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As organizações de produção são instrumentos utilizados pelos homens para atender necessidades de bens e serviços individuais e coletivos, através da alocação de trabalho, insumos naturais, capital financeiro, tecnologias, sistemas de informações e processos gerenciais, em busca de rentabilidade dos investimentos efetuados e longevidade junto aos mercados em que atuam.

A integração mundial dos mercados em face da flexibilização das barreiras fiscais, alfandegárias e geopolíticas, bem como a incorporação de tecnologias da informação nos processos de produção, distribuição e consumo, têm-se caracterizado como desafio permanente aos entes produtivos, independente da localização em que se encontram, das tecnologias, insumos e processos que apropriam ou dos produtos e serviços que oferecem. Até a incorporação das tecnologias da informação nos processos de produção, distribuição e consumo, particularmente a da Rede Mundial de Computadores como instrumento eficaz de capilaridade passiva, o acesso a longínquos mercados era privilégio da empresa multinacional, para a qual não havia distâncias espaciais. O advento da Rede Mundial de Computadores possibilitou

que as empresas produtoras de bens e/ou prestadoras de serviços independente do porte, localização, tecnologias de produção, dentre outros aspectos de natureza organizacional, fossem inseridas no mercado mundial, na condição passiva, pois dependem de indicadores e/ou de fatores motivacionais de clientes potenciais para que ocorra o acesso à sua vitrine eletrônica e a concretização de negócios.

Além da integração dos mercados, a organização de produção contemporânea experimenta transição dos ativos tangíveis para os intangíveis, como elementos diferenciais de competitividade, realidade que demanda adequações na estrutura, nos processos gerenciais, nas tecnologias e nas pessoas incorporadas, as quais necessitam estar em contínua aprendizagem (DRUCKER, 1998).

A competitividade, enquanto atributo das organizações produtivas, na sociedade do conhecimento, tem sua base nas pessoas, às quais cabe interação e adequação continuada do entorno, nas dimensões culturais, tecnológicas, econômicas, sociais, legais e políticas dos mercados.

A competição entre atores sociais ou entes de produção, independente da natureza dos mesmos ou das especificidades dos produtos e serviços que oferecem, caracteriza o estágio de superação de limites, a partir de elementos comparáveis. Competir é ofertar alguns bens e/ou serviços em condição superior a de seu opositor. Competir é ato inerente ao ser humano e demanda o estabelecimento e seleção prévia de caminhos, processos, pessoas, insumos materiais, financeiros e tecnológicos necessários à superação dos limites existentes e das capacidades disponíveis dos segmentos opositores, a definição prévia de estratégias e a adoção das mesmas têm sido elemento chave para as organizações de produção ou mesmos os destinos, no caso do mercado de viagens e turismo.

A definição prévia e a adoção de estratégias adequadas às especificidades espaciais e temporais foram às marcas de grandes guerreiros como Alexandre, O Grande, Napoleão Bonaparte, Carlos Magno, Eduardo III, George Patton, Júlio César, Genghis Khan, U.S.Grant, Douglas MacArthur, Frederico o Grande, Gustavo Adolfo e Normam Schwarzkopf (DUNNIGAN, MASTERSON, 2000).

As organizações de produção, enquanto entes vivos no mercado, independente dos segmentos econômicos, ramos de atividades ou dos espaços em que atuam, enfrentam constantes desafios competitivos que exigem flexibilidade, adaptabilidade, mobilidade e aprendizagem continuada (SENGE, 1998).

Na busca de condição competitiva, os entes de produção aplicam métodos, técnicas gerenciais, definem estratégias para superação de opositores e manutenção da longevidade das organizações, de forma sinérgica ou não com seus pares espaciais. A expressão do esforço individual dos atores sociais que integram o espaço pode resultar na formação de cluster, para o fortalecimento de segmentos da cadeia produtiva de apoio no entorno (PORTER, 1989).

O segmento de viagens e turismo, como atividade econômica emergente na sociedade contemporânea, também se caracteriza como de acirrada competitividade marcada por intensa oferta de equipamentos, tecnologias da informação, serviços e destinos, num mercado altamente volátil de consumidores que buscam vivenciar novas experiências com grande conforto, segurança, qualidade, sustentabilidade ambiental, diversidade cultural em condições econômicas vantajosas.

O desenvolvimento da atividade turística ocorrida na Ilha de Santa Catarina, nos últimos 40 anos, caracteriza-se como significativo, sob a dimensão quantitativa através do resgate de indicadores como demanda de fluxos nacionais e estrangeiros, chegadas de aeronaves e passageiros internacionais, taxas médias de ocupação da capacidade empresarial instalada, preferencialmente, na estação verão, ou mesmo pela expansão na oferta de unidades habitacionais e leitos em empreendimentos de hospedagem ou não.

