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AS DISCUSSÕES DO ENCONTRO DE PROFESSORES Na Revista Educação e Ensino de Santa Catarina

No documento MÁRCIA REGINA DOS SANTOS (páginas 172-179)

CAPELLA ANDRADE PETRY, SCHNEIDER E LENZ

4 ECOS DO 1º ENCONTRO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

4.3 AS DISCUSSÕES DO ENCONTRO DE PROFESSORES Na Revista Educação e Ensino de Santa Catarina

foram registradas as impressões de algumas pessoas sobre o evento. Importante lembrar que esta tinha o intuito de escrever “para a posteridade”, portanto, as falas, opiniões e críticas sofriam o filtro da edição, assegurando uma perspectiva positiva da situação. Quando questionada sobre os temas apresentados no encontro que eram considerados de maior relevância, a Professora Dilza Délia Dutra, da Universidade Federal de Santa Catarina e do Instituto Estadual de Educação, destacou alguns pontos:

Desumanização tecnicista, face aos valores eternos do homem;

O papel das universidades e das elites;

Apresentação do projeto do programa da matéria para o Estado de Santa Catarina; Debate sobre o projeto e produção das considerações feitas pelo plenário;

A Grande Opção Brasileira consubstanciada na Educação Moral e Cívica;

Filosofias e ideologias políticas; Tóxicos e entorpecentes;

Análise da situação socioeconômica do Brasil. (Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973, p. 6).

Observam-se temas de ordem genérica a respeito dos desafios da escola e temas específicos sobre o ensino de Educação Moral e Cívica. Seguramente todos os temas convergem para o processo formativo dos alunos, mas percebe- se a visão ampliada sobre a situação da educação. Assim como eram preocupações latentes as situações atribuídas diretamente aos alunos como a falta de valores ou os tóxicos e entorpecentes, também compunham a pauta as questões externas ao espaço escolar, que, certamente, atuavam nas definições administrativa ou ideológica. Discutir aspectos políticos e econômicos sob a ótica institucional, em certa medida, constitui os jogos de poder que configuram as escolas e os sistemas de ensino. As tensões dessa dimensão do processo educacional poderiam ser minimizadas se amparadas pela base comum da moral e do civismo.

A primeira palestra foi dada pelo General Moacir de Araújo Lopes com o tema “A grande opção brasileira consubstanciada na Educação Moral e Cívica”. O palestrante proferiu seu discurso e logo após os grupos de trabalho elaboraram questões que seriam respondidas pelo mesmo. No segundo dia o representante da Comissão Nacional de Moral e Civismo Dr. Aloysio Rodrigues Henriques palestrou sobre “Filosofias e ideologias políticas” e, no período noturno o Professor Jaldyr Bhering Faustino da Silva, autor de um dos livros escolares que é objeto deste estudo, abordou o Decreto- lei nº 869/69. Os assuntos eram expostos pelos convidados e os participantes tinham oportunidade de elaborar uma representação na coletividade através de trabalhos em grupos. De forma alguma essa estratégia formativa eliminava a sensibilidade criada individualmente, mas, privilegiava o espaço e o tempo como construtor de um senso comum aos participantes.

Fazendo suas considerações sobre a relevância do

formação em nível superior, os redatores da Revista escreveram sobre o ensino universitário:

A universidade deve ser elite não de dinheiro ou de sangue mas, de inteligência e moral. A fortuna humana é o saber. O selo da legítima fabricação humana é a moral. Cabe à Universidade promover os valores; a Educação aprimora, não cria. A ignorância, sim, iguala, ao passo que a inteligência é fator diferencial. (Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973, p. 6).

As frases fazem referência a um dos temas discutidos no evento. O espaço acadêmico era concebido como o lugar onde se solidificavam as culturas que deveriam predominar na sociedade. A reforma universitária de 1968 deu novos contornos aos objetivos da formação superior que passou a se caracterizar

pela busca da formação da força de trabalho de nível universitário com vistas a, de um lado, atender o capital monopolista e, por outro lado, aplacar os anseios de mobilidade social das camadas médias. (MOROSI, 2011, p. 313).

De toda forma, fosse pelos cargos ocupados pelos egressos ou pelo reconhecimento social, a universidade preservava o ícone de distinção social designado aos seus frequentadores. Assim, tida como instituição que preparava os grupos que estariam à frente de cargos administrativos e políticos, a universidade formava os quadros detentores do conhecimento, consequentemente do poder sobre os grupos externos a esse ambiente.

Entre os temas do Encontro estava a apresentação do

projeto do programa para a disciplina no estado e, uma questão interessante foram os debates acompanhados de considerações dos participantes, fato que sugeria uma interação entre a

Secretaria da Educação e os educadores. Compreendendo que a redação final do programa seria de cunho oficial, sinalizava-se um diálogo estabelecido em torno das propostas de ensino. Não foi possível identificar se a Professora Dilza Délia Dutra exercia algum cargo junto à administração pública, mas ressalta-se que o tema foi apontado como relevante por uma docente demonstrando a valorização do método de construção do programa.

O Diretor do Instituto Estadual de Educação Professor Nilton Severo da Costa explicou à Revista como aconteceu o

Encontro:

Os trabalhos realizaram-se dentro de um clima de interesse, onde cada um dos participantes opinava a favor ou contra posições tomadas, consequentemente apresentando sugestões para possíveis reformulações, levando também em conta o conteúdo das respostas. (Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973, p. 9).

