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5. Discussão dos resultados

O propósito do presente estudo foi analisar o efeito de níveis de aptidão física em jovens, com prática de atividade física semanal inferior a duas vezes por semana, nos níveis de PA. Foi também avaliada a associação dos níveis de composição corporal com os níveis de PA da amostra. Neste estudo, procura-se identificar se os níveis baixos de atividade física da amostra, assim como um perfil antropométrico menos favorável, estão relacionados com níveis mais elevados de PA nos jovens.

Com base nos resultados obtidos na análise descritiva da amostra, verificou-se de uma forma evidente, que uma reduzida prática de atividade física semanal propicia níveis baixos de aptidão física, uma vez que a percentagem de indivíduos inaptos nos testes do VV, do SA e da EXB foram claramente superiores em todos os grupos, sendo mais evidentes nos grupos II e III. Estes resultados vão de encontro à hipótese defendida por Maia (1996), onde este refere que a ausência de atividade física impede a manutenção de bons níveis de aptidão física. Pollock et al., (1995) referem que a prática regular de atividade física aumenta a capacidade funcional e melhora os níveis de aptidão física, através da melhoria no consumo de oxigénio, da resistência, da força muscular, da flexibilidade e de composição corporal favorável. Os resultados inferiores obtidos nos grupos II e III sugerem que os níveis de aptidão física diminuem com a idade. Estes resultados vão de encontro ao defendido na literatura disponível (Matsudo et al., 2000; Comissão Europeia, 2002).

Relativamente à PA, identificou-se em todos os grupos a existência de uma percentagem elevada de indivíduos com níveis de PAS superiores ao desejável, uma vez que a percentagem de indivíduos com PAS normal nunca foi superior às restantes. Mais ainda, se agregar os indivíduos pré-hipertensos com os indivíduos hipertensos a percentagem é claramente superior relativamente aos indivíduos com PAS normal. Estes resultados vão de encontro ao defendido por Lieberman (1994), quando refere que baixos níveis de aptidão física apresentam maiores níveis de PA. No que concerne à PAD, a percentagem de indivíduos com padrão de normalidade é claramente superior em todos os grupos. Estes resultados podem ser explicados devido ao facto de a PAD possuir uma oscilação reduzida em relação à PAS. Outro fator que pode ter influência nos resultados do presente estudo, pode estar relacionado com os valores em Baseline da amostra para a PAD. De facto, os valores médios registados na avaliação da amostra, mostram uma percentagem muito reduzida de hipertensos nos grupos I e II (15,4% e 16%, respetivamente), e ausência de hipertensos no Grupo III, sugerindo valores normais e saudáveis para a PAD nesta amostra. Assim sendo, a associação destes resultados com outras variáveis categorizadas e associadas a outros fatores de risco, pode estar limitada.

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Quanto à composição corporal, identificou-se um padrão de normalidade superior nas três variáveis estudadas, e em todos os grupos. Esperava-se nesta componente que o número de pessoas com padrão de normalidade fosse menor, devido à reduzida prática de atividade física semanal dos indivíduos. Estes resultados foram obtidos provavelmente devido à idade da amostra, pois durante a adolescência o crescimento ocorre a um ritmo acelerado, devido ao elevado metabolismo e crescimento anabólico (Jacobson et al., 1998; Ré, 2011). Os resultados podem ainda evidenciar que poderá existir um equilíbrio no balanço entre o conteúdo alimentar e o gasto de energia corporal, o que favorece a manutenção de níveis de composição corporal normais (Jacobson et al., 1998). Quando os níveis de atividade física são baixos e existe uma elevada ingestão alimentar em relação ao gasto energético corporal, o padrão associado à composição corporal costuma ser elevado. A literatura confirma que a falta de atividade física e os distúrbios alimentares são hoje em dia um dos principais fatores predisponentes para elevados níveis de composição corporal (Schutz, 1995; Ruiz & Ruiz, 1993).

