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V. DISCUSSÃO

Neste capítulo, será apresentada a discussão dos resultados, de acordo com os objetivos inicialmente definidos. Comparar a insatisfação com a imagem corporal dos alunos, em função da obesidade, género e atividade física. Foi também relacionado a insatisfação com o índice de massa corporal (IMC).

Esta discussão será abordada, de acordo com a sequência utilizada nesse estudo, ou seja, inicialmente será realizada a discussão da análise descritiva, seguida da comparativa e, por último, da correlacional, tendo em conta as variáveis estudadas.

5.1 ANÁLISE DESCRITIVA

Relativamente à variável independente da prevalência da obesidade, os resultados obtidos nesse estudo demonstram que a maioria dos alunos (70,4%) são normoponderais, enquanto que os restantes apresentam excesso de peso e obesidade (29,6%). Observando os dados obtidos na categoria de excesso de peso e obesidade, verificamos que são as raparigas que apresentam valores maiores (15,7%) em relação aos rapazes (13,9%).

Segundo o estudo feito nos Açores, pela Direção Regional de Saúde (2010), o mesmo vai ao encontro da tendência verificada no nosso estudo, no qual o sexo masculino apresenta valores mais elevados (32,5%) em relação ao sexo feminino (24,5%) na categoria de excesso de peso e obesidade.

Relativamente à prática de exercício físico fora da escola com a orientação de um treinador, é de destacar o elevado valor obtido por alunos que nunca o praticaram (n=272, 47%), sendo que 26,1% dizem respeito às raparigas.

Na outra extremidade, encontramos uma percentagem mais reduzida, de 15,9% (n=92), que praticam exercício físico fora da escola, todos os dias, sob a orientação de um treinador.

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Segundo a OMS, o exercício físico deveria ser uma prática corrente de todas as pessoas de qualquer faixa etária, e que essa mesma prática física, associada a uma alimentação saudável, consiste na melhor prevenção da obesidade. A DGS também se associa a essa ideia referindo vários benefícios da prática da atividade física, com especial atenção para a redução de morte prematura. Estas indicações vindas das organizações acima mencionadas, não deixam de servir de alerta ao pouco exercício físico que é praticado pela população em geral.

Quanto aos resultados obtidos relativamente à imagem corporal, verificámos que percecionam-se maioritariamente com a imagem 4, desejando, igualmente, a mesma imagem. Contudo, as respostas dadas variam no valor mínimo de 1 e no valor máximo de 7. Assim, de um total de amostra de 780 alunos que responderam à questão, apenas 207 alunos (35,7%) se mostraram satisfeitos com a sua imagem do corpo. A grande maioria sente-se insatisfeita, pretendendo engordar (n=121, 20,9%) ou emagrecer (n=252, 43,3%).

No estudo realizado pelos autores Coelho, E.; Mourão-Carvalhal, I., et al., em que verificaram a associação entre a perceção da imagem corporal e o índice de massa corporal em crianças com e sem prática desportiva., aferiram que a moda relativamente à imagem percecionada foi a da imagem 4, avaliada através da Escala de sete Silhuetas de Stunkard (1983). Esse resultado vai ao encontro do obtido neste estudo, no qual também se percecionam com a mesma imagem.

Num estudo realizado por Cash et al. (1986), sobre a insatisfação da imagem corporal, refere que 55% das mulheres e 41% dos homens expressaram essa mesma insatisfação com o seu peso. Esta tendência vai ao encontro da ideia transmitida por esse autor, referindo-se que a maneira como o peso é classificado pelas pessoas, tem implicações na sua imagem corporal.

5.2 ANÁLISE COMPARATIVA

Comparando as imagens corporais percecionadas em função do género, através das sete silhuetas de Collins, verifica-se que, tanto nos rapazes como nas raparigas, a maior percentagem encontra-se nas imagens corporais do centro, ou seja, 3, 4 e 5, onde os rapazes reúnem cerca de 90% e as raparigas, 92,1%.

Comparando rapazes com raparigas, verificámos que os valores mais elevados se registam ambos na imagem corporal 4, em que para os rapazes temos o valor de 46,5% e para as raparigas registamos o valor de 40,7%.

Relativamente à satisfação da imagem corporal, constatámos que, cerca de 67,4% dos alunos está insatisfeito com a sua imagem corporal, sendo que 45,6% pretende emagrecer e 21,8% engordar.

