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6 APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.2 Discussão dos resultados

Primeiramente, são analisados os resultados de toda a população e, em seguida, os resultados dos grupos masculino e feminino.

Seguindo a metodologia apresentada no estudo de Ripar, Evangelista e Paula (2008), organizou-se uma tabela de contingências para comparar os resultados de toda a população e os resultados entre gêneros. Dividiu-se os participantes em dois grupos: GF (grupo feminino) e GM (grupo masculino). Nas tabelas de contingências foram comparadas as classificações muito abaixo da média, abaixo da média, na média, acima da média e muito acima da média.

É necessário ressaltar que, para classificar os resultados de cada fator de resiliência, foi preciso definir intervalos de valor para cada classificação. A tabela 5 mostra as classificações e seus respectivos intervalos.

Tabela 5 - Classificação dos escores dos fatores de resiliência

Classificação Intervalo

Muito acima da média Escores maiores ou iguais a 8

Acima da Média Escores menores ou iguais a 7 e maiores ou iguais a 3 Na média Escores menores ou iguais a 2 e maiores ou iguais a -2 Abaixo da média Escores menores ou iguais a -3 e maiores ou iguais a -7 Muito abaixo da média Escores menores ou iguais a -8

Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme a tabela 5, se um participante da pesquisa obtiver, por exemplo, o resultado 6 no fator otimismo, será classificado como acima da média para esse fator.

Os resultados da pesquisa juntamente com a citada classificação possibilitaram a elaboração das distribuições de classificações apresentadas nas tabelas 6 e 7. Ressalta-se que, devido ao reduzido número de participantes, os resultados são apresentados em valores relativos.

Tabela 6 – Distribuição das classificações nos sete fatores de resiliência para toda a população Fator de resiliência Muito Acima da Média Acima da Média Na Média Abaixo da Média Muito Abaixo da Média Total Adm. de Emoções 9% 59% 25% 6% - 100% Controle de Impulsos 25% 63% 13% - - 100% Otimismo - 59% 41% - - 100% Análise Causal 19% 63% 19% - - 100% Empatia 6% 72% 22% - - 100% Autoeficácia 31% 44% 19% 6% - 100% Reaching Out 13% 53% 25% 6% 3% 100%

Fonte: Elaborado pelo autor.

Conforme a tabela 6, verifica-se que os participantes de modo geral obtiveram maiores escores nos fatores autoeficácia (31% muito acima da média, 44% acima da média, 19% na média e apenas 6% abaixo da média), controle de impulsos (25% muito acima da média, 63% acima da média e 13% na média) e análise causal (19% muito acima da média, 63% acima da média e 19% na média). Os fatores que obtiveram menores escores, comparando os resultados dos fatores entre si, foram otimismo (59% acima da média e 41% na média) e o fator reaching out (apesar de ter apresentado 13% de participantes muito acima da média e 53% acima da média, apresentou também 25% na média, 6% abaixo da média e foi o único a apresentar resultados na classificação muito abaixo da média, 3%).

Comparando com os estudos de Ripar, Evangelista e Paula (2008), que foi realizado com adolescentes, verificou-se que a população do presente estudo obteve escores maiores em todos os fatores de resiliência, pois observou-se uma predominância de resultados nas classificações muito acima da média e acima da média, enquanto que no estudo de Ripar, Evangelista e Paula (2008), houve a predominância das classificações na média e abaixo da média e não houve registro de resultados muito acima da média.

Entretanto, uma tendência pode ser verificada em ambos os estudos: os fatores controle de impulsos e análise causal estão entre os que apresentaram maiores escores. No estudo de Belancieri et al (2010), que analisou uma população de trabalhadores brasileiros da área de enfermagem, o fator controle de impulsos também apresentou altos escores, sendo o fator mais bem avaliado nessa população. O fato de o componente controle de impulsos aparecer entre os mais bem avaliados em, pelo menos, três estudos brasileiros realizados com populações diferentes pode ser indicativo de uma característica da cultura brasileira.

Diferentemente do que foi encontrado no estudo de Ripar, Evangelista e Paula (2008) e Balancieri (2010), não houve associação negativa entre os fatores de administração das emoções e controle de impulsos. Apesar de administração de emoções ter resultados sutilmente menores, chegando a registrar participantes abaixo da média, as diferenças não foram tão notáveis quanto as verificadas nos dois estudos citados. O que harmoniza com as observações de Reivich e Shatté (2002), os quais afirmam que existe conexão entre administração de emoções e controle de impulsos, pois ambos os fatores estão relacionados a similares sistemas de crenças.

