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Neste capítulo iremos proceder à discussão dos resultados obtidos no estudo, em função dos objectivos deste trabalho.

A obesidade pode causar problemas a nível psicológico, nos quais pode estar incluída a alteração da imagem corporal. Alguns estudos demonstram que as pessoas obesas sobestimam o seu tamanho corporal (Schwartz & Brownell, 2004).

No que se refere à variável prevalência de obesidade verificamos que 82,1% da amostra é normoponderal e 17,9% se encontram sobrepeso/obesidade. A obesidade parece ser um dos flagelos mais importantes da sociedade contemporânea, que afecta particularmente os adolescentes, uma vez que estão numa fase de desenvolvimento e transformações a nível fisiológico, cognitivo, afectivo, social e moral, assim como no domínio da construção da sua identidade e autonomia (de Sousa, 2008).

O aumento a prevalência global da obesidade nos jovens, demonstra que os comportamentos ligados à dieta e actividade física (AF), são centrais para a causa da obesidade (Rennie, Johnson, & Jebb, 2005).

O exercício físico tem assumido um importante papel na prevenção e tratamento de doenças relacionados com causa-mortis, tais como diabetes, hipertensão e osteoporose. No entanto, enquanto os benefícios somáticos estão bem documentados, poucas são as evidências que estabelecem a mesma relação entre exercício físico e Bem-estar (Diener, 2000). É fundamental estimular mudanças de atitudes e proporcionar condições, sociais e materiais, para que as intervenções ao nível de hábitos alimentares e da actividade física envolvam mudanças de comportamentos, ocorrendo assim transformações nos estilos de vida (Sallis, Prochaska, Taylor, Hill, & Geraci,

1999). A actividade física em colaboração com uma dieta alimentar, são fundamentais para a manutenção de um peso corporal equilibrado.

No que diz respeito à actividade física podemos caracterizar a nossa amostra como bastante activa, tendo um nível de actividade física intenso 69,2%, moderado 21,5% e um baixo nível de actividade física apenas 8,2%. A actividade física contribui para a perda de peso e ajuda a minimizar os problemas de saúde associados a obesidade, que ocorrem com o avanço da idade (Dishman, et al., 2004).Partindo do pressuposto que actividade física é determinante para a prevalência de obesidade, os níveis de actividade física explicam o facto da prevalência de obesidade ser tão baixa nos indivíduos estudados, contrariando a tendência actual. São vários os autores que referem a influência dos meios de comunicação social, mais concretamente a televisão como causa da obesidade. Existe uma forte relação entre a televisão e o IMC, adquirindo-se um estilo de vida sedentário. O aumento da adiposidade tem sido atribuído ao elevado número de horas a ver televisão, bem como a exposição à publicidade com comida, em especial sobre fast-food, pode influenciar as escolhas dos espectadores para comidas ricas em energia e gordura (Rossner, 2003).

Um estilo de vida sedentário é considerado um factor de risco para o ganho de peso com a idade. Os indivíduos obesos são na generalidade muito sedentários, sendo o excesso de peso o maior obstáculo para adopção de um estilo de vida activo (Cole, et al., 2000)

O aumento do excesso de peso e da obesidade pode estar associado à diminuição da actividade física (Hill & Melanson, 1999). Acredita-se que as

pessoas com IMC elevado, têm mais barreiras para realização de exercício físico como consequências da obesidade (Martinez-Gonzalez, et al., 2001), sendo as pessoas obesas as que demonstram ter baixos níveis de actividade física em comparação com os indivíduos normoponderais que revelam ter um nível de actividade física intenso.

McAuley e colaboradores (McAuley, et al., 2000) identificaram uma correlação positiva entre o exercício físico, auto-estima e bem-estar psicológico. Estes autores afirmam que a actividade física é crucial para o desenvolvimento de motivações que o levam a aceitar um estilo de vida mais activo.

Da obesidade provêm problemas de saúde, como hipertensão, diabetes tipo II, doenças cardiovasculares, osteoartrites, cancro e doenças de vesicula. Contudo é ainda importante referir que os problemas sociais e psicológicos associados ao excesso de peso são imediatos e aparentes, influenciando o bem-estar da criança e do adolescente. Coligados à obesidade surgem distúrbios psicossociais e emocionais, acompanhados de depressão, ansiedade e diminuição da auto-estima e consequentemente aumento da insatisfação corporal, todos estes distúrbios originam o isolamento social.

