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Esta pesquisa buscou identificar de forma objetiva e quantitativa o grau de uso das práticas de gestão de projetos, à luz do Guia PMBOK, pelos profissionais da área de projetos, além de possíveis correlações que possibilitassem exemplificar e/ou explicar o porquê dos valores verificados no campo.

Inicialmente identificamos o perfil dos profissionais onde foi possível determinar que os mesmos, em sua maioria, são homens acima dos 30 anos de idade, com experiência profissional maior que oito anos denotando uma boa experiência profissional do seu campo de trabalho. No entanto eles apresentaram pouco tempo de experiência em gestão de projetos (entre dois e quatro anos). Como projetos são transformações/mudanças (Boutinet, 2002) que objetivam um resultado único (KERZNER, 2006; VERZUH, 2000), sendo em grande parte vinculados a uma necessidade estratégica da organização (CLELAND; IRELAND, 2002), as incertezas inerentes no seu desenvolvimento (Maximiano, 2002; Vargas, 2009) podem aumentar por devido ao pouco tempo de contato dos profissionais com as práticas de gestão de projetos. Além disso, estes possuem formação em pós-graduação ou maior, mas, assim como suas experiências profissionais, em áreas diferentes da gestão de projetos. Outro dado importante verificado foi que na sua maioria eles não possuem a certificação PMP e deixam de satisfazer os requisitos de instrução e experiência, segundo Kerzner (2001), necessários para o exercício do projeto. Os poucos que satisfazem e possuem a certificação, a obtiveram recentemente. Esses mesmos profissionais têm desempenhado as funções de analista ou de gerente de projetos.

Em relação as organizações dos respondentes verificamos que, em sua maioria, estão localizadas na região Sul-Sudeste do Brasil e atuam no setor de TI. Este último denota a possibilidade da existência do cluster de tipo de projeto “TI e telecomunicações” identifi do no estudo de Besner e Hobbs (2013) onde possuem contextos semelhantes de uso das práticas empregadas nos diferentes projetos. Ainda na análise do perfil das organizações, foi possível identificar que, em relação a quantidade de funcionários, os respondentes ficaram distribuídos entres as faixas, com exceção das faixas entre 101 e 200 e entre 20.001 e 40.000 devido ao baixo número de respostas nas mesmas. Quanto ao faturamento/orçamento a maioria ficou acima de um bilhão de Reais.

Constatamos, nos dias atuais, uma baixa quantidade de organizações com EGP. Uma vez que esse exerce a função de padronização, documentação, coordenação, suporte e desenvolvimento das práticas que apoiam os gerentes de projetos no amadurecimento do gerenciamento de projetos eficiente nas organizações (KERZNER, 2006), isso suscitou uma análise mais detalhada da relação dos EGPs com os preceitos do guia analisado e das métricas de sucesso do projeto.

Ficou evidente, na análise dos dados, um uso mediano das práticas de gestão de projetos quando analisado pela ótica das nove áreas de conhecimento (Integração, escopo, tempo, custo, recursos humanos, comunicação, risco e aquisição) do Guia PMBOK (PMI, 2008). A partir do grau de uso concluiu-se que as áreas de conhecimento integração, escopo, tempo e aquisição obtiveram um grau médio de uso. Ao contrário, as áreas de custo, qualidade, recursos humanos, comunicação e risco obtiveram um grau baixo de uso. Com estes resultados pôde-se responder ao problema desta dissertação: Em que grau os gerentes de projetos das organizações brasileiras realmente fazem uso, no dia-a-dia, das boas práticas de gestão de projetos baseadas no Guia PMBOK?

Coletaram-se indícios de que, mesmo nos dias atuais, ainda existe pouca adesão aos preceitos de gestão de projetos. Ao se compará-los com a pesquisa de Papke-Shields et al. (2010) constata-se que, proporcionalmente, as médias do nosso estudo são inferiores, mesmo esta sendo uma pesquisa realizada há mais de três anos. Daí pode-se concluir que, ainda hoje, questões básicas de planejamento, definição de escopo e tempo do projeto e aquisição são tratadas seguindo as recomendações do guia, porém negligenciando-se sua inter-relação com a qualidade, gestão de pessoas, comunicação efetiva do projeto e avaliação adequada dos riscos do projeto.

