• Nenhum resultado encontrado

IV – MATERIAL E MÉTODOS

VI. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A maior biodiversidade encontra-se nas regiões intertropicais ou equatoriais, isso devido a uma série de condições, sobretudo climáticas e geográficas.

A história geológica destas regiões retrata um passado de transgressões e retrações dos domínios florestais, durante as oscilações climáticas do quaternário. Associados as estes fatos, estão os diversos gradientes altitudinais, geo-morfológico e latitudinais, o que conferiu à sua composição atual uma extrema diversidade biológica, de habitats e fitofisionomias florestais ao longo da sua extensa distribuição (Mori et al., 1981; Mantovani, 1992).

Nestas regiões, alguns biomas, ou numa escala menor, ecossistemas, estão mais propícios a desenvolver ou abrigar uma biodiversidade elevada: o mais comum é a mata equatorial ou tropical ombrófila; e não existe nenhuma outra formação vegetal que abriga um nível de biodiversidade igual. Neste sentido, os fatores que facilitam a presença de uma biodiversidade expressiva seriam, por exemplo:

- a própria formação florestal, a qual apresenta um nível de complexidade ambiental que proporciona a diversidade de plantas e animais;

- a relativa estabilidade das condições climáticas, próximas do ótimo de desenvolvimento de uma maioria das espécies (história geológica evolutiva);

- a diversidade de solos, que influi diretamente sobre a vegetação, através da capacidade de manter água e nutrientes continuamente disponíveis para floresta.

A distribuição de espécies arbóreas nas Matas Úmidas da Costa Atlântica Brasileira, levantadas neste estudo pelo compilamento de levantamentos florísticos da literatura, e posterior mapeamento das localidades e geração de um mapa de distribuição do numero de espécies, possui uma forte correlação com todas as variáveis ambientais analisadas.

As áreas amostradas foram 58 pontos ao longo das Matas Ombrófilas da Costa Atlântica Brasileira, totalizando 1837 espécies inventariadas.

A partir do cruzamento dos mapas com o auxílio do SIG, foi possível a realização de análises de regressão linear simples e múltipla e de correlação das áreas de distribuição do número de espécies arbóreas com os fatores ambientais.

Tanto na análise de regressão linear simples, como na regressão múltipla, a variavel insolação anual (hs) apresentou maior coeficiente de correlação, seguido pela temperatura (°C). Acrescentando que todas as demais variáveis apresentaram valor significativo.

Na tabulação cruzada dos mapas temáticos com o mapa de distribuição do número de espécies arbóreas, o maior o índice de correlação encontrado foi para o cruzamento do mapa de Unidades Geomorfológicas com o mapa de de espécies arbóreas, seguido pelo cruzamento do mapa de distribuição do número de espécies arbóreas com a insolação anual (hs) e temperatura (0C).

As condições topográficas, morfológicas e litológicas, representadas pelas Unidades Geomorfológicas, são bastante heterogêneas de norte a sul da área de estudo, as quais condicionam diferenciações na fisionomia e na composição florística ao longo da distribuição das Matas Ombrófilas.

As Matas Ombrófilas presentes nos trechos que se segue entre Alagoas até o norte do Espírito Santo, não estão assentadas sobre altitudes muito elevadas e se situam entre a faixa litorânea e as serras interiores.

Nos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, as Matas Ombrófilas, bem como a maioria das espécies arbóreas levantadas nos pontos de coleta destes dois Estados, se encontra sobre relevos com altitudes elevadas. As Unidades Geomorfológicas presentes nestas áreas são aquelas relacionadas aos Planaltos, com diferentes estágios de declives montanhosos, favorecendo uma diferenciação da composição da vegetação de acordo com os estágios do relevo, que influenciam na composição do solo, na umidade, insolação anual e na temperatura.

De acordo Joly et al., (1991), a Floresta Pluvial Tropical Atlântica, ou Mata Ombrófila Densa, exibe alta diversidade florística e atinge seu máximo na região Sudeste. No entanto, convém ressaltar que a região Sudeste, principalmente o Estado de São Paulo, é a melhor estudada do ponto de vista da área total amostrada, com muito mais levantamentos florísticos e fitossociológicos que o restante das outras áreas de Matas Ombrófilas.

O conjunto de serras ao longo da costa brasileira conhecida como Serra do Mar e da Mantiqueira, domínio das Matas Ombrófilas, constituem uma região biogeográfica importante.

As características ambientais destas áreas são muito singulares, onde a precipitação média é de 1000-1500 mm/ano ao nível do mar, as quais aumentam conforme a elevação altitudinal e pode exceder 4000 mm/ano nas regiões mais altas (Câmara 1991).

As análises das informações, a partir dos dados pontuais, demonstraram que as espécies arbóreas inventariadas, não estão distribuídas de forma homogênea ou uniforme em todas as Matas Ombrófilas.

O estudo da ocorrência de espécies arbóreas, em função das coordenadas geográficas (latitude e longitude), mostra uma distribuição mais agregada à faixa de mata próxima do litoral, ou em altitudes mais elevadas entre as latitudes 180 00’ a 260 15’ S, e as longitudes 390 15’ a 490

00’ W.

Nestas áreas, as características climáticas respondem por temperaturas mais quentes e grande umidade, sem estação seca, em áreas de Matas Ombrófilas Densa, ou com curta estação seca em algumas localidades das áreas de Matas Ombrófilas Aberta e Ombrófila Mista.

As médias anuais de precipitação são superiores a 1.000 mm, a umidade relativa se aproxima da saturação, e não há deficiência hídrica. As médias anuais de temperaturas são de 23 - 25 0C.