É comum os obesos terem uma imagem corporal distorcida, uma depreciação da própria imagem, que resulta do facto de se sentirem inseguros em relação aos outros. O peso é assim considerado um aspecto predominante na imagem corporal. Estudo sobre o peso corporal e a imagem corporal, realizado por Cash e Green (1986), com adolescentes do género feminino, foi demonstrado pelos resultados que a componente perceptual, afectiva e cognitiva da imagem corporal, difere em função do peso corporal.

Estudos recentes de meta-análise verificaram a relação entre o exercício físico e a imagem corporal, sendo as conclusões encontradas unânimes (Campbell & Hausenblas, 2009; Hausenblas & Fallon, 2005). A primeira meta-análise realizada por Campbell et al. (2009), incluiu estudos de intervenção, um grupo único e correlacionais, concluindo que, em termos gerais, a prática de exercício físico está associada a melhorias na imagem corporal. Reel et al. (2007) realizaram um meta-análise que incluía 35 estudos com programas de exercício, sugerindo os resultados que o exercício influencia positivamente a imagem corporal.

Uma meta-análise, recente, que verificou o impacto de intervenções de exercício físico na imagem corporal, concluiu que os indivíduos do grupo experimental melhoraram a imagem corporal comparativamente ao grupo de controlo (Campbell & Hausenblas, 2009 ; Hausenblas & Fallon, 2005). Estas meta-análises se referem a idade como variável moderadora da relação entre o exercício físico e a imagem corporal.

O exercício físico proporciona um maior input de informações proprioceptivas, processamento e uma melhor consciência somotossensorial, que se traduz numa melhor percepção da imagem mental que temos do nosso corpo. A imagem corporal é uma componente importante do complexo mecanismo de identidade pessoal, sendo definida como a figura mental que temos das medidas, dos contornos e da forma do nosso corpo, e dos sentimentos que dizem respeito a essas características e às partes do corpo (Gardner, 1996). Os resultados deste estudo demonstram que 40,9% estão satisfeitos com a imagem corporal. Verificamos que os jovens normoponderais 31,3% desejam

emagrecer; 44,4% estão satisfeitos com a sua imagem e 24,4% desejam engordar.

O peso tem repercussões ao nível da insatisfação corporal, podendo ser considerado como o aspecto predominante da imagem corporal, resultante de um certo estado de protecção contra a pressão dos media.

Relativamente aos indivíduos com excesso de peso/obesos 76,5% deseja emagrecer, 23,5% estão satisfeitos, nenhum dos indivíduos deseja engordar. Estes resultados evidenciam uma maior insatisfação com a imagem corporal dos indivíduos com excesso de peso/obesos, tal como os resultados de um estudo realizado por Kakeshita (2006), com jovens universitários.

Num estudo verificou-se que à medida que aumentava o IMC, aumenta o nível de insatisfação corporal, sendo o género masculino aquele que menor apresenta insatisfação corporal comparativamente com o género feminino (Schwartz & Brownell, 2004).

A imagem corporal é um dos temas mais discutidos no mundo contemporâneo, sendo objecto de estudos cada vez mais frequentes no domínio das ciências humanas e sociais.

A insatisfação com o próprio corpo e a preocupação com o peso são aspectos importantes para os jovens.

Podemos considerar a imagem corporal possui uma componente subjectiva, pelo facto de ser construída através de cognições afectivas, baseadas na comparação com os outros. Os media têm um papel fundamental neste sentido, pela exaltação de corpos atraentes (Cameron & Ferraro, 2004). As

imagens difundidas pelos media, do corpo magro, como sendo o ideal, influenciam os comportamentos alimentares e as atitudes dos jovens, para com os seus corpos. A imagem corporal ideal é formada tendo como base o modelo que é reproduzido na sociedade em que estamos inseridos, onde os homens e mulheres, tentam incessantemente alcançar corpos jovens e atractivos (Becker, Yanek, Koffman, & Bronner, 1999).

No presente estudo em relação à insatisfação corporal entre os géneros, no género masculino 5,8% desejam emagrecer, 43,3% desejam emagrecer e 30,9% desejam engordar, no género feminino 52,6% desejam emagrecer, 38,1% estão satisfeitos e apenas 9,3% desejam engordar.

