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4. ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS DA LEI ESTADUAL DE

4.5. Evolução do orçamento estadual destinado ao esporte

Uma última análise a ser realizada é relativa ao impacto da implementação da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte para o orçamento estadual destinado ao esporte, considerando a afirmação de Oliveira (2018) de que as leis de incentivo têm sido implementadas como substituição aos orçamentos públicos. Para tanto, foi tabulado o orçamento anual desde 2002 destinado a programas finalísticos, a partir dos dados disponíveis no Portal da Transparência do Estado de Minas Gerais. O ano inicial foi 2002, por ser o mais antigo com dados disponíveis na fonte citada, e o final foi 2017, por ser o último ano completo. O objetivo é identificar a evolução do

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valor destinado ao custeio de atividades esportivas. A partir da análise dos dados no período estabelecido, será possível comparar o gasto do Governo Estadual com esporte antes e depois da implementação da Lei Estadual de Incentivo de Minas Gerais.

Para identificar o orçamento destinado ao esporte a cada ano, foram realizados os filtros indicados abaixo:

- filtra-se no orçamento anual a despesa liquidada classificada na função “Desporto e Lazer” e no grupo de despesa “Outras despesas correntes”, excluindo os gastos com pessoal e as despesas de capital (como obras e aquisição de equipamentos);

- filtram-se as despesas cuja fonte de recursos seja “Recursos ordinários”. Dessa forma, excluem-se as despesas arrecadadas diretamente a partir de serviços oferecidos pela Secretaria e os recebidos de fontes externas, como os recursos da Loteria transferidos pelo Ministério do Esporte nos termos da Lei Pelé (Lei 9.615/1998) e aqueles decorrentes de recursos recebidos para convênios;

- filtra-se o identificador de procedência e uso “Recursos recebidos para livre utilização”, de forma a desconsiderar recursos vinculados a finalidades específicas, como aqueles alocados por Deputados Estaduais para emendas parlamentares, que não estão sob gestão da Secretaria de Estado de Esportes;

- excluem-se os valores relativos a programas não finalísticos, como “Planejamento, gestão e finanças” e “Tecnologia da informação”, e a programas decorrentes de demandas excepcionais de anos específicos, como os gastos com a Copa do Mundo e a Gestão de Estádios no período;

- soma-se o valor de todas as ações orçamentárias que atendem aos filtros e procede-se a atualização pelo Índice Geral de Preços do Mercado - IGP-M de dezembro do respectivo ano até dezembro de 2017.

De acordo com a Tabela 26, o valor médio anual para despesas correntes de livre utilização foi de 2002 a 2013, atualizado a valores de dezembro de 2017, foi de 9,7 milhões de reais. No referido período, não houve captação de recursos via Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, que foi sancionada em 2013 e implementada a partir de 2014.

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Já no período de 2014 a 2017, o valor médio do orçamento destinado ao esporte foi de 3,3 milhões de reais (também atualizado a valores de dezembro de 2017), cerca de 3 vezes inferior ao identificado no período anterior. Entretanto, no mesmo período, o valor médio captado via Lei de Incentivo atualizado foi de 12,2 milhões de reais, totalizando um gasto anual médio de 15,5 milhões de reais com o esporte.

Tabela 26 - Orçamento estadual destinado ao esporte de 2002 a 2017 - atualizado a valores de IGP-M para dezembro de 2017

Ano Despesas

orçamentárias

Captação de recursos via Lei de Incentivo

Valor total destinado ao esporte 2002 3.854.096 0 3.854.096 2003 434.348 0 434.348 2004 3.968.425 0 3.968.425 2005 8.047.546 0 8.047.546 2006 16.228.847 0 16.228.847 2007 13.171.921 0 13.171.921 2008 15.174.519 0 15.174.519 2009 21.140.949 0 21.140.949 2010 10.321.634 0 10.321.634 2011 10.361.898 0 10.361.898 2012 6.373.325 0 6.373.325 2013 7.647.535 0 7.647.535 Valor médio 2002 - 2013 9.727.087 0 9.727.087 2014 2.872.515 10.546.698 13.419.212 2015 5.534.897 12.100.275 17.635.172 2016 2.672.198 10.938.604 13.610.803 2017 2.336.038 15.235.622 17.571.659 Valor médio 2014 - 2017 3.353.912 12.205.300 15.559.212 Total 130.140.691 48.821.199 178.961.890

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados de Minas Gerais (2018c)

A apresentação dos dados não tem como objetivo identificar uma relação de causa e efeito entre decréscimo do orçamento da Secretaria e criação da Lei de Incentivo, até porque existem fatores econômicos que influenciam o orçamento anual do Estado. A partir dos dados disponíveis no

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Portal da Transparência (MINAS GERAIS, 2018a), ao se atualizar a despesa liquidada anual pelo IGP-M a valores de dezembro de 2017, desde 2013 a 2016, não houve aumento real de gastos por parte do Governo Estadual; pelo contrário, em 2013 foram gastos 86,01 bilhões de reais e nos anos seguintes os gastos foram de 87,79; 86,56 e 82,90 bilhões de reais, respectivamente. Em 2017, a despesa liquidada equivaleu a 92,13 bilhões de reais, sinalizando uma possível retomada do aumento dos gastos do Estado.

Ainda com o cenário de estagnação do gasto público, a partir dos dados, é possível atestar que com a implementação da Lei de Incentivo houve um aumento dos recursos arrecadados pelo Estado e destinados ao fomento ao esporte.

A previsão legal de destinação de um percentual pré-estabelecido à Lei de Incentivo traz segurança para a gestão do mecanismo e para a continuidade das ações atualmente financiadas por meio desta fonte de recursos.

Dessa forma, pelo histórico de 2014 a 2017, é possível afirmar que até o momento não houve substituição completa de fontes de recursos orçamentárias pela Lei de Incentivo, ao contrário do que indica Oliveira (2018), que afirma que as leis de incentivo desviam a atenção para a diminuição dos orçamentos públicos, ou, em último caso, substituem o orçamento público. Ainda assim, a constatação de Costa, Medeiros e Bucco (2017) sobre a preponderância da Lei Rouanet em termos financeiros em relação às outras ações de fomento à cultura no Governo Federal se repete no caso estudado. A Lei Estadual de Incentivo ao Esporte em Minas Gerais prepondera sobre o orçamento direcionado pelo Governo Estadual para a política pública de fomento ao esporte. Conforme Tabela 26, de 2014 a 2017, 78,44% dos recursos sob gestão da Secretaria de Estado de Esportes para livre utilização foram oriundos da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte. Em outras palavras, no cenário atual, as empresas têm maior poder sobre a decisão final de financiamento das ações esportivas a serem executadas no estado de Minas Gerais do que a própria Secretaria de Estado de Esportes.

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