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Capítulo 1 Modulação recíproca de aspectos cognitivos e emocionais nas

1.2.5 DISCUSSÃO

Nesse presente estudo, documentamos diferenças quantitativas e qualitativas de aspectos musicais entre as execuções cognitivas e afetivas de pianistas amadores. Os principais achados em nosso estudo sugerem que: (1) os voluntários desse experimento também comentaram que as performances afetivas parecem inibir os aspectos cognitivos da execução pianística enquanto as performances cognitivas parecem inibir os aspectos expressivos da execução pianística: (2) as performances afetivas apresentaram mais agógica, e variações na intensidade do toque, quanto comparadas às execuções cognitivas, porém não encontramos diferença significativa na articulação (3) Não foi observada diferença no número de erros entre as performances afetivas e cognitivas de forma significativa. (4) De acordo com os relatos dos voluntários, o automatismo e a capacidade de processar informações foram reprimidos comprometendo as execuções na condição cognitiva.

1.2.5.1 A influencia da atenção na emoção na performance pianística

Os relatos dos pianistas indicam que os procedimentos adotados nesse experimento para o desenvolvimento da expressividade resultaram em forte envolvimento emocional tanto

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na valência positiva (Eu curti mesmo!) como negativa (ai que tristeza!). Segundo os voluntários, o envolvimento tanto de valência positiva como negativa inibiu o aspecto cognitivo e a alta média de erros das notas e do esquecimento das notas da mão esquerda fortalece estas constatações. É interessante notar que apesar de termos encontrado menor claridade de pulso (maior variação no tempo) nas performances afetivas comparadas às cognitivas, não encontramos referencias de atemporalidade nos comentários dos voluntários nesse experimento. Em trabalhos prévios encontramos referências de que ouvintes com maior experiência musical conseguem ter mais consciência da flutuação temporal na performance musical (Bhatara, Tirovolas et al., 2011). Essa poderia ser a razão dos voluntários do primeiro experimento, mas não os do segundo terem referido a respeito da atemporalidade. O favorecimento da expressividade foi amplamente relatado, porém é importante ressaltar que a expressividade resultante do envolvimento emocional nem sempre foi considerada ideal. Como foi mencionado no primeiro experimento, a expressão de tristeza está associada ao legato, amplitudes sonoras menos intensas, fraseados e grande variações temporais (Juslin, 2000; Peretz e Coltheart, 2003; Juslin, 2005; Bhatara, Tirovolas et al., 2011). Nesse experimento, os resultados da forma de ondas, e descritores de intensidade e claridade de pulso, indicam mais piano, mais agógica e mais fraseados nas performances afetivas, porém não encontramos diferença na articulação.

A teoria do contágio emocional assume que a afetividade do intérprete está envolvida com a execução de movimentos apropriados para expressar emoção na execução píanística. Uma investigação visando estudar a relação entre a emoção experimentada pelo intérprete e a expressividade pianísitca revelou que o engajamento emocional parece ser fundamental no processo da construção da performance expressiva (Van Zijl e Sloboda, 2011). Dessa forma entendemos que o estudo do Sloboda e o presente experimento parecem corroborar com a Teoria do Contágio Emocional. Pois os voluntários tanto do experimento prévio como deste presente experimento comentaram que sentiram a emoção de tristeza após a apresentação do estímulo emocional e que conseguiram dirigir sua atenção para este sentimento quando executaram as performances afetivas. Eles também relataram que os toques, os fraseados, articulação e a agógica foram feitas de forma intuitiva e que variavam entre si. E essas variações possibilitavam explorar ligações de frases, timbres e articulações que não poderiam ser exploradas de maneira racional. Portanto, as interpretações das execuções afetivas sendo intuitivas reforçam a idéia de que a expressividade teria um aspecto “instintivo” (Sloboda e Davidson, 2003). Porém, estudo indica que pessoas de nível pianístico mais avançados podem contar com a manifestação da expressividade automática (inconsciente) em mais propriedades

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expressivas do que pessoas com menos domínio pianístico. A explicação para este dado é que as convenções expressivas estariam tão enraizadas em pianistas avançados que eles executariam de forma automática (Woody e Mcpherson, 2010). No presente estudo, encontramos diferenças em todas as características relacionadas à expressividade no experimento 1, no experimento 2 não encontramos diferenças na articulação entre as performances afetivas e cognitivas. Esses dados poderiam sugerir que a técnica também pode ter um papel importante na expressividade. Pois, se a expressividade fosse apenas instintiva, resultante exclusivamente das reações desencadeadas pela emoção do intérprete, não encontraríamos diferenças no grau de expressividade entre pianistas com níveis técnicos distintos.

1.2.5.2 A influência da atenção da cognição na performance pianística

Diferentemente do experimento 1, não encontramos diferenças entre a quantidade de erros das notas e nem de esquecimento das notas da mão esquerda entre as performances afetivas e cognitivas neste experimento. Embora os dois tipos de erros fossem freqüentes em ambas as condições, os motivos dos erros parecem ter causas distintas. Os voluntários comentaram que seus erros na condição afetiva foram causados pelo envolvimento emocional (seqüestro emocional). E embora na condição técnica, uma das instruções fosse para tocar prestando atenção em cada nota da mão direita como não pudesse errar de forma nenhuma, a média de erros das notas da mão direita não diferenciou da condição afetiva. A justificativa para os erros era que o resgate explícito dos dados referentes à unidade e estrutura musical comprometia o controle motor do movimento para a execução das seqüências corretas das notas. Estudo (Woody 2006) indica que os intérpretes com menor desempenho instrumental conseguem focalizar sua atenção em menos aspectos musicais. Comentários dos voluntários desse experimento reforçam tais constatações, pois frequentemente reclamavam que a focalização da atenção em aspectos cognitivos reprimia o automatismo diminuindo a percepção global e a capacidade de escutar o resultado sonoro. Portanto, esses dados estão de acordo com a hipótese de que quando a informação é resgatada da memória de forma detalhada, ocupa uma grande parte da atenção, causando uma diminuição da área de extensão atencional (Snyder 2000).

Segundo os pianistas desse presente experimento, a focalização da atenção em aspectos cognitivos inibia também a expressividade. As performances cognitivas foram qualificadas como “horrível”, “parecia datilógrafo” “quadrado”, “matemático” e “esquisito”.

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As análises das variações das amplitudes nas formas de onda reforçam tais constatações, uma vez que as performances cognitivas têm menor variação nas intensidades nos toques das notas. Os descritores de intensidade e claridade de pulso também indicam que duas propriedades fundamentais na expressividade – amplitude sonora e agógica - (Juslin, 2000; Palmer e Meyer, 2000; Sloboda, 2000; Sloboda e Davidson, 2003; Juslin, Karlsson et al., 2006) foram suprimidas nas performances cognitivas, sugerindo a inibição da expressividade.

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