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A endometriose é uma doença ginecológica benigna, dependente de estrógeno e caracterizada pela implantação de tecido endometrial fora da cavidade uterina. A intensidade com que as manifestações clínicas se apresentam pode prejudicar diretamente a vida psicoemocional, profissional e social da mulher acometida.

Sendo uma doença frequente nos dias atuais e associada à infertilidade, é imprescindível que pesquisas sejam conduzidas objetivando fornecer subsídios para melhora nas formas de intervenções às mulheres acometidas.

Em nosso estudo, analisamos o efeito de variantes genéticas na susceptibilidade à endometriose. Observamos que a presença de familiares com endometriose e o grau de parentesco dos mesmos não contribuiu para o desenvolvimento dessa condição clínica. Acreditamos que, através deste tipo de análise, não foi possível verificar a existência de fator genético para familiares. Além disso, sugerimos que pelo fato da doença ser investigada nos últimos anos com procedimentos que oferecem boa acurácia nos resultados, e assim resultados mais fidedignos das mulheres em geral acometidas ou não pela doença.

Embora a literatura demonstre que idade da menarca, IMC, intervalos menstruais e aumento de volume menstrual sejam possíveis precursores da endometriose (14) em nosso estudo, não observamos associação. Levando-se em conta que fatores ambientais também podem contribuir para doenças complexas como a endometriose, supõe-se que devam ser investigados em mulheres de Mato Grosso.

Observamos que as frequências do polimorfismo no gene GSTM1, identificadas nos grupos de mulheres com e sem endometriose, foram 54,50 e 51,50%, respectivamente. Para GSTT1, as frequências corresponderam a 20,70% nos casos e 33% nos controles.

Outros estudos relatam que o polimorfismo no gene GSTM1 está presente em 53% das mulheres caucasianas e asiáticas, apresentando diferentes condições clínicas (Guo, 2005). Em decorrência de resultados conflitantes, questiona-se se de fato a deleção em GSTM1 (polimorfismo) está relacionada ao aumento no risco de desenvolvimento de endometriose (Guo, 2005). As frequências do polimorfismo no gene GSTT1 foram observadas variando de 11-20% em caucasianas e 47% em asiáticas (Rebbeck, 1997; Guo, 2005).

Os primeiros estudos com desenho epidemiológico do tipo caso-controle relatando envolvimento de polimorfismos GSTT1 no desenvolvimento da endometriose relataram frequência de 20% deste em mulheres com endometriose e 9,7% em mulheres saudáveis (OR=2,32). Mundialmente, a frequência do polimorfismo no gene GSTT1 varia entre 9 -74% em mulheres afetadas e entre 9-48% em mulheres sem endometriose (Guo, 2005).

No presente estudo, a presença do polimorfismo no gene GSTM1 (ausente) não contribuiu para o desenvolvimento de endometriose. Estudos semelhantes a este, em mulheres de diferentes etnias, como americanas, inglesas, gregas, coreanas, japonesas, iranianas e italianas corroboram nossos achados (Hadfield et al., 2001; Baxter et al., 2001; Arvantis et al., 2003; Hur et al., 2004; Kim et al., 2007; Matsuzaka et al., 2012; Seifati et al., 2012; Vichi et al., 2012).

Resultados mostrando associação entre o polimorfismo em GSTM1 e endometriose foram observados em mulheres francesas, indianas, mulheres de Taiwan, iranianas (Baranova et al., 1997; Hsieh et al., 2004; Babu et al., 2005; Rozati et al., 2008; Huang et al., 2010; Hosseinzadeh et al., 2011).

Em uma meta-análise, demonstrou-se que o polimorfismo no gene GSTM1 não está associado à susceptibilidade a endometriose (Guo, 2005). Contudo, as análises do polimorfismo no gene GSTT1 (ausente) mostraram associação com a doença. Sugere-se que

este resultado apresente vieses, uma vez que parâmetros como: número de indivíduos em cada grupo estudado, critérios de inclusão /exclusão de controles foram heterogêneos em cada estudo.

Em nosso estudo, o número de indivíduos foi calculado com intervalo de confiança de 95% e um poder de precisão de 80%, porém a amostra recrutada foi maior, dando força de 90% de precisão. Todas as mulheres recrutadas foram submetidas à avaliação laparoscópica e histopatológica, considerada a melhor (padrão-ouro) para caracterização de casos ou controles.

Nossos resultados demonstraram que o polimorfismo no gene GSTT1 foi significativamente mais observado no grupo controle, desempenhando papel protetor. Resultados semelhantes são observados em outros trabalhos (Vichi, 2012). Não se sabe se de fato o polimorfismo no gene GSTT1 confere efeito protetor para endometriose.

Quando comparamos os genes polimórficos GSTM1 e GSTT1 (ausentes) com alterações no volume do sangramento menstrual, não encontramos associação. Em relação aos intervalos dos ciclos menstruais e associação com o gene GSTM1 (ausente), não encontramos diferenças estatisticamente significante. No entanto, quando comparados os intervalos dos ciclos menstruais e associação com o gene GSTT1 (ausente) este conferiu fator de proteção as mulheres portadoras do polimorfismo, sendo as que apresentarem maior número de ciclos menstruais normais.

Uma vez que as enzimas de GST foram encontradas em células que compõem o tecido ovariano, e concomitantemente participando com 3β-hidroxiesteroide hidroxigenase na conversão de pregnenolona a progesterona e desidroepiandrosterona para androstenediona e desempenham um papel importante na gênese de esteróides sexuais (Rahilly et al, 1991). Nosso estudo examinou uma possível ação associação entre polimorfismos GSTM1 e GSTT1 com o

intervalo do ciclo menstrual e volume de sangramento. A falta de associação encontrada pode sugerir que e modificação no ciclo menstrual das mulheres com endometriose não sofreu o impacto destes polimorfismos.

Supõem-se neste estudo que a ausência de atividade das enzimas antioxidantes resultantes dos polimorfismos nos genes GSTM1 e GSTT1 não afetaram a produção de espécies reativas de oxigênio, resultantes da resposta inflamatória na cavidade peritoneal. A condição clínica aparentemente não está associada à presença da deleção em GSTM1.

Por outro lado, deleção em GSTT1 (polimorfismo) foi observada em mulheres saudáveis. A ausência da enzima nesse grupo não afetou seu papel no processo de detoxificação.

Sugerimos que presença do polimorfismo em GSTT1, ou seja, a ausência na atividade deste gene possa contribuir para o aumento na produção de espécies reativas de oxigênio que por sua vez poderão favorecer danos no DNA e consequentemente apoptose. Assim, em mulheres saudáveis tais efeitos contribuem para a não implantação de tecido endometrial ectópico. Além desta suposição, a contribuição dos produtos de outros polimorfismos em genes envolvidos com a síntese e metabolização de esteróides, somados a outros ainda não conhecidos, devem ser consideradas e investigadas em pesquisas futuras.

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