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A presente pesquisa pretendeu validar protocolo de documentação fonoaudiológica embasada em dados objetivos obtidos a partir de questionários aplicados a profissionais da área. Cada um dos exames componentes da proposta inicial de documentação fonoaudiológica possui respaldo na literatura pesquisada, que já demonstra o valor e a aplicabilidade dos exames. Não obstante, devemos observar que apesar de cada registro constituinte da documentação possuir valor diagnóstico, é necessário adequar a proposta ao potencial mercado consumidor desses exames.

A aplicação de questionários aos profissionais da fonoaudiologia objetivou a coleta de dados concernentes ao tipo de trabalho desenvolvido por estes, à utilização ou não de fontes complementares de diagnóstico, à concepção atual acerca da interação entre a Odontologia e a Fonoaudiologia e ao valor subjetivo e individual que cada um dos profissionais atribuía aos exames oferecidos. A proposta da documentação fonoaudiológica é oferecer uma fonte rica de informações complementares para o diagnóstico e tratamento do paciente, sem constituir, contudo, em um agente gerador de ônus desnecessário.

Com objetivo de caracterizar o grupo amostral foram realizadas perguntas acerca da formação profissional e área de atuação. Observou-se que o grupo amostral constituiu-se de profissionais atuantes em consultórios públicos ou privados, na especialidade de Motricidade Orofacial, com tempo de profissão relativamente curto (cinco anos ou mesnos). Esse fator mostrou-se favorável à pesquisa, tendo em vista que revelou a ideologia mais contemporânea acerca dos métodos de trabalho que estão sendo empregados, demonstrando os valores que as universidades estão transmitindo aos futuros profissionais.

Procurou-se compreender com esse trabalho o entendimento atual dos profissionais da fonoaudiologia com relação à importância da integração efetiva com a odontologia, visando o compartilhamento de informações e o planejamento conjunto da terapia. Os dados obtidos (Gráfico 02) revelaram que os profissionais entrevistados demonstravam conhecimento da importância dessa interação e dos benefícios que a mesma traria, tal qual revelado no trabalho de Amaral (2006). Entretanto, quando questionados a respeito do esforço exercido pelas duas classes profissionais para trabalharem em conjunto, vários dos entrevistados afirmaram não

perceber qualquer tentativa de nenhuma das duas classes de conseguir um trabalho interdisciplinar. Esse dado demonstra que ainda há uma resistência para a efetiva interação profissional, mas há uma tendência favorável para que isto ocorra.

Foi questionada também a ocorrência de encaminhamento de pacientes de uma classe para outra. Obteve-se unanimidade nas respostas, afirmando-se que ambas as classes encaminhavam pacientes quando percebiam alguma característica em seus pacientes que, de acordo com sua concepção, necessitasse de intervenções além de sua competência.

De acordo com os dados supracitados, verificamos que o sistema predominante atualmente é o de referência e contra-referência dos profissionais, e não o de uma atuação conjunta. Corroborando essa afirmação temos o dado de que nem todos os profissionais entrevistados procuram os odontólogos que acompanham seus pacientes para obter informações sobre os mesmos. Essa informação pode estar respaldada na comunicação truncada que existe entre as classes profissionais.

Com relação às principais razões de encaminhamento de pacientes da Odontologia para a Fonoaudiologia verificamos que há um conhecimento mínimo por parte da Odontologia quanto às condições orais que ensejam a procura por tratamentos miofuncionais. Esse é um dado positivo que demonstra que o primeiro passo para uma abordagem multidisciplinar, o conhecimento de informações de outras áreas do conhecimento, está em processo de desenvolviemnto. As razões de encaminhamento mencionadas enquadraram-se nas indicações para tratamento fonoaudiológico descritas por Amaral e colaboradores (2006).

Considerando-se que a documentação proposta inicialmente é constituída por registros radiográficos, fotográficos, filmagem e modelos de estudo, procurou-se observar o conhecimento dos fonoaudiólogos e a utilização dos mesmos na rotina de seu atendimento clínico (Gráfico 04). Os dados obtidos demonstraram que muitos dos exames complementares que já estão consolidados em literatura e que contribuem para o diagnóstico, acompanhamento e tratamento dos pacientes estão sendo negligenciados. Os registros com os quais os entrevistados mostraram maior familiaridade foram os radiográficos, mas ainda assim uma porcentagem expressiva desses afirmou não usufruir rotineiramente dessa rica fonte de informações complementares.

A afirmação da necessidade de dados craniofaciais mais objetivos corrobora a utilização da telerradiografia acompanhada de análises cefalométricas para essa finalidade, tal qual afirma Bianchini (1998). A carência de dados posturais do paciente, registrada nessa pesquisa, se coaduna com o afirmado nos trabalhos de Rahal e Krakauer (2001) e Val e colaboradores (2005), que ressaltam a importância desses dados para a avaliação fonoaudiológica.

