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3 REVISÃO DA LITERATURA

5.9 DISLEXIA NA UFSM

No Brasil, poucos disléxicos chegam até a Universidade, embora esse número venha aumentando nos últimos tempos. (MOOJEN; BASSÔA; GONÇALVES, 2016, p. 57).

Através de contato com outros profissionais que atuaram no Ânima em anos anteriores, sabe-se que já passaram pela UFSM outros acadêmicos com dislexia (sic) além do que se tem registrado no Núcleo de Acessibilidade. Também devemos considerar a possibilidade de que pessoas com esse transtorno possam ter frequentado a instituição sem serem identificadas como tal.

A UFSM adotou o sistema de reserva de vagas, em 2007, através da Resolução nº 011, de 03 de agosto de 2007 que instituiu o “Programa de Ações Afirmativas de Inclusão Racial e Social”. Obviamente, esta ação ampliou o acesso à Educação superior de pessoas afro-brasileiras, indígenas, pessoas com deficiência e as de baixa renda.

Consequentemente, tornou-se possível a identificação e o registro documental da permanência desses sujeitos na instituição. Anteriormente, tais dados não eram registrados porque não havia nenhuma ação institucional nesse sentido. Em 2006, Costas e Pacheco realizaram uma investigação na UFSM sobre o processo de inclusão dos estudantes com necessidades educacionais especiais. Os

resultados do trabalho confirmaram a falta desta documentação, pois os coordenadores de alguns cursos mencionam que não tem como responder algumas das questões porque assumiram o cargo a pouco tempo ou porque o coordenador da época em que havia aluno incluído já se aposentou. As informações eram repassadas de modo informal, não havendo até aquele momento um órgão responsável por isso.

Consta nos manuais de orientação dos concursos vestibulares da UFSM, que os candidatos a uma vaga em cursos de graduação deveriam indicar em qual categoria se enquadravam, conforme figura que segue:

Figura 8 – Categorias do “Sistema Cidadão Presente”

Fonte: COPERVES (2008).

Durante três edições do vestibular, a nomenclatura utilizada para se referir ao sistema de reserva de vagas era “Sistema Cidadão Presente”, sendo as vagas distribuídas de acordo com a proporção indicada na figura anterior. Em 2011, o sistema sofreu algumas alterações, incluindo a denominação (ver Figura 9).

Como pode ser observado, o sistema de reserva de vagas passou a ser chamado de “Ações Afirmativas”. Além disso, houve um aumento no número de vagas destinadas aos candidatos afro-brasileiros e aos indígenas.

Figura 9 – Sistema de “Ações” afirmativas

Fonte: COPERVES (2011).

Já em 2013, as categorias de reserva de vagas são ampliadas (ver Figura 10). Nesta edição, as ‘cotas’ – como foram denominadas as categorias de identificação dos candidatos – foram redistribuídas e acrescentou-se à lista as cotas: EP1A, EP1, EP2A e EP2 contemplando os candidatos egressos de escola pública considerando a renda familiar.

A UFSM manteve o sistema de reserva de vagas nesse formato até 2016, quando passou a adotar o SiSU como via de acesso à graduação na maior parte de seus cursos. Consequentemente, embora já disponibilizasse um sistema de reserva de vagas, reorganizou tais vagas de acordo com a Lei nº12711/2012.

Em 2018, foi publicada na UFSM a Resolução nº 02, que regula a forma de ingresso aos cursos de graduação e ações afirmativas correlatas, revogando a Resolução nº 11 de 2007. Este documento regulamenta a adoção de seleção para o ingresso aos cursos de graduação através do SiSU e indica outras formas específicas de ingresso adotadas pela UFSM.

No Quadro 8, podem ser observadas as categorias em que são distribuídas as vagas das instituições públicas de ensino superior. No SiSU, os candidatos

escolhem o curso ao qual querem concorrer e na sequência optam em que tipo de reserva de vaga eles se enquadram.

Figura 10 – Sistema de reserva de vagas 2013

Fonte: COPERVES (2013).

Ressalta-se que em nenhuma das situações, seja vestibular ou SiSU há ou houve uma vaga disponibilizada especificamente para pessoas com dislexia. Como já foi mencionado anteriormente, a dislexia é um transtorno de aprendizagem que afeta a habilidade de leitura e consequentemente a escrita. Contudo, constatou-se que as pessoas com dislexia têm se beneficiado do sistema de reserva de vagas para pessoas com deficiência para poder ingressar na Educação Superior.

Quadro 8 – Distribuição das vagas na UFSM segundo Lei nº12.711/2012.

(continua)

A0 Ampla concorrência

L1 Candidatos com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salários mínimo que tenham cursado integralmente o ensino médio em

escolas públicas.

L2 Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas, com renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salários mínimo e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Quadro 8 – Distribuição das vagas na UFSM segundo Lei nº12.711/2012.

(conclusão)

L5 Candidatos que, independentemente da renda, tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

L6 Candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda, tenham cursado integralmente o ensino

médio em escolas públicas.

