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A proposta central do presente estudo foi investigar os efeitos do exercício sobre os mecanismos locais que modulam as respostas da aorta à Ang II em animais 2R1C. Vale ressaltar que os efeitos do exercício sobre as respostas de aortas a diversos agentes vasoconstritores, inclusive Ang II, já foram descritos em animais normotensos.58,61,62 Paralelamente, Kumral e Cols.70 mostraram as ações do exercício sobre as respostas de aorta a diferentes agentes vasomotores em animais 2R1C, porém nunca se estudou as respostas à Ang II. Todavia, o fato deste estudo focar as respostas da aorta à Ang II em animais 2R1C o torna inédito. Neste sentido, entendemos que o presente estudo permite uma melhor compreensão dos mecanismos mobilizados pelo exercício, que podem ser úteis na profilaxia e/ou tratamento da HAS.

Optou-se, no presente estudo, por estudar os animais 2R1C na fase aguda do modelo. Na verdade, esta opção deveu-se ao fato de estudos anteriores relatarem aumentos nas concentrações plasmáticas de Ang II nesta fase do modelo 2R1C.67,68 Assim, eventuais modificações de respostas das aortas destes animais à Ang II teriam um significado biológico mais claro. Contudo, a dosagem de Ang II no plasma destes animais não mostrou níveis circulantes aumentados deste peptídeo em comparação aos animais normotensos (dados não apresentados). Concentrações plasmáticas de Ang II semelhantes entre animais SHAM e 2R1C, como as observadas no presente estudo, já foram relatadas por outros autores.22,84 Segundo estes autores, não se pode dizer que a Ang II deixa de ser importante já na quarta semana do modelo 2R1C, mas pode-se dizer sim que, nesta fase, o SRAA tecidual já prepondera em relação ao circulante.

Para que fosse possível estudar os efeitos do treinamento sobre aortas de animais 2R1C foi necessário verificar a eficácia do protocolo de treinamento e do modelo de hipertensão. Neste sentido, analisou-se primeiramente o ganho de peso de todos os animais incluídos no estudo. Estes dados mostram que os protocolos de exercício aos quais os animais foram expostos não promoveram modificações significativas no ganho de peso corporal, tanto nos animais SHAM quanto nos animais 2R1C. O treinamento também não promoveu aumento da massa úmida cardíaca, tanto nos animais SHAM quanto 2R1C. Com efeito, estes dados sugerem que o exercício praticado durante o treinamento foi de intensidade leve a moderada.78 Também não foram observadas modificações significativas da massa corporal em conseqüência do treinamento. A efetividade do treinamento, contudo, foi comprovada pelo aumento do desempenho em esteira, que foi observado na sexta semana de protocolo de treinamento. Os dados obtidos também mostram que o modelo de hipertensão empregado no

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presente estudo foi bem sucedido. Isto porque houve um aumento significativo na PAS dos animais considerados 2R1C, quatro semanas após a cirurgia para a promoção da estenose renal.

Uma vez que a hipertensão 2R1C é uma variável central do presente estudo, no seu delineamento experimental, optou-se por investigar as respostas à Ang II tanto em animais SHAM quanto naqueles 2R1C, simultaneamente. Com isso, pode-se dizer que as alterações observadas são realmente decorrentes da implantação bem sucedida do modelo de hipertensão renovascular 2R1C, quando comparadas às respostas provenientes dos animais SHAM.

