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Diversidade na apresentação dos conteúdos.

3 PERSPECTIVAS DE AÇÃO PEDAGÓGICA

3.1 A seleção e a organização dos conteúdos

3.1.2 Diversidade na apresentação dos conteúdos.

A organização dos conteúdos, uma parte essencial na construção do currículo, está intimamente ligada à concepção de ensino que sustenta o projeto pedagó-

gico da escola. Por isso, sua escolha não é aleatória, tendo relação também com a concepção de História subjacente à prática pedagógica. Esse conjunto de espe- cifi cidades explica a grande variedade de propostas curriculares, desde as mais clássicas até as mais recentes tentativas de inovações. Cada uma delas apresenta qualidades e limitações que serão avaliadas pelos professores segundo suas con- vicções metodológicas, concepções de História, de Educação e do próprio ensino de História. A título de exemplo, podem ser citadas:

a) o exemplo clássico de organização dos conteúdos é o que se constitui a partir das temporalidades. Preponderante ainda na maioria das escolas brasileiras, o tempo, considerado em sua dimensão cronológica, continua sendo a medi- da utilizada para explicar a “trajetória da humanidade”. A periodização que se impôs desde o século XIX – História Antiga, Medieval, Moderna e Contem- porânea – está presente em grande parte dos livros didáticos e do currículo das escolas. Retrocede-se às origens, estabelecendo-se trajetórias homogêne- as do passado ao presente, em que a organização dos acontecimentos é feita a partir da perspectiva da evolução. Por isso, o que caracteriza a organização dos conteúdos, nesse contexto, é a linearidade e a seqüencialidade;

b) mais recentemente, vem-se tentando a superação da seqüencialidade e da li- nearidade em alguns currículos, os quais tomam a chamada História integra- da como fi o condutor da sua organização. Assim, América e Brasil fi guram junto a povos da pré-história, da Europa e da Ásia, fazendo-se presente, por vezes, a História da África. Nota-se em grande parte dos livros didáticos que optam por essa forma de organizar os conteúdos de História uma diminui- ção considerável dos assuntos referentes ao Brasil e pouquíssimo ou nenhum espaço para a História da África;

c) há propostas diferenciadas, em que os conteúdos são organizados a partir de temas selecionados ou eixos temáticos, esperando-se maior liberdade e cria- tividade por parte dos professores. A organização e a seleção dos conteúdos a partir de uma concepção ampliada de currículo escolar foram elaboradas de forma mais sistematizada e aprofundada nas propostas dos Parâmetros Cur- riculares Nacionais para o Ensino Fundamental, assim como para o Ensino Médio. Nas Orientações Educacionais Complementares, PCN+ Ensino Mé- dio de 2002, a opção pela organização programática de assuntos a partir de eixos temáticos é assumida na apresentação geral para as Ciências Humanas e para todas as disciplinas da área;

d) nota-se ainda uma via intermediária: mantém-se a opção pela exposição cro- nológica dos eventos históricos consagrados pela historiografi a, mas agora intercalada ou informada por exercícios e atividades chamados estratégicos,

por meio dos quais os alunos são levados a perceber todos os meandros da construção do conhecimento histórico, instados a se envolver nas proble- máticas comuns ao presente e ao passado estudado e encorajados a assumir atitudes que os levem a posicionar-se como cidadãos. Aproximam-se assim as preocupações com a seqüencialidade dos conteúdos e as fi nalidades da educação na formação de indivíduos conscientes e críticos, com autonomia intelectual;

e) outra construção possível, algumas vezes praticada, consiste em manter, como fi o organizador, a periodização consagrada como “pano de fundo” para a ela- boração de problemáticas capazes de atingir o objetivo de tornar signifi cativa a aprendizagem da História. A estruturação temática possibilita discussões de ordem historiográfi ca em diferentes períodos históricos e abre a possibi- lidade de se considerarem os momentos históricos na dimensão da sucessão, da simultaneidade, das contradições, das rupturas e das continuidades. A cronologia não é simplesmente linear, pois leva em consideração que tempos históricos são passíveis de diversifi cados níveis e ritmos de duração;

f) muitas outras experiências de composição curricular poderiam ainda ser elencadas. Basta lembrar que, em muitos casos, a organização dos conteúdos é assumida de forma responsável pelos professores, tendo como referência suas experiências docentes ou as orientações dos órgãos responsáveis pelas políticas educacionais dos estados e dos municípios. Há Secretarias Estaduais de Educação que, com maior ou menor intensidade e envolvimento, têm trabalhado no sentido de estabelecer diretrizes ou roteiros para as organiza- ções curriculares da História, cuja diversidade pode ser verifi cada a partir das possibilidades já apontadas.

Por fi m, ressalta-se que ainda é muito raro encontrar nas organizações cur- riculares, tanto das escolas como dos livros didáticos, a importância que mere- ce a História da África. Essa lacuna, que está sendo revista paulatinamente pela produção historiográfi ca, deverá ser eliminada por causa do papel histórico que os africanos trazidos para o Brasil desempenharam na construção da socieda- de brasileira, assim como pela importância da herança cultural que vem sendo construída pelos brasileiros de origem africana. A força do Decreto Lei nº 10.639, que torna obrigatório o ensino da História da África, não terá respaldo se a his- toriografi a não der ainda maior impulso à cultura africana no Brasil. É de se ressaltar a clareza com que a LDB, em seu artigo 26, se refere à questão:

Art. 26A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, ofi ciais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasi-

leira. § I - O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cul- tura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § II - Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Bra- sileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial na Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.