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II. REVISÃO DA LITERATURA

2.2 ATIVIDADE FÍSICA

2.3.1 Perceção da Imagem Corporal

Schilder (1935, cit. por Vasconcelos, 1995) definiu, pela primeira vez, o conceito de imagem corporal. Segundo o referido autor, a imagem corporal não é mais do que uma representação que formada mentalmente do nosso corpo, podendo a mesma ser alterada com o tempo e segundo as situações.

Assim, para que ocorra essa formação mental, o referido autor considera importantes as relações sociais, culturais, psicológicas e fisiológicas (Schilder, 1968).

Chipkevitch (1987) vai mais longe e distingue a perceção da imagem do corpo por género, no período da adolescência.

Assim, o autor supra citado menciona que os adolescentes já possuem, na sua mente, um corpo idealizado, uma conceção pré-definida, e, quanto mais esse corpo idealizado se distanciar da imagem real, maior será a possibilidade de existir um

conflito consigo mesmo, comprometendo a sua autoestima. Por sua vez, as adolescentes, mesmo quando estão no peso adequado ou até mesmo abaixo do peso ideal, costumam se sentir gordas ou desproporcionais, o que se denomina de distorção da imagem corporal (Fleitlich et al., 2000). No sexo feminino, com o aumento da idade, há a tendência em querer perder peso; inversamente, no sexo masculino, essa vontade diminui, prevalecendo o desejo de ganhar peso num porte atlético (Vilela et al., 2001).

Tavares (2003), descreve que a imagem corporal é a forma de como o indivíduo se percebe e se sente, em relação ao seu próprio corpo. O mesmo autor refere ainda que, a perceção da imagem corporal é influenciada por componentes físicos, psicológicos, ambientais e comportamentais complexos.

Deste modo, e sendo a adolescência um período marcado por várias transformações físicas e mentais, quer no crescimento quer no desenvolvimento humano, as mesmas são influenciadas pela interação entre fatores biológicos e ambientais (Colli, 1992; Fleitlich, 1997; Gallahue & Ozmun, 2003). São essas transformações na imagem corporal do adolescente que, na maioria das vezes, levam a insatisfação com o próprio corpo (Pinheiro & Giugliano, 2006).

Nas últimas décadas, o estilo de vida que as pessoas têm, vem contribuído para um aumento da gordura corporal em consequência da diminuição de AF e do aumento do consumo de alimentos calóricos e os padrões de beleza exigem perfis antropométricos cada vez mais magros. Este fato tem gerado uma crescente insatisfação das pessoas com a própria aparência (Andrade & Bosi, 2003).

O género feminino, em particular, busca, de forma incessante, um padrão de corpo ideal, associado às realizações pessoais e à felicidade. Estes factos estão entre as principais causas de alterações da perceção da imagem corporal.

A perceção da imagem corporal, quando inadequada, pode ocasionar distúrbios psicológicos e sociais relacionados à própria perceção (Fontes, 2006; Instituto de Nutrição Annes Dias, 2004). Esses distúrbios acentuam-se, principalmente devido à forte influência que os meios de comunicação possuem, sobretudo na criação de imagens corporais padronizadas. A tendência tem ido à procura dos corpos moldados por exercícios físicos, cirurgias plásticas e tecnologias estéticas (Russo, 2005).

Através disto, inúmeros estudos têm identificado uma grande percentagem de crianças e adolescentes insatisfeitos com sua imagem corporal (Brown, Cash & Mikulka, 1990; Cohane & Pope, 2001; Erling & Hwang, 2004; Parhan, 1999;

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Rosenblun & Lewis, 1999; Vilela, Lamounier, Dellaretti Filho, Barros Neto & Horta, 2004).

Segundo a Associação Portuguesa para o Estudo da Obesidade (2001), a obesidade pode causar distúrbios ao nível psicológico, nos quais pode estar incluída a alteração ao nível da sua imagem corporal. Os autores Schwartz & Brownell (2004), através dos estudos realizados sobre a perceção corporal, demonstraram que as pessoas obesas sobrestimam o seu tamanho corporal.

Por norma, os obesos possuem uma imagem corporal sua distorcida, pelo simples facto de se sentirem inseguros em relação aos outros, imaginando que os outros veem com hostilidade e desprezo (Correia, 2003).

Num estudo realizado Strauss e Pollack (2003), os autores concluíram que geralmente é reconhecido que, tanto o excesso de peso como a obesidade, têm um impacto negativo sobre a autoimagem e a autoestima nas crianças. Ainda neste estudo, os referidos autores avaliaram o impacto que o excesso de peso tem nas crianças, relativamente às amizades, concluído desta forma que este grupo de crianças tem menos amizades e que estas são menos recíprocas.

Num outro estudo realizado pelos autores Cash e Green (1986) sobre a imagem corporal e o peso corporal, com adolescentes do sexo feminino, concluiu-se que a componente percetual, afetiva e cognitiva da imagem corporal, difere em função do peso corporal.

Num estudo realizado por Oliveira, através da Revista Gymnasium, um dos objetivos da autora foi comparar a perceção da imagem corporal, de 353 adolescentes (186 rapazes e 157 raparigas), dos 13 aos 19 anos de idade, em função da prevalência da obesidade. Para avaliar a PIC, utilizou a Escala das Nove Silhuetas de Stunkard et al. (1983). Os resultados obtidos demonstraram diferenças significativas na imagem corporal percecionada e na insatisfação com a imagem, em função da prevalência de obesidade. Foi ainda concluído que a maior parte dos adolescentes sente-se insatisfeito pelo excesso de peso, sendo essa percentagem mais elevada nos adolescentes com sobrepeso (86,2%) e obesidade (37,3%).

Para o ser humano, a imagem corporal desempenha um papel importante na consciência de si próprio. Ou seja, se a perceção do corpo é positiva a autoimagem também será positiva. Se há satisfação com a imagem do seu corpo, a autoestima será melhor. Com o processo de envelhecimento, há uma diminuição da imagem corporal

que o ser humano tem de si e da sua autoestima também, interferindo diretamente na qualidade de vida desta faixa etária.

Contudo, a alteração de comportamentos por parte do adolescente em virtude da sua insatisfação relativamente à sua imagem corporal poderá ser um fator de risco para a sua saúde.

Num estudo realizado pelos autores Coelho, E.; Mourão-Carvalhal, I., et al., verificaram a associação entre a perceção da imagem corporal e o índice de massa corporal em crianças com e sem prática desportiva., com idades compreendidas entre os 5,8 e os 17,9 anos. Os resultados desse estudo demonstraram que as crianças e jovens do 1º, 2º e 3º ciclos, ainda não possuem uma boa perceção do seu corpo, sendo moderada a associação entre o IMC e a imagem corporal percecionada, com um coeficiente de correlação entre a imagem corporal e o IMC de 0,561(p=0,000), verificando-se uma melhoria gradual com a idade. Essa perceção da imagem corporal foi avaliada através da Escala de sete Silhuetas de Stunkard (1983). A moda da imagem percecionada foi de 4.

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