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1. DISCUSSÃO

Segundo a literatura, a ciclagem de elementos minerais é frequentemente discutida como um processo dinâmico, simples e análogo ao fluxo de energia. De fato, sabe-se que a concentração e o reservatório de elementos no ecossistema florestal constituem um processo complexo, no qual cada elemento varia em função de suas propriedades físico-químicas, geoquímicas e bioquímicas (CLEMENTS et al., 1978).

O conteúdo mineral nos tecidos vegetais é variável, dependendo do tipo de planta, das condições climáticas durante o período de crescimento, da composição química do meio e da idade do tecido, entre outros (DECHEN; NACHTIGALL, 2006). Tal conteúdo também pode ser determinado pela espécie e família do vegetal ou pelo órgão ou ainda pelo estádio de desenvolvimento. As plantas diferem umas das outras quanto à quantidade de elementos que cada uma possui. As plantas halófitas, por exemplo, apresentam uma grande quantidade de sódio, que é um micro elemento que está em última escala dentre os demais (LARCHER, 2006).

As espécies halófitas, Avicennia germinans e Rhizophora mangle, formam os bosques de mangue do Furo Grande, na península de Ajuruteua, Bragança-PA. Essas espécies também formam três mosaicos vegetacionais, sendo o primeiro um bosque com predominância da espécie A. germinans, o segundo onde R. mangle é a espécie dominante e o terceiro onde essas duas espécies formam, então, um bosque misto, onde foram conduzidas a investigação sobre o teor de cada elemento na serapilheira total e nos seus componentes para ambas as espécie.

O capítulo I é uma revisão bibliográfica sobre os temas mais relevantes referentes ao ecossistema manguezal e a ciclagem de nutrientes nele envolvida, cujo objetivo é apresentar informações gerais compiladas de uma vasta literatura acerca dos tópicos mais relevantes sobre esse sistema.

O capítulo II apresenta uma análise da composição química do material vegetal da serapilheira das espécies A. germinans e R. mangle nos bosques de mangue do Furo Grande. Os resultados apontam para o fato de que a distribuição dos elementos varia segundo a espécie e o ambiente onde esta se insere. Os elementos que tiveram maior representatividade nesta análise foram Na, K, Ca e Mg, o que segundo o estudo de Ukpong (1997), na Nigéria, estes elementos interferem na dinâmica e estrutura da vegetação, revelando que a associação da

vegetação com os nutrientes do sedimento está também intimamente ligada à alta produção do sistema. A espécie R. mangle foi a que apresentou os maiores teores médios totais dos elementos, o que segundo Ribas (2007) e Alfaia (2006) pode ser justificado em função do lento processo de decomposição desta espécie e consequentemente retardada liberação de nutrientes ao sistema. Os teores médios totais dos nutrientes Ca e P foram maiores para R. mangle, a medida que K, Na, Mg e N foram mais elevados na espécie A. germinans. Os mesmos resultados também foram encontrados por outros autores na península de Ajuruteua no trabalho de Medina et al. (2001) e estuário do rio São Mateus – ES (BERNINI, 2006).

A análise do material vegetal da serapilheira, como um todo, esclarece a participação do teor e conteúdo dos nutrientes nas espécies. Mas, por outro lado, não elucida sobre o teor e conteúdo dos nutrientes em cada componente da serapilheira. Assim, o capítulo III, que é uma análise da composição química nos diferentes componentes da serapilheira, apresenta informações detalhadas sobre esse tema abordando os padrões de nutrientes existentes em cada fração da árvore das espécies de mangue A. germinans e R. mangle, mostrando a alocação desses nutrientes no espaço e no tempo.

Os resultados mostraram que folha foi o componente que obteve a maior contribuição de conteúdo dentre todos os nutrientes analisados. As duas espécies apresentaram diferenças em relação à quantidade de nutrientes, sendo que Ca foi maior para R. mangle ao passo que K, Mg e Na foi para A. germinans. Os componentes Flor e Fruto de Rhizophora obtiveram os maiores valores para K e N, sendo Flor independente da espécie, enquanto que K e Ca foram predominantes para Estípula. Galho apresentou altas concentrações do elemento Ca. Esses resultados de diferenças de concentrações de nutrientes nos diversos componentes da liteira confirmam informações já existentes em Larcher (2006). O elemento Na foi maior do que todos os nutrientes em todos os componentes.

Comparando as duas espécies observa-se que A. germinans apresentou as maiores concentrações para os macroelementos analisados e, de acordo com Alfaia (2006), essa espécie apresenta rápido processo de decomposição, o que, consequentemente, acelera o processo de reposição desses elementos para o sistema. A tabela 1 mostra uma análise dos nutrientes nos sítios de trabalho. No sítio dominado por A. germinans os teores dos nutrientes: N, P, Ca e Na foram maiores para o componente Flor e apenas K e Mg foi mais elevado em Folha. Já no

sítio dominado por R. mangle com exceção do elemento Ca que teve maior resultado para Folha, todos os demais nutrientes foram maiores para Flor. Esses resultados mostram também que cada espécie teve predominância de nutrientes em seu respectivo sítio, o que pode ser comprovado quando se analisa o sítio misto e observa-se um decréscimo no teor dos nutrientes.

