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O papel do Estado no combate à pobreza e desigualdade

3 A PERCEPÇÃO DAS ELITES SOBRE INTEGRAÇÃO REGIONAL

JORNALISTAS ONGs

5. POBREZA E A PERCEPÇÃO DAS ELITES

5.3. O papel do Estado no combate à pobreza e desigualdade

Segundo a literatura específica, o papel dos governos como representantes do Estado é também combater a pobreza e desigualdade. Por uma perspectiva teórica, o Estado continua sendo o principal ator com capacidade de se opor aos efeitos dos agentes produtores de pobreza, ao regulamentar mercados nacionais e internacionais, carentes de diretrizes baseadas em critérios distributivos e de equidade (CIMADAMORE; CATTANI, 2007).

Da mesma forma que o Estado e seus representantes detenham relevância na superação da pobreza, quando inoperantes podem ser os principais agentes na produção de desigualdade (DIAZ, 2007). Mesmo diante do esvaziamento de suas funções em razão da regulação por agências e empresas transnacionais, como aconteceu na década de 1990, esta tese adota a premissa de que o Estado continua sendo o principal ator na distribuição da riqueza social.

Foram verificadas percepções distintas, quando as elites foram indagadas sobre a atividade mais importante do governo, entre 1. Distribuir a riqueza entre toda a população, 2. Promover o crescimento econômico e 3. Outras atividades (Gráfico 5.6).

Das elites empresariais, 59,5% dos entrevistados responderam pela promoção do desenvolvimento econômico, resíduo ajustado 5,3. Em oposição, 73,9% das elites sindicais apoiaram a distribuição de riqueza entre toda a população, resíduo ajustado 5,6. Quase a metade dos partidos políticos (48,8%) e dos atores sociais (45%) também demonstraram ser favoráveis à distribuição de riqueza. Entretanto, as próprias elites governamentais denotaram divisão em suas percepções, podendo comprovar a dificuldade destas elites em obter concordância quanto às suas prioridades. Importante frisar que não necessariamente o crescimento da economia ajude sanar a pobreza deve haver a melhor distribuição desta riqueza entre toda população (CEPAL, 2003; VELDE, 2006).

é o melhor instrumento para lutar contra a pobreza em detrimento do crescimento econômico. “La economía de mercado y el crecimiento son grandes generadores de riquezas y de oportunidades, pero no son mecanismos que permitan distribuir esa riqueza y esas oportunidades de forma justa” (INFOLATAM, 2011).

Gráfico 5.6. Entre as duas alternativas, qual das seguintes atividades você acha ser a mais importante de um Governo?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 59,402ª 8 ,000

Fonte: NUPRI, 2008.

Em outra pergunta, ampliando o número de possibilidades, os entrevistados foram indagados qual devera ser o principal objetivo do governo entre quatro alternativas (Gráfico 5.7):

1. Melhorar os índices educacionais.

2. Erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade. 3. Preservar o regime democrático.

4. Garantir o crescimento econômico. 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00%

Governos Partidos Empresári

os

Sindicatos Atores

Sociais Distribuir a Riqueza Entre toda

População 39,70% 48,80% 18,90% 73,90% 45,00%

Promover o Desenvolvimento

Econômico 38,80% 30,20% 59,50% 17,40% 34,90%

Gráfico 5.7. Qual deveria ser o principal objetivo do Governo?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total

Chi-Quadrado de Pearson 58,415ª 12 ,000 Fonte: NUPRI, 2008.

O investimento em educação também pode ser identificado como medida para reduzir a pobreza, na medida em que o aumento dos índices educacionais nas camadas mais pobres da população propicia estas pessoas competir por um melhor lugar na estrutura social, sem empregar recursos diretamente para este fim (REIS, 2000). O oitavo item do Consenso de Buenos Aires também fez alusão a esta relação, ao priorizar a educação como instrumento de inclusão social, por sua insuperável capacidade de inserção e equalização de política social (2003). Portanto, embora apresentem abordagens diferentes, ambas as políticas contribuem para esta causa.

