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1. ESPÉCIES DE LAGARTAS ASSOCIADAS À Clusia hilariana (CLUSIACEAE)

1.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Composição e riqueza de espécies

Nas 60 plantas de C. hilariana vistoriadas nas duas áreas, foram encontradas 2632 lagartas, pertencentes a 14 espécies, exclusivamente a ordem Lepidoptera. Não foi encontrada nenhuma outra ordem de inseto atacando as folhas de C. hilariana (Tabela 1.1).

As espécies Chloropaschia granitalis (Pyralidae), Deuterollyta sp. (Pyralidae) e Episimus sp. (Tortricidae) foram as espécies mais abundantes em ambas as áreas,

correspondendo a 94% das lagartas encontradas em Clusia hilariana. Outras três espécies de mariposas, Cicinnus jaruga (Mimallonidae), Iscadia fuscia (Noctuidae) e Selenarctia elissa (Arctiidae) corresponderam a cerca de 5% do número de lagartas

associadas à C. hilariana. 3 F ig u ra e d it a d a : E st e v e s, F . A . & L . D . L a ce rd a . (e d s. ). 2 0 0 0

Oito espécies de lagartas registradas em C. hilariana (57% das espécies) foram raras (menos de 1% indivíduos encontrados nos três anos de estudos), tais como uma espécie de geometrídeo não identificado (Figura 1.2.A) e Acharia sp. (Limacodidae) (Figura 1.2. B). Esse padrão predominante de espécies raras também foi observado, na mesma restinga, na entomofauna associada à Byrsonima sericea DC. (Malpighiaceae) (Flinte et al. 2006) e em diferentes plantas do cerrado (Morais et al. 1999). Esses dados corroboram com Price et al. (1995), que sugerem que as comunidades de insetos de florestas tropicais apresentam um padrão com alta riqueza de espécies raras.

Lagartas de C. granitalis corresponderam a 64% da abundância relativa de lagartas, estando presentes em 45% das plantas vistoriadas, sendo a principal espécie folívora de Clusia hilariana na Restinga de Jurubatiba.

A identificação das espécies associadas à Clusia hilariana é um passo importante para avaliar o papel potencial das espécies de insetos na herbivoria dessa planta. Entretanto, são necessários estudos mais detalhados sobre a biologia e distribuição temporal dessas espécies, especialmente sobre C. granitalis, para entender melhor o papel dessas mariposas no processo sucessional envolvendo C. hilariana.

Tabela 1.1: Espécies de Lepidoptera associadas a C. hilariana, no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba- RJ, no período de janeiro de 2003 a Janeiro de 2006.

Espécies Família

Chloropaschia granitalis (Felder & Rog., 1875) Pyralidae

Deuterollyta sp. Pyralidae

Episimus sp. Tortricidae

Iscadia fuscia Walker, 1857 Noctuidae

Cicinnus jaruga Jones, 1912 Mimallonidae

Selenarctia elissa (Schaus, 1892) Arctiidae

Acharia sp. Limacodidae

Nystalea aequipars Walker, 1858 Notodontidae

Megalopyge lanata (Stoll, 1824) Megalopygidae

Podalia sp. Megalopygidae

Limacodidae (sp.1) Limacodidae

Megalopyge sp. Megalopygidae

Geometridae (sp.2) Geometridae

Stenoma sp. Elachistidae

Aspectos gerais das espécies de lagartas associadas a C. hilariana.

Deuterollyta sp.(Pyralidae) (Fig. 1.2.C)

Lagartas são geralmente solitárias, formando abrigos de das e fezes com forma de túnel. Mantém-se nos abrigos presas por fios de seda e fezes, dentro dos quais formam túneis para se deslocar.

Na literatura, há registros de várias espécies desse gênero alimentando-se de maneira monófaga em diferentes espécies de plantas de duas famílias (Diniz et al. 1999; Nava et al. 2004) o que corrobora com as nossas observações, uma vez que na restinga essa mariposa não foi encontrada em nenhuma outra planta (obs. pess.).

Chloropaschia granitalis (Fig. 1.2.D).

Põe de 10 a 12 ovos, agregados, sobre folhas novas de C. hilariana, que levam cerca de quatro dias para eclodirem. As lagartas passam por cinco instares, que duram cerca de 15 dias no total, em condições de controladas de laboratório (25°C, 75%U.R.).

As lagartas, agregadas (Fig. 1.2.E), juntam folhas adjacentes, com seda, formando abrigos (Fig. 1.2.F), alimentando-se dessa forma até o último instar. Empupam no solo onde permanecem por cerca de oito dias até sua emergência, totalizando cerca de 27 dias o seu ciclo total de desenvolvimento.

