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Academic year: 2021

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Prefeitura do Recife Secretaria Municipal de Saúde

Diretoria Geral de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde/Diretoria Geral de Atenção a Saúde

CURSO DE FORMAÇÃO

TÉCNICA DE AGENTE COMUNITÁRIO DE

SAÚDE

II Etapa Formativa

CADERNO DE TEXTOS

EIXO III

Fascículo 1

2011/2012

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Elaboração: Secretaria Municipal de Saúde

Diretoria Geral de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde/ Diretoria Geral de Atenção a Saúde

Secretário Municipal de Saúde: Gustavo Couto Secretário Adjunto: Tiago Feitosa

Diretoria Geral de Assistência a Saúde: Bernadete Perez

Gerência de Atenção Básica Thatiane Torres

Diretoria Geral de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde

Cinthia Kalyne de Almeida Alves

Gerência de Formação e Educação em Saúde: Juliana Siqueira

Gerência Operacional de Educação Permanente: Christiane Almeida

Coordenador Geral do Curso: Gustavo Dantas Equipe Técnica:

Ednaiptan de Souza Silva Gabriel Pereira Gustavo Dantas Jarbas Nunes Mauricéa Santana Patrícia Pessoa Samuel Camêlo Revisão técnica:

Cinthia Kalyne de Almeida Alves Giliate Coelho Neto

Gisele Cazarin

Consultoria Técnica: Itamar Lages

Secretaria Escolar: Milena Cazarin

A

Secretário Estadual de Saúde: Antônio Carlos Figueira

Secretaria Executiva de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde: Fernando Menezes

Diretoria Geral de Educação em Saúde: Maria Emília Higino

Escola de Saúde Pública de Pernambuco: Patrícia Coutinho Equipe Técnica: Irenilda Magalhães Zenóbia Lima Bernadete Carvalho Michelline Lira Emanuella Rolin Patrícia Caline Parcerias:

- Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG)

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APRESENTAÇÃO DO EIXO

Caro estudante, seu curso terá três unidades até o fim do curso, totalizando seis Unidades (três unidades na Etapa I, duas na Etapa II e uma na Etapa III). Agora, estamos num momento muito importante em nossa formação, o ultimo eixo da Primeira Unidade da Etapa II do Curso Técnico em Agente comunitário de saúde.

Neste eixo, a temática principal será a “Gestão do Processo de Trabalho”, o como fazer no trabalho do ACS, como se organiza o cuidado prestado por este profissional junto ás comunidades do Recife, tema fundamental quando se busca a qualidade na Atenção Básica. Este terceiro eixo vem fechar a formação desta Primeira Unidade, que começou com a aula sobre Estado e Sociedade, passando pelo segundo eixo, que problematizou o cuidado e a inserção do ACS na Atenção Básica no SUS.

Agora falaremos sobre o processo de trabalho, tema forte na saúde, já que o cuidado é feito sobretudo por pessoas, e, neste sentido, é nas relações que as pessoas travam com o seu trabalho e umas com as outras que o cuidado surge.

Recordando um pouco o que já vivenciamos, vimos no primeiro Eixo a importância para o trabalho do ACS de entender as relações entre os grupos da sociedade junto ao Estado, de como os grupos se organizam para lutar contra a opressão e por melhores condições de vida, e neste sentido, lutar pelo direito a saúde. Assim, discutimos a história do surgimento da profissão do ACS, fortemente ligado aos movimentos sociais e a própria construção do SUS, exercendo um papel decisivo na Oitava Conferência de Saúde. Discutimos aqui os rumos da profissão do ACS, discutindo também os rumos do SUS, em vista o fortalecimento da atenção primária a saúde, garantido integralidade, universalidade e equidade, como também, a reorganização dos modelos no sentido da superação do “hospitalocentrismo” e da privatização direta e indireta do Sistema. Um dos caminhos apontados foi a qualificação do acolhimento, tornando o cuidado mais resolutivo e

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humanizado. Desta forma, o que marcou este eixo foi a problematização do papel do ACS na luta por um sistema público universal de saúde que garanta qualidade na atenção, com integralidade e resolutividade. Aqui marca o sentido político desta formação, ou seja, o saber ser.