As elites governamentais apresentaram maior inclinação pela erradicação da pobreza e redução da desigualdade (37%) e melhorar os índices educacionais (33,3%). A maioria dos atores sociais também escolheu os mesmos objetivos, enfatizando a primeira opção (43,9%), resíduo ajustado 3,0.

Quantidade bastante expressiva das elites empresariais (51,2%), dos partidos políticos (45,4%) e dos sindicatos (42,9%) escolheu melhorar os índices

,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0%

Governo Partidos Empresár

ios

Sindicato s

Atores Sociais

Melhorar os índices educacionais 33,3% 45,4% 51,2% 42,9% 29,5%

Erradicar a pobreza e reduzir a

desigualdade 37,0% 35,1% 14,9% 40,3% 43,9%

Preservar o regime democrático 19,6% 17,5% 11,6% 7,8% 17,3%

educacionais. Contudo, houve muita diferença quando se investigou a segunda opção mais votada por estas elites. Um número relevante de elites sindicais (40,3%) e partidárias (35,1%) apoiou a erradicação da pobreza e redução da desigualdade. Por outro lado, a segunda opção mais eleita entre os empresários foi garantir o crescimento econômico (22,3%), resíduo ajustado 4,5.

Portanto, quando apresentadas quatro opções de políticas a serem exercidas pelo governo, melhorar os índices educacionais e erradicar a pobreza foram identificados como as principais metas. Novamente, o discurso do presidente chileno, Sebastián Piñera, sustentou esta percepção das elites governamentais, quando ele definiu os pilares fundamentais para avançar no desenvolvimento regional: “mejorar la calidad de la educación [...] y luchar contra las desigualdades y la pobreza, que afecta a todos nuestros países y que algunos es francamente inaceptable y casi una situación inmoral” (LA NACIÓN, 2011).

Corroborando a percepção dos atores sociais, em 2010, a Folha de São Paulo publicou uma notícia, cujo redator defendeu veementemente que maiores recursos fossem destinados à superação da miséria e pobreza, “assim, é de se esperar que o governo Dilma invista mais dinheiro público na área social se quiser mesmo erradicar a pobreza” (CAZIAN, 2010). Por sua vez, as centrais sindicais, representadas pela CCSCS, no marco do dia dos trabalhadores em 2011, também reivindicaram maior distribuição de renda (GÓMEZ, 2011).

O próximo gráfico (5.8) retomou o tema da desigualdade, ao propor quatro opções quanto às políticas governamentais para correção das desigualdades. A partir destas informações foi possível compreender como as elites propõem as políticas para o assunto. Ainda que a maioria deseje a redução de desigualdades, políticas bem distintas, mais intervencionistas ou mais liberalizantes, podem ser empregadas para este fim.

Novamente, as elites empresariais lideraram o apoio a uma determinada opção, denotando o consenso interno deste grupo. Dos entrevistados, 70% apoiaram a garantia de igualdade de oportunidades pelo governo, mas entendem que a desigualdade é fato perpétuo, resíduo ajustado 3,8. A maior parte das elites governamentais (57,7%), dos partidos políticos (53,8%) e atores sociais (53,8%)

tiveram a mesma opinião.

Expondo uma visão coerente com os ideias do segmento, 61,7% das elites sindicais acreditam que o governo deva ir mais longe, além de garantir a igualdade de oportunidades, deve limitar o enriquecimento e proteger os mais fracos, resíduo ajustado 6,1. Esta opção também teve o segundo maior apoio entre os atores sociais (34,3%), partidos políticos (33%) e governos (30,8%).

Portanto, conclui-se que existe um consenso entre as elites quanto à responsabilidade dos governos em garantir igualdade de oportunidades a toda sociedade, entretanto, a intervenção governamental para limitar o enriquecimento e proteger os mais pobres não tem apoio da maioria, a qual crê na perduração da desigualdade.

Estes resultados indicam duas prévias conclusões sobre a visão das elites; a primeira consiste na restrição das elites, mormente dos empresários, em acreditar na extinção da pobreza, o que poderia impedir a adoção de medidas mais ousadas neste sentido; a segunda é defesa da intervenção parcial dos governos na distribuição de riquezas.

