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Divisão de papéis entre os diferentes atores envolvidos

4 ENSINO COLABORATIVO – O QUE DIZEM AS PESQUISADORAS

4.3 Divisão de papéis entre os diferentes atores envolvidos

Outro ponto fundamental para a implementação do Ensino Colaborativo na escola, a partir do olhar das pesquisadoras respondentes dessa investigação, é o repensar sobre os distintos papéis dos profissionais da educação, e como esses podem ser divididos. Mendes (2008) esclarece questões importantes para definir o Ensino Colaborativo:

O processo de colaboração se diferencia de supervisões, orientações e de aconselhamentos de profissionais na medida em que o intercâmbio deve ser colaborativo, com ênfase no papel igualitário na contribuição para a resolução do problema, e na vontade de ambas as partes de estabelecer a parceria, sem a necessidade de imposições (MENDES, 2008, p.94).

Interessante ressaltar que o significado das palavras cooperação e colaboração aparecem de maneira ambígua na literatura. Há pesquisadores que acreditam que o termo

cooperação é mais abrangente, com distinções hierárquicas de ajuda mútua; ao passo que, na colaboração, existe um objetivo comum entre as pessoas que trabalham em conjunto, sem hierarquia (CAPELLINI, 2004).

Carneiro (2006) comenta que para estabelecimento de uma cultura colaborativa são necessárias mudanças significativas nos papéis dos membros das equipes. Além da escola, os responsáveis pelas políticas estaduais e municipais têm um papel importante de mobilização das ações, estabelecendo diretrizes e apoiando mudanças no sistema escolar. Ademais, é fundamental que os papeis de cada um - professores, diretores, especialistas, alunos e familiares - fiquem bem definidos, uma vez que se articulam em prol do mesmo objetivo.

O trabalho colaborativo efetivo, portanto, requer compromisso, apoio mútuo, respeito, flexibilidade e uma troca de conhecimentos. Nenhum profissional deveria considerar-se melhor que outros. Cada profissional envolvido pode aprender e pode beneficiar-se dos saberes dos demais e, com isso, o beneficiário maior será sempre o aluno.

Libâneo (2004, apud CARNEIRO, 2006), ao falar sobre trabalho em equipe na escola afirma que todas as pessoas envolvidas por meio da prática e das ações nesse processo de colaboração são fundamentais e de igual importância, e que em grande parte, a direção e a coordenação pedagógica são os principais articuladores para o funcionamento eficaz da escola.

A divisão de papéis requer, assim, mudança de atitudes e de práticas pedagógicas muitas vezes cristalizadas no ambiente escolar. Como aponta o texto abaixo, o Ensino Colaborativo exige:

Saber compartilhar um papel que foi tradicionalmente individual. Seria preciso, portanto, compartilhar as metas, as decisões, as instruções de sala de aula, a responsabilidade pelos estudantes, a avaliação da aprendizagem, as resoluções dos problemas e, finalmente, a administração da sala de aula. Neste sentido, os professores precisam começar a pensar como “nossa” classe e não como “minha” classe. (REPLAY, 1997, apud CAPELLINI, 2004, p.90).

Esse é um processo forçosamente de longa duração. Não se pode esperar que a colaboração e a divisão de papéis ocorram num “piscar de olhos”. Sobre esse tema, Wood (1998, apud CAPELLINI, 2004), em um estudo sobre o processo de implementação das ações educacionais inclusivas, descreveu padrões no modelo de colaboração entre educadores envolvidos no processo de inclusão escolar (professores do ensino comum e ensino especial). Esses padrões indicaram que, no início do ano escolar, não eram bem claras as divisões de trabalho e os limites da ação de cada um dos envolvidos e, à medida que o ano se desenrolou,

as formas como eram percebidos os papéis foram se modificando e flexibilizando, contribuindo para ações mais colaborativas por parte da equipe.

Seguindo esse raciocínio, uma das questões cruciais para o Ensino Colaborativo é o entendimento de toda a comunidade escolar sobre a colaboração como uma parte fundamental para o funcionamento da escola. Ocorre, entretanto, que muitas vezes a complexidade da colaboração não é compreendida por administradores, professores e familiares, por não se sentirem seguros quanto às possibilidades de sua construção e o envolvimento necessário de cada um (CARNEIRO, 2006).

Para Zanata (2004), faz-se necessária uma redefinição no papel do professor do ensino especial, para que sua atuação não se restrinja à classe especial. Nessa perspectiva, o professor do ensino especial deveria ser formado para atuar também na escola inclusiva, colaborando com o professor do ensino comum, numa soma de esforços e aprendizado mútuo:

O papel do professor na sala de aula configura-se como sendo provedor, o responsável pelas estratégias de ensino e, consequentemente, seria função do sistema educacional prover as condições de formação continuada e atualização destes professores, talvez em forma de apoio por parte de equipes especializadas. (ZANATA, 2004, p.52).

Nessa mesma direção, ao discutir a questão dos papéis dos membros da equipe escolar e sua atuação conjunta para obtenção dos objetivos propostos, Bites (2005, apud CARNEIRO, 2006) afirma:

Nessa perspectiva, é preciso levar em conta a educação como mecanismo social de construção da humanidade do homem, bem como a valorização dos profissionais baseada na relevância de seu papel, nos seus compromissos e na fidelidade com o trabalho que realizam. [...] a política educacional, em geral e a de inclusão escolar, deveria constituir o universo das preocupações e das ações desses profissionais, requerendo ação compartilhada como norma filosófica e de atuação. O exercício da gestão incluiria, pois, desde o envolvimento com as atividades peculiares do processo educativo como a participação no Conselho de Escola, Conselhos de Classe, nas reuniões com os pais e com a comunidade, entre outras (p.29).

Para a superação desses obstáculos, faz-se urgente a troca de experiências entre professores. As equipes de professores precisam “de tempo para planejar e preparar, eles precisam de tempo para articular o ensino, eles precisam de tempo para participar suas perspectivas para o sucesso de seus esforços”. Nesse sentido, cabe aos diretores atuar diretamente na organização da rotina escolar, criando condições para que os professores tenham esse tempo para estruturação de ações colaborativas. (CARNEIRO, 2006, p.52).