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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

4.3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Por meio do preenchimento da ferramenta de avaliação do design de calçado e da análise

descritiva das amostras recolhidas em cada um dos países selecionados, foram respondidas as hipóteses levantadas na etapa anterior no desenvolvimento do trabalho experimental. Estas hipóteses foram construídas com base nos conceitos referentes às seis dimensões culturais de

Hofstede e nos elementos estéticos do design de calçados, ambos abordados no

desenvolvimento deste projeto. Desse modo, através dos resultados obtidos foi possível concluir, a respeito dos parâmetros culturais de Hofstede, se estes são explicativos no que tange os elementos estéticos do design de calçados, isto é, se existe uma forte ligação entre estes dois fatores.

Para melhor identificar os elementos do design de calçados que aparecem em maior quantidade nos parâmetros culturais, foi elaborada uma tabela que está presente no Anexo 7. Nesta tabela, os países são observados de forma geral, em grupos, de acordo com os parâmetros culturais. Esta tabela tem como objetivo auxiliar nas respostas das hipóteses e nas conclusões deste projeto.

4.3.1 DISTÂNCIA DO PODER

Entre os países com maior e menor distância do poder não foi possível observar diferenças estéticas expressivas, embora apareçam algumas de forma pontual na análise geral. Em número de cores que mais aparecem nos modelos de calçados, são exatamente iguais, alternando entre as cores: bege, castanho, preto e vermelho. A mesma situação também ocorre com os materiais componentes (cordão e fivela), altura do salto (alto, médio e raso) e estilo (fashion), que são semelhantes para ambos os parâmetros culturais em questão. As diferenças mais notáveis são identificadas nos modelos de calçados dos países com maior distância do poder, os quais as

marcas aparentam dar a preferência aos modelos Pump e saltos altos, à biqueira estreita e a

superfície com textura em verniz. Além disso, a textura de pele de animal e o formato do salto plataforma que aparecem com maior frequência nos países com menor distância do poder, não aparecem da mesma forma no parâmetro oposto.

Portanto, a hipótese levantada sobre a distância do poder foi indeferida. Isto porque os países com maior distância do poder apostam mais nos modelos com aspeto sofisticado que incluem modelos com saltos altos e agulha, bem como a biqueira estreita/pontiaguda. Enquanto, nos países com menor índice de distância do poder não mostraram-se tão criativos quanto esperava- se. Contudo, numa visão geral, as coleções não destoam expressivamente, visto que apresentam muitos elementos semelhantes do que era supostamente previsto de acordo com os conceitos de Hofstede.

4.3.2 INDIVIDUALISMO E COLETIVISMO

A principal diferença entre as coleções de calçados dos países individualistas e os coletivistas é a estação vigente: outono/inverno e primavera/verão. Ao considerar este fator, foram constatadas as diferenças entre os modelos de calçados: individualistas como Ankle Boots, Oxford e Sabrina;

coletivistas com Mocassim, Oxford e sandália. Os modelos Oxford aparecem em maior

quantidade em ambos os parâmetros. No formato do salto verifica-se uma notável diferença, nos países coletivistas os saltos variam entre bloco, plataforma e Sabrina, enquanto os individualistas nos saltos agulha, bloco e cone. Nos materiais componentes, a fivela aparece em ambos, com exceção do cordão que é verificado com maior frequência nos países individualistas. O mesmo ocorre com o formato da biqueira em que difere somente o formato pontiagudo nos países coletivistas. As cores são constatadas em maior proporção em ambos, porém, nos coletivistas são adicionadas as cores azul e branco e nos individualistas o vermelho e cinzento. Quanto à superfície e altura do saltos, ambos possuem os mesmos elementos.

Na hipótese levantada sobre os países individualistas e coletivistas foi constatada que esta estava errada. Vários dos elementos aparecem em ambos os parâmetros. Numa análise geral, os países coletivistas apresentaram calçados mais criativos que os individualistas, quanto a experimentação com o uso das cores mais chamativas. Nos países coletivistas, os modelos são mais excêntricos e menos sofisticados, como foi mencionado anteriormente. Em contraponto, a discrição e a sofisticação dos individualistas. Portanto, não é possível afirmar categoricamente que os países coletivistas procuram a padronização sem criatividade dos calçados, muito menos afirmar que os países individualistas procuram a diferenciação e que o calçado pode servir como ferramenta para isto.

4.3.3 MASCULINIDADE E FEMINILIDADE

Nos países masculinos e femininos não foram constatadas diferenças quanto a questão dos modelos e estilos. As diferenças entre os aspetos estéticos não são muito expressivas, são poucos os elementos que variam em ambos os parâmetros: a feminilidade adiciona elásticos aos materiais componentes, salto médio, bege as cores e o desenho vazado na superfície; a masculinidade acrescenta as pedrarias, o formato da biqueira estreito, vermelho as cores e o formato do salto entre o agulha e a Sabrina. Todos os outros elementos são muito semelhantes nas vezes em que aparecem.

