• Nenhum resultado encontrado

SEÇÃO RECADO – A MATÉRIA DE DESTAQUE FOI SOBRE O ENCONTRO

No documento MÁRCIA REGINA DOS SANTOS (páginas 165-172)

CAPELLA ANDRADE PETRY, SCHNEIDER E LENZ

4 ECOS DO 1º ENCONTRO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

4.2 SEÇÃO RECADO – A MATÉRIA DE DESTAQUE FOI SOBRE O ENCONTRO

Estivemos lá – vivemos durante cinco dias, o dia-a-dia dos professores dos mais longínquos rincões do Estado e do além fronteiras, e, sentimos que o encontro trouxe benéficos resultados. Se não conseguisse inculcar nos jovens professores, uma orientação pedagógica de base ‘in materiae’– o que não acreditamos -,

trouxe por outro lado o entrelaçamento social- profissional, o arejamento de ideias, o alargamento de conceitos, o que por si só já se justifica. (Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973, p. 1).

A Revista Educação e Ensino de Santa Catarina promoveu a cobertura integral de um evento que reuniu professores (as) de várias localidades do estado, autoridades institucionais e convidados. A série de matérias produzidas foi anunciada pelo título Ecos do 1º Encontro de Professores de

Educação Moral e Cívica. Além das notícias específicas do evento destacadas na seção Recado, as outras seções também foram organizadas com afinidade ao tema da disciplina. As 28 páginas foram dedicadas a Educação Moral e Cívica e aos métodos de ensino, legislação, conceitos e finalidades.

O editorial da Revista anunciava que, ao abrir os trabalhos do ano de 1973 pretendia “gravar para sempre” (Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973, p. 1) os momentos presenciados pela equipe de reportagem. A edição especial propôs perenizar os acontecimentos por meio das imagens e dos relatos. A concepção das verdades absolutas era muito presente na vivência, instituída pelos sistemas de ensino

e multiplicada pelos diversos segmentos sociais, inclusive as mídias escritas.

No período de 15 a 20 de janeiro de 1973 ocorreu em Florianópolis – capital do estado, o 1º Encontro de Professores

de Educação Moral e Cívica do Estado de Santa Catarina, uma realização conjunta da Secretaria Estadual de Educação e o Instituto Estadual de Educação30. A cerimônia de abertura ocorreu no Teatro Álvaro de Carvalho31, situado na área central da cidade, pontualmente as 09h00min, com cerca de 200 pessoas presentes. Entre os presentes estavam autoridades do município e estado (Figura 15), como o governador Colombo Machado de Salles, o Secretário de Educação de Santa Catarina Professor Carlos Augusto Caminha, o Diretor do Instituto Estadual de Educação e coordenador do evento Professor Nilton Severo da Costa, o Secretário de Educação de Goiás Professor Hélio Umbelino Lobo, bem como técnicos da mesma

30 O Instituto Estadual de Santa Catarina desde a década de 1960 constituiu-

se como órgão descentralizado da Secretaria Estadual de Educação, subordinado diretamente ao governador do estado. Essa condição conferia à instituição autonomia financeira, administrativa e inclusive didático- pedagógica, o que oportunizava assumir um papel de vanguarda no ensino tornando-se instituição de referência para outros estabelecimentos escolares que o visitavam para conhecer os currículos, programas de ensino, métodos que estavam a ser empregados (VIEIRA, 2014). Haja vista o ambiente mostrava-se propício à novos experimentos educacionais, o Instituto Estadual de Educação organizou e sediou o Encontro, que representou um espaço (in) formativo para debater o ensino de Educação Moral e Cívica, solidificar as bases e socializar as práticas.

31 Na década de 1970 era um espaço de destaque na cidade que recebia

espetáculos teatrais, projeções cinematográficas e solenidades oficiais. Inaugurado no século XIX, permanece ainda na mesma localização, o Teatro Álvaro de Carvalho está situado a leste da Praça XV de Novembro, compondo o denominado Centro Histórico da cidade de Florianópolis, que é representado pela Praça XV de Novembro e ruas adjacentes (GODOIS, 2011). A escolha desse ambiente para a realização da cerimônia de abertura do Encontro e a presença de autoridades estaduais e nacionais pode ser lido como um alinhamento de ideias entre o IEE e o Estado no que tange à proposta e ao ensino da Educação Moral e Cívica.

secretaria e titulares e representantes de outras pastas da organização do estado de Santa Catarina.