A maioria dos estudos sobre imagem corporal entre os géneros, evidenciam uma maior insatisfação corporal no género feminino do que no género masculino, sendo que a maioria do género feminino desejava mudar quer a forma que o tamanho do seu corpo (McCabe, et al., 2001). Para além disso metade das mulheres com idades compreendidas entre a adolescência e os trinta e cinco anos pensam que tem excesso de peso e desejam emagrecer. Contudo, a insatisfação com a imagem corporal no género masculino também é comum e frequentemente associada com o tamanho e musculosidade do seu corpo, o que pode levar a experimentar níveis de insatisfação com a imagem corporal comparáveis aos do género feminino.

A insatisfação corporal no género feminino, reflecte as preocupações, inquietações e as pressões dos padrões de beleza impostas pela nossa cultura. Os resultados de um estudo realizado com estudantes universitários sobre a percepção da imagem corporal, apresentaram que o ideal de um corpo

magro imposto pela sociedade prevalece, ainda que o género feminino apresente o peso adequado demonstram insatisfação com a imagem corporal, desejando emagrecer de acordo com os padrões sociais (Cash & Green, 1986).

A insatisfação com o peso é concomitante da maturação feminina, pois os adolescentes tornam-se mais insatisfeitas com o seu corpo à medida que maturam.

Smolak (Smolak, 2004), refere que a imagem corporal é um fenómeno fortemente ligado ao género, existindo diferenças na natureza, nos factores de risco, nos resultados e nos cursos de desenvolvimento da insatisfação.

Um dos objectivos desta investigação foi verificar a associação entre o IMC e a imagem real na amostra total, os resultados demonstraram existir um forte associação entre o IMC e a imagem real (r=0,721). Tais como outros estudos realizados com adultos, encontraram coeficientes de correlação semelhantes ao do nosso estudo, variando entre 0,64 e 0,87 (Cardinal, Kaciroti, & Lumeng, 2006: Fitzgibbon, et al., 2000 ; Kaufer-Horwitz, et al., 2006 ; Koprowski, Coates, & Bernstein, 2001 ; Tehard, van Liere, Com Nougue, & Clavel-Chapelon, 2002). Uma investigação de Mciza et al. (2005), com mães e filhas (9-12 anos) da África do Sul, acerca da validação de um instrumento para avaliar a imagem e a insatisfação com o peso corporal, encontrou uma correlação positiva entre as imagens e o IMC, sendo de 0,46 para as filhas e de 0,68 para as mães. Fonseca e Matos (Fonseca & Gaspar de Matos, 2005) numa pesquisa realizada com adolescentes portugueses (10-17 anos), os resultados da regressão linear múltipla demonstraram que o IMC relatado, a idade, o sexo,

fazer dieta e a atitude com a aparência física explicaram 34,9% da variância da percepção da imagem corporal. Banitt et al. (Banitt, et al., 2008), numa investigação relacionada com a discrepância da imagem corporal (ideal - actual), com adolescentes de raça negra e branca, verificaram existir uma relação positiva entre a discrepância da imagem e o percentual de IMC - um aumento de uma unidade na discrepância da imagem corporal associou-se a um aumento de 4,84 no percentual de IMC nas raparigas e um aumento de 3,88 nos rapazes.

Os programas de intervenção para redução da obesidade, deve incluir exercício físico aliado a uma redução do consumo energético.

No nosso estudo calculamos o nível de actividade física de cada individuo da amostra, utilizando como instrumento de medida o IPAQ e associamos esse valor a %MG, obtida através de dois meios, primeiro através do método de bioimpedância e depois pelo método de avaliação das pregas adiposa.

Verificamos uma correlação negativa entre o valores do IPAQ e %MGBiompedância e %MGPregas com valores de r=-0,361 e r=-0,358, respectivamente. À medida que diminui a actividade física aumente a %MG.

A prática de exercício físico contribui para a melhoria da imagem corporal, aumentar a AF é uma prioridade das políticas de saúde pública nos países mais desenvolvidos (ACSM 2006; OMS 2006). As tentativas de promover e manter os níveis mais elevados de AF incluem intervenções baseadas em informação, intervenções comportamentais e / ou abordagens ambientais.

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