A análise empírica das ações públicas e privadas de fomento à atividade ocorridas no espaço local, sinalizou para a ausência de coordenação e sinergia no processo, bem como a não sustentabilidade sócio-espacial e competitividade do tecido empresarial. A análise deste contexto requereu o desmembramento do processo econômico nas suas dimensões macro e micro, para efeito de compreensão.

Na análise macroeconômica da expansão da atividade turística, o resgate de estudos relacionados aos modelos de geração, distribuição de renda, formação de poupança, índices gerais de preços, fatores cambiais, monetários, volumes de investimentos e saldos no balanço comercial dos sítios emissores e receptores de fluxos, possibilitaram a compreensão do processo.

Na análise microeconômica, a execução de estudos relativos à estrutura e operação do tecido empresarial e de suas relações com os mercados consumidores, fornecedores e concorrenciais, através da pesquisa dos insumos utilizados nos processos de produção e distribuição de bens e serviços gerados, preços aplicados e ganhos acumulados, possibilitaram a avaliação dos efeitos derivados da atividade (FIGUEROLA, 1985).

A edificação da sustentabilidade sócio-espacial, portanto, é um desafio permanente aos gestores das organizações e remete para um processo de construção sinérgica das dimensões macro e micro, nas relações de produção e consumo de bens e serviços.

Ao analisar o Livro Verde do Turismo elaborado pela Comunidade Européia, com base na incorporação da concepção de desenvolvimento sustentado (NOSSO FUTURO COMUM, 1987), João Felix Martins destaca que ocorre a sustentabilidade da atividade turística quando a oferta de equipamentos e serviços atende aos interesses dos residentes e visitantes, incrementando a qualidade da vida associada, possibilitando a proteção dos patrimônios natural e cultural e o fortalecimento do tecido empresarial de base local, processo que requer o estabelecimento e implantação de políticas públicas e privadas sinérgicas.

A cooperação entre os envolvidos no processo é a palavra de ordem. No contraponto do raciocínio apresentado, encontra-se a concepção de economia de enclave cuja essência é o uso segregado do espaço e o processo de drenagem dos resultados advindos para segmentos reduzidos ou localizado do tecido social.

A expansão da atividade turística, a exemplo de outros segmentos produtivos fomentados em diversas partes do planeta, com significativa freqüência reproduz a lógica quantitativa e não sustentada, provocando sérios e irreversíveis

impactos sócio-ambientais, derivados da privatização de benefícios para restritos segmentos do tecido social e externalização de prejuízos.

O Arquipélago das Canarias, integrado ao território da Espanha, situado no Atlântico Norte, próximo à Costa Norte do Continente Africano, formado pelas Ilhas de Gran Canaria, Tenerife, Lanzarote, La Palma, Fuerteventura, Gomera e Hierro, durante os anos 80 experimentou forte expansão da atividade turística, tendo sido responsável pela captação de 14% do volume de investimentos externos efetuados no país, dirigidos preferencialmente para o segmento imobiliário.

A partir de 1990, houve crescimento significativo na oferta de negócios de hospedagem concebidos no conceito de “Time Sharing”, sendo que 42% da oferta disponível na Espanha se encontra no arquipélago. A significância econômica da atividade turística, para o espaço Canario, pode ser expressa ainda no consumo de 40% dos bens e serviços produzidos ocorrer por não residentes, bem como pela geração de 31,7 % do PIB regional e 27,3% do total de ingressos turísticos da Espanha (LIBRO BLANCO,1997).

Na economia da ilha de Gran Canaria, a atividade turística é responsável pela geração de 10,7 % dos empregos diretos e 25,5% do volume total. Em 1998, a oferta de leitos era de 126.179, na ilha, dos quais apenas 26% da rede hoteleira estava concentrada em apenas três localidades do território, processo que sinaliza a ocorrência de enclaves (RED ISA, 1998).

A Ilha de Gran Canaria, dotada de ampla base de recursos naturais e históricos, distante duas horas e trinta minutos de vôo de Madrid - Capital do país, também experimentou processo de crescimento desordenado na oferta de hospedagem voltada para o fluxo de verão, a partir de 1960 e decorridos 30 anos, perdeu a competitividade como destino no mercado Europeu. Sendo que, até meados dos anos 90, a atividade ocupava posição periférica na agenda política dos atores sociais locais, em face de visão equivocada da sociedade quanto à significância econômica e problemática ambiental da mesma, bem como a hegemonia de grupos políticos originários dos segmentos primários e secundários, seja na alocação dos investimentos na área ou no processo de gestão (LIBRO BLANCO, 1997).