Ainda na comparação com os estudos de Ripar, Evangelista e Paula (2008), houve uma expressiva diferença nos resultados dos fatores de autoeficácia e administração das emoções.

No presente estudo, verificou-se que o fator autoeficácia obteve maior concentração de participantes nas classificações muito acima da média e acima da média, resultados bem mais expressivos do que aqueles observados nos adolescentes do estudo de Ripar, Evangelista e Paula (2008). Isso pode ser explicado ao se considerar os contextos das pesquisas e as reflexões de Reivich e Shatté (2002) e de Job (2003).

Conforme Reivich e Shatté (2002), a autoestima de um indivíduo é um fruto do seu sucesso durante a vida. Argumentam que a autoeficácia pode ser evoluída através da própria superação de desafios e solução de problemas, em outras palavras, conforme as pessoas vão percebendo sua trajetória de pequenos sucessos ao resolver problemas, a autoeficácia se eleva

naturalmente. Job (2003) adiciona que os indivíduos vão adquirindo competência para lidar com adversidades e recuperar o equilíbrio de suas vidas a medida que vão sendo bem sucedidos.

A amostra que compõe a atual pesquisa é formada por servidores públicos com idades acima de 30 anos e em sua maioria pós-graduados, enquanto que a amostra de Ripar, Evangelista e Paula (2008) foi composta por adolescentes que ainda cursavam o ensino médio. Logo, a tendência é que uma população com mais idade, a qual tem que solucionar problemas no trabalho diariamente e que conseguiu concluir cursos de graduação e pós-graduação tenha enfrentado uma maior variedade de situações adversas e tenha as superado do que uma amostra de adolescentes estudantes do ensino médio. Considerando que a superação de adversidades eleva a autoeficácia, é fácil perceber que as diferenças verificadas entre os estudos comparados, no que tange o elemento autoeficácia, condizem com as observações encontradas na literatura. Quanto ao fator de administração de emoções, a discrepância também pode ser explicada pela diferença entre as faixas etárias nos dois estudos. Segundo Carstensen (1995 apud OTTA; FIQUER, 2004), pessoas mais velhas, através dos anos de experiência, passam a identificar quais tipos de eventos externos influenciam suas emoções positivas e negativas e, desse modo, tornam-se mais capazes de minimizar as emoções negativas e maximizar as positivas. Pode-se entender, portanto, que pessoas com mais idade têm tendência para administrar melhor suas emoções.

Passando, então, à análise dos resultados separados por gênero, tabela 7, percebe- se que os fatores de resiliência que apontaram diferenças significativas entre os gêneros foram a análise causal, a empatia e a autoeficácia.

O grupo masculino obteve maiores escores em análise causal (31% muito acima da média, 62% acima da média e 8% na média) quando comparado com o grupo feminino (11% muito acima da média e 63% acima da média e 26% na média). Isso sugere que, pelo menos nessa amostra, os homens têm uma melhor capacidade de perceber as causas significantes das adversidades que enfrentam e, assim, podem escolher estratégias de enfrentamento mais eficazes.

As mulheres obtiveram melhores escores no fator empatia (11% muito acima da média, 79% acima da média e 11% na média) do que os homens (62% acima da média e 38% na média). Isso sugere que, na amostra em estudo, as mulheres têm uma melhor capacidade de interpretar os sinais emocionais das pessoas que as cercam e assim podem compreender melhor as necessidades e os desejos dessas pessoas.

Tabela 7 – Distribuição das classificações nos sete fatores de resiliência separada por gênero Fator de resiliência Muito acima da média Acima da Média Na

média da média Abaixo

Muito Abaixo da Média Total Administração de Emoções GF 5% 63% 21% 11% - 100% GM 15% 54% 31% - - 100% Controle de Impulsos GF 26% 63% 11% - - 100% GM 23% 62% 15% - - 100% Otimismo GF - 58% 42% - - 100% GM - 62% 38% - - 100% Análise Causal GF 11% 63% 26% - - 100% GM 31% 62% 8% - - 100% Empatia GF 11% 79% 11% - - 100% GM - 62% 38% - - 100% Autoeficácia GF 32% 37% 26% 5% - 100% GM 31% 54% 8% 8% - 100% Reaching Out GF 11% 53% 26% 11% - 100% GM 15% 54% 23% - 8% 100%

Fonte: Elaborado pelo autor.

Esse resultado corrobora com um dos pressupostos deste estudo: conforme Shaffer e Kipp (2014), na sociedade ocidental, mulheres são incentivadas a desenvolver um papel expressivo que está relacionado a comportamentos como ser gentil, carinhosa, cooperativa e sensível às necessidades de outros. Assim, ao serem encorajadas a assumir uma postura sensível às necessidades de terceiros, mulheres exercem e desenvolvem sua empatia.

