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Herbivoria x Simulação

4. DISCUSSÃO GERAL

A estrutura da comunidade de insetos folívoros associados à Clusia hilariana, quanto à distribuição das abundâncias das espécies, foi semelhante a outras comunidades de lagartas de diferentes ambientes, com grande proporção de espécies raras (Price et al. 1995; Novotny & Basset 2000). Flinte et al. (2006) encontrou também padrão de abundância semelhante na entomofauna de lagartas associadas à Byrsonima sericea (Malphigiaceae), uma das espécies de plantas com alto valor de importância na

Restinga de Jurubatiba. Entretanto, a riqueza de espécies de insetos em C. hilariana, que foi de 14 espécies de Lepidoptera exofíticas, um galhador, foi menor do que a encontrada em B. sericea, que apresentou 20 espécies de Lepidoptera exofíticas, 17 Coleoptera exofíticos, quatro minadores e quatro galhadores (Flinte et al. 2006). Essa simples comparação sugere que a abundância da planta pode não ser um fator que irá influenciar na riqueza de espécies associadas a essa planta, uma vez que C. hilariana é mais abundante que Byrsonima sericea, mas que possíveis características, como arquitetura, valor alimentar da planta para o herbívoro, presença de compostos secundários, fenologia entre outras podem ser fatores importantes que determinaram a riqueza de espécies e até mesmo selecionando a composição de insetos que poderão utilizar essa espécie de planta como um recurso. Porém, são necessários mais estudos que possam abranger um maior número de espécies plantas que se apresentem com abundâncias distintas na restinga para que se possa compreender melhor a estrutura da comunidade de insetos fitófagos associados às plantas da restinga e identificar padrões na taxocenose de insetos fitófagos.

Outro parâmetro comum entre as comunidades de insetos exofíticos de C. hilariana e B. sericea foi a alta freqüência de plantas atacadas, em média, 54,6% e 60%,

respectivamente. Tais freqüências são marcadamente menores (cerca de 20%) daquelas encontradas no cerrado, por Andrade et al. (1999) e também por Morais et al (1999), que encontraram, após dois anos de estudo também no cerrado, uma freqüência média de 15% de plantas atacadas.

Flinte et al.(2006) e outros trabalhos no cerrado (Morais et al. 1999, Andrade et al.1999) encontraram abundância de lagartas significativamente maior na estação mais

seca em relação a estação chuvosa, porém para a taxocenose de insetos associados a C. hilariana não houve diferença significativa entre as estações seca e chuvosa e a não

houve correlação significativa entre precipitação e a variação das abundâncias das lagartas ao longo do tempo de estudo. A variação da temperatura foi um dos principais fatores que regularam o tamanho populacional dos insetos. Apenas foram observadas diferenças significativas para a abundância de C. granitalis entre as estações, ocorrendo preferencialmente na estação mais seca do ano nos meses com maior temperatura.

Essa diferença pode estar relacionada às características particulares da restinga, comparando com os resultados do cerrado, com a umidade relativa do ar que se mantém alta durante o ano inteiro e as diferenças entre as estações não serem tão marcantes, como ausência de sazonalidade do regime de chuvas. As próprias características da planta, como suas folhas suculentas e presença de folhas novas durante o ano inteiro, são fatores podem ter contribuído para essa diferença com outras plantas da restinga, uma vez que a presença constante de alimento e a disponibilidade de água, que pode ser retirada das folhas, poderiam reduzir o efeito do ressecamento sobre o inseto que se alimenta da planta.

Por fim, a determinação da estrutura da comunidade relacionada ao sexo e ao estado senescente da planta corroborou com os estudos, principalmente em plantas do ambiente tropical as do gênero Baccharis, na quais não se tem observado diferenças

entre os sexos. Por mais que um dos sexos possa ter investimento maior em reprodução e o outro em defesas, esses fatores não têm demonstrado seu efeito sobre a estrutura das comunidades de insetos, através dos métodos utilizados para sua detecção.

Comparando a estrutura da entomofauna associada a cada sexo de C. hilariana, não foram encontradas diferenças, corroborando com os estudos encontrados na literatura sobre as espécies de plantas dióicas do ambiente tropical, assim contribuindo para que sejam estabelecidos padrões diferentes do observado em regiões de clima temperado, onde foram bem documentados os efeitos do sexo da planta hospedeira sobre a estrutura da taxocenose de insetos associada à espécie de planta hospedeira.

O experimento de simulação da herbivoria permitiu medir e visualizar os possíveis efeitos da herbivoria. A simulação, realizada através da poda, evidenciou um efeito positivo, devido ao aumento das taxas de rebrotamento dos ramos tratados. O experimento, servindo como modelo hipotético e não a realidade permitiu elucidar os efeitos do ataque das duas espécies de insetos mais abundantes em C. hilariana. Ambas as espécies de insetos produziram um efeito negativo sobre os ramos analisados aumentando a mortalidade dos mesmos. Esse efeito negativo pode ser percebido nas mesmas proporções para ambos os sexos, variando apenas a taxa de mortalidade em relação a qual espécie estava atacando o ramo. Não apenas sobre a estrutura da comunidade de insetos fitófagos, mas também não foi encontrada diferenças na resposta tanto da simulação de herbivoria, quanto no ataque das lagartas mais abundantes.

Entretanto é necessária a avaliação do efeito da herbivoria na planta por um todo e na população de C. hilariana, para que se possam mensurar as conseqüências da herbivoria em relação à passagem de luz, que influencia nas interações planta-planta na restinga. Para tal averiguação, torna-se necessário criar métodos para estimar com maior precisão a massa foliar de uma planta e o balanço entre taxas de brotamento e

mortalidade. Posteriormente, para medir o efeito na população de C. hilariana, é necessário aumentar o esforço amostral, ampliando-se a área de estudo. Dessa forma, o papel dos insetos na dinâmica do ecossistema de restinga poderia ser mais bem compreendido.

Esses dados demonstram, que apesar da restinga de Jurubatiba não apresenta espécies endêmicas, mas que esse ecossistema possui características próprias, como a dinâmica das populações de insetos aqui apresentadas, que se distinguem dos demais ecossistemas, como por exemplo, o cerrado, que foi comparado nesse trabalho, enfatizando a importância da preservação desse tipo de ecossistema.

Portanto, esse trabalho contribuiu para compreender com o avanço dos sobre as interações dos insetos com sua planta hospedeira na restinga, ressaltando a necessidade de ampliar os estudos em outras plantas para poder estabelecer um padrão sobre as comunidades de insetos fitófagos na restinga e demonstrou que as espécies de insetos mais abundantes têm efeito negativo, aumentando a mortalidade de ramos de C. hilariana.

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