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Capítulo II Trauma

4. Distribuição geográfica

O trauma tornou-se num grande problema de saúde pública a nível mundial. Todos os dias, 16 000 pessoas morrem como resultado de trauma. Das pessoas lesionadas que sobrevivem, muitas ficam com sequelas permanentes, pois os traumatismos são responsáveis por 16% das doenças no mundo.

A mortalidade e a morbilidade associada aos traumatismos é particularmente elevada em Países de Baixo e Médio Rendimento Per Capita (PBMRPC), uma vez

que 90% do total de traumatismos a nível mundial ocorre nesses países.40-1 Isto deve-

se, quer às taxas elevadas de traumatismos, quer às limitações dos serviços de atendimento ali existentes.

Existem diferenças significativas na probabilidade de sobrevivência dos indivíduos vítimas de traumatismos, dependendo do nível económico do país onde ocorreu o trauma. Por exemplo, para indivíduos com um nível médio de severidade da lesão

ISS28 de 15-24, a mortalidade no Gana mostrou ser de 36%, ou seja, seis vezes maior

(6%) do que em Seattle nos EUA.42-3 Adicionalmente à mortalidade existe uma

prevalência elevada de sequelas e incapacidades, associada aos traumatismos ocorridos. Uma proporção significativa deve-se às lesões das extremidades, nos PBMRPC, em comparação com uma maior proporção de incapacidades neurológicas

nos países com alto rendimento per capita (PARPC).43-4

Estas diferenças nos resultados, entre PARPC e os PBMRPC, devem-se sobretudo aos elevados recursos económicos dos primeiros. No entanto, eles também estão relacionados com as diferenças na organização e planeamento no atendimento ao trauma. Fruto de uma forte organização nos centros de trauma, muitos PARPC têm demonstrado consideráveis melhorias. Os resultados obtidos nestes centros de trauma demonstraram uma diminuição da mortalidade em 15-20% de todos os pacientes com

traumas e uma diminuição do número de mortes medicamente evitáveis em 50%.45

A nível mundial, o continente asiático lidera a taxa de mortalidade por trauma (120- 131,1/100 000 habitantes), enquanto na Europa os PARPC apresentam a menor taxa

de mortalidade associada ao trauma (47,6/100 000 habitantes). Em termos

continentais, as regiões com menor taxa de mortalidade por trauma são a Europa, a Austrália e a América do Norte, sendo que, em termos de países, a China lidera este grupo. As regiões com maior taxa de mortalidade associada ao trauma são os

PBMRPC da América do Sul, da África, da Europa e da Ásia (como a Índia).46

A distribuição geográfica dos pacientes politraumatizados tem especial relevância no que concerne ao seu atendimento nos centros de trauma e representa uma oportunidade para a melhoria dos sistemas de trauma. Os indivíduos que residem na

proximidade de centros de trauma podem beneficiar de melhores diretrizes de triagem e tratamentos, enquanto aqueles que residem distantes dos centros de trauma podem necessitar de recursos adicionais.47

A probabilidade de isto acontecer é maior nos PBMRPC, pois estes têm orçamentos mais reduzidos para a organização dos centros de trauma quando comparados com os dos PARPC. As diretrizes para os cuidados em trauma, disponibilizam um método essencial para promover melhorias e deveriam ser utilizadas pelas organizações e sociedades profissionais incluindo as entidades

governamentais por todo o mundo.48

Verifica-se que a mortalidade nos centros de trauma tem vindo a diminuir nos EUA quando comparada com os resultados de outras nações em desenvolvimento. Num estudo examinaram, em conjunto, os resultados dos pacientes adultos severamente traumatizados com IS≥9, ou que faleceram, em 3 cidades com diferentes níveis económicos: Kumasi, Monterrey e Seattle. Cada cidade tinha um hospital principal de trauma, a partir do qual se obtiveram os dados.A média de idades (34 anos) e os mecanismos de lesão (79%) foram semelhantes em todas as cidades. A mortalidade diminuiu com um nível económico maior: em Kumasi, 63% dos pacientes faleceu, em Monterrey 55% e em Seattle 35%. Essa queda deveu-se principalmente à diminuição no número de mortes pré-hospitalares. Em Kumasi, 51% das vítimas morreram antes do atendimento no hospital, em Monterrey, 40% e em Seattle 21%. O tempo médio de atendimento pré-hospitalar diminuiu progressivamente: Kumasi (102±126 minutos), Monterrey (73±38 minutos) e Seattle (31±10 minutos). A percentagem de doentes que faleceu na sala de emergência foi maior para Monterrey (11%) do que para Kumasi (3%) ou Seattle (6%). Os orçamentos anuais, por cama, nestes hospitais foram os seguintes: Kumasi, 4100 dólares; Monterrey, 68 000 dólares e Seattle, 606 000 dólares. A maioria das mortes ocorreu no ambiente pré-hospitalar, o que indica a importância da prevenção dos traumatismos em todos os países, independentemente do nível económico. São necessários esforços adicionais para a melhoria do atendimento ao trauma, nomeadamente nos PBMRPC e estes devem concentrar-se

no atendimento pré-hospitalar e no atendimento de emergência.49

O clima e os aspetos culturais também influenciam os padrões da etiologia e da frequência do trauma da face. Neste sentido, em países com condições climáticas frias, como a Suíça, são mais frequentes os traumatismos maxilofaciais e dentários decorrentes de desportos de inverno, como o esqui e o snowboard, sendo a mandíbula a região mais afetada. Os autores, a partir de uma base de dados prospetiva de 57 248 pacientes, constataram que no período compreendido entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2002, 750 pacientes sofreram traumatismos

maxilofaciais e destes, 90 (12%) estavam relacionadas com a atividade desportiva. A maioria destas lesões (27%) resultou durante a prática de esqui e snowboard, 22% durante o futebol ou hóquei no gelo e 21% foram por acidentes de bicicleta. No que concerne às fraturas isoladas do terço médio da face, verificou-se que os praticantes de 5 modalidades desportivas foram atingidos por este tipo de fraturas, aparecendo os ciclistas como os mais atingidos com 68%, seguidos dos jogadores de hóquei no gelo com 50% e, com 48%, os casos em que surgem os esquiadores e os praticantes de snowboard. As fraturas da mandíbula observaram-se predominantemente nos desportos de contato.50

Já durante o Verão, em Freiburg, surgem com maior incidência as fraturas mandibulares provenientes de acidentes com bicicletas e mountainbikes51, o mesmo

ocorrendo em Copenhaga e Lublin, onde as fraturas faciais ocorrem, normalmente,

devido a acidentes ciclísticos e a mandíbula também é a região mais afetada52. Já no

Reino Unido, pela prática preferida do rugby e futebol americano, há uma maior incidência de fraturas do terço médio da face.53

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