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CAPÍTULO 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Roubos a transeunte

4.1.2 Distribuição espacial dos roubos

A Tabela 11 sintetiza os resultados das correlações entre o número de roubos e o Índice de Características do Entorno dos Domicílios atualizado para os anos de 2015, 2016 e 2017. Para essa correlação tomamos o ICED como proxy da avaliação dos componentes infraestruturais, uma variável independente sobre a qual buscamos avaliar o sentido e a potencialidade da associação para a explicação do aumento ou da diminuição do número de ocorrências de roubo nos bairros de Maceió.

Tabela 11 - Correlação entre número de roubos e ICED (2015-2017)

N p ICED (2015) ICED (2016) ICED (2017) Roubos (2015) 3.439 0,000 0,631 - - Roubos (2016) 3.470 0,000 - 0,658 - Roubos (2017) 3.064 0,000 - - 0,514

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados da PC/AL, PM/AL e SERIS/AL.

Como é possível observar na tabela acima, todas as correlações do teste de Spearman demonstram-se estatisticamente significantes ao nível de 1% (p ≤ 0,01). Ambos os coeficientes indicam uma associação positiva substancial entre o Índice de Características do Entorno dos

Domicílios e o número de ocorrências de roubo, ou seja, a relação entre os componentes infraestruturais dos bairros e o número de ocorrências de roubo nesses mesmos bairros é uma relação direta, de modo que uma melhoria naqueles componentes está associada a um aumento desse tipo de ocorrência, tal como descrito por Beato (2012).

A Figura 10 representa o mapa da distribuição espacial das ocorrências de roubo a transeunte na cidade de Maceió por bairros ao longo do triênio 2015-2017. Para acompanhar a leitura dos mapas, recomendamos ao leitor acessar o Apêndice IV desta dissertação.

Figura 10 - Mapa da distribuição das ocorrências de roubo a transeunte por bairro (2015-2017)

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados da PC/AL, PM/AL e SERIS/AL.

Entre 2015 e 2017, apenas 3 bairros concentraram cerca de 25% do total do número de roubos ocorridos em Maceió. São eles os bairros de Cidade Universitária, Tabuleiro do Martins

e Benedito Bentes, ambos situados na parte alta da cidade. O bairro do Tabuleiro do Martins assume a primeira posição do ranking, comportando 1.174 registros de roubo a transeunte ao longo do triênio. Na parte baixa, 21% do total das ocorrências encontra-se distribuído por quatro bairros, a saber, Jatiúca (664 casos), Jacintinho (520 casos), Centro (497 casos) e Farol (432 casos). Portanto, 46% das ocorrências de roubo a transeunte registradas na capital alagoana entre os anos de 2015 e 2017 se concentram em apenas 7 dos 50 bairros da cidade.

Esses bairros reservam uma característica geral comum: todos comportam um intenso fluxo de pessoas, seja de residentes (no caso dos bairros periféricos de maior extensão territorial ou de alta densidade populacional como o são Tabuleiro do Martins, Cidade Universitária, Benedito Bentes e Jacintinho), seja de não-residentes (como no caso do Centro da cidade e de alguns bairros da orla marítima de Maceió, como Jatiúca e Ponta Verde) em função das atividades que são ali desenvolvidas, notadamente, atividades de comércio e lazer. No Centro e nas periferias a incidência de roubos é maior nos turnos da manhã e da tarde, de segunda à sexta. Nos bairros da orla, os roubos são mais frequentes à tarde e à noite, aos finais de semana. Dentre os bairros com menor incidência de roubos, destaca-se o de Pescaria, no qual ao longo do triênio foram registrados apenas 5 casos. Nesse mesmo período, outros bairros também apresentaram um baixo número de ocorrências, como Mutange (11 casos), Chã de Bebedouro (12 casos), Garça Torta (14 casos) e Pontal da Barra (24 casos). Tratam-se de bairros de pequena extensão territorial, baixa densidade populacional ou relativamente distantes das regiões comercialmente ativas da cidade. Muito embora a incidência de roubos nesses bairros esteja restrita aos espaços que congregam um maior fluxo de pessoas (nas praças, na grande maioria dos casos), a dinâmica temporal dessas ocorrências demonstra-se pouco regular40.