Figura 16 – Autoridades na cerimônia de abertura do Encontro

Fonte: Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973. Acervo de obras raras da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

O evento reuniu professores (as) do estado de Santa Catarina com o intuito de promover estudos em torno da disciplina de Educação Moral e Cívica, as adequações à prescrição oficial, a assimilação dos princípios da disciplina e socializar os trabalhos pedagógicos empreendidos pelos docentes em suas instituições. O periódico calculou a presença de cerca de 200 pessoas na abertura, mas, não dá precisão quanto ao número efetivo de participantes, até mesmo por que se observaram a presença de autoridades e outras personalidades que possivelmente não estariam presentes durantes todas as atividades do evento e também há possibilidade de que nem todos compareceram à cerimônia. As

imagens produzidas pelo fotógrafo da Revista (Figuras 16 e 17), na cerimônia, mostram uma parte dos participantes. Figura 17 – Participantes do Encontro na cerimônia de abertura

Fonte: Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973. Acervo de obras raras da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

Figura 18 – O momento do Hino Nacional

Fonte: Revista Educação e Ensino de Santa Catarina, 1973. Acervo de obras raras da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

As imagens parecem mostrar o mesmo ângulo do Teatro, portanto, dão a ver uma parte do todo. O público é composto por homens e mulheres, destacando a maior presença feminina na figura 16. No momento da execução do Hino Nacional (Figura 17), prática recorrente em cerimônias de abertura, é possível observar comportamentos diversos. Algumas pessoas mantem sua boca fechada enquanto percebem-se outras em movimento de fala, ou canto, nesse caso. Numa prática que se entende ser em coro, em tese, todos deveriam ter movimentos de fala ao mesmo tempo. Na primeira fila, uma mulher se posta com as mãos para trás do corpo, o que não corresponde ao perfilhamento para cantar o Hino – com braços e mãos esticados, ao lado do corpo, segundo práticas disseminadas pelos órgãos militares. Na minúcia do contexto surgem elementos que desconstroem o

senso da hegemonia que pairava sobre o momento histórico, pressupondo atitudes e internalizações diversas quanto aos cerimoniais cívicos.

Além da cobertura da Revista Educação e Ensino de

Santa Catarina, o evento também foi veiculado pelo jornal diário O Estado (Figura 18). Referindo-se ao evento como “o conclave”, o periódico noticiou nos dias 16/01/1973, 19/01/1973 e 21/01/1973, em espaço gráfico privilegiado, detalhes sobre a organização, os participantes, os temas tratados e inclusive promoveu uma mesa redonda sobre a Educação Moral e Cívica entre conferencistas convidados para o Encontro, com posterior reportagem escrita. A mídia impressa de ampla circulação de Santa Catarina (BUDDE, 2013) dedicou à terceira página de três edições do jornal, ou seja, assim que o leitor visualizava a capa do jornal, na sequência estavam as matérias que informavam a sociedade consumidora do periódico sobre as discussões empreendidas acerca da disciplina. O jornal entendido como elemento (in) formativo (CAMPOS, 2012) promoveu o evento levando aos seus leitores os acontecimentos considerados principais dos cinco dias de trabalho. A Revista e O Estado compartilharam imagens capturadas no evento pelo repórter fotográfico da

Revista, Carlos Alberto Vieira, demonstrando o intercâmbio e socialização das informações.

Figura 19 – Jornal O Estado divulga o Encontro

Fonte: Jornal O Estado, jan. 1973. Acervo da Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina.

A produção de material escrito sobre o Encontro não foi limitada aos leitores interessados especificamente pelas notícias sobre a educação. As discussões geradas a partir da teoria e da prática da moral e do civismo eram assuntos relevantes na legitimação da construção social do período dos governos militares. A divulgação das questões tratadas pela disciplina transcendia o ambiente da escolarização e promovia o debate em espaços diversos de circulação do jornal, funcionando como elemento formativo para a população assim como as comemorações cívicas ocorridas nas comunidades do entorno escolar desde o início da República (TEIVE, 2009). Percebe-se que o assunto era do interesse dos grupos sociais empenhados em estabelecer outros padrões culturais e por isso tinha espaço numa mídia escrita importante como o jornal O

A circulação de jornais diários constitui um importante instrumento disseminador de ideias. O suporte que agrega assuntos de variados segmentos estabelece um diálogo amplo onde o leitor tem a autonomia de selecionar somente as leituras que mais lhe interessam, mas também dispõe de um volume considerável de informações que proporcionam um panorama sobre seu tempo e espaço. Segundo Campos (2012), juntamente com outras instituições – escola, família, etc., a imprensa configura um instrumento que educa a sociedade onde valores são realimentados ou criados.

4.3 AS DISCUSSÕES DO ENCONTRO DE PROFESSORES

No documento MÁRCIA REGINA DOS SANTOS (páginas 165-172)