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5.2 Diversidade da cobertura vegetal dos bairros selecionados

5.2.2 Diversidade da cobertura vegetal para os bairros

Os quatro bairros escolhidos para a aplicação da tipologia possuem, em conjunto, um ICV de 24,2% e um ICVH de 38,6 m²/hab. Da cobertura vegetal, 44,5% é arbórea e 55,5% arbustiva/herbácea. Considerando apenas a cobertura vegetal de porte arbóreo, o índice (ICVarb) passa a ser de 10,7% e o ICVHarb, 17,2 m²/hab. Os índices calculados e outros parâmetros para os bairros Cidade Alta, Petrópolis, Pitimbu e Pajuçara são apresentados na Tabela 17.

Tabela 17 – ICV e ICVH dos bairros Cidade Alta, Petrópolis, Pitimbu e Pajuçara.

Bairros Cobertura

Vegetal (ha)

Bairro (ha)

População

(hab) ICV (%) ICVarb (%)

ICVH (m²/hab) ICVHarb (%) Cidade Alta 6,6 116,4 7.382 5,7 4,9 9,3 7,7 Petrópolis 10,0 78,4 5721 12,7 11,7 18,0 16,0 Pitimbu 189,4 744,6 25.088 25,4 11,2 76,5 33,3 Pajuçara 206,1 766,1 68.490 26,9 11,1 30,3 12,4 Total 412,1 1705,5 106.681 24,2 10,7 38,6 17,2

Fonte: Elaborado pela autora (2017). Áreas dos bairros com base em arquivo da SEMURB e população dos bairros com base em Natal (2013).

Os maiores ICVs ocorreram nos bairros Pajuçara, 26,9% e Pitimbu, 25,4%, ambos bairros de tecido urbano descontínuo. Os menores em Petrópolis, 12,7% e Cidade Alta, 5,7%, bairros de tecido urbano contínuo. Ao considerar apenas as árvores (ICVarb), o bairro Petrópolis obteve o maior valor, 11,7% e Cidade Alta o menor (4,9%).

Em relação ao ICVH, o maior valor obtido foi para o bairro Pitimbu (76,5 m²/hab) e o menor para Cidade Alta, 9,3 m²/hab. O maior IVCH arbóreo continua sendo o de Pitimbu (30,3 m²/hab), seguido por Petrópolis (16 m²/hab). O menor é o de Cidade Alta, 7,7 m²/hab.

Os valores de cada classe de cobertura vegetal provenientes do mapeamento da tipologia são apresentados na Tabela 18.

Tabela 18 – Classes de cobertura vegetal dos bairros Pitimbu, Pajuçara, Cidade Alta e Petrópolis, onde Arv. = Arbóreo; Arb./Herb. = Arbustivo/Herbáceo.

Nº de classes

1º nível 2º nível 3º nível 4º nível

BAIRRO PITIMBU BAIRRO PAJUÇARA BAIRRO CIDADE ALTA BAIRRO PETRÓPOLIS

Área (ha) % cobertura vegetal % bairro Área (ha) % cobertura vegetal % bairro Área (ha) % cobertura vegetal % bairro Área (ha) % cobertura vegetal % bairro 1 Natural Floresta Estacional

Semidecidual Terras baixas Arv. 7,55 3,98 1,01 - - - 0,04 0,44 0,06

2 ... Savana Arv. 4,94 2,61 0,66 - - - - - 3 Vegetação com Influência Marinha Arv. 7,09 3,74 0,95 31,06 15,07 4,05 - - - - 4 Arb./Herb. 54,89 28,98 7,37 0,01 0,01 0,00 - - - - 5 ... Vegetação com