No quesito referente à duração média da consulta fonoaudiológica inicial (Gráfico 05) obteve-se valores entre 30 e 60 minutos. Os profissionais afirmaram durante a entrevista que nesse espaço de tempo realizavam a anamnese, exame clínico e por vezes faziam alguns registros do paciente (fotos/filmagens sem padronização), atividade esta que consumia boa parte da consulta. Com essa informação adicional temos que seria vantajosa a obtenção dos registros do paciente em outro momento, com a padronização adequada, em centros especializados, para que a consulta fosse destinada tão somente à coleta de dados e observação clínica.

No que concerne à avaliação individual dos exames constituintes da documentação fonoaudiológica proposta foi essencial a obtenção das pontuações, que demonstraram quais exames poderiam contribuir de maneira mais significativa na rotina clínica desses profissionais. Obteve-se validação parcial do protocolo inicial, tendo em vista que nem todos os exames propostos obtiveram valores que correspondessem à aceitação pelos profissionais entrevistados.

A partir dos dados obtidos percebemos que a filmagem foi o registro que obteve a melhor pontuação, sendo considerada “essencial” para uma avaliação fonoaudiológica completa e para o adequado registro das situações pré, trans e pós- terapêutica. (Gráfico 18) Esse dado se justifica pelo fato da fonoaudiologia necessitar de exames dinâmicos para a avaliação das estruturas musculares do sistema estomatognático. O fornecimento desse registro de forma objetiva e padronizada contribui para a avaliação e reavaliação do paciente após intervenções, tal qual afirmam Duarte e Ferreira (2003); Garreto (2003) e Val et al (2005).

Logo após a filmagem, em ordem decrescente de aceitação pelos profissionais seguiram-se os seguintes registros (Gráfico 19): fotografias de cabeça e pescoço; telerradiografia, fotos de língua, oclusão, cavidade bucal; fotos de corpo inteiro; póstero-anterior; transcraniana, panorâmica, modelos em gesso e, finalmente, a radiografia carpal.

As fotografias melhor pontuadas foram as que demonstraram maior número de informações com relação à harmonia facial (extrabucais de cabeça e pescoço) e as que identificavam de maneira pormenorizada as estruturas e tecidos moles e duros da cavidade bucal (intrabucais de língua, oclusão e cavidade bucal). A telerradiografia foi o exame radiográfico melhor pontuado dentre os demais. Isso pode ser justificado pela quantidade de informações relevantes que essa imagem pode oferecer aos profissionais da Fonoaudiologia. As demais imagens, apesar de mostrarem sua contribuição, se aplicam a casos específicos, em que haja alguma suspeita mais direcionada, como é o caso dos pacientes para os quais se solicita uma radiografia transcraniana para avaliação da articulação temporomandibular.

A partir dessas informações pode-se reestruturar uma documentação fonoaudiológica básica, que atenda às necessidades diagnósticas mais prementes dos profissionais sem, no entanto, representar um ônus excessivo aos pacientes. Considerando-se apenas os exames que perfizeram média de opinião subjetiva superior a 3.5, poderíamos estabelecer um protocolo de documentação fonoaudiológica composta pelos seguintes itens: filmagem; telerradiografia; fotos de cabeça e pescoço, língua, oclusão e cavidade bucal.

O conjunto de exames acima relacionado contribuiria com inúmeras informações relevantes ao diagnóstico fonoaudiológico, especialmente se acompanhados das respectivas análises, como mencionado na revisão de literatura. Os demais exames, apesar de não estarem incluídos no protocolo, poderiam ser realizados sempre que o caso do paciente a ser tratado assim o exigisse.

A viabilização desta proposta do ponto de vista comercial trará inúmeros benefícios aos participantes. Aos fonoaudiólogos será fornecida a possibilidade de registros complementares de forma facilitada, com obtenção de dados objetivos e confiáveis quanto às estruturas dentárias, musculares e ósseas do paciente. Para os profissionais da odontologia, especialmente da especialidade de radiologia, abrir-se- á um novo nicho de mercado, para o qual esses poderão contribuir de maneira significativa no diagnóstico dos distúrbios orais miofuncionais.

O paciente será beneficiado pela conjugação das informações advindas da odontologia e da fonoaudiologia, o que caracteriza um passo a mais na busca pela atuação integrada dessas profissões. Os tratamentos serão planejados de forma mais consciente e completa já que estarão sendo considerados fatores mais abrangentes. A documentação, a comunicação entre profissionais da mesma área e

de outras, a exposição de abordagens e resultados terapêuticos em reuniões científicas serão enriquecidos de forma singular.

É importante mencionar que a literatura nesse campo do conhecimento não é vasta, especialmente no que concerne aos exames complementares e à sistematização dos mesmos para utilização pela Fonoaudiologia. Dessa forma, torna-se difícil contrapor os dados obtidos com outras fontes, pois os estudos nessa área ainda são incipientes. Este trabalho enseja, portanto, o aprofundamento dos estudos nessa linha de pesquisa que se encontra carente de novas informações.

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