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2 A HISTÓRIA NO ENSINO MÉDIO

2.1 Questões de conteúdo

2.1.4 Sujeitos históricos

Perceber a complexidade das relações sociais presentes no cotidiano e na orga- nização social mais ampla permite indagar qual o lugar que o indivíduo ocupa na trama da História e como são construídas as identidades pessoais e as sociais, em dimensão temporal. Os sujeitos históricos, que se confi guram na inter-rela- ção complexa, duradoura e contraditória das identidades sociais e pessoais, são os verdadeiros construtores da História. Assim, é necessário acentuar que a tra- ma da História não é o resultado apenas da

ação de fi guras de destaque, consagradas pelos interesses explicativos de grupos, mas conseqüência das construções conscientes ou inconscientes, paulatinas e imperceptí- veis, de todos os agentes sociais, individuais ou coletivos.

Conceber a História como resultado da ação de sujeitos históricos signifi ca não atri- buir o desenrolar do processo como vonta-

de de instituições, tais como o Estado, os países, a escola, etc., ou como resultante do jogo de categorias de análise (ou conceitos): sistemas, capitalismo, socialismo, etc. É perceber também que a trama histórica não se localiza nas ações individu- ais, mas no embate das relações sociais no tempo.

2.1.5 Trabalho

A categoria “trabalho” é aqui entendida como um modo de sustentação e auto- preservação do gênero humano, que se expressa nas transformações impostas

... o tempo histórico não tem uma dimensão ho- mogênea, mas comporta durações variadas, como tem sido largamente dis-

pelo homem à natureza e às formações sociais e culturais historicamente cons- truídas. Trata-se de conceito fundamental para a compreensão da formação e do fazer histórico da humanidade em toda a sua diversidade.

Entende-se o trabalho na sua diversidade social, econômica, política e cultu- ral, pois o trabalho não se refere somente às formas de produzir formalmente e historicamente aceitas nas diversas sociedades históricas, tais como a escravidão, a servidão e o trabalho assalariado, mas também ao trabalho relacionado à esfe- ra doméstica, à prática comunitária, às manifestações artísticas e intelectuais, à participação nas instâncias de representação políticas, trabalhistas, comunitárias e religiosas. Essas diferentes formas de produzir e organizar a vida individual e coletiva intercambiam-se com diversas perspectivas ou abordagens. Dentre elas podem-se destacar as de gênero (a participação das mulheres e dos homens nas relações entre trabalho formal, informal e doméstico); de parentesco ou de co- munidade (posição dos membros na hierarquia da família e da comunidade rela- cionados a sua ocupação profi ssional); de geração (as transformações históricas na relação entre o trabalho formalmente aceito em uma sociedade e o trabalho infantil, além do trabalho como formação educativa nas dimensões professor/ aluno, mestre/aprendiz, entre outras); e de poder (tensões e confl itos entre os diferentes agentes sociais, profi ssionais e políticos).

2.1.6 Poder

O poder pode ser entendido como o complexo de relações entre os sujeitos his- tóricos nas diversas formações sociais e nas relações entre as sociedades. Arti- cula-se com todos os conceitos presentes neste documento, pois as relações de poder permeiam o processo de construção do conhecimento histórico e são um dos fatores de signifi cação que delimitam o que seria a consciência histórica, que marca os diversos modos da apreensão e da construção do mundo historica- mente constituído e suas respectivas interpretações. Além disso, o exercício do poder encontra-se presente nos usos sociais que se fazem da História tanto para legitimar poderes quanto para execrar o passado de inimigos políticos, sociais ou de qualquer outra natureza.

As relações de poder são exercidas nas diversas instâncias das sociedades his- tóricas, como as do mundo do trabalho e as das instituições, como, por exemplo, as escolas, as prisões, as fábricas, os hospitais, as famílias, as comunidades, os Estados nacionais, as Igrejas e os organismos internacionais políticos, econômi- cos e culturais, os quais se transformam na sua relação com as formações sociais historicamente constituídas. É na inter-relação entre essas instituições (sociais, políticas, étnicas e religiosas) e nas relações de dominação, hegemonia, depen-

dência, convencimento, submissão, resistência, convivência, autonomia e inde- pendência entre elas que se torna possível a compreensão de suas construções políticas como algo próprio da formação histórica do ser humano. Não se pode esquecer também o processo de invenção das tradições, que expressa muito bem as articulações entre mudanças e permanências no campo das relações políticas.

Nesse aspecto, o conceito de poder facilita o entendimento da construção histórica do conceito de cidadania e do processo de constituição da participação política nas mais diversas instituições marcadas por consensos, tensões e confl i- tos revelados em toda a sua historicidade.

2.1.7 Cultura

A ampliação do conceito de cultura, fruto da aproximação das disciplinas His- tória e Antropologia, enriquece o âmbito das análises, caminhando, de forma positiva, para a abertura do campo científi co da História Cultural. O recurso à Filosofi a, por sua vez, enriquece e amplia o conceito, especialmente no que se refere à idéia de cultura como formação advinda da “paidéia” (ligada à educa- ção) e da cultura humanista, renascentista e iluminista. Na articulação dessas abordagens (histórica, antropológica e fi losófi ca), o conceito de cultura pode alcançar maior abrangência e signifi cado.

A cultura não é apenas o conjunto das manifestações artísticas e materiais. É também constituída pelas formas de organização do trabalho, da casa, da família, do cotidiano das pessoas, dos ritos, das religiões, das festas. As diversi- dades étnicas, sexuais, religiosas, de gerações e de classes constroem representa- ções que constituem as culturas e que se expressam em confl itos de interpreta- ções e de posicionamentos na disputa por

seu lugar no imaginário social das socie- dades, dos grupos sociais e de povos.

A cultura, que confere identidade aos grupos sociais, não pode ser considerada produto puro ou estável. As culturas são híbridas e resultam de trocas e de rela- ções entre os grupos humanos. Dessa for- ma, podem impor padrões uns sobre os outros, ou também receber infl uências,

constituindo processos de apropriações de signifi cados e práticas que contém elementos de acomodação–resistência. Daí a importância dos estudos dos gru- pos e culturas que compõem a História do Brasil, no âmbito das relações inter- étnicas. O estudo da África e das culturas afro-brasileiras, assim como o olhar

As culturas são hí- bridas e resultam de

trocas e de relações entre os grupos huma-

nos como processos de apropriação de uns

atento às culturas indígenas, darão consistência à compreensão da diversidade e da unidade que fazem da História do Brasil o complexo cultural que lhe dá vida e sentido.