Já no segundo eixo, o tema foi o cuidado na atenção básica e o papel do ACS na garantia de um cuidado qualificado às comunidades e pessoas. Podemos aqui entender que saúde e doença podem ser vistas desde restrita a sintomas no corpo físico ou de uma forma ampla, através do modo como as pessoas e populações se relacionam com sociedade, umas com as outras, com natureza e com elas mesmas. Para cada uma destas diversas formas de ver o processo saúde-doença vai variar o modo como cuidamos de quem demanda cuidados. Se pensarmos a saúde como determinada socialmente, como produto da relação homem e natureza, em determinado tempo histórico, falar de produção de saúde é pensar um cuidado amplo, ético-político, intersetorial e transdisciplinar, ultrapassando a idéia de que saúde é apenas comprimidos e dietas. E neste sentido, o ACS possui um importante papel, pois conhece profundamente as demandas de saúde de sua comunidade, pois vive na comunidade onde atua. Vimos também que, olhando a saúde desta forma, demanda pensar em estratégias que não só curem, mas que Promovam Saúde, apontando para se pensar saúde não como ausência de doença, mas como qualidade de vida, como um viver bem. E para isso a Atenção Primária a Saúde possui importante papel, pois promove um olhar sobre a vida dos sujeitos, com geração de vínculo e responsabilização. Aqui marca o sentido do saber conhecer.

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Agora chegamos ao terceiro eixo com um grande desafio, como fazer com que o curso promova de fato mudança no modo de trabalhar das Equipes de Saúde da família da rede de atenção básica de saúde? Para cumprir com este desejo, devemos centrar o olhar no processo de trabalho das equipes, no “saber fazer” dos ACS e na relação destes como outros profissionais. É hora de problematizar a atenção prestada pelo ACS, as dificuldades vivenciadas, soluções e pactuações, respeitando as singularidades e discutindo a partir da realidade das equipes. Discutiremos visita domiciliar, os trabalhos com os grupos de educação em saúde, instrumentos de informação e ferramentas que qualifiquem o trabalho do ACS e fortaleçam a atenção básica.

Esperamos que este caderno o ajude nesta nova etapa deste curso. Bom estudo!

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EMENTA DO EIXO III

EIXO II

Cuidado, vulnerabilidade e promoção da saúde.

PERFIL

DOCENTES/PRECEPTOR/MONITOR

Profissionais de saúde de nível superior inseridos na rede de saúde do Recife.

CARGA HORÁRIA

45 horas/aula teóricas 8 horas/aula prática

EMENTA

Analisar os fundamentos da promoção da saúde, e suas ressonâncias na atenção primária a saúde e na estratégia saúde da família.

OBJETIVO GERAL

Conhecer os conceitos de promoção da saúde, vigilância, vulnerabilidade e a relação destes conceitos com a prática dos serviços de atenção primária a saúde e saúde da família.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

 Conceito saúde-doença-cuidado;

 Condicionantes e determinantes sociais da saúde,

 Vulnerabilidade e vigilância em saúde.

 A promoção da saúde na VIII Conferencia Nacional

de Saúde e seus desdobramentos nas leis e normas do SUS.

 As conferencias internacionais e suas cartas:

 Conceito de promoção da saúde;  Ambientes saudáveis;

 Alma Ata

 Atenção primária a saúde e atenção básica a saúde.

 A Agente Comunitário de Saúde na Estratégia

Saúde da família e no Programa de Agentes Comunitário de Saúde.

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COMPETÊNCIAS

 Analisar os riscos sociais e ambientais, relacionados

a saúde da população, em sua micro área.

 Identificar a relação entre problemas de saúde e

condições de vida.

 Identificar situações e hábitos presentes na

localidade que são potencialmente promotores de saúde.

 Fazer uma escuta qualificada das necessidades de

cuidado dos sujeitos e coletivos.

 Fazer a visita domiciliar, identificando riscos

potenciais à saúde das famílias de sua área, atuando junto à equipe, e outros setores, para saná-los.

