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2. Projeto 2: Formação interna sobre as guidelines da Diabetes, Hipertensão Arterial e Dislipidemias

2.3. Dislipidemia 1 Definição

Dislipidemia é o termo utilizado para referir as anomalias dos lípidos no sangue. O colesterol e os triglicerídeos são os principais lípidos existentes. O colesterol é transportado no sangue por duas lipoproteínas: as de alta densidade (HDL, também coloquialmente conhecidas por colesterol bom) e as de baixa densidade (LDL, também coloquialmente conhecidas por colesterol mau). Enquanto que o HDL transporta o colesterol das artérias para o fígado, o LDL faz exatamente o contrário, transportando o colesterol para as artérias. Por isso, se houver elevado valor de LDL significa que pode ocorrer a acumulação de lípidos nos vasos, podendo entupi-los ou originar trombos. Os triglicerídeos (TG) são transportados por lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) [55].

Esta doença pode permanecer silenciosa durante anos, o que pode vir a originar um enfarte do miocárdio ou um acidente vascular cerebral [55]. Estudos têm demonstrado que a longo prazo, pessoas com estilos de vida saudáveis e com perfis lipídicos favoráveis têm menor incidência de doenças cardíacas coronárias [56].

2.3.2. Diagnóstico

O diagnóstico é realizado através de análises ao sangue e em jejum de 12 horas. É analisado o colesterol total (CT), os triglicerídeos, o colesterol das HDL (c- HDL) e o colesterol das LDL (c-LDL) [57].

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Paula Cristina Teixeira Magalhães |33 Os principais parâmetros analisados são o c-LDL e o c-HDL. Os TG adicionam informação sobre o risco e ajudam na escolha do tratamento. Por outro lado, o CT pode ser tido em conta, mas normalmente não é suficiente para caracterizar uma dislipidemia [57].

Os valores recomendados são [58]: - CT menor 190 mg/dl;

- c-LDL menor 115 mg/dl;

- c-HDL maior 40 mg/dl no homem e maior 45 mg/dl na mulher; - TG menor 150 mg/dl.

2.3.3. Objetivos do tratamento

Numa pessoa que tenha um risco cardiovascular baixo a moderado, o seu objetivo terapêutico é manter o valor de CT inferior a 190 mg/dl e o c-LDL inferior a 115 mg/dl [59].

No caso de uma pessoa assintomática, mas com risco CV elevado ou uma pessoa com dislipidemia familiar aterogénica e hipertensão de grau 3 o objetivo da terapêutica é manter o valor de c-LDL inferior a 100 mg/dl [59].

Numa pessoa com risco CV muito alto, o objetivo terapêutico é obter um c- LDL inferior a 70 mg/dl. Caso isto não seja possível, é desejável atingir uma redução igual ou superior a 50% do c-LDL [59].

2.3.4. Fármacos antidislipidémicos

Existem 3 principais classes de fármacos antidislipidémicos: estatinas, ezetimiba, ácido nicotínico e fibratos [60].

A terapêutica de primeira linha são as estatinas. Estas inibem a HMG-CoA redutase, que é a enzima responsável pela conversão da HMG-Coa a mevalonato, um precursor do colesterol. As estatinas apresentam benefícios na prevenção primária e secundária de doença cardiovascular e são eficazes e indicadas para qualquer tipo de dislipidemia [60] [61]. O principal efeito adverso desta classe de fármacos é a miopatia (distúrbio muscular) [60].

A ezetimiba é o primeiro representante de um novo grupo que inibe de forma seletiva a absorção intestinal do colesterol, sem afetar a absorção de nutrientes, bloqueando transportador NPC1L1 (responsável pela absorção intestinal do colesterol) [62] [63]. Este fármaco pode ser combinado com uma estatina, sendo indicado para a hipercolesterolemia não controlada apenas com estatina. Pode

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Paula Cristina Teixeira Magalhães |34 também ser utilizada em monoterapia quando há contraindicação do uso de estatinas [59].

