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Questão 3: Os temas abordados nas conferências que referiu tiveram/têm alguma

6- Discussão/ Perspetivas de futuro

Tomando como referência a nossa experiência como professor que implementou e pensa continuar a implementar estas estratégias e metodologias, corroboramos com a ideia “por vezes basta a incursão em formas literárias que cativem o leitor e o conduzem para conceitos científicos que parecem assim ser mais facilmente compreendidos.” (Galvão, 2006: pp. 41)

Pensamos que, com o presente trabalho, é possível encarar o ato de ensinar e aprender de uma forma abrangente, incorporando as diversas áreas do conhecimento, tendo sido apontados caminhos para diminuir as lacunas existentes e as falhas de comunicação entre as humanidades e as ciências, atuando nos aprendentes e nos transmissores de conhecimentos e informação. Assim, uma interdisciplinaridade séria e eficaz conduz a uma unidade no conhecimento, motivo pelo qual nos propusemos interligar a Literatura e a Ciência através da transversalidade das suas linguagens e contextos.

Tal como a Literatura, a Ciência deve ser encarada como uma atividade cultural a ser analisada, aprendida e comunicada. Um texto literário que contenha explicitamente termos ou conceitos relacionados com a ciência não pode ser analisado sem que se proceda a uma clarificação desses termos ou conceitos, correndo-se o risco de essa análise ser apenas desenvolvida em relação à forma e não ficar enriquecida em função da análise do conteúdo. Os caminhos que apresentámos proporcionam, a nosso ver, aprendizagens ativas e globalizadoras das diferentes áreas do conhecimento. O envolvimento dos alunos neste tipo de ensino e de aprendizagem fará deles indivíduos mais preparados para encarar situações que entrecruzam as diversas disciplinas. Há, contudo, cuidados a ter no planeamento e gestão destas abordagens. Primeiramente, é necessário escolher um texto literário (em prosa ou em poesia) em função do nível etário dos alunos e em função da mensagem/conteúdos que se quer evidenciar. Em segundo lugar, deve evitar-se a utilização do texto literário apenas com enfeite no processo de ensino e de aprendizagem, devendo constituir esses textos ferramentas úteis no início, durante e no final da abordagem. Deste modo, aquando da apresentação do produto final, deverá ser bem visível a presença e o contributo das diferentes áreas que envolveram a aprendizagem e que aprofundaram o conhecimento.

Ainda sobre textos literários com conteúdo científico, como é o caso, por exemplo, dos poemas de Vitorino Nemésio apresentados neste trabalho, foi vivenciado por nós a elevada dificuldade dos professores de literatura em procederem à sua análise. Vivenciámos essas

60 dificuldades nas diversas ações que desenvolvemos em contexto de escola. Após a análise dos textos segundo a perspetiva científica, os professores de literatura reconheceram quão benéfica é a troca de experiências entre os agentes intervenientes no ensino. Daí ser o trabalho interdisciplinar fundamental na preparação e concretização de todas a vertentes que envolvem os atos de ensinar e aprender.

Referindo-nos brevemente à bibliografia encontrada, deparámo-nos com exposições e estudos que fazem referências à Literatura relacionada com a Ciência desenvolvida a nível unicamente teórico, não articulando os textos literários com conceitos do domínio das ciências a ser explorados. Como ilustração damos o exemplo da publicação “Poesia & Ciência” de Victor Gil e M. Cristina Pinheiro da colecção Ciência & C.a da responsabilidade da equipa do Exploratório, Centro Ciência Viva de Coimbra. Nesta publicação dão-se apenas “exemplos de poemas «com ciência dentro»”, com os quais o professor poderá “promover uma exploração destes módulos em relação mais estreita com o ensino curricular” sem, contudo, desenvolver como essa exploração pode ser efetuada. Apresenta ainda “actividades” baseadas em poemas “com ciência dentro”, apenas aflorando de uma maneira muito ténue e superficial a sua análise, tanto a nível literário como a nível de conteúdo científico.

Também num artigo de Regina Gouveia intitulado “Educação em Ciências, Cultura e Cidadania: A Poesia na sala de aula”, publicado, em 2004, no volume 27 da revista “Gazeta de Física”, apenas se “mostra como motivar os alunos para as ciências físico-químicas usando textos poéticos”. Aqui, mais uma vez, apenas se apresentam superficialmente “sugestões didácticas que podem ser usadas em aulas para despertar, de um modo original, o interesse pela ciência”.

Em suma, encontrámos abordagens que apenas apresentam textos eivados de ciência, mas encontrámos muito poucas referências ao modo como devem ser abordados, na prática, e explorados os conceitos e a que nível.

É claro que apreciamos as publicações apresentadas como referências a ter em consideração para possíveis e futuras explorações. Só desbravando caminho é que se consegue levar a bom porto as difíceis tarefas que são ensinar e aprender.

Neste trabalho, tentámos ir mais longe, propondo estratégias de abordagem, dando exemplos claros de como se pode implementar, a nível de escola e a nível de sala de aula, a articulação entre as diferentes disciplinas do conhecimento, particularmente entre a Literatura e a Ciência.

Para se concretizar uma abordagem como a que foi proposta, é necessário que haja um diálogo entre os professores das diferentes áreas, partilhando experiências e conhecimentos. Será

61 necessário agir na formação dos docentes, inicial e contínua, e, sobretudo, na autoformação, de modo a que os professores tenham como seus os mais abrangentes conhecimentos.

Para pensar o Universo é necessário observar e ler o que os Homens e a Natureza têm para nos contar.

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7- Referências:

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ANEXO 1

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