 Compreender o papel da atenção básica e atenção

primária a saúde na re-configuração da atenção à saúde.

 Ter um olhar amplo e aberto com relação às

necessidades de saúde dos sujeitos e coletivos.

METODOLOGIA DE ENSINO

O processo metodológico estará ligado a aspectos significativos da realidade do educando, imprimindo discussões e instrumentalizações de cunho dialógico e problematizador. O ensino será desenvolvido em forma de aulas teóricas e prática onde serão abordados os assuntos atuais no contexto ensino-serviço.

RECURSOS DIDÁTICOS

Caderno de textos;

Quadro branco e pincel piloto; Projetor multimídia e retroprojetor; Cartolina, tesoura, cola e papel madeira;

SISTEMA DE AVALIAÇÃO

A avaliação será contínua e processual através de: debates, estudo dirigido, estudo de caso, e os fatores globais e as competências específicas previstas no Diário de Classe.

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AULA 1: PROCESSO DE TRABALHO

TEXTO 1

Humanização na Saúde e Cidadania: o caminho para o SUS

Maria Beatriz Kunkel

Conselheira, compõe a Mesa Diretora do Conselho Estadual de Saúde/RS; Coordenadora do conselho Regional de Saúde da 6ª Região de Saúde do RS.

Esse texto foi composto a partir da transcrição de algumas palestras que a autora fez sobre o SUS e de algumas entrevistas que foram utilizadas na Tese de Doutorado de Alcindo Antônio Ferla, que ajudou na organização deste texto e a quem agradeço pela ajuda.

O ATENDIMENTO HUMANIZADO NO COTIDIANO DOS SERVIÇOS

Dizem que quando os professores sentam-se para refletir sobre suas funções e seu papel, os alunos levantam-se para aplaudir. Quando os gestores, os prestadores e os profissionais de saúde sentam-se para discutir suas funções, planejar e qualificar o atendimento prestado à população, nós, os usuários, aplaudimos.

Eu sou membro do Conselho Estadual de Saúde (CES/RS), onde participo da Mesa Diretora como representante da região de Passo Fundo, e do Conselho Regional de Saúde dessa Região (6ª), no qual represento os agentes voluntários de saúde, os agricultores familiares e as trabalhadoras rurais. É com esses atores e com a realidade que vivem que eu, que sou filha de agricultores e gaúcha, com muito orgulho, aprendo, e é envolvida com essa realidade que eu compartilho meus conhecimentos. É com essa realidade que eu penso e que nós, usuários, falamos sobre humanização do atendimento

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de saúde e defendemos a qualidade dos serviços prestados com ações eficientes no Sistema Único de Saúde (SUS).

Para isso, preciso explicar o que nós usuários envolvidos na construção e na defesa de políticas públicas mais saudáveis entendemos por SUS. Ouvimos que há problemas na concepção do SUS, que ele não é viável na forma como foi pensado. Descaminhos do SUS não existem; existem caminhos que não são SUS e que não levam até ele. Na 11ª Conferência Nacional de Saúde, um painel de apresentações mostrava experiências que deram certo e um dos apresentadores dizia que experiências que deram certo são o próprio SUS. Experiências que vêm dando errado não são SUS. O que nós temos hoje são atores comprometidos com o SUS e atores que não estão comprometidos com os princípios do SUS. Ouvimos de alguns atores que o SUS é somente para pobres e indigentes e, para nós, isso não é SUS; é descompromisso com o SUS. Para os atores que estão envolvidos com outros projetos de sociedade e de organização do atendimento em saúde, avanços do SUS são um problema e, por isso, vêm resistindo a sua implementação.