Em face da significância da atividade turística para a economia insular, bem como os compromissos comunitários da União Européia de revitalizar os espaços economicamente ameaçados através de ações sustentáveis, a sociedade Canaria, através de seus atores sociais, sistematizou estratégias de fomento sustentado expressas no Livro Branco do Turismo Canario. Ainda em 1998, o Governo Canario, através do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Insular, estabeleceu o Plano Diretor de infra-estruturas do Arquipélago, enquanto instrumento indicativo e orientativo ao povo para edificação do desenvolvimento sustentado local, através de compromissos coletivos que garantissem o equilíbrio entre as ações empresariais, governamentais e comunitárias, para a manutenção da qualidade da vida associada, aliada a competitividade frentes aos mercados regional e internacional.

Fruto destes compromissos, através da implementação e implantação de planos e ações setoriais sustentadas, a atividade turística desenvolvida naquele território tem experimentado expressivo processo de renovação e revitalização, além da qualificação como destino, resultando na implantação de investimentos públicos e privados para melhoria das infra-estruturas disponíveis aos residentes, de empreendimentos que possibilitaram a captação de segmentos especializados de mercado ao longo do ano, gerando maior valor agregado na economia regional. A captação de novos investimentos está acompanhada da responsabilidade e comprometimento dos investidores na edificação e manutenção da sustentabilidade territorial e ambiental. A título de exemplo aponta-se o condicionante básico – o uso da água nos processos de captação e destino da mesma – o qual é estabelecido e observado na instalação dos campos de golfe, nos complexos de time sharing, e náuticos de recreio e lazer.

a) Campo de Golfe está condicionado a responsabilização do investidor na alocação de recursos financeiros para desalinização da água do mar, considerando a expressiva quantidade de água doce necessária à irrigação, em face da expressiva escassez deste elemento vital no espaço insular;

b) A edificação de complexo de Time Sharing está condicionada a implantação privada de estação de tratamento de águas servidas e o

compromisso de socialização dos efluentes tratados para a irrigação de parques e jardins coletivos processo que possibilita a melhoria da estética nos espaços de consumo coletivo;

c) A construção de complexo náutico de recreio demanda o cumprimento e manutenção de critérios ambientais estabelecidos pela Comunidade Européia e a adequação do espaço ao Programa de Bandeira Azul - Qualidade Ambiental.

De outra parte a preservação, difusão e revitalização de elementos de referência cultural são pontos prioritários na agenda coletiva de fomento turístico, considerando as aspirações latentes nos segmentos de viajantes em conhecer e integrar-se a elementos dos locais visitados.

O desenvolvimento turístico sustentado no espaço insular das Canarias e particularmente, na Grand Canaria, passou a ser edificado a partir do momento em que os atores sociais locais, em sintonia com os compromissos comunitários da União Européia, e demandas do mercado internacionais de viagens, estabeleceram estratégias empresariais e coletivas sinérgicas, na busca da manutenção e expansão dos indicadores de emprego, renda e da qualidade da vida associada, fruto da atividade como alternativa econômica complementar.

De outra parte, a expansão desenfreada da atividade turística, na Ilha de Santa Catarina, com forte demanda de fluxos na estação verão e ausência acentuada nos diversos meses do ano, o aumento progressivo na oferta de hospedagem, em empreendimentos hoteleiros ou extra hoteleiros, assentada no conceito de “cama quente”, a não oferta de infra-estrutura básica e turística que possibilite a manutenção dos índices de emprego e renda e da qualidade da vida associada aos residentes, visitantes e a não captação de segmentos com melhor poder aquisitivo, observados de maneira empírica, permitiu afirmar que inexistem estratégias de competitividade estabelecidas e perseguidas pelos atores sociais locais, processo que motivou a análise científica do contexto.

A partir destes aspectos, utilizando a Ilha de Grand Canaria como referência e o método científico de estudo multi-casos, buscou-se resposta para o seguinte problema de pesquisa:

Qual a relevância e eficácia das estratégias competitivas implantadas por parte dos atores sociais, dos segmentos público e privado, que interagiram no espaço da Ilha de Santa Catarina, no período de 1970 a 2000, para o fomento da atividade turística de forma sustentada, em correlação às aplicadas na Ilha de Grand Canaria - Arquipélago das Canarias, território da Espanha?