De forma a permitir uma melhor compreensão e uma discussão mais aprofundada dos resultados obtidos, apresenta-se de seguida a análise inferencial dos resultados, onde inicialmente discutir-se-á os resultados do teste do X2, e posteriormente os resultados obtidos após a aplicação do modelo de RLM. A análise inferencial será realizada com base na comparação dos testes de aptidão física e das componentes da composição corporal, com os níveis de PAS e PAD.

No teste do X2, e relativamente à PAS, identificaram-se resultados estatisticamente significativos apenas no grupo II e III. A ausência de resultados estatisticamente significativos no grupo I pode dever-se ao facto de ser o grupo mais jovem da amostra, que está provavelmente menos sujeita à exposição de fatores de risco. Na literatura não foram encontradas justificações para explicar a ausência de resultados significativos nestas idades. Quanto ao grupo II, os resultados permitem constatar que existe uma associação significativa da PAS com o IMC e com o PC. No grupo III, voltou a expressar-se uma associação significativa da PAS com o IMC, em conjunto desta vez com uma das variáveis da aptidão física, a FLO. Perante estes resultados, é possível identificar que o IMC está claramente associado com a PAS, pois obtiveram-se resultados estatisticamente significativos nos grupos II e III, sendo bastante expressiva a associação no grupo II (p=0,01). Mais ainda, identifica-se claramente nas tabelas de contingência para os grupos II e III (págs. 36 e 38, respetivamente), que os indivíduos com padrão de sobrepeso e obesidade são pré-hipertensos ou hipertensos, não tendo sido encontrado nenhum sujeito com PAS normal que possui-se um padrão de sobrepeso ou obesidade. A literatura vai de encontro aos resultados obtidos, defendendo que os elevados níveis de IMC têm forte influência sobre os valores da PA (Guimarães et al., 2008;

Silva & Lopes, 2008; Sinaiko, 1996; Brandão et al., 1989; Brandão et al., 1996; Brandão et al., 2000). Relativamente ao PC no grupo II, registou-se resultados idênticos aos do IMC, onde a grande percentagem dos sujeitos inaptos são hipertensos, e os indivíduos aptos possuem na sua maioria uma PAS normal. Estes resultados vão de encontro ao defendido por vários autores, onde sustentam que o PC elevado está associado a níveis de PA elevados (Niskanen et al., 2004; Carneiro et al., 2003), e que o PC é um dos mais fortes preditores de risco de DCV (Daniels et al., 1999). Por fim, e após reconhecida a associação entre a PAS e o teste de FLO no grupo III, identifica-se na tabela de contingência (pág. 38) que todos os alunos inaptos possuem pré-hipertensão ou hipertensão. Esta associação, apesar de significativa, parece um pouco estreita, devido ao elevado número de indivíduos aptos neste teste de aptidão física (apesar dos baixos níveis de atividade física), e devido à natureza do teste. Não existe na literatura disponível informação sobre a influência deste teste sobre os níveis de PA. Quanto à PAD, não foram identificadas quaisquer associações significativas com os testes de aptidão física e da composição corporal, logo, o nível de aptidão física e de composição corporal é independente da PAD segundo o teste do X2. Estes resultados podem ser explicados pelo número elevado de indivíduos com PAD normal, e devido a pouca variação desta variável. Nesta análise, identificou-se uma superior contribuição das componentes da composição corporal em detrimento das componentes da aptidão física, para explicar a variação da PA.

