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Capítulo II: Enquadramento Teórico

2.2. Diversidade cultural na escola

Falar em diversidade significa constatar e reconhecer as várias diferenças sociais, culturais e étnicas numa sociedade. O reconhecimento de que todas elas detêm igual valor e dignidade coloca, obrigatoriamente, desafios à educação e ao ensino, uma vez que a diversidade está cada vez mais presente nas salas de aula.

A escola é um local formado por uma população com diversos grupos distintos, cada um com os seus costumes e crenças, que convivem lado a lado todos os dias, onde a diversidade se evidencia e se desenvolve a cada dia. Enquanto instituição primordial da educação e do ensino e complementar à família no processo educativo, a escola está inserida numa sociedade que se modifica de forma acelerada. Neste sentido, vê-se confrontada com grandes desafios para que possa realizar, de facto, uma educação intercultural e executar o seu papel social na construção de uma sociedade mais justa, igual e solidária.

Espera-se que a igualdade de oportunidades no acesso à educação seja um direito para todas as crianças e jovens, pelo que é necessário que haja uma abertura por parte das escolas e instituições para acolher qualquer criança no percurso educativo. Quando se fala em igualdade de oportunidades, refere-se o facto de se dar oportunidade a todos os indivíduos de terem acesso aos mesmos serviços independentemente da etnia e cultura.

Muitos dizem que a escola é um retrato da sociedade em que vivemos. Assim sendo, torna-se fundamental que a escola crie estratégias pedagógicas e educativas que auxiliem as renovações necessárias, para que estas contemplem e possam dar resposta à diversidade e heterogeneidade presentes nas comunidades. Todos os cidadãos têm os mesmos direitos enquanto pessoas “bem como necessidades e desejos diferentes, e cabe à escola poder proporcionar alguns desses desejos bem como conseguir mudar mentalidades das pessoas” (Segurado, 2013, p. 22).

Capítulo II – Enquadramento Teórico 2019

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A escola não transmite apenas conhecimentos curriculares, mas é, acima de tudo, responsável por transmitir valores importantes para transformar uma sociedade global que se respeite, como afirma Gómez (1998, p. 258)

a formação de cidadãos autónomos, conscientes informados e solidários requer uma escola onde se possa recriar a cultura, não uma academia para aprendizagens mecânicas ou irrelevantes, mas sim uma escola viva e comprometida com a analise e reconstrução das contingências sociais, onde os estudantes e docentes aprendam ao mesmo tempo que vivem e vivem ao mesmo tempo que aprendem os aspectos mais diversos da experiência humana.

A escola tem pela frente o desafio de responder e contribuir para que a sociedade se torne mais tolerante e recetiva às novas culturas, criando condições para que todos tenham oportunidades idênticas no acesso à educação. Sem margem de dúvida que é o currículo que pode dar resposta a este desafio de diversidade cultural na escola, reconsiderando os seus objetivos, de forma a

remodelar os conteúdos e programas dos estabelecimentos de ensino de tipo clássico, imaginar novos métodos pedagógicos e novos processos educativos, e estimular o aparecimento de novas gerações de professores-alunos. Uma educação realmente pluralista baseia-se numa filosofia humanista, isto é, numa ética que encara numa perspectiva positiva as consequências sociais do pluralismo cultural. Falham, por vezes, os valores do pluralismo humanista e cultural necessários para inspirar uma tal mudança na educação; devem ser incrementados pelo próprio processo educativo que, por sua vez, ajudam a reforçar (Delors, et al., 1988, p. 249).

Esta educação pluralista, defendida por vários autores, terá de ser indubitavelmente uma educação para a cidadania em que “saber mais sobre o outro é contribuir para sabermos mais de nós próprios, para desenvolvermos o domínio de nós mesmos e para nos comprometermos no aperfeiçoamento da sociedade” (Martins, 1998, p. 86).

A diversidade cultural sempre existiu e sempre existirá na sociedade e, naturalmente, nas escolas. Esta realidade exige a abertura da escola e seus atores para as diferenças entre alunos e famílias, abrangendo e valorizando as mesmas no seu processo educativo, promovendo assim a identidade cultural de cada ser humano (Ramalho, 2015). Neste sentido, as salas de aula têm de estar “abertas” e predispostas a quebrar os paradigmas de superioridade ou de inferioridade de algum grupo sobre o outro. É imprescindível valorizar as diferentes culturas e ensinar as crianças e jovens a respeitar essas diferenças, fazendo compreender e experienciar que todos têm os mesmos direitos, que cada grupo tem a sua cultura, os seus valores, os seus costumes e tradições que devem ser respeitados e valorizados. Assim, a escola é descrita por Cortesão e Pacheco (1991, p. 34) como um “importante aparelho ideológico de estado que, de forma silenciosa e eficaz, garante a socialização dos alunos de acordo com as características exigidas pela classe

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dominante”. Tendo em conta as dificuldades inerentes ao Sistema Educativo (SE) para lidar com estes alunos de classes minoritárias a escola tem, cada vez mais, de se adaptar e integrar estratégias de aprendizagem e envolver-se em projetos interculturais compatíveis com a comunidade e sociedade atual. Para Trindade (1996, p. 167) “a única solução para a harmonização da convivência intercomunidades tem raiz essencialmente educativa, no sentido de esclarecer e de formar mentalidades para a aceitação e respeito pelas diferenças” e isso implica “um esforço a longo prazo e um árduo caminho a percorrer”.

A escola é um dos elos de ligação mais importante entre comunidades e culturas distintas e, para tal ser possível, deve promover meios que possibilitem essa integração. De acordo com Gómez (1998, p. 260)

Viver a cultura na escola, interpretá-la, reproduzi-la e recriá-la, mais do que aprendê-la academicamente, requer a mesma amplitude e flexibilidade que a vida, é assegurar, conceber a aula como um foro aberto e democrático de debate, contrastação e recriação das diferentes perspectivas presentes com maior ou menos implantação na comunidade multicultural da sociedade pós-moderna.

Em suma, é atribuída à escola muita responsabilidade na sociedade que se pretende (re)criar

À escola cabe, assim, uma parte importante, mesmo fundamental, em todo o processo de educação. Cabe-lhe, entre outras coisas, saber respeitar a diferença. Saber acolhê-la, saber promover a auto-imagem, a auto-estima e a auto-confiança de cada um dos seus alunos. Cabe- lhe lutar contra o preconceito e a discriminação. Cabe-lhe tornar realidade as tão frequentes referências à igualdade de oportunidades dos discursos e dos documentos oficiais, sem esquecer que essa igualdade não se pode reduzir a uma igualdade no direito de acesso ao sistema educativo (Pereira, 2004, p. 92).

Face a tudo isto, consideramos relevante uma análise sobre o papel da escola na educação dos alunos com diferentes culturas.