Todavia, mesmo que ao governo não seja o único responsável pela redução da desigualdade, cabe a ele, no mínimo, melhorar a distribuição de recursos (DÍAZ, 2007). O Estado exerce papel central no comportamento econômico dos indivíduos e demais agentes, porque determina e fiscaliza o cumprimento das regras fundamentais que regulam o mercado, os direitos de propriedade, os contratos entre os agentes privados e demais regulamentações. A concepção e a operação das regras dependem, muitas vezes, do poder estatal para introduzir as restrições e velar pelo seu cumprimento.

Gráfico 5.8. Existem muitas opiniões sobre o que o governo e a sociedade devem fazer para evitar ou corrigir as desigualdades entre os cidadãos. Qual a afirmação que melhor corresponde à sua opinião?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 81,368ª 12 ,000

Fonte: NUPRI, 2008. 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%

Governo Partidos Empresários Sindicatos Atores Sociais

Não basta garantir igualdade de oportunidades, o governo deve limitar o enriquecimento e proteger os mais fracos. Cabe ao governo garantir a igualdade de oportunidades, mas sempre haverá desigualdades.

É impossível garantir igualdade de oportunidades, o papel do governo é socorrer os mais pobres.

É inútil tentar garantir plena igualdade de oportunidades, sempre haverá ricos e pobres. A proteção dos mais pobres é função da sociedade, não do governo

Alguns governos sul-americanos, como a própria Venezuela, são ainda mais ambiciosos e projetam no Estado a função de produzir riqueza. Para entender até que ponto caberia ao Estado este papel, o próximo gráfico (5.9) mostra dados da seguinte indagação, „quem deve produzir riqueza na sociedade, o Estado ou a empresa privada?‟.

A maior inclinação dos entrevistados recaiu na opção intermediária, na qual as duas entidades devem se comprometer com a produção de riqueza. Opinaram desta forma, 58,2% dos sindicatos, 48,6% dos governos, 47% dos partidos políticos e 46,10% dos atores sociais.

Poucos empresários apresentaram a mesma percepção, somente 16,9%, resíduo ajustado -6,6; isto porque eles se mostraram muito favoráveis à iniciativa privada na geração de riqueza - 57,7% acreditaram que mais a empresa privada deve cumprir esta função, resíduo ajustado 4,4; sendo que 24,6% dos empresários delegaram apenas à empresa privada este papel, resíduo ajustado 7,9.

Por outro lado, os sindicatos se destacaram ao defenderem que esta função caberia mais ao Estado, resíduo ajustado 6,7; sendo que nenhum entrevistado das elites empresariais e da elite governamental apresentou a mesma opinião, resíduo ajustado -2,0.

Houve um posicionamento oposto das elites empresariais e sindicais, sendo que a percepção das demais elites inclinou-se mais pela responsabilidade da empresa privada na geração de riqueza, mostrando que as próprias elites governamentais não identificaram o Estado como principal responsável na geração de riquezas. Todavia ao analisar as elites governamentais separadamente, verifica-se que 40% do governo venezuelano acreditam ser esta responsabilidade mais do Estado, em oposição ao governo chileno, dos quais 54,3% disseram mais da iniciativa privada.

Gráfico 5.9. Quem deve produzir riqueza na sociedade, o Estado ou a empresa privada?

Teste de Chi-Quadrado

País Valor gl Sig. asintótica (bilateral)

Total Chi-Quadrado de Pearson 170,304ª 16 ,000

Fonte: NUPRI, 2008. 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00%

Governo Partidos Empresários Sindicatos Atores Sociais

Apenas o Estado 0,00% 3,00% 0,00% 12,70% 0,60%

Mais o Estado 7,70% 7,00% 0,80% 12,70% 7,80%

Ambos: o Estado e a Empresa Privada 48,60% 47,00% 16,90% 58,20% 46,10%

Mais a Empresa Privada 43,0% 38,0% 57,7% 12,7% 40,6%