A configuração dos casos de roubo a transeunte não se conforma à descrição geral do triênio, tal como podemos observar nas Figuras 11, 12 e 13, que representam, respectivamente, os mapas da distribuição dessas ocorrências, por bairro, nos anos de 2015, 2016 e 2017.

40 O baixo número de ocorrências registradas nesses bairros não nos permite estabelecer uma série temporal a fim

Figura 11 - Mapa da distribuição das ocorrências de roubo a transeunte por bairro (2015)

Figura 12 - Mapa da distribuição das ocorrências de roubo a transeunte por bairro (2016)

Figura 13 - Mapa da distribuição das ocorrências de roubo a transeunte por bairro (2017)

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados da PC/AL, PM/AL e SERIS/AL.

Podemos notar algumas variações na concentração das ocorrências de roubo a transeunte nos bairros de Maceió ao longo do período selecionado neste estudo. Observemos o caso do bairro de Benedito Bentes: no ano de 2015, 77 casos de roubo foram registrados naquele bairro. Em 2016, esse número salta para 207, e em 2017 para 142, um aumento de 84,4% no número de registros desse tipo de ocorrência ao longo do triênio. Nesse mesmo período, outros bairros também apresentam um aumento significativo no número de registros de roubos, a exemplo de Cidade Universitária (aumento de 63,3%), Santos Dumont (aumento de 37,5%) e Jacintinho (aumento de 22,1%). Ainda em termos percentuais, a variação mais expressiva é creditada ao bairro do Vergel do Lago, que percebeu um aumento de 143,7% no número de ocorrências de roubo entre os anos de 2015 e 2017.

Muito embora o bairro do Tabuleiro do Martins se sobressaia entre os demais como o bairro que registra mais de 320 ocorrências de roubo por ano no curso do triênio, a variação do número desses registros naquele bairro é negativa: apresenta uma queda de aproximadamente 23%. Na Tabela 12 descrevemos o ranking dos 10 bairros maceioenses com o maior número de roubos registrados entre os anos de 2015 e 2017. Não desconsideramos a hipótese de subnotificação desses registros, sobretudo nos bairros de maior densidade populacional, onde, como vimos, a incidência desse tipo de crime demonstra ser mais intensa. Também reconhecemos que os números expostos dizem respeito aos registros de roubos a transeunte “selecionados” para este estudo.

Tabela 12 - Ranking dos dez bairros com maior número de registros de roubos a transeunte (2015-2017)

Bairro N Posição ∆% Tabuleiro do Martins 1.174 1º + 22,7 Cidade Universitária 922 2º + 63,3 Jatiúca 664 3º - 31,1 Jacintinho 520 4º + 22,1 Centro 497 5º - 30,8 Farol 432 6º - 42,2 Benedito Bentes 426 7º + 84,4 Poço 339 8º - 40,0 Clima Bom 330 9º + 5,9 Santa Lúcia 317 10º + 0,9

Fonte: elaborado pelo autor com base em dados da PC/AL, PM/AL e SERIS/AL.

Os mapas da distribuição dos casos de roubo a transeunte por bairro são úteis até certo ponto. Eles não nos permitem verificar, por exemplo, onde se localizam e com que intensidade ocorrem os roubos no interior dos bairros nos quais a concentração desse tipo de crime é maior, pois assumem o pressuposto de uma distribuição uniformizada das ocorrências. Para uma descrição da dinâmica espaço-temporal dos crimes de roubo no interior dos bairros da cidade de Maceió utilizamos mapas de densidade de kernel. A análise da intensidade pontual das ocorrências em determinadas localidades dos bairros cuja incidência dos roubos é elevada nos permite verificar outras características que conformam as estruturas de oportunidade para esses crimes. Trataremos de apresentá-las no subtópico seguinte.