Muitas vezes, as práticas no interior do sistema de saúde, inclusive em serviços vinculados ao SUS, fragmentam o usuário em um conjunto de áreas de especialidades. Esse é um dos pontos que gostaria de chamar atenção para pensar na humanização do atendimento. Como se pode falar de humanização se a pessoa é dividida em inúmeras partes, se ela é toda fragmentada em órgãos e sistemas? Como se pode falar

de humanização se, para tratar de um problema de saúde, a pessoa é encaminhada de um especialista para outro, sem soluções adequadas e, muitas vezes, sem sequer ser ouvida? Se cada profissional olha para um pedaço do seu corpo como se pedaços isolados tivessem vida autônoma? As pessoas somente são pessoas e, portanto, humanas, na sua inteireza - e é dessa forma que os serviços e os profissionais que querem produzir cuidados humanizados devem orientar seu trabalho. O atendimento e o acesso humanizados são obrigações do SUS e dos seus trabalhadores para com os usuários.

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Outro aspecto da desumanização do atendimento é a relação que se estabelece entre o profissional e o usuário, que diminui o usuário. Ele é transformado em “paciente” e colocado numa situação de inferioridade em relação ao profissional. Como é que se pode falar em humanização se a pessoa fica insignificante diante do médico? Não é possível que o usuário consiga reagir e construir sua saúde se, na relação com o profissional que o atende, ele fica submetido, inibido em seu saber e sem possibilidade de iniciativa.

O atendimento de saúde normalmente é feito com uma entrega para o profissional. A mãe entrega seu filho, o doente entrega seu corpo. O que sabe o profissional da vida do filho, isolado e entregue, ou do doente? Como se pode falar em humanização se a vida que se vive fora do consultório ou do hospital não busca ser conhecida pelo profissional de saúde? Como saber quais são as providências melhores para aquela pessoa que está diante de si, sem conhecer o modo como vive e como trabalha, quais são suas preocupações e o que quer fazer? Quando a pessoa está no meio dos seus semelhantes, fala da dor e dos problemas que está vivendo. Quando está diante do profissional de saúde, que domina a situação, as falas restringem-se ao que pergunta e valoriza o médico. Um atendimento que desconsidera os modos de vida das pessoas não pode ser humanizado e também não será resolutivo.

Desumanização do atendimento também acontece quando o usuário é reduzido ao “paciente” ou o “caso do quarto 280”, ao qual se prescrevem medicamentos. No outro lado dessa situação, quando o usuário é entendido como um cidadão, passamos a ter um problema, que tem uma origem específica, um conjunto de alterações que afetam a pessoa adoecida, sua família, seu grupo social. Outra lógica organiza o atendimento, já que ocupar um quarto e ter uma doença passam a ser características que acompanham a pessoa adoecida e não sua própria identidade. E outros serão, com toda certeza, os encaminhamentos.

Costumamos ouvir dos profissionais que, quando o doente está em situação de maior gravidade, ele “está desenganado”, já que se chegou no limite da capacidade da medicina em resolver seu problema. Ora, se há um momento no atendimento em que o usuário é “desenganado”, então se pode supor que até então ele foi “enganado”.

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Humanizar o cuidado em saúde é “desenganar” o tempo todo. O atendimento em que o usuário é enganado não pode ser um atendimento humanizado. Quando quem sabe de sua saúde é apenas o médico e quando cabe ao doente apenas obedecer às prescrições do profissional, como se fossem ordens, não há humanização do atendimento e nem na relação entre eles. O sofrimento acomete a pessoa que está doente e ela precisa ser informada de todas as possibilidades de atendimento que têm. A pessoa adoentada precisa saber e participar da decisão do que irá lhe acontecer. Ela precisa ter respeitada a sua cultura, seus costumes. Por exemplo, nós defendemos o uso de medicamentos produzidos com plantas medicinais, que são usadas há muitos séculos pelas pessoas e a partir dos quais são extraídos princípios ativos para a produção de medicamentos, por exemplo. Os profissionais de saúde precisam aprender sobre o uso dessas formas de cuidado e não somente dos medicamentos produzidos a partir dessas plantas. Enganam os doentes quando dizem que somente tem efeito para tratar de doenças os medicamentos produzidos pelas indústrias, com fortes interesses na venda de seus produtos.