L9 Candidatos com deficiência que tenham renda familiar bruta per capita igual ou inferior a 1,5 salários mínimo e que tenham cursado

integralmente o ensino médio em escolas públicas.

L10 Candidatos com deficiência autodeclarados pretos, pardos ou indígenas, que tenham renda familiar bruta per capita igual ou inferior a

1,5 salários mínimo e que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

L13 Candidatos com deficiência que, independentemente da renda, tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.

L14 Candidatos com deficiência autodeclarados pretos, pardos ou indígenas que, independentemente da renda, tenham cursado

integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Fonte: Autora. Adaptação do Termo de Adesão UFSM - SiSU

Em consulta ao Núcleo de Acessibilidade, obteve-se a informação de que há, atualmente, o registro de 13 matrículas de estudantes com dislexia. Entretanto, dois estudantes ocupam três e dois registros respectivamente57, sendo assim, são dez

estudantes com dislexia na UFSM. O primeiro registro que se tem é de uma matrícula em 2009.

Considerando as informações obtidas do Núcleo de Acessibilidade, são seis estudantes que ingressaram pela reserva de vagas e quatro que ingressaram pelo sistema universal de vagas. Apenas um desses estudantes não recebeu algum tipo de acompanhamento. O Núcleo de Acessibilidade também informou que nenhum estudante se formou ainda. A pessoa que ingressou em 2009, no ano de 2015 trocou de curso e está em situação regular de matrícula.

Não há nos relatórios da CAED nenhuma justificativa explicando porque os estudantes com dislexia – não considerados como público-alvo da Educação Especial pela PNEEPEI – tenham conseguido ocupar as vagas reservadas a esse

57 Aquele que possui três registros tem matrícula em curso técnico e em dois cursos superiores

(trocou de curso), o que ocupa dois registros ingressou em 2009 e em 2015 pediu transferência interna para outro curso.

público. Questionou-se o Núcleo de Acessibilidade sobre haver alguma normativa em relação à aceitação de pessoas com dislexia na vaga de alunos com deficiência. O referido órgão respondeu que não há normativa interna sobre o assunto e a decisão é da comissão de verificação (sic). O que ocorreu, em alguns casos de indeferimento da vaga por parte da comissão de verificação, é que o estudante interpôs recurso e garantiu seu direito de acesso pelo sistema de cotas.

Com base nas informações obtidas, infere-se que durante o processo de verificação, ao qual os candidatos são submetidos, a comissão responsável entendeu que as pessoas com dislexia se enquadram na categoria de pessoas com necessidades educacionais especiais e por isso deferiram suas matrículas.

Considera-se importante ressaltar que, até 2012, a reserva de vagas era destinada às pessoas com “necessidades educacionais especiais”, o que corrobora a inferência feita anteriormente em relação ao deferimento das matrículas das pessoas com dislexia que reivindicaram uma vaga na categoria “pessoas com deficiência”.

Isso não é uma crítica ao que tem sido feito, uma vez que se entende a necessidade de apoio para estes estudantes, pois apesar desses indivíduos não apresentarem uma deficiência58, possuem um transtorno que faz com que estes

estudantes tenham necessidades educacionais especiais. A ressalva que se faz aqui não é à UFSM, mas à própria PNEEPEI (BRASIL, 2008) que, ao definir quem é seu público-alvo, deixou os transtornos de aprendizagem à margem dos atendimentos. Na UFSM, os estudantes, caso necessitem e queiram59, recebem AEE na CAED e

os professores também recebem orientação60.

Também é importante mencionar que o Núcleo de Acessibilidade disponibiliza serviços como palestras e orientações, sendo necessário apenas o agendamento. Ambos podem ser solicitados através da página da CAED61. Além destes serviços,

58 Conforme a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Lei Brasileira de Inclusão), Art. 2o Considera-se

pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

59 Alguns estudantes, mesmo apresentando dificuldades, não aceitam sua condição ou não querem

ser auxiliados.

60 Quando o estudante ingressa, o Núcleo de Acessibilidade envia memorando comunicando a

coordenação do curso e dá as primeiras orientações as quais deverão ser repassadas aos professores. Após os profissionais do Núcleo de Acessibilidade realizarem os primeiros atendimentos, são enviadas novas orientações aos professores, caso necessário.

61 https://www.ufsm.br/orgaos-executivos/caed/servicos/solicitacao-de-palestras-minicursos-ou-

em 2017 foram ministradas duas edições de minicurso sobre dislexia (UFSM, 2017b) e, no primeiro semestre de 2019, foram ministrados outros dois minicursos relativos aos transtornos de aprendizagem62.

Esses eventos são abertos à comunidade e são divulgados nas páginas da CAED, dos núcleos e na página de notícias da UFSM. Não é objeto dessa investigação avaliar a qualidade dos serviços disponibilizados pela UFSM em termos de assistência às pessoas com dislexia. Entretanto, é fato que serviços estão sendo oferecidos e outros estão à disposição, caso sejam solicitados.