No que concerne aos resultados da análise de RLM, e relativamente à PAS, foram identificados resultados estatisticamente significativos apenas nos grupos II e III, dos quais alguns resultados vêm aumentar a credibilidade dos resultados obtidos no teste do X2. O grupo I não obteve novamente resultados significativos, devido provavelmente às mesmas razões enumeradas anteriormente. A influência do IMC na PAS voltou a expressar-se, pois o IMC obteve valores significantes nos grupos II e III. No grupo II, identificou-se que apenas o IMC contribui significativamente para a explicação do modelo para a PAS (r2=0,288), ou seja, 28,8% da variação que ocorre na PAS é explicada pelo IMC. Mais ainda, os resultados mostram que a variação de uma unidade no IMC provoca um aumento médio na PAS de aproximadamente 1,3 mmHg. No grupo III, o teste de ABD juntamente com o IMC são responsáveis por 33,6% da variação que ocorre na PAS. Neste grupo, identificou-se ainda que a variação de uma unidade no IMC provoca um aumento médio da PAS de aproximadamente 1,5 mmHg, e que a variação de uma unidade no teste de ABD provoca um aumento médio da PAS de aproximadamente 0,3 mmHg. O aumento dos níveis da PAS faz com que o evento cardíaco se torna mais provável. O resultado do teste de ABD não vai de encontro ao esperado, pois o previsto e o defendido na literatura disponível, é que o aumento nos níveis de aptidão física diminuem os níveis de PA, e não o contrário (Blair et al., 1991; Daley & Spinks 2000; Nied & Franklin, 2002; Mora et al., 2007). Relativamente à PAD, e contrariamente ao

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teste do X2, foram obtidos resultados significativos nos grupos II e III. No grupo II, identificou- se que o IMC, o PC e o teste de EXB obtiveram resultados significativos, sendo responsáveis por 54,9% da variação que ocorre na PAD. Estes resultados vêm aumentar ainda mais a credibilidade da relação existente entre o IMC e a PA, pois os resultados sugerem que o aumento de uma unidade no IMC provoca um aumento médio na PAD de aproximadamente 3,4 mmHg. Este aumento a concretizar-se trará problemas de saúde aos indivíduos, pois irá aumentar bastante o risco de um evento cardiovascular. No entanto, devido à pouca variação da PAD e ao número elevados de indivíduos com PAD normal, este resultado parece pecar um pouco por excesso. Já a variação de uma unidade no teste de EXB e no PC provoca uma diminuição média na PAD de aproximadamente 0,4 mmHg e 1,5 mmHg, respetivamente. Os resultados relativos ao PC são contrários aos previstos, visto que seria de esperar que o aumento do PC provoca-se um aumento dos níveis de PA, como acontece com o IMC, e é defendido na literatura disponível (Niskanen et al., 2004; Carneiro, Faria, Ribeiro et al., 2003). Quanto ao grupo III, o IMC foi novamente a única variável que obteve um resultado significativo, sendo mais um indicador que a variação desta componente da composição corporal influência a PA dos jovens. Neste caso, o IMC é por si só responsável por 21,6% da variação que ocorre na PAD. Mais ainda, a variação de uma unidade no IMC provoca um aumento médio da PAD de aproximadamente 1,3 mmHg. Esta análise, sugere uma grande influência da composição corporal nos níveis de PA, principalmente do IMC, que obteve resultados significativos quando relacionado com a PAS e com a PAD, nos grupos II e III. Seria de esperar uma maior influência das variáveis da aptidão física nos níveis de PA, pois, níveis baixos de aptidão física estão associados de forma significativa com o desenvolvimento de hipertensão (Blair et al., 1984; Berlin & Colditz, 1990). No entanto, os resultados estatisticamente significativos obtidos no teste de ABD e na FLO vêm corroborar a influência dos níveis de aptidão física nos níveis de PA.

Depois de uma análise mais pormenorizada dos dados obtidos em cada teste aplicado, é sugestivo afirmar que as componentes da aptidão física não possuem tanta influência nos níveis de PA como as componentes da composição corporal. Nos grupos II e III, os grupos onde se identificou resultados estatisticamente significativos, o IMC foi sem dúvida a variável com maior relevância, ou seja, com base nos resultados obtidos neste estudo, o IMC é o que mais influência os valores da PA. Esta é uma relação descrita com evidência na literatura. Segundo Brandão et al., (1996), a presença de sobrepeso e obesidade está associada à manutenção de um percentil elevado de PA. Este é um fator preocupante para a sociedade atual, pois os jovens são cada vez mais sedentários. O sedentarismo provoca uma diminuição dos níveis de aptidão física e elevados níveis de composição corporal. Os jovens que possuam estas características, vão estar mais susceptíveis a níveis de PA elevados, como prova este

estudo. De acordo com McCarthy et al., (2008), 30% das crianças com sobrepeso possuem níveis elevados de pressão arterial, logo, através da avaliação da composição corporal podem também ser identificados os jovens com alto risco para virem a sofrer de uma DCV.

