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2.1 O Pensamento Estratégico Aplicado às Organizações de Produção

2.1.1 Escola do posicionamento

A escola do Posicionamento, com abordagem fundamentada nas manobras estratégicas e na estratégia negociada, com caráter prescritivo e pendor analítico do processo, concentra importância na implementação das estratégias e não apenas no processo de formulação das mesmas, busca suporte na obra de Sun Tzu (apud MICHAELSON, 2002) e na organização industrial, sendo que, a edificação das estratégias se dá com base na seleção de posições genéricas e cálculo, submetidos à consideração dos gestores (MINTZBERG, AHLSTRANDE e LAMPEL, 2000). A mensagem central da escola é resumida na complexa função: análise das condições dos fatores e da demanda, das indústrias

correlatas de apoio, das estratégias, estruturas e rivalidades das organizações atuantes no ambiente do lócus produtivo (PORTER, 1999).

A definição de estratégias, segundo Porter (1989), requer a avaliação preliminar e sistemática das cinco forças competitivas – ameaça de novos competidores, poder de barganha e fornecedores, ameaça de produtos ou serviços substitutos, e o grau de extensão da rivalidade existente entre os concorrentes do segmento. O autor define, ainda, as estratégias em três categorias: liderança geral em custos, diferenciação e enfoque.

O modelo proposto por Porter (1999) em sua condição original recebe muitas críticas nos meios acadêmico e profissional, em função de não considerar a possibilidade de sucesso a partir da adoção paralela de estratégia de baixo custo e diferenciação, bem como a influência potencial das redes não formais de informação, ou mesmo, a impossibilidade de controle de todas as variáveis diretas e indiretas que incidem sobre a corporação e os resultados da mesma (BOYETT e BOYETT, 1999).

O aprendizado decorrente da adequação das estratégias, o redimensionamento dos processos, bem como os fatores resultantes do mesmo, foi uma das dimensões destacadas na crítica construída por Mintzberg ao modelo proposto por Porter.

Dentre os fatores determinantes da competitividade Porter (1989) destaca as taxas de câmbio e juros, o déficit governamental, a oferta abundante de trabalho, e de fontes de matérias-primas acessíveis a baixos custos, o estabelecimento de políticas públicas de incentivo e flexibilidade fiscal, bem como a adoção de práticas eficazes de gestão produtiva. Os baixos custos de matérias- primas e de trabalho não qualificado são apontados como vantagens de ordem inferior, na medida em que são efêmeras no processo, sendo os empregos de elevada produtividade ou especializados os que de fato representam forte participação na construção da renda nacional, assim como, a inovação, enquanto fruto da pesquisa e do desenvolvimento de novos produtos e processos (PORTER, 1989).

A vantagem competitiva advém da forma de gestão da organização produtiva e dos processos de articulação das mesmas em cadeias (PORTER, 1989).

Dominante durante os anos 80, a escola do Posicionamento tem em Porter seu pensador de destaque, o qual afirma que as estratégias podem ser segmentadas em dois estágios quando a corporação caracteriza-se como diversificada: Estratégias de Unidades de Negócios (Competitivas) e as Estratégias Corporativas (Grupo Empresarial), subdivididas em pró-ativas ou preemptivas, cujo foco é a expansão, conquista e hegemonia nos mercados, e as defensivas para inibir as possibilidades de agressão ou ataque dos concorrentes.

Destaca, ainda, que os fatores locacionais representam vantagem competitiva, mesmo numa economia globalizada, particularmente quando ocorre concentração geográfica de empresas, com a presença de líderes, as quais acabam por fomentar a especialização produtiva do entorno. O local será determinante ao incremento da competitividade quando houver oferta de trabalho qualificado e em constante aperfeiçoamento, desenvolvimento de tecnologias aplicadas, infra-estrutura personalizada e moderna, disponibilidades de capitais e de empresas líderes, mercado consumidor exigente, fornecedores qualificados e acirrada concorrência interna (PORTER, 1998).

A partir do fator locacional, segundo Porter (1989), ocorre à formação de cluster, em busca da especialização coletiva.

Eficiência coletiva, especialização, integração, aglomeração, articulação, afinidade, flexibilidade, adaptabilidade, cooperação, sinergia e troca complementar são palavras de ordem incorporadas de maneira progressiva na agenda empresarial.

A conquista de padrões de produtividade com qualidade e competitividade é meta comum às organizações de produção, independentemente do porte, do segmento ou dos mercados em que atuam.

Como ser competitivo e ativo, caracterizando-se como corporação de micro, pequeno ou médio porte, de origem e estrutura familiar? Eis um desafio relevante ao processo gerencial.

Este é um desafio das corporações, em diversas partes do mundo, e ponto de partida para alterar e adequar os mecanismos de produção e distribuição. A atuação integrada e a aproximação de corporações afins fazem com que as empresas reduzam custos, incorporem tecnologias de ponta, especializem processos, pessoas e os resultados obtidos, e operem, na forma de redes integradas ou originem cluster de competitividade.

Observando a natureza e a diversidade de elementos que a integram e caracterizam, é possível constatar a presença de expressivo equilíbrio nas relações de produção e consumo. Um exemplo é a vida e organização da abelha na colméia. Esta se encontra estruturada em clara divisão do trabalho e do território, calcada em princípios de especialização, integração e articulação, para eficiência coletiva. A análise isolada da colméia, da busca da eficiência coletiva, omite o caráter das externalidades presentes às relações de produção e consumo, diante do entorno e dos demais agentes que a integram, inclusive os predadores.