Os profissionais de saúde costumam “enganar” os doentes não somente sobre a gravidade da sua doença e sobre os procedimentos realizados. Enganam também quando não informam sobre as causas das doenças e dos sintomas que as pessoas apresentam. Nós sabemos que o uso de defensivos agrícolas causam problemas de saúde: problemas de pele, problemas renais, malformações congênitas. Os agricultores são orientados a proteger-se com capas, luvas e máscaras quando usam defensivos agrícolas na lavoura. Mas, e os efeitos que esses defensivos causam por meio das frutas, legumes, verduras e outros produtos “tratados” que consumimos?

Quando um doente procura o médico com feridas na pele, recebe antibióticos e outros remédios para tratar a infecção. Depois de receber o remédio, volta para o local onde vive ou consome novamente os produtos que lhe causaram a reação. Sofre novos problemas, recebe outros remédios. Para humanizar o atendimento também é preciso aprender sobre os danos que agrotóxicos, defensivos e outros produtos utilizados na agricultura causam à saúde e devem ser evitados. Os profissionais devem aprender esses efeitos e “desenganar” os doentes, que também são enganados sobre isso pelas propagandas desses produtos nos jornais, revistas e na televisão e pelo efeito aparente

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que eles têm sobre a produção, deixando-os maiores, mais coloridos e resistentes. Precisam preocupar-se também com as questões que vêm destruindo o meio ambiente. De pouco adianta tratar infecções na pele das crianças quando a causa desses problemas é o esgoto a céu aberto que passa pelo lado da sua casa e onde elas brincam antes de ir para a escola. As pessoas precisam ser informadas que o lixo e o esgoto causam problemas para a sua saúde e que têm direito de viver em situações em que essas situações estejam resolvidas pela prefeitura e por outros órgãos do governo. Senão o que acontece é que ela é “enganada”, que o que tem é uma infecção na pele e que, para resolver basta usar os remédios que o médico prescreveu.

Humanizar o atendimento também passa pelo trabalho em equipe, onde há igualdade na importância do trabalho e do conhecimento de cada uma das profissões e uma complementação entre eles. O usuário precisa de atendimento de qualidade. Problemas com o vínculo empregatício dos trabalhadores, de salário, das disputas entre as entidades que os representam e outros não podem interferir na qualidade do atendimento ao usuário. O trabalho em equipe implica em discussão conjunta, em que os profissionais sentem junto, para discutir os atendimentos e o melhor jeito de tratar da saúde. Se um usuário procura diversas vezes o atendimento, ao invés da prescrição regular de medicamentos, de calmantes, não será mais resolutivo o atendimento se o médico buscar auxílio dos demais profissionais (psicólogo, assistente social)? Não será mais adequado fazer uma visita domiciliar para compreender o modo de vida das pessoas adoecidas e, portanto, saber quais são as prescrições mais eficientes para aquela pessoa?

A SAÚDE PERTENCE AO MODO DE VIVER DAS PESSOAS

Humanizar o atendimento prestado aos usuários precisa fazer parte das reflexões dos trabalhadores da saúde, dos gestores e dos prestadores de serviço. Porque o atendimento humanizado é que está registrado na lei como o atendimento que deve ser prestado no SUS. Por isso nós, usuários que participamos dos fóruns de controle social e das instâncias de discussão sobre a saúde, o defendemos. Nós o defendemos também porque foram representantes das nossas lutas que garantiram seu registro na

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Constituição brasileira de 1988. Foram nossos representantes que registraram um novo conceito de saúde na Constituição.

Quando lemos o Relatório Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde, que aconteceu dois anos antes da promulgação da Constituição e que muito contribuiu para o que foi incorporado durante a Assembléia Nacional Constituinte, encontraremos lá um conceito de saúde que expressa essas idéias todas. Nós não entendemos saúde somente como ausência de doença ou como um “estado de bem-estar”. Saúde é a capacidade de lutar contra tudo o que nos agride e nos ameaça, inclusive a doença, e o atendimento humanizado de saúde deve conseguir fortalecer essa capacidade de luta. Um conceito de “bem-estar” só serviria, nesse sentido, para amortecer a capacidade e a necessidade de luta constante.

