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4. ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS DA LEI ESTADUAL DE

4.1. Distribuição de recursos financeiros por tipo de projeto

4.1.3. Distribuição por dimensão esportiva

Como explicado na seção 3.3.4, o Projeto Esportivo deve estar enquadrado em uma das 6 dimensões previstas no Decreto 46.308/2013: Desenvolvimento Científico-Tecnológico; Educacional; Formação; Lazer; Rendimento; Social.

De acordo com as conclusões de estudos referentes a outros mecanismos de incentivo, aqueles tipos de projetos com maior visibilidade tendem a atrair mais recursos. São os projetos relacionados a shows de artistas renomados financiados com recursos das Leis de Incentivo à Cultura e aqueles relacionados ao desenvolvimento de atividades esportivas por equipes de rendimento de grandes clubes nas Leis de Incentivo ao Esporte. No caso da Lei Federal de Incentivo ao Esporte, que é dividida em três manifestações, 58,3% do total captado foi destinado à manifestação rendimento, 17,9% a projetos de participação e 23,8% ao desporto educacional. Portanto, o objetivo dessa subseção é identificar se a concentração se repete na Lei Estadual de Incentivo ao Esporte.

Pela Tabela 12, fica evidente que a concentração não é diferente da identificada na Lei Federal de Incentivo ao Esporte, inclusive também com percentual de quase 58% destinados ao rendimento. As outras 5 dimensões (Lazer, Educacional, Social, Formação e Desenvolvimento Científico-Tecnológico) recebem apenas 42% dos recursos captados na Lei Estadual de Incentivo ao Esporte de Minas Gerais.

Os recursos são distribuídos com equidade dentre as dimensões esportivas? Os projetos chegam a ser aprovados e esbarram na dificuldade de captação? Para responder tais questões, serão utilizados quatro indicadores do desempenho de cada dimensão. São eles:

- taxa de aprovação, que equivale à divisão entre o valor aprovado no período e o valor proposto;

- taxa de captação, resultado da divisão entre o valor captado e o valor aprovado no período;

- taxa de sucesso, que indica qual o percentual de projetos que efetivamente saíram do papel, ao se dividir o valor captado pelo valor proposto.

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- percentual do total captado, que é resultante da divisão entre o valor captado na dimensão e o total captado no período, e indica como se deu a distribuição dos recursos financeiros.

A taxa média de aprovação é de 54,01%, com as dimensões Desenvolvimento Científico- Tecnológico (66.47%) e Rendimento (61,90%) acima da média. Por outro lado, as dimensões Social (42,50%) e Lazer (46,33%) têm pior desempenho nesse aspecto.

Em contrapartida, quando é avaliada a taxa de captação, o desempenho da dimensão Desenvolvimento Científico-Tecnológico cai de forma significativa, sendo a dimensão com maior percentual de aprovação e com menor percentual de captação. Logo, observa-se que o público que apresenta propostas dessa dimensão tem relativa facilidade na elaboração de projetos, mas seus projetos não têm sido atrativos para os interesses das empresas apoiadoras, que acabam por escolher os projetos das outras dimensões. Ainda sobre a taxa de captação, a dimensão Rendimento se destaca com captação de 46,48% do valor aprovado. Pela boa taxa de aprovação (2ª maior) e pela maior taxa de captação, um projeto da dimensão Rendimento tem 28,77% de chances de sucesso, superior à média de 20,50%.

Tabela 12 - Distribuição dos recursos por dimensão esportiva - Lei Estadual de Incentivo ao Esporte - período de 2014 a abril de 2018

Dimensão Valor proposto Valor aprovado Total captado Taxa aprova- ção (%) Taxa capta- ção (%) Taxa sucesso (%) % do total captado Desenvolvimento Científico-Tecnológico 3.965.988 2.636.385 430.202 66,47 16,32 10,85 0,83 Educacional 38.254.066 19.348.931 7.545.158 50,58 39,00 19,72 14,50 Formação 42.369.228 21.527.628 5.521.778 50,81 25,65 13,03 10,61 Lazer 36.598.275 16.956.704 4.721.909 46,33 27,85 12,90 9,07 Rendimento 104.429.116 64.644.304 30.045.850 61,90 46,48 28,77 57,74 Social 28.245.071 12.002.883 3.772.594 42,50 31,43 13,36 7,25 Total Geral 253.861.743 137.116.835 52.037.491 54,01 37,95 20,50 100,00 Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados disponíveis em Minas Gerais (2018c).

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Dessa forma, o destaque dos projetos da dimensão Rendimento indica a prevalência de critérios mercadológicos na escolha dos projetos financiados, em especial a visibilidade da atividade esportiva na mídia e para o público em geral. Portanto, nesse aspecto, a Lei Estadual de Incentivo se assemelha aos demais mecanismos de incentivo, o que é questionável especialmente por contrariar a destinação prioritária ao desporto educacional preconizada na Constituição de 1988:

"Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não- formais, como direito de cada um, observados: [...]

II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto

educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;"

(grifo nosso, BRASIL, 1988).

Além da previsão constitucional de promoção prioritária do desporto educacional, a concentração dos recursos no esporte de rendimento encontra-se desalinhada ao planejamento estratégico, que prevê três objetivos estratégicos para a política pública de fomento ao esporte, conforme o PMDI 2016-2027 (MINAS GERAIS, 2016). Os objetivos estratégicos podem ser associados às dimensões esportivas previstas na Lei Estadual de Incentivo:

- Aumentar a representatividade de Minas Gerais nos cenários nacional e internacional – dimensão Rendimento;

- Ampliar a prática do esporte pelos estudantes mineiros – dimensão Educacional; - Aumentar a prática de atividades físicas e esportes pela população mineira – dimensões

Formação, Lazer, Desenvolvimento científico-tecnológico e Social.

Se considerarmos que os três objetivos são igualmente estratégicos, é de se esperar que os recursos financeiros da política pública do esporte sejam distribuídos de forma equilibrada. No entanto, isso não ocorre, com priorização das ações referentes ao rendimento, mais atrativas para o setor privado, que é o responsável final pela alocação dos recursos. É importante ressaltar

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que a destinação de recursos majoritariamente ao rendimento não é decorrente da falta de projetos aprovados nas outras dimensões, como pode ser observado na Tabela 12.

Portanto, é possível afirmar que a opção pela implementação via renúncia fiscal, com transferência do poder decisório às empresas apoiadoras, resulta em um descompasso entre o planejamento governamental e a distribuição dos recursos entre as dimensões esportivas. O cenário é ainda mais grave se for considerado que todo o recurso investido no projeto escolhido pela empresa apoiadora é público, oriundo de renúncia fiscal.