Estudos realizados para distribuição de espécies arbóreas em regiões da América do Norte (Currie e Paquin, 1987), demonstraram que o número de espécies não segue somente as linhas de latitude, assim fatores ambientais como taxa de evapotranspiração, quantidade de energia disponível e complexidade de hábitat estariam influenciando o padrão de distribuição da riqueza de espécies.

Zobel (1992), em seu estudo com comunidades arbóreas na Europa, mostrou que a riqueza de espécies é dependente dos processos evolutivos, assim, fatores históricos são fundamentais na compreensão da composição das comunidades. Isto pode sugerir uma estrutura evolutiva complexa da flora que deveria ser considerado nas classificações fisionômicas. Zobel op cit. também atenta para a importância de estudos que trabalham em diferentes escalas, pois verificou que fatores que operam em diferentes níveis são responsáveis pela riqueza de espécies.

O índice de similaridade florística verificado para as Matas Ombrófilas, ao longo da área de estudo, que abrange desde o Estado de Alagoas ao Estado do Rio Grande do Sul, apresentou valores muito baixos. Este resultado demonstra pouca associação entre as espécies da flora ao longo da sua distribuição, que abrange uma extensa área.

Siqueira (1994), comparou 63 fragmentos de matas localizados na Floresta Ombrófila Densa e verificou que a Mata Atlântica é composta por dois blocos distintos de vegetação, um

na região Nordeste e outro na região Sul/Sudeste; e para o estado de São Paulo também observou uma divisão entre as matas do interior e as matas próximas ao litoral. Os resultados encontrados através da análise de agrupamento e análise fatoriais de correspondência condizem com as observações feitas por Siqueira (1994).

Nas análises fatoriais de correspondência, as espécies arbóreas ocorrentes nos Estados apresentam um número expressivo de espécies restritas a áreas especifica dos diferentes Estados analisados.

A partir das análises fatoriais de correspondência, pode-se observar que as espécies das Matas Ombrófilas do Estado de São Paulo apresentam uma divisão, com agregação das áreas segundo as altitudes. O mesmo se observa para o Estado do Rio de Janeiro, que apresenta forte relação com a altitude. É necessário ressaltar que o Estado do Rio de Janeiro possui apenas dois pontos amostrados. Necessitaria uma maior amostragem para inferir com maior ênfase sobre a influência da altitude na repartição das espécies das suas matas.

Para que o estudo da distribuição das espécies arbóreas fosse mais consistente, seria absolutamente necessário que os levantamentos florísticos existentes fossem homogeneizados com a colaboração de botânicos, para uma melhor padronização dos dados.

A partir dos dados padronizados seria possível um melhor detalhamento e um estudo comparativo entre a diversidade arbórea dentro de cada Estado especificamente.

Com um detalhamento mais refinado dos levantamentos florísticos, talvez seja possível compreender melhor como ocorre a reposição das espécies entre as áreas uma vez que foi constatada neste estudo a descontinuidade da composição florística ao longo das áreas de distribuição das Matas Ombrófilas.

Os mesmos resultados encontrados comparando os dados por Estados, daria uma melhor contribuição para o conhecimento específico da diversidade florística, se fosse realizado um estudo comparativo entre as matas internas de cada Estado.

A ampla extensão latitudinal das Matas Ombrófilas confere diferentes padrões nos fatores ambientais. As relações topográficas e climáticas, que se apresentam diferentes de norte a sul, conferem características locais muito singulares a cada formação.

A heterogeneidade da composição florística da flora das Matas Ombrófilas, é bem discutida pela comunidade científica, mas pouco se conhece desta questão. Carecendo mais levantamentos florístico fitossociológicos para as áreas menos estudadas, como as matas do

nordeste, por exemplo. Também é necessária uma maior disponibilidade de informações, que além de escassas, são dispersas, o que dificultou muito este estudo.

A partir da comparação entre os mapas de Ecorregiões que definem os ecossistemas brasileiros, considerando suas peculiaridades, de Geodiversidade onde apresentam áreas de grande diversidade biótica e abiótica e os Hotspots que apresentam áreas de elevada diversidade biótica e endemismo em situação de intensa degradação, conforme apresentados anteriormente, observa-se que as áreas são convergentes com os mapas analisados neste estudo. As áreas destes mapas previamente definidos correspondem às áreas das Matas Ombrófilas estudadas, bem como com o mapa de distribuição do número de espécies arbóreas.

Este fato reforça a necessidade de um conhecimento mais acurado das espécies arbóreas que compõe as Úmidas da Costa Atlântica Brasileira, como também atua como um indicador de áreas prioritárias para a conservação, que visa facilitar a tomada de decisões das políticas públicas que envolvem a conservação dos ecossistemas nacionais.

Conclusões

Este estudo demonstrou que:

- a distribuição das espécies arbóreas ao longo das Matas Ombrófilas do Brasil Oriental, está significativamente correlacionada aos fatores ambientais, destacando: insolação anual (hs), médias anuais de temperatura (0C) e altitude.

- a repartição das espécies arbóreas se faz de forma muito heterogênea ao longo das Matas Ombrófilas. Apresentando uma parte importante de espécies restritas as Matas Ombrófilas de cada Estado especificamente.

- a existência de certas particularidades na distribuição das espécies arbóreas dos Estado de Alagoas que apresenta espécies comuns com a maioria dos Estados, mesmo com os mais distantes. Enquanto que existe descontinuidade na composição florística dos Estados de Alagoas e Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.

- a repartição das espécies arbóreas evidenciadas neste estudo, representa informações importantes para medidas de conservação.