Influência Fluvial Arb./Herb. 19,98 10,55 2,68 5,43 2,64 0,71 - - - - - -

6 Vegetação

Secundária

Arv. 2,95 1,56 0,40 0,45 0,22 0,06 - - - -

7 Arb./Herb. 12,14 6,41 1,63 63,58 30,84 8,30 - - - -

8

... Vegetação Ruderal Arv. 0,27 0,14 0,04 - - - - - - - - - 9 Arb./Herb. 6,48 3,42 0,87 44,57 21,62 5,82 0,58 8,85 0,50 0,29 2,94 0,37 10 Vegetação Degradada Arv. 6,52 3,44 0,88 0,03 0,02 0,00 - - - - 11 Arb./Herb. 1,66 0,88 0,22 0,23 0,11 0,03 - - - - 12

Antropizada Área Verde Pública Praça

Arv. 2,74 1,45 0,37 0,35 0,17 0,05 0,68 10,28 0,58 0,36 3,63 0,46 13 Arb./Herb. - - - 0,02 0,01 0,00 0,00 0,04 0,00 0,04 0,44 0,06 14 Verde Viário Canteiro central Arv. 0,71 0,38 0,10 0,66 0,32 0,09 0,40 6,11 0,35 3,86 38,71 4,92 15 Arb./Herb. 0,07 0,04 0,01 - - - 0,00 0,05 0,01 16 Passeio público Arv. 3,55 1,88 0,48 1,80 0,87 0,23 1,31 19,87 1,13 1,21 12,19 1,55 17 Arb./Herb. 0,03 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 - - - - 18 Privada Arv. 25,76 13,60 3,46 29,59 14,35 3,86 3,06 46,33 2,63 3,68 36,98 4,70 19 ... Arb./Herb. 9,59 5,06 1,29 2,67 1,29 0,35 0,32 4,81 0,27 0,46 4,61 0,59 20 Agrícola Cultivo permanente Arv. 13,29 7,02 1,78 18,34 8,90 2,39 - - - - 21 Cultivo cíclico Arb./Herb. 1,05 0,55 0,14 4,63 2,25 0,60 - - - - 22

... Terreno Público Arv. 8,11 4,28 1,09 2,72 1,32 0,35 0,24 3,71 0,21 - - - Arb./Herb. 0,02 0,01 0,00 - - - - - -

Total da cobertura vegetal natural 124,5 65,7 16,7 145,4 70,5 19,0 0,6 8,9 0,5 0,3 3,4 0,4

Total da cobertura vegetal antropizada 64,9 34,3 8,7 60,8 29,5 7,9 6,0 91,1 5,2 9,6 96,6 12,3

Total 189,4 100,0 25,4 206,1 100,0 26,9 6,6 100,0 5,7 10,0 100,0 12,7

Em relação ao percentual das áreas das classes de cobertura vegetal dos quatro bairros em conjunto, constatou-se que há um predomínio da cobertura vegetal natural (65,7%) em comparação com a antropizada. As classes Área Verde Pública, Savana e Floresta Estacional Semidecidual são as menos expressivas em termos de área, representando menos de 5% da cobertura vegetal total dos bairros em conjunto (Gráfico 5). As classes: Privada, Vegetação Secundária e Vegetação com Influência Marinha, representam a maior parte da cobertura vegetal dos bairros, 60%.

Gráfico 5 – Distribuição proporcional das diferentes classes de cobertura vegetal para o conjunto dos bairros estudados.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Ao comparar o percentual das áreas das classes de cobertura vegetal entre os bairros de tecido urbano contínuo e descontínuo (Tabela 18 e Figura 11), percebe-se que a cobertura vegetal natural é mais expressiva em Pitimbu e Pajuçara, correspondendo, respectivamente, a 65,7% e 70,5% do total da cobertura vegetal de cada bairro. As classes de vegetação Savana, Influência Marinha, Influência Fluvial, Secundária e Degradada foram encontradas apenas nos bairros com tecido urbano descontínuo (Pitimbu e Pajuçara). Com exceção de algumas áreas da classe Terreno Público no bairro Cidade Alta, a presença da cobertura vegetal Agrícola e em Terreno Público ocorreu apenas nos bairros com tecido urbano descontínuo.