Na comparação do grau de uso das práticas do Guia PMBOK, com a existência ou não de um EGP, obtiveram-se evidências de que sua presença influencia o aumento do grau de uso em praticamente todas as áreas de conhecimento (Integração, escopo, tempo, custo, recursos humanos, comunicação, risco e aquisição) reforçando sua importância no contexto organizacional exemplificado por Pinto et al. (2010), Englund et al. (2003), Prado (2000) e outros autores. Chama a atenção o resultado das variáveis que se mostraram não significantes (área de conhecimento qualidade e a questão de sucesso do projeto). É de se considerá-lo como um resultado não esperado por de se tratar de atributos importantes para a gestão de projetos.

Desta forma, sob a ótica das métricas de sucesso do projeto, foi averiguado se elas foram afetadas pelo grau de uso das práticas por cada área de conhecimento e/ou pela existência de um EGP na organização. Há evidências de significância na relação do sucesso do projeto com as áreas de conhecimento de custo, qualidade e recursos humanos. Agora o fato de existir ou não um EGP na empresa não foi significante para o sucesso do projeto. Estes resultados levantam uma questão relevante quanto a área de conhecimento de qualidade visto que ter um EGP não foi significante para a mesma, mas quando definido como ponto de partida as métricas de sucesso do projeto, a área de conhecimento de qualidade foi significante.

Os dados apurados nesta pesquisa evidenciaram questões de interesse quanto aos postulados do guia de gestão de projetos e sua relevância nas correlações analisadas. Ao determinar o grau de uso das práticas de gestão de projetos no contexto brasileiro, esta dissertação analisou suas teorias

de forma a contribuir para a criação de uma base de conhecimento acadêmica e corporativa da realidade dos profissionais e suas organizações. O caráter exploratório do trabalho levantou diversos aspectos existentes na atividade de gestão de projetos. Acredita-se ainda que os achados desta pesquisa podem contribuir para que os gerentes de projetos e organizações tomem conhecimento de quais áreas de conhecimento já estão bem disseminadas e quais ainda necessitam de uma maior atenção. Outro dado identificado que chamou a atenção foi que somente 16,06% da amostra analisada possuía certificação de projetos, neste caso PMP. Até que ponto o desconhecimento das práticas, pela falta de uma certificação, pode afetar o seu uso já que segundo as teorias (KERZNER,2001;GADDIS, 1959; MAXIMIANO, 2002) aqui analisadas o conhecimento das práticas seria importante para permitir um uso adequado das mesmas. No tocante a questão do escritório de projetos (EGP) apesar de termos evidenciado sua importância para o projeto, também verificamos que quase a metade das organizações (46,72%) não o possuem. De posse desta informação os gerentes de projeto poderão definir sustentáculos, junto a alta administração das organizações, que justifiquem sua criação para proporcionar o crescimento do uso das melhores práticas nas mesmas. Eles, no contexto organizacional evidenciado neste trabalho, são o elo de ligação entre a gestão, recursos e stakeholders podendo assim influenciar nas melhorias aqui propostas.

Pesquisas e trabalhos futuros poderão comprovar as questões aqui observadas, através do levantamento de hipóteses e novas análises estatísticas em um maior número de profissionais e organizações. Como exemplo, analisar as regiões localizadas fora do eixo Sul-Sudeste e comparar com os nossos dados. Da mesma forma outros estudos poderiam abordar um modelo mais abrangente através da compreensão de uma quantidade maior de níveis de análise para aumento da confiabilidade do modelo. Entre os estudos que podem complementar este trabalho e que sugerimos sua análise no contexto brasileiro, destacamos os de Besner e Hobbs (2006, 2012 e 2013) que inserem variáveis de maturidade, clusters, diferentes contextos da organização, os ferramentais de projetos, tipos de projetos etc.

Esta dissertação espera ter contribuído para o desenvolvimento, no Brasil, dos arcabouços teóricos e práticos relativos aos estudos dos guias e práticas de gestão de projetos. Ela se soma a outros estudos para análise de possíveis ajustes no foco de como as áreas de conhecimento devam ser melhor analisadas.

Por fim, este estudo pôde verificar a existência de uma infinidade de fatores que influenciam na utilização das melhores práticas de gestão de projetos e no sucesso dos mesmos. Com isso ressalta-se a importância da constante experimentação e análise do ambiente de projetos para amadurecimento desta matéria no Brasil tanto no meio acadêmico quando no meio corporativo.

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