Já os fibratos, são a terapêutica de primeira escolha quando se trata de hipertrigliceridemia [64]. Estes, ativam o PPARα, que quando ativo induz a proliferação dos peroxissomas, responsáveis por diversas atividades metabólicas, como por exemplo, a -oxidação dos ácidos gordos, e o metabolismo do colesterol e ácidos biliares [65]. Desta forma ocorre a lipólise do tecido adiposo, a diminuição de ácidos gordos no fígado e consequentemente a menor síntese de TG e de VLDL [64].

2.4. Projeto - Formação interna sobre as guidelines da Diabetes, Hipertensão Arterial e Dislipidemias

2.4.1. Objetivos e metodologias

Tendo sido sugerido pelos professores a realização de uma formação interna à equipa da farmácia, falei com a diretora técnica com o objetivo de tentar encontrar um tema que a mesma achasse pertinente e importante para a sua equipa. Após um pouco de discussão sobre possíveis temas, foi sugerido como tema as guidelines dos valores da Diabetes, da Hipertensão Arterial e das Dislipidemias, pois foi considerado pela direção técnica da FCE um tema pertinente e de mais valia para a equipa da mesma. Foi também combinado que seria uma formação bastante simples e rápida (máximo 5min), apenas com os valores atuais, para que fosse possível realizar a mesma no espaço de tempo em que os profissionais de saúde recorriam ao armazém durante um atendimento.

Neste sentido, realizei uma apresentação power point (anexo II) recorrendo às guidelines atuais da Direção Geral da Saúde (DGS) de hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemias, e também às guidelines da Sociedade Europeia da Hipertensão, onde coloquei essencialmente e de forma muito simples, os valores atuais de diagnóstico e os objetivos do tratamento.

2.4.2. Discussão e conclusão

Realizei a formação durante dois dias, pois fi-lo de forma individual a cada membro da equipa da FCE, entre atendimentos. Toda a equipa se mostrou bastante recetiva e disponível.

De uma forma geral todos os colaboradores da FCE estavam atualizados acerca do tema, tendo apenas havido um valor recentemente atualizado que não era do conhecimento de todos.

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Paula Cristina Teixeira Magalhães |35 3. Projeto 3: Caso de estudo sobre o Lúpus

3.1. Lúpus

3.1.1. Definição

O lúpus eritematoso é uma doença inflamatória crónica de natureza autoimune, onde o próprio sistema imune ataca o organismo, podendo provocar alterações em qualquer órgão ou sistema, sendo a pele, as articulações, os tendões e os rins os mais afetados [66].

Uma vez que se trata de uma doença crónica não existe cura para a mesma, no entanto, esta doença tem fases em que está ativa e fases de remissão onde se encontra inativa. Os períodos de remissão podem ter a duração de semanas, meses ou anos. Alguns fatores externos podem desencadear situações de crise, como por exemplo stress, cansaço, privação de sono e a luz solar [67].

O lúpus afeta cerca de 0,07% da população portuguesa, sendo mais frequente em mulheres entre os 20 e os 30 anos de idade [50]. As mulheres de raça negra são mais afetadas que as de outras etnias [67].

Existem quatro diferentes formas de lúpus: o cutâneo ou discoide, o sistémico, o induzido por medicamentos e o neonatal.

O lúpus discoide caracteriza-se apenas por manchas na pele, normalmente avermelhadas ou eritematosas e nas áreas mais expostas à luz solar.

Já o lúpus eritematoso sistémico é mais global, podendo afetar qualquer órgão ou aparelho.

Tal como o nome indica, o lúpus induzido por medicamentos ocorre pelo uso de certos fármacos, mas de uma forma geral, a sua interrupção acaba com o problema.

Por último, o lúpus neonatal é transmitido da mãe para o filho através da passagem de anticorpos pela placenta, no entanto, estes anticorpos costumam desaparecer espontaneamente por volta dos 3 a 6 meses de idade do bebé, sem deixar sequelas [66].

3.1.2. Sinais e sintomas

Dependendo da pessoa e dos órgãos afetados, os sintomas e a sua gravidade podem variar bastante, desde ligeiros a devastadores, incapacitantes e até mortais.