Figura 11 – Distribuição proporcional das diferentes classes de cobertura vegetal para cada um dos bairros estudados.

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Em relação à cobertura vegetal antropizada, os bairros invertem-se, os maiores percentuais ocorrem nos bairros Cidade Alta (91,1%) e Petrópolis (96,6%), de tecido urbano contínuo. A cobertura vegetal da classe Privada representa 51% e 42% desses bairros, respectivamente. Destacam-se também nesses bairros a importância da classe Verde Viário, 26% em Cidade Alta e 51% em Petrópolis, em relação à área total de cobertura vegetal (Figura 11).

Analisando os bairros de maneira isolada, Cidade Alta apresenta 8 classes de cobertura vegetal, considerando-se todos os níveis da tipologia (Tabela 18). As classes de cobertura vegetal com maior expressividade espacial, no 2º nível da tipologia, são a Privada (51%), distribuída por todo o bairro Cidade Alta e em menor quantidade na sua área central, bem como a Área Verde Pública do tipo praça (26%), próxima ao centro-oeste do bairro (Figuras 11 e 12). No bairro, a cobertura vegetal Privada está localizada, principalmente, em fundos de quintais, prédios públicos e estacionamentos.

A classe com menor expressividade é a cobertura vegetal em Terreno Público, em áreas isoladas ao norte e sul do bairro Cidade Alta (4%). A Figura 12 apresenta o mapa da diversidade de cobertura vegetal, para o 2º nível da tipologia, dos bairros Cidade Alta e Petrópolis.

O bairro Petrópolis possui 9 classes de cobertura vegetal. Predominam espacialmente as classes Verde Viário (51%), sobretudo do tipo Canteiro Central com distribuição regular ao longo de suas principais vias e Privada (42%), representada principalmente em fundos de quintais, prédios públicos e jardins de condomínios verticais. O menor percentual é o da Floresta Estacional Semidecidual (0,4%), representada por um pequeno fragmento de vegetação no limite com o Parque das Dunas.

O bairro Pitimbu possui 22 classes de cobertura vegetal (Tabela 18), a classe de cobertura vegetal natural com maior expressividade no bairro é a Vegetação com Influência Marinha (33%), distribuída nas ZPAs 1 e 3 e em uma faixa alongada na área central do bairro (Figura 13). A segunda maior classe é a Privada (Antropizada), distribuída em pequenos fragmentos em quase toda a área do bairro (19% da área de cobertura vegetal total), principalmente em fundos de quintais e condomínios fechados.

A menor classe é a Área Verde Pública, localizada em praças (1%). Também destaca- se em Pitimbu a classe Terreno Público (4%), conforme Figura 11. Os Terrenos Públicos são áreas sem infraestrutura, associada, às vezes, aos depósitos de detritos e lixo, com cobertura vegetal arbórea predominante. Essas duas classes estão distribuídas longitudinalmente no bairro em um padrão espacial semelhante que pode ser visto na Figura 13.

Em Pajuçara existem 18 classes (Tabela 18). A classe com maior expressividade espacial é a Vegetação Secundária (31%), distribuída ao longo da ZPA 9 e em duas grandes áreas no centro-leste do bairro, no 2º nível da tipologia (Figuras 11 e 14). A Vegetação Ruderal é a segunda classe mais presente, 22% da cobertura vegetal total do bairro, localizada em terrenos públicos e privados sem edificação e ao redor de lagoas de captação, por exemplo. A classe menos expressiva corresponde à Vegetação Degradada (0,1%), distribuída em uma pequena área ao sul do bairro, limitando-se com a Vegetação Secundária.

Figura 12 – Mapa de diversidade da cobertura vegetal para os bairros Cidade Alta e Petrópolis.

Figura 13 – Mapa de diversidade da cobertura vegetal para o bairro Pitimbu.

Figura 14 – Mapa de diversidade da cobertura vegetal para o bairro Pajuçara.

