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3 A PERCEPÇÃO DAS ELITES SOBRE INTEGRAÇÃO REGIONAL

JORNALISTAS ONGs

5. POBREZA E A PERCEPÇÃO DAS ELITES

5.2. Distribuição de Renda

Em porcentagem

Quintil 1

mais pobre Quintil 2 Quintil 3 Quintil 4 Mais rico Quintil 5

Decil1 Decil 2 Decil 1 Decil 2

Argentina 1,2 2,5 82,1 12,7 20,1 15,7 39,7 Bolívia 0,4 1,7 6,4 11,7 20 17 42,7 Brasil 0,8 1,9 6,5 11 18 15,2 46,5 Chile 1,4 2,7 7,8 11,7 18,4 15 42,9 Venezuela 1,8 3,6 10,7 15,8 23 16,5 28,7 Fonte: CEPAL, 2011.

Como os conceitos de pobreza e desigualdade estão bastante atrelados, questões sobre desigualdade corroboraram na revelação da percepção das elites sobre a relevância desta temática. Quando perguntados “Se o país for rico não importa que haja muitas desigualdades econômicas e sociais?” (Gráfico 5.1.), a maior parte das elites discordou da afirmação. Ainda assim, 13,7% das elites empresariais concordaram com a pergunta, resíduo ajustado - 2,9.

Gráfico 5.1. Se o país for rico não importa que haja muitas desigualdades econômicas e sociais?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 13.770ª 4 .000

Fonte: NUPRI, 2008. 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

Governos Partidos Empresários Sindicatos Atores

Sociais

Quando interpelados se “Não existe solução para os problemas sociais do País?” (Gráfico 5.2.), uma grande parte das elites também divergiu da pergunta. Embora eles possam conceber soluções distintas, mais de 90% dos entrevistados entre atores sociais, partidos políticos e governos acreditam haver solução. Um número pequeno, 15,3% das elites sindicais não tiveram a mesma opinião, resíduo ajustado - 2,5.

Analisando os discursos de políticos, lideranças religiosas, sindicalistas e empresários, foi possível observar a preocupação destes atores ao combate à pobreza na região, conforme pode ser comprovado com alguns exemplos tecem o argumento.

Para a Ministra Nancy Pérez do governo de Hugo Chávez, a Venezula está bastante comprometida na luta contra a desigualdade, acreditando ser o governo de seu país um modelo para a região: "Venezuela se ha convertido en un modelo de país, pudiera sonar un poco arrogante de decirlo, pero es vanguardia de lo que es la lucha contra la desigualdad" (ALAINET, 2011).

Por sua vez, entre os principais objetivos do governo chileno está o combate à pobreza extrema. Sebastián Piñera foi categórico, “nos hemos propuesto terminar con la pobreza extrema durante nuestro gobierno, cuatro años, insertar las bases para que Chile logre, antes de que termine esta década, dejar atrás el subdesarrollo y derrotar la pobreza” (INFOLATAM, 2011).

Rubén Costa do partido político de oposição a Evo Morales na Bolívia, Verdad Democrática Social, realizou críticas ao governo, mas ainda apostou que Morales poderia enfrentar a superação da pobreza: “esperamos que algunos radicalismos de este Gobierno puedan dar paso a lo que en verdad quieren los bolivianos: terminar con el círculo vicioso de la pobreza, tener una mejor calidad de vida” (HOY BOLIVIA, 2010).

Gráfico 5.2. Não existe solução para os problemas sociais do País?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 13,026ª 4 ,001

Fonte: NUPRI, 2008.

Na Argentina, elites governamentais, partidárias e atores sociais também defendem a causa. Em 2011, o pré-candidato a presidencia pelo partido UDESO, Ricardo Alfonsín, declarou em seu discurso de campanha "la obligación es poner en marcha un proceso de crecimiento para terminar con la pobreza" (LA GACETA, 2011). Pino Solanas, deputado federal pela Frente Vecinal de Esquel na Argentina, também acredita na luta contra a pobreza como meta prioritária (DIARIO JORNADA, 2010).

No Brasil, Dilma Rousseff no discurso presidencial de posse, enfatizou o fim da pobreza extrema como principal objetivo de seu governo: "A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos" (FOLHA DE SÃO PAULO, 2011). Um mês depois lançou o mote “País rico é país sem pobreza”, criando a logomarca de seu governo (PORTAL TERRA, 2011).

