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4. ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS DA LEI ESTADUAL DE

4.2. Distribuição de recursos financeiros por tipo de Executor

4.2.2. Distribuição por natureza jurídica

Como já explicado, podem participar da Lei de Incentivo entidades do Terceiro Setor, Prefeituras Municipais e órgãos da Administração Pública indireta federal, estadual e municipal. Logo, não podem participar pessoas físicas, pessoas jurídicas com finalidade lucrativa e órgão da Administração Pública direta federal e estadual.

Em seu estudo sobre a Lei Federal de Incentivo ao Esporte, Silva (2015) separa os proponentes de projetos em dois grupos: o primeiro é composto pela Administração Pública - Prefeituras, Universidades e Governos Estaduais; o segundo por organizações do Terceiro Setor (institutos, associações, confederações, etc). De acordo com o autor, a participação da Administração Pública nesses mecanismos é quase nula, tendo sido equivalente a 1% do valor captado em 2014, restando os outros 99% captados pelo Terceiro Setor. Cabe ressaltar que o perfil de proponentes da Leis Federal e Estadual de Incentivo ao Esporte é similar – órgãos da Administração Pública e entidades sem fins lucrativos. A única diferença é a possibilidade de órgãos da Administração Pública Direta Estadual participarem da Lei Federal de Incentivo ao Esporte, o que é vedado na lei estadual.

Dessa forma, partindo do cenário da Lei Federal de Incentivo ao Esporte, foi realizado o levantamento da distribuição da captação na Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, de acordo

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com os tipos de Executores. Para isso, após consulta à natureza jurídica12 de cada um dos 487 Executores com projetos protocolados, podem ser organizados 3 grupos - órgãos da administração pública indireta, Prefeituras e pessoas jurídicas sem fins lucrativos, subdivididas em associações, clubes sociais e federações/ligas.

As principais diferenças entre as três tipologias de pessoas jurídicas sem fins lucrativos - associações, clubes e federações/ligas – são a atuação e o financiamento. Federações e ligas desportivas têm atuação mais específica, voltada para a administração local ou regional da modalidade desportiva, sendo responsável pelo registro de atletas e pela organização/promoção de competições oficiais da modalidade. A atuação de associações e clubes pode ser mais abrangente, a depender dos objetivos previstos no estatuto social. Já em relação ao financiamento, a Federação arrecada com taxas de filiação, mensalidade e inscrição em campeonatos para realização de suas obrigações; os clubes sociais recebem recursos de seus associados para auxílio na manutenção das atividades esportivas, culturais, de lazer, etc, dentro das dependências do clube, para seus associados; por fim, as associações usualmente não possuem receita própria regular como os clubes e as federações, dependendo ainda mais de financiamento público ou privado para a consecução de seus projetos.

A Tabela 16, exposta no item anterior, já é um indicativo da baixa participação do poder público enquanto Executor de projetos da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, ao passo que apenas a Prefeitura de Contagem consta dentre os 30 Executores com maior captação e os demais são entidades do Terceiro Setor.

De acordo com a Tabela 17, que está ordenada pelo valor total captado por cada tipo de Executor, os órgãos da Administração Pública indireta tiveram baixíssima participação no mecanismo, sendo proponentes de 0,075% do valor protocolado em Projetos e não tendo nenhum valor aprovado e consequentemente captação nula.

Quanto aos demais grupos, no que se refere à apresentação de projetos, as associações têm a maior participação (58,98% do valor proposto), com os demais 41,02% distribuídos entre

12 A natureza jurídica de cada Executor foi consultada no site da Receita Federal a partir do número do Cadastro

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clubes, federações/ligas e prefeituras. Ao se analisar a taxa de aprovação, associações e federações/ligas têm desempenho próximo à média de aprovação de 54,01%. Com desempenhos opostos, clubes e prefeituras se destacam: enquanto clubes conseguem aprovação de 71,87% do que propõem, as prefeituras têm um péssimo desempenho, com aprovação de apenas 33,25% do proposto.

Ao se analisar as taxas de captação e de sucesso, novamente as associações e as federações/ligas se aproximam da média de 37,95% de captação do valor aprovado e de 20,5% de captação do valor proposto; os clubes repetem o bom desempenho, captando 46,13% do aprovado e 33,16% do proposto. Já as prefeituras mantêm o baixo desempenho, com captação de 13,96% do valor aprovado e 4,64% do proposto.

Tabela 17 - Relação de tipos de Executores com melhor desempenho - Lei Estadual de Incentivo ao Esporte - período de 2014 a abril de 2018

Tipo de Executor Valor

proposto Valor aprovado Total captado Taxa apro- vação (%) Taxa capta- ção (%) Taxa sucesso (%) % do total capta- do Pessoa Jurídica sem fins lucrativos -

Associações 149.727.850 81.603.816 31.579.681 54,50 38,70 21,09 60,69 Pessoa Jurídica sem fins lucrativos - Clubes 36.818.570 26.462.972 12.207.663 71,87 46,13 33,16 23,46

Pessoa Jurídica sem fins lucrativos -

Federações e ligas 30.729.668 16.949.041 6.560.681 55,16 38,71 21,35 12,61 Prefeitura 36.396.433 12.101.006 1.689.466 33,25 13,96 4,64 3,25 Órgão da administração pública indireta

federal, estadual ou municipal 189.222 - - - -

Total Geral 253.861.743 137.116.835 52.037.491 54,01 37,95 20,50 100,00

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados de Minas Gerais (2018c).

Portanto, observa-se um abismo entre o desempenho do setor público e do setor privado não só na captação de recursos, mas também na aprovação prévia dos projetos. De tudo que as Prefeituras se propõem a executar, apenas 4,64% são implementados de fato. Já no caso dos órgãos da Administração Pública Indireta, nenhum projeto foi executado.

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Ordenando pela população do município, dentre as 20 Prefeituras participantes com maior população, apenas 3 tiveram sucesso na captação (Belo Horizonte, Contagem e Ipatinga). Outras Prefeituras de municípios de maior porte, como Juiz de Fora, Montes Claros e Uberaba, não conseguiram captar qualquer valor. O mesmo vale ao ordenar as Prefeituras de acordo com o IDH-M do município – dentre as 20 com melhor índice, apenas as mesmas três cidades citadas anteriormente conseguiram captação. Interessante observar a captação efetuada por três Prefeituras de municípios de menor porte (até 20 mil habitantes) e de IDH-M relativamente mais baixo (até 0,680), como Santo Antônio do Amparo, Arinos e Santa Maria de Itabira. Dessa forma, não é possível afirmar que o sucesso da captação de Projetos de Prefeituras esteja associado ao porte do município em termos populacionais ou ao seu IDH-M, pois foi verificada captação por Prefeituras com perfis distintos.

No grupo de entidades privadas, um tipo se destaca das demais. São os clubes, como Minas Tênis Clube, Olympico Clube, Mackenzie Esporte Clube e Uberlândia Esporte Clube. O desempenho do grupo é superior à média, tanto na aprovação quanto na captação.

Apesar do desempenho superior dos clubes na execução dos processos, são as associações que dominam o valor captado na Lei de Incentivo, respondendo por 60,69% do total investido. Isso se justifica pela massiva participação de associações no mecanismo, com apresentação de projetos de 407% do total proposto pelos clubes.

Em resumo, a situação da Lei Federal de Incentivo ao Esporte se repete, com baixa adesão do poder público e consequentemente com domínio das entidades privadas sem finalidade lucrativa, em especial os clubes, que têm 33,16% de sucesso nos processos e as associações, com 58,98% do valor proposto e 60,69% do valor captado.