De forma geral, os bairros com tecido urbano contínuo, Cidade Alta e Petrópolis, apresentam uma menor quantidade de classes de cobertura vegetal do que os bairros com tecido urbano descontínuo, Pitimbu e Pajuçara, respectivamente, 17 e 40 classes (Tabela 19). Essa diferença se acentua ao comparar o número das classes de cobertura vegetal natural para os bairros de tecido urbano contínuo, 3 classes, com os bairros de tecido urbano descontínuo, 19 classes.

Tabela 19 – Quantidade e proporção das classes de cobertura vegetal natural e antropizada para os bairros com tecido urbano contínuo e descontínuo.

Bairros Número de classes % em relação ao bairro Ocupação

Natural Antropizada Natural Antropizada

Cidade Alta 1 7 0,5 5,2 Contínua

Petrópolis 2 7 0,4 12,3 Contínua

Pitimbu 11 11 16,7 8,7 Descontínua

Pajuçara 8 10 19,0 7,9 Descontínua

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

A cobertura vegetal antropizada é ligeiramente mais expressiva nos bairros de tecido urbano contínuo (5,2% e 12,3%) do que nos bairros de tecido urbano descontínuo (8,7% e 7,9%), pela influência da cobertura vegetal do bairro Petrópolis. Ao comparar somente a cobertura vegetal natural, os bairros com tecido urbano contínuo possuem apenas 0,5% e 0,4% de sua área coberta pela classe natural, enquanto os bairros com tecido urbano descontínuo apresentam 16,7% e 19% de sua área coberta por essa classe.

6 DISCUSSÃO

Os resultados da acurácia do mapa da cobertura vegetal para Natal a partir da matriz de confusão e os cálculos dos coeficientes, evidenciaram que o mapa da cobertura vegetal do município por meio de imagens do Google Earth possui uma precisão satisfatória, visto que o coeficiente total Kappa obtido foi de 0,82, que, segundo a classificação de Landis e Koch (1977), está incluído na classe quase perfeito, entre 0,81 a 1. Este valor do coeficiente Kappa significa que houve 82% de concordância entre a amostra de referência e o mapeamento realizado. A Exatidão Global obtida foi de 0,92 e é sempre maior que o Kappa por incluir apenas as classes corretamente classificadas, diagonal principal, e o número total de pontos amostrais.

Verificando os coeficientes individuais para a classe Cobertura Vegetal e a classe Outros percebeu-se que o erro maior (21,6 %) foi o de omissão da Cobertura Vegetal. Analisando visualmente os 27 pontos omissos sobrepostos à imagem original, foi possível averiguar que a maior parte desses erros ocorreram no mapeamento da cobertura vegetal natural de porte herbáceo, incluindo as Vegetações Ruderal, Secundária e Vegetação com Influência Marinha Herbácea, que apresentaram em alguns momentos, na imagem do Google Earth, uma coloração mais acinzentada, dificultando a classificação e sendo confundidos com a classe Outros. Também deve ser levada em consideração a limitação da própria imagem, visto que a mesma não possibilita a realização de uma composição de bandas ou criação de índices de vegetação, que auxiliariam na distinção da cobertura vegetal e de outros tipos de cobertura da terra.

Analisando visualmente a classificação com base na imagem do Google Earth PRO foram observadas áreas do rio Potengi que foram confundidas como cobertura vegetal devido à coloração esverdeada da água, localizadas nos bairros da Ribeira, Salinas e Felipe Camarão. A partir de uma análise visual dos bairros e considerando os pontos classificados corretamente, percebeu-se que a classificação apresentou melhores resultados em áreas de cobertura vegetal arbustiva e arbórea e que não estão próximas de corpos d’água.

Ressalta-se que o maior benefício da utilização da imagem proveniente do Google Earth é a possibilidade de se obter um mapeamento em escala de detalhes de forma gratuita, possibilitando o mapeamento de pequenas manchas de cobertura vegetal distribuídas em passeios públicos, canteiros centrais e áreas privadas, elementos importantes na arborização das cidades, como destacam Meneguetti (2003) e Alvarez e Gallo (2012).