Referente à hipótese levantada sobre esta dimensão cultural, alguns pontos foram confirmados.

Quanto ao aspeto chamativo, do status, dos países masculinos foram confirmados através dos

bordados, das pedrarias e da variação entre os formatos dos saltos e biqueiras. Nos países femininos, os calçados são mais discretos nos detalhes e cores, contudo, não são básicos como era esperado. No entanto, precisa ser levado em consideração as muitas semelhanças observadas entre ambos os parâmetros.

4.3.4 AVERSÃO À INCERTEZA

Na dimensão cultural da aversão à incerteza, os países com maior e menor índice, as marcas apresentaram nas suas coleções, em maior quantidade, os mesmos modelos de calçados, estilos e altura dos saltos. A diferença mais evidente é verificada nos materiais componentes com grandes variações. Assim como foi constatado nas outras dimensões culturais mencionadas, nesta ambos os parâmetros apresentam praticamente os mesmos elementos com exceção de pelo menos um elemento em cada dos parâmetros estéticos: na menor aversão à incerteza acrescentam o formato da biqueira pontiagudo, formato do salto agulha e o verniz da superfície; na maior aversão à incerteza introduzem o formato da biqueira estreita, o branco nas cores e o detalhe do desenho vazado na superfície.

A hipótese levantada sobre esta dimensão cultural foi indeferida, porque todos os aspetos mencionados mostraram ser totalmente opostos. Nos países com menor aversão à incerteza foi observado que as coleções apresentaram modelos mais ousados, criativos, com experimentações nas cores e modelos. Porém, foi constatado os modelos de calçados mais discretos. Enquanto isso, nos países com maior aversão, as coleções apresentaram modelos mais arrojados e com materiais componentes e menos conservadores do que era esperado.

Mesmo assim, é preciso considerar a quantidade expressiva de semelhanças entre os calçados de ambos os parâmetros.

4.3.5 ORIENTAÇÃO A CURTO PRAZO E ORIENTAÇÃO A LONGO PRAZO

Nos países com orientação a longo prazo e orientação a curto prazo, ao contrário das outras dimensões mencionadas, foram os que mais destoaram nos modelos de calçados. Na orientação a longo prazo, foram apresentadas as Ankle Boots, Mocassins e Oxfords. Entretanto,

nos países com orientação a curto prazo, os mocassins e sandálias aparecem com maior

destaque. Nos materiais componentes e altura de saltos, os parâmetros apresentam elementos iguais nos dois casos. Em relação às cores, foi observado um número significativo nas duas orientações. Quanto ao formato das biqueiras, na orientação a longo prazo os formatos são mais explorados. No formato do salto, a orientação a curto prazo acrescenta as plataformas e a orientação a longo prazo adiciona em maior quantidade os saltos agulha. A altura dos saltos entre ambos é semelhante em número de quantidade: alto e raso. As outras diferenças observadas são: orientação a longo prazo acrescenta o estilo vanguarda e explora todos os formatos da biqueira; orientação a curto prazo adiciona as superfícies o desenho vazado e o padrão da pele de animal.

Com isto, foi concluído que as hipóteses levantadas não atendem totalmente as informações obtidas através das análises. Era esperado que nos países com orientação a longo prazo apresentassem os saltos baixos, modelos básicos e sem muita criatividade, quando apresentaram o formato de biqueiras bastante variados. Além do estilo fashion, o de vanguarda também foi introduzido com saltos diferenciados, mas com cores sóbrias. Na orientação a curto prazo foi possível observar uma variação em maior quantidade nas superfícies e nas cores descontraídas, mas nos modelos e formato de saltos não foi observado alternância significativa. 4.3.6 INDULGENTE E RESTRITIVO

As diferenças entre as coleções de calçados dos países indulgentes e restritivos dá-se em primeiro lugar pelas estações vigentes que são opostas. Esta diferença influencia nos modelos dos países indulgentes que são mais abertos (sandálias) e nos países restritivos os mais fechados (Ankle Boots e botas). O único aspeto estético semelhante entre ambos é constatado

nos materiais componentes. Além, os países restritivos exploram muito mais o formato da biqueira, altura do salto e modelos. Nos indulgentes, a superfície e as cores possuem destaque. Nos países indulgentes, as coleções foram apresentadas de forma criativa e descontraída, tanto pelo uso das cores como as superfícies utlizadas. No lado oposto, os países restritivos apresentaram coleções discretas, como mencionado na hipótese, porém, nos modelos verificados não foram constatadas as características de um modelo básico com salto raso, também referido. Neste caso, destaca-se as diferenças entre as estações das coleções em ambos os parâmetros.

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