O que está escrito no Relatório Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde é que “em seu conceito mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio-ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida”. Essas definições são muito parecidas com aquelas que estão registradas na Constituição Federal de 1988 que, no seu Artigo 196, diz que a saúde é um direito de todos os brasileiros e um dever do Estado, que deve ser “garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Também é semelhante, e não podia ser diferente, àquela definição registrada na Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal nº 8080/90), no seu Artigo 3º: “a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país”.

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Ou seja, a definição de saúde engloba a atuação de outras áreas que não somente os serviços de saúde e, por isso, a saúde também está em outras partes da Constituição brasileira de 1988, inclusive para além da parte que trata da Seguridade Social, que é onde estão as principais definições sobre o modo como deve ser organizado o sistema de saúde brasileiro. Por exemplo, o Artigo 7º, que trata dos direitos dos trabalhadores rurais e urbanos, diz, no seu Parágrafo 4º, que entre esses está incluído o “salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”. Como se vê a saúde e o trabalho para construí-la e restabelecê-la nas pessoas adoecidas, que deve fazer parte do cuidado em saúde humanizado, não pode se restringir à prescrição médica de medicamentos. A saúde está relacionada com o modo de vida das pessoas e é com essa dimensão que o atendimento humanizado precisa estar conectado.

A SAÚDE DAS PESSOAS ESTÁ RELACIONADA À SAÚDE NA SOCIEDADE

O atendimento humanizado é aquele que ajuda a avançar num projeto de sociedade mais saudável. E isso não significa que se possa exterminar as doenças: sempre haverá problemas de saúde na população, mas podemos ter um projeto de sociedade mais saudável. É preciso entender que a saúde e a doença nascem e têm raízes sobre projetos de sociedade. Existem basicamente dois projetos, dos quais derivam os troncos de possibilidades. Esses troncos identificam os agentes que exercem o poder de definir as possibilidades vistas hoje e outras possibilidades que não se vê ainda e que não se sabe como serão. A saúde aparece como possibilidade plena na situação em que o interesse que exerce o poder é o povo e a forma com que esse poder se expressa é por meio da participação. Uma forma de governo que se apresente como do povo mas que não se exerça com participação da população eqüivale à forma de governo em que o poder é exercido por meio de um sistema privado de interesses, onde os meios de comunicação social exercem sempre muita influência, principalmente para enganar o povo.

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Este esquema permite que, ao ser utilizado, sejam construídos novos sentidos: são acrescentados novos galhos, novas raízes e novas palavras. Como a própria saúde, que é diferente em cada um. Nesse desenho eu gosto de mostrar que existem duas grandes formas de saúde: uma relacionada ao adoecimento e outra ao modo de vida saudável. Há uma relação entre as duas, já que a possibilidade de existência de uma situação em que as pessoas deixem de ter doenças (tal qual as descrevem os médicos) está relacionada, necessariamente, à possibilidade de uma vida mais saudável. Nesse projeto de sociedade saudável, continuarão certamente existindo situações de sofrimento das pessoas (adoecimento) e a necessidade de cuidados de saúde, embora com formas de apresentação diferentes das doenças que são descritas atualmente pelos médicos. Numa sociedade saudável, os recursos existentes serão distribuídos de forma mais justa e as soluções serão buscada de forma mais solidária.

Tem uma história que eu utilizo nas atividades de capacitação das quais eu participo que ajuda a pensar em como se pode fazer avançar esse projeto de sociedade mais saudável, mesmo no atendimento individual das pessoas adoecidas, por meio de um atendimento mais humanizado. A história escrita, da qual não conheço a origem, se chama “Pescador de ti”:

Dois amigos resolveram fazer uma pescaria. Chegaram à beira do rio, iscaram seus anzóis e, mal os colocaram na água, ouviram gritos e choro, que cada vez ficavam mais fortes. Olharam para os lados e nada avistaram. De repente, perceberam que os gritos vinham do rio e avistaram duas crianças descendo rio abaixo. Jogaram-se na água e, com muito sacrifício, conseguiram salvar as duas crianças. Nem bem haviam chegado à margem, ouviram novos gritos. Desta vez eram quatro crianças caindo rio abaixo. Jogaram-se na água e conseguiram salvar apenas duas crianças. Chegando novamente à margem do rio ouviram mais gritos. Agora oito crianças descendo a corredeira. Um deles lentamente começou a afastar-se do rio. O amigo, assustado, chamou-o de volta, dizendo-lhe: “estás louco? Vais me deixar aqui sozinho para salvar estas crianças?” Aquele que

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estava se afastando respondeu: “faça o que tu puderes, eu vou verificar quem está jogando estas crianças no rio!”