Com o mapeamento apresentado no Capítulo 5, para o ano de 2013, foi obtido 4.626 hectares de cobertura vegetal para a cidade do Natal, equivalente a 27,5% do seu território. Em relação à quantidade de cobertura vegetal por habitante, obteve-se 45,5 m²/hab considerando os

36 bairros e 54,2 m²/hab incluindo o Parque das Dunas.

A cobertura vegetal de Natal apresenta-se muito fragmentada, pois 83% dos fragmentos de cobertura vegetal são menores que 100 m². Os cinco maiores fragmentos dentre a cobertura vegetal dos bairros, com áreas entre 100 e 1000 ha, que correspondem ao maior percentual em relação à área de cobertura vegetal da cidade (32%), estão localizados nas ZPAs 9, 8, 2 e 6, conforme Figuras 7 e 8 e a Tabela 3. O maior fragmento contínuo de cobertura vegetal observado está presente na área do Parque Estadual Dunas do Natal, dentro da ZPA 2, possuindo 693 ha de cobertura vegetal.

Foi possível averiguar que 63% da cobertura vegetal da cidade está inserida nas dez ZPAs, sobretudo nas ZPAs 2, 8 e 9 (Tabela 5 e Figura 8). Caso fosse suprimida toda essa cobertura vegetal, o ICV de Natal passaria a ser de 10,3% e o ICVH seria de 20,3 m²/hab., índices quase três vezes menores que os atuais. As ZPAs de Natal se destacam, pois são de grande importância para o equilíbrio ambiental da cidade, atuando na regulação microclimática, preservação da biodiversidade, recarga do aquífero, proteção das margens dos rios, dentre outras funções. Elas também merecem atenção, pois mesmo aquelas regulamentadas como áreas de preservação podem ser parcialmente removidas, caso sejam feitas obras de infraestrutura consideradas como de utilidade pública, possibilidade prevista na lei de utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica (BRASIL, 2006).

Das dez ZPAs presentes em Natal, apenas duas possuem áreas verdes públicas em seu interior, sendo elas a ZPA 2, uma zona com 16% da cobertura vegetal da cidade e que abriga o Parque Estadual Dunas do Natal e, a ZPA 1, correspondendo a 1,5% da cobertura vegetal da cidade, na qual está localizado o Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte.

O Parque das Dunas abrange 1.172 ha e é considerado o maior parque urbano sobre dunas do Brasil (RIO GRANDE DO NORTE, 2015), enquanto que o Parque da Cidade, de administração municipal, possui uma área de 136,54 ha (NATAL, 201-?). Comparativamente, o Parque Nacional da Tijuca, localizado no município do Rio de Janeiro, apresenta 3.953 ha (PARQUE DA TIJUCA, 2017), o Central Park, localizado na cidade de Nova York e o mais visitado dos EUA apresenta 341 ha (CENTRAL PARK CONSERVANCY, 2017), enquanto que o Hyde Park, localizado em Londres, Inglaterra, possui 141,64 ha (THE ROYAL PARKS, 2017). As demais ZPAs da cidade do Natal são de difícil acesso, destinadas sobretudo à preservação ambiental.

Comparando os resultados apresentados com outras cidades brasileiras, Natal se encontra em uma posição intermediária, com ICV, por exemplo, maior que Santa Maria-PR (17%), Maringá-PR (14%), Vitória-ES (10%), Ponta Grossa-PR (9%) e Goiânia-GO (8%), mas

menor que o de Belém-PA (37%), Mossoró-RN (30%) e Salvador-BA (28%), segundo valores apresentados, respectivamente, por Alves (2012), Sampaio et al. (2012), Souza et al., (2013), Queiroz e Ribeiro (2013), Martinho et al. (2012), Luz e Rodrigues (2014), Silva (2015) e Oliveira et al. (2009).