As manifestações mais comuns são a fadiga, febre, perda de apetite e emagrecimento, sensibilidade da pele ao sol, lesões nas articulações e na pele,

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Paula Cristina Teixeira Magalhães |36 destacando a vermelhidão no nariz e zona malar formando uma espécie de borboleta. Pode também surgir tosse seca, cefaleias, convulsões, depressão e ansiedade [66].

3.1.3. Diagnóstico

Uma vez que o lúpus pode atingir diversos órgãos e sistemas, e por isso ter muitos sintomas diferentes, não é fácil de realizar o seu diagnóstico. Para tal, são utilizados os “onze critérios do lúpus” da Associação Americana de Reumatologia:

- Exantema malar, em forma de borboleta;

- Exantema discoide (manchas cutâneas vermelhas em forma de disco, ficando a pele mais elevada e podendo formar cicatriz);

- Fotossensibilidade; - Úlceras na boca ou nariz;

- Artrite em duas ou mais articulações, com inchaço, vermelhidão e possível dor;

- Inflamação das membranas que envolvem o coração (pericardite) e/ou os pulmões (pleurite), com possível dor torácica e tosse;

- Alterações do sistema nervoso central (convulsões, psicose, depressão); - Alterações renais;

- Alterações hematológicas (anemia hemolítica, baixa contagem de glóbulos brancos ou plaquetas);

- Alterações imunológicas: presença de anticorpos anti-nucleares (ANA) na ausência de terapêutica farmacológica;

- Outras alterações imunológicas.

O diagnóstico é positivo quando são identificados quatro, dos onze pontos acima indicados [67].

3.1.4. Tratamento

Tratando-se de uma doença crónica sabemos que não existe cura. O objetivo da terapêutica é então prevenir a lesão dos órgãos essenciais e manter a forma inativa da doença, de maneira a proporcionar a melhor qualidade de vida possível ao doente [49].

Os fármacos mais utilizados são os antimaláricos, os corticosteroides, os imunossupressores, os anti-inflamatórios, e as imunoglobulinas [67].

Os antimaláricos têm diversos mecanismos de ação, não se sabendo ao certo qual é o responsável pela sua ação no que toca à patologia lúpus. Esta classe

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Paula Cristina Teixeira Magalhães |37 tem interação com grupos sulfidril, modulação da atividade enzimática, ligações ao DNA, estabilização das membranas lisossomais, inibição da formação de prostaglandinas, quimiotaxia e fagocitose de células polimorfonucleares [68]. Um dos principais mecanismos que pode explicar a sua ação nos doentes com lúpus é o facto de estes fármacos bloquearem o processo antigénico, alterando o pH intracelular ao acumular-se nos lisossomas. Estes também alteram a função de células imunitárias, como é o caso dos macrófagos, inibindo o estímulo das células CD4+ e a produção de interleucinas. A redução das células CD4+ e das interleucinas vai originar um efeito anti-inflamatório também característico desta classe de fármacos. Em geral, a hidroxicloroquina tem menor toxicidade que a cloroquina. O uso prolongado de antimaláricos pode levar a problemas oftálmicos. [69].

Os corticosteroides são muito usados no tratamento do lúpus, no entanto, é necessário ter cuidado devido aos efeitos adversos a longo prazo dos mesmos. Estes fármacos inibem a produção de citoquinas pró-inflamatórias e diminuem o número de células T, monócitos, e macrófagos no sangue. Esta classe também inibe a atividade dos leucócitos em zonas inflamadas, ao diminuir a permeabilidade da célula epitelial, a produção de moléculas de adesão e a função dos fibroblastos [70].

Os imunossupressores são fármacos que enfraquecem o sistema imune. Estes fármacos são apenas utilizados em formas mais graves do lúpus devido aos seus efeitos adversos [71].

Por norma, os antimaláricos são indicados como terapêutica de primeira linha para os utentes com lúpus. Quando estes são inadequados, ou não eficazes é então adicionado à terapêutica um corticosteroide. No caso de uma inflamação mais grave, são utilizados fármacos imunossupressores [70].

A terapêutica não farmacológica também é bastante importante, sendo recomendada a proteção solar durante todo o ano, abstinência tabágica e a adoção de um estilo de vida saudável [72].

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