Nos experimentos de reatividade vascular observou-se que, em animais SHAM, o treinamento promoveu uma redução da magnitude das respostas das aortas à Ang II. Esta redução de resposta, contudo, não foi observada frente ao exercício agudo. Possivelmente, as adaptações promovidas pelo exercício sobre os mecanismos que regulam o tônus vascular instalam-se permanentemente à medida que o animal é exposto continuamente às sessões de exercício durante o treinamento.54-56 Em preparações sem endotélio esta redução de resposta induzida pelo treinamento não foi observada. Isto sugere que o treinamento mobiliza substâncias vasodilatadoras provenientes do endotélio para atenuar as respostas contráteis à Ang II. A atenuação das respostas à Ang II, observada em animais treinados, também deixou de existir na presença do PD123.319, um bloqueador de receptor AT2. Isto sugere que a

mobilização de substâncias vasodilatadoras endoteliais, responsáveis pela atenuação das respostas à Ang II em animais treinados, se dá através da estimulação de receptores AT2.

Além disso, os resultados obtidos também sugerem que esta substância vasodilatadora, liberada pela estimulação de AT2, pode ser o NO. Isto porque a inibição da NOS pelo L-

NAME suprimiu a redução de resposta que havia sido observada nas preparações dos animais treinados. Estes dados são corroborados por estudos anteriores nos quais observou-se que o treinamento promove redução das respostas vasculares à Ang II por meio de mecanismos vasodilatadores endoteliais relacionados ao NO.40-44 A participação dos receptores AT2 na

mobilização do NO, antagonizando assim os efeitos vasoconstritores provenientes mediados por AT1, também tem sido proposta.8,22-27

Paralelamente, foi observado que os prostanóides também são importantes na modulação do tônus vascular das preparações estudadas. Contudo, estes mediadores locais aparentemente são essenciais na manutenção do tônus destas preparações. De fato, a inibição da COX pela indometacina atenua as respostas destas preparações à Ang II, marcadamente nos animais sedentários. Nos animais treinados, provavelmente pelo fato destas respostas já estarem minimizadas pela ação do NO, não se observou efeitos importantes da indometacina.

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Coincidentemente, estudos anteriores já demonstraram a participação dos prostanóides vasoconstritores na manutenção do tônus vascular, e que seus efeitos vasoconstritores podem ser suplantados pelas ações vasodilatadoras do NO.45,73

Como vimos, os resultados obtidos em animais SHAM mostram modificações induzidas por repetidas exposições ao exercício compatíveis com as descritas na literatura. Por outro lado, adaptações semelhantes parecem não ocorrer nos animais 2R1C. Nestes animais, não se observou a redução da magnitude das respostas da aorta à Ang II, que ocorre nos animais SHAM mediante o treinamento. Ao invés disso, observamos apenas uma redução na sensibilidade da aorta à Ang II, que ocorre após exposição aguda ao exercício. Vale destacar que esta redução de sensibilidade à Ang II não foi observada em preparações deendotelizadas, nem tampouco em preparações intactas, estudadas na presença de PD123.319 ou L-NAME. Estes dados sugerem que, nestas preparações, o exercício agudo promove um aumento da liberação endotelial de NO mediada por AT2.Por ser um fenômeno

agudo, supomos que esta maior liberação de NO seja decorrente de um aumento na atividade da NOS, ao invés de um aumento na sua expressão, pois isto ocorreria mais tardiamente. Neste sentido, estudos prévios demonstram que o exercício agudo pode aumentar a liberação endotelial de NO em artérias, antagonizando assim as ações vasoconstritoras dos agonistas simpatomiméticos.47,53 É curioso notar que esta redução de sensibilidade à Ang II foi observada apenas em aortas de animais 2R1C, e não naquelas obtidas de animais SHAM. Talvez este seja um mecanismo protetor desenvolvido em paralelo à hipertensão 2R1C, visando garantir a homeostasia, sempre que estes animais são submetidos agudamente a um esforço físico.