O ICVH de Natal aproxima-se do que foi obtido para Maringá-PR (54 m²/habitante) e para Salvador-BA (32 m²/habitante). Cabe destacar que no presente estudo foi considerada toda a cobertura vegetal de plantas arbóreas, arbustivas e herbáceas, diferentemente do que é considerado por alguns dos estudos acima citados.

É importante lembrar que a comparação entre as pesquisas deve ser feita com cautela, tendo em vista que metodologias diferentes podem gerar resultados diferentes. Alguns autores optaram pela classificação digital de imagens, considerando o método de classificação orientado a objetos (SILVA, 2015), outros pela interpretação visual (SOUZA et al., 2013) e outros pela obtenção da cobertura vegetal por NDVI (OLIVEIRA et al., 2013). Diferenças podem ocorrer também quanto ao que é considerado como cobertura vegetal. Sampaio et al. (2012) mapearam somente a cobertura vegetal arbórea, Queiroz e Ribeiro (2013) consideraram as áreas agrícolas, reflorestamentos e as áreas naturais, enquanto que na presente pesquisa foram incluídos todos os portes de plantas.

As variações também ocorreram em relação à data da imagem pela qual foi feito o levantamento e o tipo de satélite utilizado, que repercute no detalhamento da cobertura vegetal. Luz e Rodrigues (2014) utilizaram imagens do satélite IKONOS, para o ano de 2006, com resolução espacial de 1 metro, enquanto que Martinho et al. (2012) mapearam a cobertura vegetal por meio de imagens do Landsat 5, com 30 metros de resolução, para o ano de 2011.

Em relação à distribuição da cobertura vegetal nos bairros do Natal, também foi possível constatar que a maioria dos bairros com maior cobertura vegetal, tanto em termos percentuais (ICV maior que 25%) quanto em disponibilidade para seus habitantes (ICVH maior que 50 m²/hab), possuem ZPAs em seu interior e se localizam nas áreas periféricas da cidade. Em contraponto, boa parte dos bairros mais antigos, onde a ocupação da cidade foi iniciada, na Região Administrativa Leste, possui menos cobertura vegetal, com ICVs menores que 10% e ICVHs menores que 10 m²/hab.

Um dos bairros de Natal que merece destaque é Salinas, localizado na Região Administrativa Norte. Ele apresenta o maior ICVH entre os bairros, 1.195,3 m²/hab, explicado pela baixa população e por abrigar uma grande área de cobertura vegetal vinculada à ZPA 8. Possui uma área de Área de Preservação Permanente de manguezal, legalmente protegida pelas

legislações a nível municipal, estadual e federal, mas que pode ser suprimida caso sejam realizados projetos julgados como de utilidade pública.

No que concerne aos estudos sobre a cobertura vegetal de Natal, verifica-se que o padrão de distribuição espacial encontrado na presente pesquisa confirma os resultados apresentados por Silveira et al. (2012) e Sucupira (2013), o município apresenta uma distribuição diferenciada da cobertura vegetal, mais dispersa no centro e concentrada nas áreas periféricas.

Em relação ao percentual de cobertura vegetal dos bairros obtido por Sucupira (2013), observa-se que, de modo geral, os percentuais dos bairros obtidos pelo autor apresentaram-se mais elevados do que os índices encontrados na presente pesquisa. Segundo Sucupira (2013), Natal apresenta 40,4% de cobertura vegetal, enquanto que nesta pesquisa o valor obtido foi de 27,5%. Caso fossem considerados no somatório todos os fragmentos abaixo de 10 m² (supondo que todos fossem de fato cobertura vegetal), o ICV passaria para 28,5%, mesmo assim diferenciando-se em 11,9% do encontrado por Sucupira (2013).

Alguns aspectos podem ser levantados para explicar essa diferença no ICV. As imagens não foram obtidas no mesmo ano e foram fornecidas por satélites diferentes, Sucupira (2013) utilizou imagens de 2010 do satélite WorldView-2, com 0,5 m de resolução espacial no modo pancromático e 2 metros de resolução para as bandas multiespectrais e, na presente pesquisa, utilizou-se um mosaico elaborado pela SEMURB com base em imagens de 2012/2013 retiradas do Google Earth PRO, com resolução de aproximadamente 50 centímetros.