Referido novamente o estudo realizado por Cash et al.(1986), do total de mulheres e homens que se sentem insatisfeitos pela sua imagem corporal, 47% das mulheres e 29 % dos homens que foram classificados com peso normal definiram-se com peso acima da média. Em contraste, 40% das mulheres e apenas 10% dos homens que foram classificados com peso abaixo da média, consideraram-se com peso normal.

Desta forma se verifica que a insatisfação do próprio corpo, em especial na tendência para quererem emagrecer, é uma preocupação cada vez maior no seio da adolescência.

Num outro estudo referenciado por Oliveira, a autora comparou a perceção e insatisfação da imagem corporal, em função do género, de 353 adolescentes (186 rapazes). Embora tenha utilizado a Escala das Nove Silhuetas de Stunkard et al (1983), diferente da utilizada neste estudo, os resultados verificados foram ao encontro dos obtidos no nosso estudo. Foi ainda concluído que a maior parte dos adolescentes sente- se insatisfeito pelo excesso de peso, sendo essa percentagem mais elevada nos adolescentes com sobrepeso (86,2%) e obesidade (37,3%). A maior parte dos adolescentes masculinos encontram-se insatisfeitos pela magreza (46,2%), enquanto os femininos estão insatisfeitos pelo excesso de peso (60,8%).

Quanto à prevalência da obesidade, verificou-se a existência de diferenças estatisticamente significativas (p=,000), no que diz respeito à insatisfação com a imagem corporal.

De destacar que o grupo de crianças normoponderais se sente insatisfeito por ser magro (29,4%) e também por ser obeso (26%), em que estes valores são semelhantes.

No grupo de alunos obesos, concluiu-se também que os mesmos estão realmente insatisfeitos por serem obesas (84,9%). Apenas 14,5% encontram-se satisfeitos.

Vários autores têm-se debruçado sobre a questão da satisfação, ou não, do próprio corpo. Para Vasconcelos (1995), a puberdade é uma fase da vida de cada jovem importante. As constantes alterações a nível físico que ocorrem na adolescência, afetam,

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de uma maneira ou de outra, a formação que cada um tem da sua imagem corporal. Umas vezes com a insatisfação por serem magros, outras vezes por serem gordos.

No que respeita à insatisfação da imagem corporal em função da prática desportiva, verificou-se através dos resultados obtidos que apenas as crianças que praticam desporto todos os dias, são as que mais se sentem satisfeitas quanto à sua imagem corporal (41,3%). As crianças que se sentem insatisfeitas por serem gordas com a sua imagem corporal são, na maioria, as que praticam desporto 1 vez por semana (56,0%). As que expressaram vontade em engordar, são as que praticam desporto apenas 1 vez por semana (18%).

Num estudo realizado por Abrantes (1998), a atividade física surgiu associada à satisfação com a imagem corporal, tendo as mulheres praticantes apresentado níveis de satisfação com a imagem corporal mais elevados do que as mulheres não praticantes.

Um outro estudo realizado por Salusso-Deonier e Schwarzkoph (1991), compararam a relação entre praticantes de fitness e não praticantes de nenhum tipo de atividade física. Os resultados obtidos vão em linha com os verificados no nosso estudo, no qual a prática de AF gere níveis de satisfação maiores com a imagem corporal.

5.3 ANÁLISE CORRELACIONAL

De acordo com o nosso estudo, verificou-se uma correlação negativa entre a insatisfação da imagem corporal e o índice de massa corporal (rho = -,654, n = 580 ; p < ,05), ou seja, à medida que este índice aumenta, as crianças manifestam mais insatisfação pela imagem corporal.

Segundo o autor Dietz (1994, citado em Pinho e Petroski, 1999), a insatisfação com o próprio corpo e a preocupação com o peso são aspetos importantes para os adolescentes.

Vários estudos realizados ao longo dos anos têm demonstrado que tanto a satisfação como a perceção com a imagem corporal têm variado em função do sexo (e.g. Silberstein et al, 1988). Num desses estudos, o referido autor aferiu que baixos níveis de peso têm significados diferentes para ambos os sexos. O sexo feminino, com um nível de magreza denota satisfação com o seu peso corporal, enquanto os homens demasiado magros apontam para uma certa insatisfação.

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