A dinâmica de trabalho consistiu na formação de grupos para construir as considerações a serem partilhadas com o grande grupo. Foram organizados 10 grupos de 20 professores (as) orientados por um monitor. Os grupos recebiam seus temas e tarefas previamente, debatiam, trocavam experiências e sintetizavam considerações. Os grupos considerados com melhor desempenho – não foram identificados os critérios de escolha, recebiam destaque e honrarias. A Revista atribuiu a iniciativa de promover o evento ao Professor Nilton Severo da Costa, que contou com uma equipe técnica da Secretaria da Educação de Goiás para auxiliar na organização e execução do Encontro, pois o 1º Encontro Nacional havia acontecido anteriormente em Goiás. O Professor Nilton caracterizou os objetivos do evento:

Objetivo geral do Encontro:

- Realizar estudos interpretativos e normativos do Decreto 869 e da Lei nº 5692, para efetivar uma programação por série e nível de estudos. Especificações:

- Estabelecer o entrosamento e o intercâmbio entre os Professores de Educação Moral e Cívica;

- Colocar as bases filosófico-constitucionais da Educação Moral e Cívica;

- Levar os Professores à conscientização em torno dos princípios que regem o ensino de Moral e Civismo;

- Analisar os aspectos didático-pedagógicos da Educação Moral e Cívica;

- Estudar a Educação Moral e Cívica em face à Lei 5692 de 11 de agosto de 1971;

- A criação da Coordenação de Educação Moral e Cívica (COMOCI) no estado;

- Analisar as normas relativas a implantação dos Centro Cívico Escolares, bem como suas atribuições. (Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973, p. 9).

Os objetivos do Encontro relacionados pelo Professor Nilton apresentavam como principal foco a elaboração de um plano de ensino seriado para servir de base às diversas instituições. O desejo de homogeneizar o ensino da Educação Moral e Cívica vinha da preocupação sobre as possíveis apropriações nas várias dimensões do sistema educacional. O Decreto-lei nº 869/69 instituía a obrigatoriedade e o Decreto nº 68065/71 regulamentava o ensino da disciplina, porém ambos determinavam aos Conselhos Estaduais de Educação as questões de formação de professores (as), organização de horários, escolha de materiais, dessa forma abrindo precedentes quanto ao ensino mesmo que a base filosófica fosse comum. Segundo o Professor Nilton “o processo educativo utilizado na orientação da disciplina apresenta-se falho senão de todo, mas em muitas partes” (O Estado, 1973, p. 3). A reunião de

professores (as) que já ministravam a disciplina além de fortificar as bases de ensino, poderia identificar desvios quanto aos métodos e aos discursos que na prática circulavam nas escolas.

É possível que os participantes do evento estivessem conscientes das expectativas da Secretaria de Educação quanto à atuação dos docentes no estado, porém, os trabalhos desenvolvidos nos grupos, os relatos tidos como informais também estavam sujeitos à observação, já que cada grupo contava com um monitor durante os trabalhos. Amalgamar o grupo nas finalidades da disciplina e promover a formação era atribuição dos Conselhos Estaduais de Educação e sob essa perspectiva se constituíram os objetivos do Encontro.

Paralelo ao Encontro, o jornal O Estado promoveu uma mesa redonda (Figura 19) com os professores Nilton Severo da Costa representando Santa Catarina, Moacyr Caetano Empinotti, representante da Comissão Nacional de Moral e Civismo do Rio Grande do Sul e Roberto da Silva Maia, presidente da Coordenação Estadual de Moral e Civismo de Goiás (COMOCI), na qual fizeram suas considerações sobre a situação do ensino da disciplina e as perspectivas futuras.

Figura 20 – Mesa redonda promovida pelo Jornal O Estado

Fonte: Jornal O Estado, jan. 1973. Acervo da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

Os convidados foram abordados sobre as fragilidades no ensino da Educação Moral e Cívica, os problemas na assimilação dos princípios por parte dos (as) professores (as), a defasagem na formação docente e a complexidade da disciplina. Sobre as finalidades, o professor Empinotti considerou,

Infelizmente a matéria foi deturpada. Era considerada inútil e depois passou a ser encarada única e exclusivamente, como uma questão de segurança. Hoje, essa fase está superada. O estudante universitário, de modo particular, demonstra perceber a importância da EMC. A maioria concorda que a disciplina não reflete o pensamento de um determinado Governo com vistas a uma determinada segurança. Nós só podemos louvar a atitude do

Governo revolucionário, que ao estabelecer a disciplina nos currículos das escolas, o fez não por uma questão de segurança nacional, mas sim por imposição natural para o prosseguimento da nossa cultura. (O Estado, 1973, p. 3).

Havia um esforço em instituir a Educação Moral e Cívica como um campo de conhecimento naturalizado, estabelecido nos currículos como um saber fundamental e evidente. A constituição dos conteúdos, a elaboração dos programas era pensada como instrumento formativo essencial a constituição do processo civilizacional escolarizado. As conferências, palestras e debates que nortearam os assuntos tratados no Encontro aludiam ao caráter normalizador da disciplina, que era constituída como deveria ser, para o bom desenvolvimento da sociedade. A representação social da disciplina se dava pela via da necessidade de unificação diante dos percalços políticos e sociais que assolavam outros países, como por exemplos os seguidores de doutrinas socialistas ou comunistas.

4.4 O PERFIL DO (A) PROFESSOR (A) DE EDUCAÇÃO

No documento MÁRCIA REGINA DOS SANTOS (páginas 172-179)