Sob a ótica da economia, os cluster podem ser entendidos como resultantes dos aglomerados de atividades produtivas afins, situadas em determinado espaço geográfico, as quais mantêm autonomia financeira e gerencial, independentemente do porte (pequeno, médio ou grande), com forte articulação e sinergia, em ambiente comercial marcado por relações de recíproca confiança entre as diferentes partes envolvidas.

A preservação da autonomia, portanto, é elemento marcante das organizações que integram os cluster de competitividade.

A formação de cluster pode ocorrer de modo espontâneo ou ser induzida por agências de fomento, através de linhas de crédito, de facilidades à exportação, ou da assistência, assessoria técnica e tecnológica.

A busca de economias de escala ou da inserção de produtos e serviços em mercados, até então cativos das grandes corporações, características dos

cluster empresariais, não elimina o caráter de competitividade inerente às

organizações de produção. Ao contrário, reforça a consolidação do desenvolvimento sustentado na base local, por meio da mobilização e comprometimento dos atores sociais ativos.

É possível identificar a estruturação e operação de diversos cluster empresariais, nos mais diversos segmentos, seja em outros países ou no Brasil, relacionados à superação de adversidades territoriais e espaciais ou mesmo à disponibilidade de condicionantes estruturais facilitadores.

No estado da arte, particularmente em estudos empreendidos em regiões economicamente periféricas, o exemplo da nova Itália – localizada no centro norte daquele país e englobando as regiões da Lombardia, Vêneto, Toscana e Emília Romana merecem destaques – espaços com forte grau de desenvolvimento local e acentuadas características de articulação, afinidade e aglomeração de entidades produtivas.

As entidades produtivas presentes nos territórios caracterizam-se por dimensões de virtualidade, solidariedade, agilidade, eficiência e paradoxalmente, expressiva condição anárquica. Nestes exemplos, embora a racionalidade do mercado seja dominante existem fortes manifestações paralelas da dimensão substantiva.

A rede articulada e integrada de empresas no território próximo é fator determinante para identificação de cluster. “[...] concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividades e companhias correlatas” (HSM Management, 1999, p.100).

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) (1998), a formação de cluster a partir a cooperação, sinergia e articulação de empresas de distintos portes dá origem a economia de escala, bem como possibilita a formação de marca local, desenvolve cultura de formação continuada do capital humano, com potencial de formar um agrupamento avançado produtivo.

Na Califórnia – Estados Unidos da América – os cluster de agricultura, alimentação, vinhos e turismo são reconhecidos como experiência de base local, em âmbito global.

Em Israel, a adversidade do clima, favoreceu o desenvolvimento de tecnologias especializadas, pessoas e processos voltados à irrigação e abastecimento de água.

Na Holanda, a presença de inúmeros canais e o forte uso dos transportes fluvial e marítimo originaram os cluster de transporte internacional.

Em Portugal, os espaços naturais e os fatores locacionais possibilitaram o desenvolvimento de cluster na área de turismo.

No Brasil, iniciativas pontuais de formação e expansão de cluster têm sido identificadas e avaliadas, em diversas partes do território nacional, seja nos segmentos industriais ou de serviços, particularmente com micro, pequenas e médias empresas, nas áreas couro-calçado, Franca, Birigui e Jaú (SP), e têxtil, Americana (SP), dentre outras. (AMATO NETO, 2000).

A formação e manutenção de cluster empresariais encontra-se amparada nos princípios de empreender, aprender, aprender a aprender, em ambientes cuja cultura de atuação esteja direcionada à cooperação, à busca continuada de padrões de qualidade e competitividade, fundamentada na pesquisa continuada, fluência e transparência de informações entre os membros, para a seleção e aperfeiçoamento de fornecedores, canais de distribuição e ampla integração e flexibilidade nos mercados.

É característica central dos cluster empresariais a especialização produtiva do espaço, observadas a autonomia e interdependência dos atores sociais que integram a rede, com apoio ao desenvolvimento sustentado, por meio da geração de trabalho e renda aos residentes, resultando na eficiência coletiva.

A solidificação dos cluster empresariais permite incrementar, ainda, o grau de eficiência dos agentes de fomento, na medida em que ocorre a aplicação sustentada dos insumos disponíveis ao processo produtivo, com reflexos diretos no aumento da competitividade das corporações mobilizadas na área.

Para a sustentabilidade e longevidade dos cluster empresariais é preciso estabelecer e implantar, de forma sinérgica, estratégias de organização, operação e mercado.

Alguns elementos causadores do fracasso dos cluster de competitividade podem ser: guerra de poder; falta de fluência de informações no ambiente interno e entre os integrantes; desconsideração de aspectos relativos à cultura das corporações envolvidas, cooperação e avaliação continuadas; reconhecimento individual e coletivo das fortalezas e debilidades produtivas e distributivas de cada um dos parceiros envolvidos; falta de definição clara de

objetivos, metas e responsabilidades e insumos necessários, observadas as dimensões de prazos, preços e padrões de qualidade.

Cabe destacar que a articulação produtiva em cluster demanda a revisão dos paradigmas tradicionais, seja na concepção ou no processo de gestão das organizações de produção para construção de vantagem competitiva.

A vantagem competitiva é resultado do conjunto de atividades empreendidas na corporação, diferentes das oferecidas pelas rivais ou semelhantes de um modo diferente e integrado, interpretadas como estratégias (PORTER, 1996).

Fundamentado nos princípios que norteiam a escola do Posicionamento e, de modo particular, no conceito de cluster, foi empreendida a análise da competitividade de destinos turísticos, particularmente, dos espaços insulares de Gran Canaria – Espanha e Florianópolis – Brasil.

2.2 Do Ócio ao Negócio do Turismo: A Negação e a Fuga do