de Dumazedier. Gomes (2009), defende a ideia de que Dumazedier “procurou explorar as implicações do que considerou como lazer sem, no entanto, compreender a dinâmica social que permite a sua manifestação em nossa sociedade” (GOMES, 2009, p. 62).

O lazer está enraizado na dimensão da cultura, e seu lugar é encontrado nas manifestações culturais. Por tanto, a tomada como referência das sociedades industriais avançadas do século XX, capitalistas ou socialistas por Dumazedier não se justificam mais nos dias de hoje para explicar a relação lazer e trabalho, pois se observa uma passagem da

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sociedade industrial para a sociedade de serviços, complexa, o que demanda analisar criticamente o conceito elaborado pelo sociólogo francês.

O fenômeno do lazer está ligado aos processos localizados, uma vez que cada construção cultural depende do contexto social onde se realiza, do cotidiano onde os sujeitos criam as técnicas corporais próprias de sua cultura e de seus modos específicos de lidar com os limites de tempo, lugar, infraestrutura, condições econômicas e outras dimensões que condicionam suas realizações no lazer.

Gomes (2004, p. 29) entende que o “lazer é uma dimensão da cultura caracterizada pela vivência lúdica de manifestações culturais (tais como as festas, os jogos, as brincadeiras, os esportes, as artes e até mesmo o ócio) no tempo/espaço conquistado pelos sujeitos e grupos sociais”. O que destaco dessas observações, e que se torna pertinente a esta discussão, é o tempo e o espaço do lazer. Houve um tempo em que a importância do espaço não era lembrada como nos dias de hoje. Para Harvey (1994, p. 189), “podemos afirmar que as concepções do tempo e do espaço são criadas necessariamente através de práticas e processos materiais que servem à reprodução da vida social”. São esses processos que nos permitem entender o espaço e o tempo. É por isso que o lugar de onde falamos é importante para a compreensão do tempo e dos espaços de lazer.

O espaço de lazer tem ligação também com a educação das massas. Mascarenhas (2004, p.17), ao descrever essa ligação do lazer com a educação, explica que “o lazer se apresenta como lugar de uma experimentação valorativa em que a estética, a ética e a política articulam-se como dimensões que acabam por tornar impossível qualquer iniciativa de dissociá-lo da educação”. Em seu livro Lazer como prática da liberdade, Mascarenhas (2004) descreve o lazer no campo da educação, defendendo a ideia de que o lazer deve ser entendido como tempo e espaço de construção da cidadania e do exercício da liberdade. E assim, para o autor, “o lazer é como força de reorganização da sociedade, uma agência educativa, capaz de fomentar e colaborar para a construção de normas, valores e condutas para o convívio entre os homens” (MASCARENHAS, 2004, p. 13).

Segundo Marcellino (2002), outro autor que pesquisa o lazer e educação. Ele diz que deve-se levar em conta que, se o conteúdo das atividades de lazer pode ser altamente “educativo”, também a forma e o lugar onde são desenvolvidas abrem possibilidades “educativas”, uma vez que o componente lúdico do jogo, do brinquedo, do “faz-de-conta” que permeia o lazer é uma espécie de denúncia da “realidade”, deixando clara a contradição entre obrigação e lazer. Por meio das práticas culturais do jogo, por exemplo, as pessoas estabelecem relações com o universo do lazer, pois as características dessas práticas são as

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