Entretanto, ainda que seja aparente o interesse em combater a pobreza e a miséria, diferentes argumentos e propósitos foram encontrados no cerne desta

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

Governos Partidos Empresários Sindicatos Atores Sociais Discorda 90,90% 94,90% 87,80% 84,70% 95,70%

agenda temática das elites. Durante a década de 2000, registraram-se alguns encontros entre empresários latino-americanos para buscar soluções à pobreza e desigualdade. O tema foi pauta de diversas reuniões sigilosas entre lideranças empresariais da região (REYS, 2006). A preocupação destes atores quanto ao assunto remete ao fato de que as populações carentes viabilizam a eleição de candidatos de esquerda e neopopulistas, os quais tendem a ter discursos contrários ao posicionamento dos empresários (ANDRADE, 2006).

A intenção destas reuniões foi justamente buscar alternativas para evitar o que aconteceu com Gustavo Cisneros, grande liderança empresarial venezuelana, que perdeu parte de seu poder e influência com a eleição de Hugo Chávez (REYES, 2006). Os empresários entendem que a miséria é a matéria- prima do êxito das lideranças populistas radicais, as quais estão mudando o panorama político na América Latina. Segundo os empresários, estes governos são hostis aos empresários e prometem vigança: “venganza contra los ricos, los corruptos y los blancos” (REYES, 2006, p. 113).

Aprofundando a análise, ainda que exista vontade de eliminar a pobreza, muitas elites disseram que por mais que se queira corrigir as desigualdades, sempre haverá ricos e pobres (Gráfico 5.3). Entre os empresários, 83,7% concordaram com esta afirmação – resíduo ajustado 5,8, seguidos de 60% dos partidos políticos, 56,9% dos governos, 55,8% dos atores sociais, e 48,8% dos sindicalistas. Portanto, verificou-se uma percepção inicial que sustenta a importância no combate à pobreza, contudo, para uma grande maioria dos entrevistados, sempre haverá a desigualdade.

Gráfico 5.3. Por mais que se queira corrigir as desigualdades, sempre haverá pobres e ricos?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 36.52ª 4 ,000

Fonte: NUPRI, 2008.

Os próximos dados (Gráfico 5.4) corroboraram com esta visão ao mostrar a divisão na percepção entre os diferentes grupos estudados. Das elites sindicais, 81,4% dos entrevistados acreditaram que deveria haver uma distribuição do que a sociedade produz com a maior igualdade possível, resíduo ajustado 3,4. Com a mesma opinião foram 80,3% das elites governamentais, resíduo ajustado 4,2. Em menor quantidade, 73,7% dos partidos políticos e 63,7% dos atores sociais também se mostraram inclinados pela distribuição com igualdade. Em oposição, somente 34,1% das elites empresariais sustentaram a mesma crença, resíduo ajustado -8,4.

Esses números revelaram que não há unanimidade total entre as elites quanto à distribuição de renda, ainda que todos queiram solucionar os problemas sociais, como visto anteriormente. Esta incoerência acaba gerando um impasse,

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

Governos Partidos Empresári

os

Sindicatos Atores

Sociais

pois não é possível combater a pobreza sem diminuir a desigualdade que assola a América do Sul.

Gráfico 5.4. Tudo o que a sociedade produz deveria ser distribuído entre todos com a maior igualdade possível?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 82,660ª 4 ,000

Fonte: NUPRI, 2008.

Dando continuidade às perguntas de distribuição de renda, quando indagados se as políticas de distribuição poderiam desfavorecer os mais competentes, a maior parte das elites discordou da pergunta (Gráfico 5.5.). Ainda assim, uma parcela menor das elites empresariais concordou com a questão (57,4%), resíduo ajustado -5,8. Por sua vez, os sindicatos foram os mais inclinados a discordar da informação, 84,5% dos entrevistados.

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00% 80,30% 73,70% 34,10% 81,40% 63,70%

Governos Partidos Empresários Sindicatos Atores

Sociais

Gráfico 5.5. As políticas de distribuição de renda prejudicam os mais competentes?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 35,847ª 4 ,000

Fonte: NUPRI, 2008.

Estes três últimos gráficos revelaram a diferença de percepção das elites empresariais em relação às demais. Além disso, mostrou a incongruência da visão dos empresários em desejarem a solução aos problemas sociais, sem apoiar as políticas de distribuição de renda e de combate à desigualdade. Ou seja, estas elites apresentam certa limitação quanto ao apoio na melhor distribuição de renda, dificultando eventuais propostas neste sentido.

Por outro lado, devido aos próprios propósitos da entidade sindical, suas elites demonstraram maior conformidade nas respostas, ou seja, preocupam-se com a pobreza e querer melhor distribuição da riqueza. Por sua vez, os partidos políticos, governos e atores sociais também apresentaram ligeira concordância nas respostas apresentadas e parecem relacionar a necessidade de diminuição da desigualdade para sanar a pobreza.

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00% 100,00%

Governos Partidos Empresário

s

Sindicatos Atores

Sociais