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Os dividendos são porcentagens pagas aos acionistas oriundas do lucro obtido pela empresa. À vista disso, a decisão de pagamento de dividendo é condicionada por dois fatores principais: necessidade de resultado positivo e de liquidez para efetivação do pagamento. No Brasil, as sociedades anônimas são obrigadas a cumprir regras mínimas para a distribuição de dividendos a seus acionistas, as quais estão previstas na Lei 6.404/76 e no próprio estatuto social das companhias.

Os acionistas devem receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela de lucros fixada no estatuto social. O estatuto poderá estabelecer o dividendo como porcentagem do lucro ou do capital social, ou fixar outros critérios para determiná-lo, desde que sejam regulados com precisão e minúcia e não sujeitem os acionistas minoritários ao arbítrio dos órgãos de administração ou da maioria (Art. 202, Lei 6.404/76). Sendo assim, os dividendos obrigatórios devem ser distribuídos a todas as ações de uma sociedade, sejam elas ordinárias ou preferenciais.

Caso haja omissão por parte do estatuto, da parcela do lucro ou capital social a ser distribuída, será destinado aos acionistas 50% do lucro líquido ajustado diminuído ou acrescido do valor destinado à reserva legal e reserva para contingências e a reversão desta última. O pagamento dos dividendos obrigatórios poderá ser limitado ainda pelo lucro líquido realizado no período. A diferença será registrada como reserva de lucros a realizar (Art. 202, I

e II, Lei 6.404/76). Quando este lucro for realizado, se não for absolvido por prejuízo nos exercícios subsequentes, deverá ser acrescido ao primeiro dividendo declarado após a realização.

Segundo o §2º, do art. 202, da Lei n° 6.404/76, alterado pela Lei n° 10.303/2001, “Quando o estatuto for omisso e a assembleia-geral deliberar alterá-lo para introduzir norma sobre a matéria, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a 25% (vinte e cinco por cento) do lucro líquido ajustado nos termos do inciso I deste artigo”. Isso significa que, normalmente as empresas estabelecem em seu estatuto social um percentual sobre o lucro líquido ajustado a ser destinado aos seus acionistas como forma de pagamento dos dividendos, sendo estabelecido por Lei apenas no caso de omissão no estatuto. O quadro 2 representa como é realizado o cálculo do dividendo obrigatório.

Quadro 2 - Cálculo do dividendo obrigatório.

(+) Lucro líquido do exercício (–) Reserva legal (constituída)

(–) Reserva para contingência (constituída) (+) Reversão de reserva para contingência

(–) Reserva de incentivos fiscais (opcional, de acordo com o art. 195-a da lei 6.404/76) (+) Lucro líquido ajustado antes da reserva de lucros a realizar

(=) Lucro líquido ajustado antes da reserva de lucros a realizar (X) Percentual estabelecido no estatuto ou 50% em caso de omissão (=) Dividendo obrigatório antes da reserva de lucros a realizar (–) Reserva de lucros a realizar (constituída)

(+) Realização da reserva de lucros a realizar (=) Dividendo obrigatório

Fonte: Adaptado de Santos et al. (2007, p. 356)

“A companhia somente pode pagar dividendos à conta de lucro líquido do exercício, de lucros acumulados e de reserva de lucros; e à conta de reserva de capital, no caso das ações preferenciais de que trata o §5º do artigo 17.” (Art. 201, Lei 6.404/76). Para que os dividendos alcancem a conta de reserva de capital, o estatuto social deverá prever essa hipótese ou o lucro do exercício deverá ser insuficiente. Caso esses dois requisitos não forem respeitados, a distribuição de dividendos por conta da reserva de capital à classe de ações preferenciais será considerada ilegal (Art. 17, III, § 3º, Lei 10.303/2001).

A assembleia-geral poderá deliberar o pagamento de dividendos inferior ao obrigatório ou a retenção de todo o lucro líquido. Para isso, não poderá haver oposição de qualquer acionista presente na assembleia. Essas possibilidades poderão ocorrer nas companhias abertas, exclusivamente para captação de recursos por debêntures não conversíveis em ações, e nas companhias fechadas, exceto as controladas por companhias abertas que não se enquadrem na situação prevista no item anterior (Art. 202, §3º, Lei 6.404/76).

Nos termos da Lei das S/A, em seu artigo 202, §4º, o dividendo obrigatório poderá excepcionalmente deixar de ser pago no exercício em que os órgãos da administração da companhia informarem à Assembleia Geral Ordinária que ele é incompatível com a situação financeira da companhia. O conselho fiscal da companhia, se em funcionamento, deverá dar parecer sobre essa informação. Nas companhias abertas, seus administradores encaminharão à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), dentro de 5 (cinco) dias da realização da assembleia-geral, exposição justificada da informação transmitida à assembleia.

Os lucros não distribuídos na hipótese descrita anteriormente serão registrados como reserva especial e, se não absorvidos por prejuízos em exercícios subsequentes, deverão ser pagos como dividendo assim que o permitir a situação financeira da companhia (Art. 202, §5º, Lei 6.404/76).

O dividendo deverá ser pago, salvo deliberação em contrário da assembleia-geral, no prazo de 60 (sessenta) dias da data em que for declarado e, em qualquer caso, dentro do exercício social (Art. 205, §3º, Lei 6.404/76). Vale destacar que, a remuneração do capital empregado pelo acionista deve levar em consideração o tempo do investimento, o custo de oportunidade e o risco do negócio. Em vista disso, caso o acionista queira contestar os dividendos que foram declarados, o prazo prescreve em três anos e começará a ser contado da data em que os dividendos foram colocados a disposição do mesmo.

O tratamento fiscal dos dividendos sofreu algumas alterações no decorrer dos anos. Atualmente, sua distribuição não sofre incidência tributária, conforme determina no art. 10 da Lei 9.430/96 e no art. 654 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/1999), que os lucros ou dividendos, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte (IRRF), nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior.

Se, por um lado, na fonte pagadora dos dividendos não incide o IRRF, por outro, tal distribuição não é dedutível para fins de apuração do IRPJ e CSLL. Portanto, tal fato justifica uma análise por parte da empresa pagadora dos rendimentos sobre a melhor alternativa de remuneração de seus sócios ou acionistas, uma vez que há outra forma de remuneração, cuja dedutibilidade da base de cálculo do IRPJ e CSLL é estabelecida pela legislação tributária através da Lei 9.429/95, para as entidades tributadas pelo Lucro Real.

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