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Os resultados observados no presente estudo indicam que quer o treino tradicional de força, o treino com electroestimulação ou a conjugação dos dois são métodos eficientes no aumento da espessura muscular, sem haver diferenças significativas entre grupos.

Os ganhos hipertróficos associados ao treino de força tradicional já estão bem documentados (Gomes da Silva, 2018). Em relação ao uso de electroestimulação (Gomes da Silva, 2018) e a conjugação de ambas as técnicas (Silva et al. 2007; Bezerra et al., 2009; Gomes da Silva, 2018), poucos são os estudos, em sujeitos saudáveis, que comprovam a sua eficácia na hipertrofia muscular. Igualmente, existem estudos que não observaram aumentos da espessura muscular com o uso de electroestimulação de forma isolada (Keller & Katch, 1998).

No estudo de Keller & Katch, (1998), os resultados diferem do presente estudo, não observando diferenças significativas dos níveis hipertróficos dos músculos bíceps brachii e do tríceps brachii. As diferenças nos resultados entre estudos podem dever-se ao volume de repetições por sessão em electroestimulação, que foram 10 no estudo de Keller & Katch, (1998) e de 66 no presente estudo. Desta forma, parece que são necessários maiores volumes de treino de electroestimulação para ocorrer hipertrofia muscular, quando esta é executada isoladamente.

Torna-se difícil comparar os resultados do presente estudo com os resultados dos restantes estudos sobre esta temática, em relação à comparação entre metodologias utilizadas, pois somente os estudos de Bezerra et al., (2009) e Gomes da Silva, (2018) que comparam o uso do treino de força isolado e a combinação do treino de força com a electroestimulação na espessura muscular.

Bezerra et al. (2009), observa um aumento da secção transversa do músculo significativamente superior no grupo que combinava exercício de treino de força com electroestimulação em relação ao grupo que realizava somente treino de força. Estes resultados contrariam os resultados observados no presente, em que essa diferença não foi observada. Estas diferenças podem estar relacionadas com diferenças metodológicas entre os dois estutos, nomeadamente no tipo de ação muscular utilizada no treino de força (dinâmica no presente estudo e isométrica no estudo de Bezerra et al., 2009). A tensão gerada por um músculo durante as ações dinâmicas e isométricas são controladas pelo sistema nervoso central, que recebe informações do sistema nervoso periférico sensitivo (fuso neuromuscular e órgão tendinoso de Golgi) do nível de tensão que está a ser exercida no momento pelos músculos, ou grupos musculares, que estão envolvidos no movimento (Seeley et al., 2003; Kenney et al., 2012; Hedayatpour & Falla, 2015; Haff et al., 2016). Contudo,

independentemente se a tensão seja maior ou menor à resistência que se tenta mover, desde logo porque essa resistência é, normalmente, amovível e, quando passível de ser movimentada, o objetivo será sempre suster naquela posição (Corvino, Caputo, Oliveira, Greco, & Denadai, 2009). Já nas ações dinâmicas (concêntricas e excêntricas), o nosso sistema nervoso central já possui um padrão de nível de tensão necessário para movimentar aquela carga, ajustando o nível de tensão à necessidade do momento (Corvino et. al., 2009) Desta forma, poderá ter ocorrido que devido a tensão gerada pela electroestimulação, na fase excêntrica, no presente estudo, o sistema nervoso central dos sujeitos do grupo que combinava treino de força com electroestimulação, tenha recebido por via aferente a informação de que a tensão que estava a ser exercida no músculo era superior a tensão necessária para realizar a tarefa proposta. Assim, o SNC poderá ter diminuído a tensão exercida de forma voluntaria durante a ação excêntrica do movimento neste grupo de sujeitos. O nível de tensão mecânica é um dos factores importantes no processo de hipertrofia muscular (Gentil et al, 2006) e a sua diminuição pode explicar os resultados obtidos no presente estudo e a divergência do estudo de Bezerra et al. (2009). Contudo, devemos referir que não foi avaliado o nível de tensão exercida durante as diferentes ações no presente estudo. Logo, esta interpretação pode ser considerada meramente expeculativa, devendo este facto ser tido em conta.