As metodologias empregadas também foram diferentes, Sucupira (2013) baseou-se no cálculo do NDVI para obtenção da cobertura vegetal, utilizando fusões e recortes das imagens pancromáticas e multiespectrais (bandas 7, 5 e 3), enquanto que nesta pesquisa optou-se pela segmentação e classificação supervisionada da cobertura vegetal com base na imagem composta pelas bandas 3, 2, 1 e posterior transformação dos dados raster em vetores, além de ter sido adotada uma área mínima mapeável (10m²), o que não foi indicado no estudo de Sucupira (2013).

Supõe-se que no período de 2010 para 2012/2013 a cobertura vegetal diminuiu como consequência do processo de expansão de áreas antropizadas e que a escolha da área mínima mapeável, aliada à omissão de áreas de cobertura vegetal na classificação, sobretudo herbácea, tenham causado essa diferença do ICV entre os mapeamentos. Ressalta-se que não foi apresentada no estudo de Sucupira (2013) uma avaliação da acurácia do mapa que poderia subsidiar uma validação do que foi apresentado pelo autor e permitir uma comparação mais detalhada com os dados desta pesquisa.

A identificação, a qualificação (diversidade) e o mapeamento da cobertura vegetal dos bairros Cidade Alta, Petrópolis, Pitimbu e Pajuçara mostraram-se satisfatórios a partir da avaliação da acurácia pelas técnicas adotadas. Os coeficientes Kappa para os bairros, segundo a classificação de Landis e Koch (1977), estão incluídos entre as classes forte e quase perfeito, variando de 0,72 a 0,89, indicando que existe concordância entre os mapas e as amostras de referência.

Foi observado que os maiores acertos em relação às amostras de referência (precisão do produtor) ocorreram nas classes de cobertura vegetal Antropizada, enquanto que os maiores erros de omissão ocorreram nas classes Savana, Vegetação Secundária e Vegetação Ruderal. A precisão do produtor teve uma média de 83% e os erros de omissão, 17%. Quanto ao acerto em relação ao que foi mapeado (precisão do usuário), houve em média 95% de precisão. Os erros de inclusão foram menores que 7%.

De forma geral, os problemas de mapeamento decorreram da omissão de áreas de cobertura vegetal natural de porte herbáceo no momento da classificação supervisionada utilizada como base para o mapeamento, interferindo na precisão do produtor e nos erros de omissão, e não no processo de interpretação visual dos polígonos e atribuição das classes de cobertura vegetal, que se refere a precisão do usuário e erros de inclusão.

Segundo Antunes e Lingnau (1997) a utilização da matriz de confusão é uma boa técnica para a avaliação da acurácia de mapeamentos, pois a partir dela é possível averiguar as confusões existentes entre as classes. Os autores também ressaltam a importância da análise da precisão individual das classes quando algumas classes específicas são importantes ou interessam mais do que as outras.

Com os resultados obtidos da diversidade da cobertura vegetal, percebeu-se que aproximadamente metade da cobertura dos quatro bairros é arbustiva/herbácea e metade é arbórea. O ICV arbóreo para os quatro bairros encontrado foi de 10,7% e o ICVHarb, 17,2 m²/hab. Essa constatação é importante na medida em que são as árvores as que mais influenciam na melhoria do microclima.

Extrapolando o total da cobertura vegetal arbórea dos quatro bairros analisados para todo o município, estima-se que a cobertura vegetal arbórea de Natal seja de 2.058,1 ha, resultando em um ICVarb. de 12,2% e ICVHarb de 24,1 m²/hab, substancialmente inferior ao que foi encontrado nos resultados considerando todos os portes de plantas (ICV de 27,5% e ICVH de 54,2 m²/hab).

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