Relativamente às componentes da aptidão física, seria de esperar uma maior influência das mesmas nos níveis de PA, pois, crianças com baixos níveis de aptidão física apresentam maiores níveis de PA, tanto em repouso como durante o esforço físico (Lieberman, 1994; Carnethon et al., 2005; Singh et al., 2006). Apesar dos resultados pouco significativos, ficou também patente neste estudo que os indivíduos inaptos nas diferentes variáveis analisadas, possuem na sua maioria níveis de PA mais elevados. Estes resultados sugerem que a ausência de atividade física impede a manutenção de bons níveis de aptidão física (Maia, 1996), constituindo assim riscos para a saúde (Heyward, 1991), ou seja, sujeitos não aptos nos vários testes de aptidão física estão mais susceptíveis à hipertensão, sendo este um fator de risco para a saúde, mais propriamente para o desenvolvimento de DCV (Ministério da Saúde - Portugal, 2002; Oliveira, 2011; Pyörälä et al., 1994; Kaplan et al., 2003). Deve-se ainda referir que não foi identificada qualquer associação significativa entre os níveis de aptidão aeróbia e a PA. De acordo com Cooper (1991), o treino aeróbio regular é adequado para os indivíduos que sofrem de hipertensão, pois indivíduos hipertensos podem diminuir em aproximadamente 10 mmHg a PAS e PAD em repouso. Perante isto, seria de esperar resultados significativos entre estas variáveis.

A hipertensão arterial tem uma prevalência relativamente baixa em crianças e jovens (Magalhães et al., 2002). No entanto, estudos comprovam que a hipertensão primária no adulto pode ter a sua origem na infância, e, perante isto, devem ser adotadas estratégias preventivas durante as idades mais jovens, de modo a identificar e a combater os diversos fatores de risco cardiovascular associados à hipertensão (Magalhães et al., 2002; Monego & Jardim, 2006). Um jovem que possua níveis baixos de aptidão física ou elevados níveis de composição corporal, deve ser visto como um caso preocupante a cuidar, de modo a reduzir o impacto de fatores de risco como a hipertensão, pois esta começa a instalar-se assintomaticamente no organismo numa idade precoce. A estes indivíduos devem ser aumentados progressivamente os níveis de atividade física, pois, indivíduos fisicamente ativos apresentam melhores níveis de aptidão física e saúde que os seus pares menos ativos (Malina, 2001; Shephard & Bouchard, 1994). Uma única sessão de exercício física semanal é suficiente para reduzir os valores da PA em sujeitos hipertensos (Brandão et al., 2002). A prática regular de exercício físico é um meio não farmacológico seguro e eficaz, na melhoria da saúde cardiovascular (Sousa, 2008). Possuir um bom nível de atividade física contribui também para melhorar o perfil lipídico e metabólico, reduzindo a prevalência de obesidade (Lazzoli et al., 1998; Moreira, 2006; Papandreou, 2008), atenuando assim a probabilidade de desenvolver hipertensão em idades mais precoces. A atividade física apresenta uma íntima

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relação com os níveis de PA tanto em adultos como em crianças (Magalhães et al., 2002). Segundo Neter et al., (2003), a perda de peso acarreta também uma redução da PA.

A prevenção da hipertensão permite aos jovens estarem mais precavidos em relação ao aparecimento de uma DCV no futuro, como a arteriosclerose, os acidentes vasculares cerebrais, o enfarte agudo do miocárdio, a doença renal, entre outras (U. S. Department of Health and Human Services, 2003; Salgado & Carvalhaes, 2003; Corrêa et al., 2005). Relembrando o leitor, estas doenças são as principais causas de morbilidade e/ou mortalidade prematura no nosso país e no mundo (Gaspar, 2010).

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