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DIVISÃO TÉCNICA DO TRABALHO

No documento cadernodetextoseixoIII.versãofinal (páginas 40-46)

Organização do trabalho, dentro de um mesmo processo, em atividades especializadas ou específicas que correspondem a uma

parte do processo. Exemplo: identificação das especialidades na leitura horizontal de um organograma; atividades específicas realizadas em uma cadeia produtiva como a do petróleo: extração,

.

A divisão técnica do trabalho é típica do modo de produção capitalista. Refere-se à fragmentação de uma especialidade produtiva em numerosas operações limitadas, de modo que o produto resulta de uma grande quantidade de operações executadas por trabalhadores especializados em cada tarefa. Surge em meados do século XVIII com a manufatura e caracteriza o

sistema de fábricas. O capitalismo industrial começa quando um grande número de trabalhadores é empregado por um capitalista (Braverman, 1981).

Inicialmente, o processo de trabalho era igual ao executado na produção feudal, no artesanato. O domínio do processo estava com os trabalhadores. Ao reuni-los, seja na oficina capitalista, seja no hospital, surge o problema da gerência. Para o próprio trabalho cooperativo já era necessário: ordenar as operações, centralizar o suprimento de materiais, registro de custos, folha de pagamentos etc. No capitalismo industrial manufatureiro, os trabalhadores ficam especializados em parcelas (tarefas/atividades específicas) do processo de produção dentro de uma mesma especialidade produtiva, e o controle do processo passa para a gerência.

Essa mudança tem como conseqüência para os trabalhadores a alienação e para o capitalista constitui-se em um problema gerencial. Essa forma de divisão do trabalho não apenas fragmenta o processo permitindo um aumento da produtividade como também hierarquiza as atividades, atribuindo valores diferentes a cada tarefa executada por diferentes trabalhadores ou grupo de trabalhadores específicos. Assim, aumenta a produtividade não só pelo aumento numérico dos produtos em uma determinada unidade de tempo como também aumenta a produtividade diminuindo o custo da força de trabalho comprada pelo capitalista.

A emergência da divisão técnica do trabalho (Abercrombie, Hill & Turner, 2000) ocorre dentro de um processo mais amplo de mudanças, no qual se destacam: a

apropriação capitalista dos meios de produção (força de trabalho, objetos de trabalho e instrumentos); a associação de diversos trabalhadores em um mesmo espaço físico, onde cada um desenvolve uma tarefa específica, e o produto só é obtido como resultado do trabalho coletivo, ou, nas palavras de Marx (1980), o produto resulta de um trabalhador coletivo; a modificação do papel da gerência para o de controle do processo e da força de trabalho; e a expropriação do trabalhador do produto do seu trabalho. Opera-se uma divisão entre trabalho manual (que transforma o objeto) e intelectual (a consciência que o trabalhador tem sobre o trabalho), separa-se concepção e execução.

O gerente controla o trabalho dos outros organizando o processo de trabalho com vistas a tirar o maior resultado possível. Gerência, como organização racional do trabalho no modo capitalista de produção, envolve o controle do processo de trabalho e do trabalho alienado, isto é, da força de trabalho comprada e vendida. A função da gerência, que no início do capitalismo é desenvolvida pelo proprietário do capital, passa a ser exercida por trabalhadores contratados, que, ao mesmo tempo, são empregados e empregadores de trabalho alheio, recebem melhor remuneração que os demais, representam e se articulam com os proprietários do capital, controlam o trabalho dos outros e organizam o processo de trabalho visando ao lucro (Braverman, 1981). O principal teórico da gerência aplicada ao modo de produção capitalista é Frederick Winslow Taylor (1856-1915) que formula o que chamou de „princípios da gerência científica‟, incluindo a separação entre concepção e execução do trabalho; a separação das tarefas entre diferentes trabalhadores; e o detalhamento da atividade de modo que a gerência possa controlar cada fase do processo e seu método de execução, buscando obter maior produtividade do trabalho.

IMPORTANTE

II - A forma de divisão da sociedade em que uns são proprietários

dos meios de produção – ferramentas, matérias-primas,

conhecimentos – e outros são somente proprietários da força de

trabalho – energia gasta no dia-a-dia e o conhecimento de como

executar a sua tarefa no processo produtivo – é a base para o que chamamos de sociedade capitalista

I - Só passou a haver efetiva divisão quando se instalou uma separação entre trabalho manual e trabalho intelectual. Enquanto execução e reflexão andaram juntas nesse processo, o indivíduo pôde, de algum modo, realizar-se em sua ocupação

PARA PENSAR

1. O que determina a divisão social do trabalho?

2. No seu cotidiano nos serviços de saúde, como você observa a divisão do trabalho?

3. De que forma os trabalhadores de saúde podem se afastar (se alienar) do sentido de seu trabalho (o cuidado)?

TEXTO 3

O TRABALHO EM SAÚDE

Divisão Técnica do Trabalho em Saúde

A expressão „divisão técnica do trabalho em saúde‟ diz respeito a características da „divisão técnica presente na forma de organização e produção do cuidado prestado por diversos grupos profissionais a seres humanos com carências de saúde. Refere-se à forma de organização do trabalho coletivo em saúde na qual se identificam a fragmentação do processo de cuidar; a separação entre concepção e execução; a padronização de tarefas distribuídas entre os diversos agentes, de modo que ao cuidador cabe o cumprimento da tarefa, afastando-o do entendimento e controle do processo; a hierarquização de atividades com atribuição de diferentes valores à remuneração da força de trabalho.