Quanto ao fator autoeficácia, registrou-se resultados ligeiramente melhores no grupo masculino (31% muito acima da média e 54% acima da média) em relação ao feminino (32% muito acima da média e 37% acima da média), sugerindo que os homens da amostra tendem a acreditar mais em suas habilidades e confiar que possuem as competências requeridas para agir e solucionar problemas. Isso pode encontrar uma explicação na forma como homens e mulheres da sociedade ocidental são encorajados a assumirem riscos desde a infância.

De acordo com Shaffer e Kipp (2014), garotas tendem a ser mais cautelosas e assumir menos riscos que os garotos. Os autores, entretanto, explicam que essa diferença no comportamento entre os gêneros pode estar relacionada a forma como os pais reagem à propensão para correr riscos dos filhos. Os pais tendem a reforçar as regras contra assunção de

riscos com as meninas e relaxar essas regras com os meninos. Como consequência, garotos tendem a assumir mais riscos durante a infância e a adolescência (SHAFFER; KIPP, 2014).

Considerando que a autoeficácia é desenvolvida conforme os indivíduos vão superando desafios e solucionando problemas (REIVICH; SHATTÉ, 2002), a postura orientada para riscos, que é alimentada nos homens desde a infância, pode auxiliar na ampliação da autoeficácia ao longo da vida.

Os demais fatores não apresentaram significativas diferenças, mostrando que, na amostra estudada, mulheres e homens têm índices de resiliência semelhantes nos fatores de administração de emoções, controle de impulsos, otimismo e reaching out.

De modo geral, os resultados encontrados aproximam-se daqueles vistos por Oliveira (2007) e Ripar, Evangelista e Paula (2008), pois foram encontradas diferenças entre os gêneros quanto aos resultados dos fatores de resiliência.

Entretanto, os fatores que diferenciaram os grupos foram distintos em cada estudo. Em Oliveira (2007), encontrou-se diferenças nos fatores administração de emoções e alcançar pessoas (reaching out), ambos com resultados mais elevados entre os homens. Ripar, Evangelista e Paula (2008), por sua vez, encontraram diferenças nos fatores de alcançar pessoas (reaching out) e autoeficácia, ambos mais elevados entre as mulheres.

Isso indica que a variável gênero pode ser um fator que influencia na resiliência, mas que não a determina por completo, o que evidencia o caráter multifacetado deste processo.

Sintetizando, portanto, os achados deste trabalho, verificou-se que:

a) o pressuposto de que pessoas de diferentes gêneros apresentam perfis de resiliência distintos foi corroborado, uma vez que foram encontradas diferenças entre homens e mulheres nos resultados dos fatores análise causal, empatia e autoeficácia;

b) o pressuposto de que expectativas culturais relacionadas a papéis de gênero podem influenciar na forma como homens e mulheres expressam sua resiliência também foi corroborado, pois mulheres apresentaram melhores escores em empatia, habilidade relacionada ao papel expressivo de gênero socialmente encorajado nas mulheres, e os homens registraram melhores escores em autoeficácia, atributo relacionado ao papel instrumental de gênero socialmente encorajado nos homens;

c) o pressuposto de que os fatores administração das emoções e controle impulsos estão relacionados também foi reforçado, em razão das semelhanças registradas nos escores de ambos.

Analisando os resultados sob a perspectiva gerencial, a predominância dos resultados na classificação acima da média indica que os participantes da pesquisa exibem um repertório, pelo menos, equilibrado de atributos pessoais que facilitam o processo de resiliência e, assim, estão mais propensos a responder de maneira resiliente às adversidades encontradas no ambiente de trabalho.

Os resultados se tornam ainda mais relevantes quando se tem em mente que a amostra de servidores faz parte da Secretaria de Gestão de Pessoas do órgão e que, por isso, tais servidores precisam estar aptos a responder rapidamente e, além disso, agir de maneira proativa diante dos desafios inerentes à função de gerenciamento de pessoas.

Ressalta-se, entretanto, que a resiliência e os fatores que a compõem não são estáticos. Os resultados verificados nesta amostra podem variar com o tempo e com a mudança das circunstâncias. Refletir sobre os fatores ambientais que têm funcionado como fatores de proteção e os que têm funcionado como fatores de risco para essa população é uma das maneiras de buscar soluções que facilitem a promoção da resiliência no citado ambiente de trabalho.

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