O inverso desse resultado ocorre quando se analisa o conteúdo dos nutrientes e se observa que apenas para N no sítio de Avicennia Flor obteve a maior contribuição, enquanto que para os demais nutrientes Folha foi o componente de maior contribuição. No sítio de Rhizophora Folha obteve os maiores resultados em todos os nutrientes (Tabela 2).

Folha Flor Galho Fruto Estípula Total

Avicennia 8.7 14.3 7.0 30.0 N Rhizophora 6.0 9.4 6.4 6.9 5.9 34.7 Misto 6.5 8.4 6.6 6.7 5.8 34.1 Avicennia 2.7 6.0 1.5 10.2 P Rhizophora 2.0 4.0 1.6 3.9 1.4 13.0 Misto 2.3 4.1 1.8 3.9 1.4 13.5 Avicennia 20.4 17.6 8.9 46.9 K Rhizophora 15.6 19.2 8.3 18.6 12.6 74.4 Misto 17.9 19.6 7.9 19.9 12.7 78.0 Avicennia 5.3 7.1 8.8 21.3 Ca Rhizophora 19.2 7.1 22.5 5.3 11.9 66.0 Misto 8.1 5.4 11.6 3.7 7.9 36.7 Avicennia 12.4 4.9 3.5 20.8 Mg Rhizophora 6.3 4.0 3.8 2.6 4.9 21.5 Misto 6.0 3.2 2.4 1.8 2.9 16.4 Avicennia 52.0 53.9 36.6 142.5 Na Rhizophora 47.7 35.1 28.9 32.2 36.2 180.1 Misto 47.7 42.5 29.7 35.4 35.5 190.7

Tabela 1 - Média anual dos teores dos elementos (g.kg-1) nos componentes por sítio de trabalho.

Folha Flor Galho Fruto Estípula Total Avicennia 0.26 0.49 0.06 0.81 N Rhizophora 0.22 0.02 0.49 0.07 0.02 0.82 Misto 0.49 0.07 0.22 0.03 0.03 0.83 Avicennia 0.08 0.02 0.01 0.11 P Rhizophora 0.08 0.01 0.26 0.04 0.01 0.40 Misto 0.14 0.03 0.02 0.01 0.01 0.21 Avicennia 0.70 0.06 0.07 0.83 K Rhizophora 0.56 0.05 0.04 0.2 0.05 0.88 Misto 1.17 0.15 0.07 0.1 0.06 1.52 Avicennia 0.15 0.02 0.07 0.24 Ca Rhizophora 0.72 0.70 0.12 0.07 0.05 1.66 Misto 0.56 0.04 0.12 0.01 0.04 0.76 Avicennia 0.43 0.02 0.03 0.48 Mg Rhizophora 0.24 0.01 0.02 0.02 0.02 0.30 Misto 0.39 0.02 0.02 0.01 0.01 0.45 Avicennia 1.85 0.23 0.26 2.34 Na Rhizophora 1.65 0.08 0.13 0.37 0.15 2.38 Misto 3.21 0.33 0.22 0.13 0.15 4.05

Em sendo assim, pode-se dizer que tanto na análise do material vegetal das duas espécies arbóreas de mangue quanto no estudo mais detalhado dos componentes por sítio de trabalho, tais informações não apresentaram diferenças quanto ao conteúdo geral de nutrientes por espécie e são de suma importância para o real entendimento dos padrões de distribuição de nutrientes dessas espécies características dos bosques de mangue da região amazônica.

2. REFERÊNCIAS

ALFAIA, J. R. M. Decomposição Foliar de Rhizophora L., Avicennia L. e

Laguncularia Gaertn. f. em um Manguezal da Península de Ajuruteua,

Bragança–Pará. 2006. 45 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal do Pará, Bragança, 2006.

Tabela 2 - Média anual do conteúdo dos elementos (g.kg-1) nos componentes por sítio de trabalho.

BERNINI, E. et al. Composição química do sedimento e de folhas das espécies do manguezal do estuário do Rio São Mateus, Espírito Santo, Brasil. Revista Brasileira de Botânica. V.29, n.4, p.689 – 699, 2006.

CLEMENTS, G. M .et al. Ciclagem de minerais em um ecossistema de Floresta Tropical Úmida. São Paulo: EPU: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1978.

DECHEN, A. R.; NACHTIGALL, G. R. Elementos essenciais e benéficos as plantas superiores. In: FERNANDES, M. S. (ORG.). Nutrição mineral de plantas. Viçosa, MG : Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2006. p.1-5.

LARCHER, W. Ecofisiologia Vegetal. São Carlos: Rima, 2000, 2004, 2006.

MEDINA, E. et al. Mangal communities of the “Salgado Paraense”: Ecological heterogeneity along the Bragança peninsula assessed through soil and leaf analyses. Amazoniana, v. 16, p.397–416, 2001.

RIBAS, L. M. Concentração e Aporte de elementos da serapilheira do manguezal do estuário do rio Paraíba do sul, estado do Rio de Janeiro, Brasil. 2007. 67 f. Dissertação (Mestrado), Universidade Estadual do Norte Fluminense, Rio de Janeiro, 2007.

UKPONG, I. Vegetation and its relation to soil nutrient and salinity in the Calabar mangrove swamp, Nigeria. Mangroves and Salt Marshes, v.1, p.211-218, 1997.

No documento Antonia Aparecida Monteiro do Nascimento (páginas 87-92)

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