A espécie foi mais abundante durante o período de junho a setembro em todos os anos de vistorias, sendo que no ano de 2003, foi registrado um pico adicional entre os meses de março e maio.

Existem registros dessa espécie desde a Guatemala até o norte do Peru e Amazônia Brasileira (Solis 1993), o que significa que sua ocorrência em uma restinga do sudeste brasileiro amplia seu limite meridional de distribuição geográfica. Não foi encontrado na literatura registro de planta hospedeira para essa espécie.

Cicinnus jaruga

Solitária, constrói um cartucho resistente e aberto nas duas extremidades, utilizando uma ou duas folhas novas de C. hilariana. (Fig. 1.2.G e 1.2.H). Permanece dentro dele, saindo com, apenas, parte de seu corpo para se alimentar ou mover-se para outro ramo. Uma das aberturas do cartucho é ocupada pelos últimos segmentos do seu

corpo, assemelhando-se a um pedaço de madeira. A outra abertura é preenchida pela cabeça da lagarta que vibra quando molestada. É encontrada principalmente entre os meses de outubro e dezembro. Não foi encontrado registro de planta hospedeira para essa espécie.

Episimus sp.

Lagarta solitária ou em grupos de até oito indivíduos. Constrói abrigos de duas folhas das quais se alimenta e se desenvolve até a emergência do adulto (Fig. 1.2.I).

Encontrada com maior abundância entre os meses de dezembro e janeiro, embora ocorra o ano inteiro.

Nystalea aequipars

Solitária, apresenta duas estratégias de defesa de acordo com sua fase de desenvolvimento. Nos três primeiros estádios larvais apresenta coloração verde na região dorsal e marrom na parte ventral, a qual ela expõe quando acuada, enrolando-se em volta de seu corpo, assumindo aparência semelhante a fezes (Fig. 1.2.J). Em estádios mais avançados, apresenta coloração cinza com a região posterior do seu abdômen mimetizando a forma da cabeça de um réptil, em um comportamento deimático (Fig. 1.2.L). Espécie rara em Clusia hilariana ao longo de todo o ano.

Iscadia fuscia

Solitária e não constrói abrigos. Apresenta coloração verde (Fig. 1.2.M), no mesmo tom da folha da planta hospedeira, o que lhe confere camuflagem. Sua pupa fica presa a folhas secas caídas no chão. Ocorre em baixa abundância durante todo o ano.

Selenarctia elissa

Lagarta é solitária e não constrói abrigos. Seu corpo é coberto por cerdas longas não urticantes. Sua cor muda do branco (Fig. 1.2.N), para amarelo e até marrom (Fig. 1.2.O) à medida que se desenvolve. Constrói seu casulo pupal com as próprias cerdas do

seu corpo, mantendo a crisálida presa à folha seca caída ao solo. Ocorre em baixa abundância durante todo o ano.

Megalopyge lanata (Fig. 1.2.P)

Solitária e não constrói abrigos. As lagartas são conhecidas vulgarmente como lagartas de fogo ou taturanas porque possuem pêlos urticantes. O corpo é amarelado com listras pretas e pêlos vermelhos na base e pretos no ápice. O casulo da pupa é feito com seda e as próprias cerdas do seu corpo.

É uma espécie polífaga. No cerrado, alimenta-se de diferentes famílias de plantas, como Malpighiaceae e Clusiaceae (Diniz e Morais 1995) e na restinga foi observada alimentando-se em outras quatro espécies de plantas, Byrsonima sericea (Malpighiaceae), Erythroxylum ovalifolium e E. subsessile (Erythroxylaceae) e Manilkara subsericea (Sapotaceae) (Flinte et al. 2006; Monteiro et al.2007 -

submetido). Espécie rara em todas as plantas observadas na restinga.

Exceto Chloropaschia granitalis, que foi encontrada sempre formando agregados, as demais espécies de lagartas encontradas são solitárias ou raramente, como em Episimus sp. e Acharia sp. podem ser encontradas solitariamente ou em pequenos grupos.

Figuras 1.2: Lagartas exófiticas associadas à Clusia hilariana. (A) - Geometridae; (B) - Agregado de Acharia sp; (C) - Deuterollyta sp;(D) - Chloropaschia granitalis; (E) - Agregado de C. granitalis; (F) -. teia formada por C. granitalis entre folhas de Clusia hilariana; (G) - Cicinnus jaruga; (H) - Abrigo de folha feito por Cicinnus jaruga; (I) - Episimus sp. raspando folha; (J) -Segundo instar de Nystalea aequipars; (L) - Último instar da lagarta de N. aequipars; (M) - Iscadia fuscia, (N) - Segundo instar de S. elissa;(O) - Quinto instar de S. elissa; (P) – Megalopyge lanata.

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