Gomes da Silva et al., (2018), observaram, tal como no presente estudo, não existirem diferenças significativas entre o grupo que usava somente o treino de força e o grupo que combinava o treino de força com electroestimulação. No estudo de Gomes da Silva et al. (2018), foram utilizadas ações dinâmicas durante as duas intervenções, embora no presente estudo, no GETF a electroestimulação estava na sua fase de estímulo durante a ação excêntrica e no estudo de Gomes da Silva et al, (2018), foi durante a ação concêntrica e foi dado um enfase na ação excêntrica (5s de duração) quer no grupo que só realizou treino de força e no grupo que conjugou treino de força com electroestimulação.

No presente estudo o GTF realizou o mesmo tempo de ação quer na ação concêntrica quer na ação excêntrica (2/2) e realizou 7s na ação excêntrica no GETF, portanto seria de esperar ganhos hipertróficos superiores neste grupo em relação aos restantes por ter maiores tempos em tensão e maiores danos musculares, aspetos importantes na obtenção de hipertrofia muscular (Gentil et al, 2006). No entanto, os ganhos hipertróficos no GETF não foram superiores em relação aos restantes grupos. Este facto poderá dever-se a que os danos musculares consequentes de maiores tempos em tensão durante as ações excêntricas podem não causar hipertrofia muscular (Tricoli, 2014; Schoenfeld, Ogborn, & Krieger, 2015).

Os ganhos de hipertrofia muscular não estão relacionados somente a um factor, mas sim a um conjunto deles, devendo ser visto como uma consequência multifactorial relacionada

com o tipo de treino, com a qualidade da nutricional, com o descanso e o stress psicológico que os sujeitos efetuam durante o período de treino (Tricoli, 2014). No presente estudo somente se controlaram as variáveis do treino e não os outros factores. Desta forma, não podemos afirmar se algumas destas variáveis interferiu nos resultados observados no presente estudo, podendo ser considerado uma lacuna deste estudo. Assim, o dano muscular e o tempo de tensão superior no GETF, em relação aos restantes grupos experimentais, no presente estudo, pode até ter sido superior, mas o descanso e a nutrição pode não ter sido diferente e não ter sido adequada ao nível de stress induzido por este tipo de intervenção. Como é sabido os estímulos das ações musculares, se bem planeados, provocam síntese e degradação proteica (Tricoli, 2014). Contudo, para existir hipertrofia muscular é necessário que a síntese proteica seja superior à degradação proteíca (Toigo & Boutellier, 2006). Desta forma, embora com estímulo superior no grupo GETF, em relação aos restantes grupos, em termos de tempo em tensão, pode não ter sido acompanhado em termos de recuperação e de ingestão proteica que permitisse um maior rácio entre síntese e degradação proteica. Mas, mais uma vez é importante referir que estas variáveis não foram avaliadas, nem controladas, no presente estudo, não podendo assim afirmar que estas foram as razões para não se ter observado diferenças entre grupos de intervenção no presente estudo. Sugerimos que em estudos futuros estas variáveis sejam controladas para observar se os resultados se mantém ou se têm alterações.

Em relação ao uso da electroestimulação e à conjugação da electroestimulação são necessários mais estudos, com qualidade metodológica, que estudem os efeitos das diferentes variáveis dos treinos na hipertrofia muscular e, igualmente, estudos que não comparem somente as diferentes intervenções isoladamente com um grupo de controle, mas igualmente entre os diferentes grupos de intervenção como no presente estudo. Desta forma, poderá obter-se uma conclusão fundamentada da real eficácia destas técnicas na hipertrofia muscular

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