O modelo da biomedicina que ficou bem caracterizado com o chamado modelo flexneriano, baseado no relatório do mesmo nome e datado de 1910, orientou a

organização das escolas médicas nos EUA e contribuiu para a estruturação de um modelo de organização do trabalho que distancia o médico do entendimento do seu objeto fragmentando o ser humano, ao focalizar a atenção na „parte afetada do corpo‟, e influencia não apenas a medicina, mas o conjunto das profissões de saúde, em maior ou menor grau, bem como a organização do trabalho coletivo institucional.

Na prática cotidiana, os profissionais de saúde, como sujeitos do trabalho, exercem certa autonomia técnica concebida como liberdade de julgamento e tomada de decisão frente às necessidades de saúde dos usuários. Essa característica ocorre junto com as diferenças técnicas especializadas e a desigualdade de valor atribuído a esses distintos trabalhos. A hierarquia de trabalhos e de saberes marca as diferenças de custo da força de trabalho e manifesta-se nas relações de trabalho resultando em tensões entre os diversos agentes, com conflitos explícitos ou não (Peduzzi, 2001; Pires, 1998).

Ocorre certa compartimentalização de ações e perda de controle do processo assistencial, no entanto, a gerência da instituição não consegue submeter, de modo rígido, o trabalho da equipe multiprofissional, e “não é possível desenhar um projeto assistencial único e definitivo antes de sua implementação” (Peduzzi, 2001, p. 105). A gerência não consegue dominar a concepção e nem controlar rigidamente os processos de execução do trabalho, há um espaço de autonomia técnica (Peduzzi, 2001; Pires, 1998; Campos, 1997).

O ato assistencial em saúde envolve um conhecimento sobre o processo que não é dominado pela administração da instituição, e nem existe uma equipe de técnicos e gerentes que determine qual é a tecnologia assistencial que será empregada e qual o papel de cada trabalhador, como pode ocorrer nas empresas da produção material. Os profissionais envolvidos dominam os conhecimentos para o exercício das atividades específicas de sua qualificação profissional, aproximando-se, desta forma, das características do trabalho profissional.

Majoritariamente, o assistir/cuidar em saúde envolve um trabalho coletivo no qual é possível identificar duas características básicas – as da divisão e as do trabalho do tipo profissional. Trabalho profissional, no sentido de trabalho especializado e reconhecido socialmente como necessário para a realização de determinadas atividades, entendendo profissão como uma forma de trabalho portadora de características semelhantes as do

„trabalho artesanal‟ desenvolvido na Idade Média, na Europa – aquele trabalho desenvolvido nas corporações de artífices por produtores que tinham controle sobre o seu processo de trabalho, controlavam o ritmo, eram proprietários dos instrumentos, tinham controle sobre o produto, bem como, da produção e reprodução dos conhecimentos relativos ao seu trabalho (Braverman, 1981; Marglin, 1980; Marx, 1982; Machado, 1995).

Neste sentido, a divisão de atividades entre os diferentes profissionais de saúde assemelha-se à „divisão social do trabalho, por envolver ações assistenciais realizadas por grupos de trabalhadores especializados, ou seja, que dominam os conhecimentos e técnicas especiais, para assistir indivíduos ou grupos populacionais com problemas de saúde ou com risco de adoecer, desenvolvendo atividades de cunho investigativo, preventivo, curativo, de cuidado, de conforto ou com o objetivo de reabilitação, quando os indivíduos ou grupos sociais não podem fazer por si mesmos ou sem essa ajuda profissional. O „trabalho coletivo em saúde‟ aproxima-se da „divisão técnica do trabalho‟ quando os participantes da equipe de saúde distanciam-se do entendimento do seu objeto de trabalho, têm menor domínio sobre o seu processo de trabalho de modo que têm menos instrumental tanto para intervir na concepção do trabalho quanto para intervir criativamente no agir cotidiano. Assim, distanciam-se do entendimento da finalidade do seu trabalho e ficam mais submetidos às decisões gerenciais.

Quanto maior o controle sobre o processo de trabalho mais próximo da divisão social do trabalho; e quanto menor o domínio sobre o processo de trabalho maior aproximação com a divisão técnica do trabalho.

Em algumas profissões da saúde, como, por exemplo, enfermagem, fisioterapia, farmácia, nutrição e, também, certas práticas da odontologia, o trabalho é desenvolvido por trabalhadores com graus diferenciados de escolaridade. A coordenação do trabalho, dentro do grupo profissional, é exercida pelos profissionais de nível superior que concebem o trabalho e delegam atividades parcelares aos demais participantes da equipe

No trabalho da enfermagem, algumas características da divisão técnica do trabalho e da sua sistematização realizada por Taylor, conhecida como „organização científica do trabalho‟ (OCT). Estas se evidenciam quando o mesmo é organizado com base no chamado „modelo funcional‟, no qual o foco é a realização da tarefa distanciando o trabalhador do controle do seu processo de trabalho e da interação com o sujeito cuidado.

O trabalho é mais repetitivo, com pouca autonomia e pouco espaço para ações criativas e para participação no processo decisório do cuidar. Aos enfermeiros e enfermeiras cabe o gerenciamento da assistência de enfermagem, com maior aproximação e controle sobre a concepção e o processo de cuidar; e aos demais trabalhadores que compõem a equipe cabe a execução de tarefas delegadas.

No documento cadernodetextoseixoIII.versãofinal (páginas 40-46)

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