O dado mais relevante do presente estudo talvez seja a não observação de redução de resposta à Ang II induzida pelo treinamento em preparações provenientes de animais 2R1C. Esperava-se que também nestas preparações, a liberação de NO mediada por AT2 estivesse

aumentada. Possivelmente, como neste modelo de hipertensão pode haver uma exacerbação da ativação do receptor AT1, isso levaria a uma maior ativação de enzimas NADPH oxidases,

culminando em um aumento na geração de O2-.68,70 Além disso, existem evidências que o

acúmulo de O2- no endotélio vascular ou em tecidos adjacentes pode reduzir a

biodisponibilidade do NO.29,71,72 Desta forma, é cabível supor que o acúmulo de O2- nestas

preparações de animais 2R1C, sobretudo naqueles treinados, possa ter comprometido a vasodilatação NO dependente desencadeada pela ativação de AT2.

Supondo que uma concentração de O2- nos tecidos das aortas dos animais 2R1C tenha

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estudadas também na presença do tiron, um análogo da superóxido dismutase (SOD) capaz de eliminar O2-.85-87. Nestas condições, preparações obtidas de animais 2R1C expostos ao

exercício agudo, bem como ao treinamento, tiveram suas respostas à Ang II reduzidas em relação àquelas obtidas dos animais nunca expostos a qualquer tipo de exercício. Isto corrobora a hipótese de que a modulação exercida pelo NO sobre as respostas da aorta à Ang II não ocorre nos animais 2R1C treinados devido a uma elevada concentração tecidual de O2-.

O aumento do estresse oxidativo, contudo, não foi acompanhado por um aumento na peroxidação lipídica no plasma colhido dos animais 2R1C. Possivelmente, os mecanismos antioxidantes presentes no plasma tenham evitado modificações significativas no grau de peroxidação lipídica nestes animais. Estas defesas antioxidantes, no entanto, não são aquelas avaliadas pelo FRAP uma vez que também não se verificou qualquer modificação significativa nos valores de FRAP determinados no plasma destes animais.

Esta redução de resposta à Ang II, no entanto, parece ser suprimida quando estes animais 2R1C treinados são re-expostos ao exercício. Mecanismos vasoconstritores locais devem ser melhor investigados na busca por compreender estas respostas apresentadas pelas preparações obtidas de animais treinado-exercício.

A influência do O2-sobre as respostas da aorta à Ang II, contudo, não é um fenômeno

simples. Contrariando nossas expectativas, a presença do tiron elevou as respostas à Ang II em aortas de animais SHAM submetidos ao treinamento. Com isso, a atenuação de resposta da aorta à Ang II, que havia sido observada em animais treinados, deixou de existir na presença do tiron. Com base nestes dados inferimos que, enquanto o excesso de O2- pode

comprometer a atenuação exercida pelos mecanismos endoteliais relacionados ao NO sobre as respostas da aorta à Ang II em animais 2R1C treinados, a presença de O2- é necessária para

que esta modulação ocorra nos animais SHAM. De fato, já foi sugerida a participação do O2-

na vasodilatação dependente do endotélio em arteríolas do músculo esquelético de ratos.88 A forma como se dá esta participação do O2-, contudo, precisa ser melhor investigada.

Os dados obtidos sugerem uma maior participação do NO na modulação das respostas da aorta à Ang II tanto em animais SHAM treinados quanto em animais 2R1C submetidos ao exercício agudo ou ao treinamento. Esta maior participação do NO provavelmente envolva um aumento de sua biossíntese. Contudo, para que esta inferência possa ser feita, devemos descartar um aumento da sensibilidade destas preparações de aorta ao NO. Neste sentido, preparações foram desafiadas também com o nitroprussiato de sódio, uma molécula doadora direta de NO. Como não foi observada qualquer modificação de resposta ao nitroprussiato de sódio entre os grupos estudados, fica corroborada a hipótese de que a maior atividade dos

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mecanismos moduladores relacionados ao NO deve-se fundamentalmente ao aumento da biodisponibilidade desta substância. A menor resposta à Ang II nas preparações provenientes de animais treinados também não deveu-se à uma redução da capacidade contrátil da musculatura lisa vascular nestas preparações. Isto porque as respostas à solução despolarizante de cloreto de potássio também não foram modificadas pelo treinamento.

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