Muitos profissionais de saúde sabem fazer somente o que o primeiro pescador fez: a cada problema que aparece, tentam resolver. Alguns, é bem verdade, somente o fazem no horário de trabalho – sempre reduzido quando se trata dos médicos – e em condições específicas (o rio não pode ser muito fundo!). Mas é importante que os profissionais façam isso: é preciso tratar as doenças e fazê-lo da melhor forma possível. Mas isso não é suficiente, é preciso também atuar nas causas reais dos problemas. Essa é uma habilidade que poucos profissionais têm.

Quando falo isso, muitos me perguntam se eu estou me referindo à especialização dos profissionais, que aprendem a ver apenas pedaços da realidade que provoca sofrimento e adoecimento nas pessoas. Esse não é o principal problema. Os profissionais de saúde já saem das universidades dominando muitas tecnologias e conhecimentos especializados e cada um deles é melhor em alguma das áreas. Assim, em maior ou menor distância de onde a pessoa adoentada está, existem profissionais que têm o conhecimento especializado necessário. O problema é outro: muitos profissionais de saúde (os médicos em particular) sabem pedir exames e decifrá-los, sabem receitar os seus remédios, mas não sabem escutar qual é o problema. É importante dar remédios para as alergias, porque as alergias incomodam. Mas porque não perguntam se, por acaso, a pessoa não está utilizando hormônios no tratamento do gado ou agrotóxicos na lavoura? Porque não perguntam como é o trabalho e como está a vida em casa? Gasta tempo e, além disso, vão ter que pensar que o alimento que eles próprios estão consumindo em casa pode ter o mesmo produto que causa aquela reação. E aí vão ter que fazer mais do que pedir exames e receitar os “seus” remédios... Talvez o médico tivesse até que conversar com o psicólogo, com o assistente social, com o enfermeiro e com os outros profissionais para saber o que está acontecendo com a pessoa. Até mesmo ter contato com

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outros serviços públicos e áreas de governo, como na Secretaria de Agricultura, do Meio Ambiente, da Emater. Os médicos não sabem fazer isso! Não conseguem ir muito fundo no rio, como está indicado na história.

Os profissionais de saúde precisam “ir mais fundo” no atendimento das pessoas adoecidas, como disse a história. Não é possível que se deixe de denunciar as causas dos sintomas e do sofrimento das pessoas. Agrotóxicos, hormônios, alimentos transgênicos, situações no mundo do trabalho que põem em risco o trabalhador, a opressão de gênero, a falta de saneamento básico, etc.: essas situações precisam ser denunciadas e os profissionais de saúde, que estão mais próximos das conseqüências que causam sobre a saúde das pessoas, devem fazer isso. É por isso que a saúde é importante para os modos saudáveis de viver, para o fortalecimento das condições de um projeto saudável de sociedade.

Quando falo isso, algumas vezes comentam que talvez seja idealismo exagerado pensar que se pode interferir sobre projetos de sociedade apenas com as ações de saúde. Eu entendo que existem áreas que fazem parte de quase todas as atividades das pessoas. A agricultura, por exemplo: todo mundo precisa de alimento, e quem produz alimentos? Deveríamos produzir alimentos saudáveis, mas não é isso que acontece. A saúde também não é apenas uma pequena área, que diz respeito ao tratamento das doenças. Ela diz respeito à vida de todas as pessoas. Mesmo a ação mais pequena, aquela que envolve o médico e as pessoas adoecidas (que chamam de “paciente”). Outra história, que utilizo em minhas atividades e cuja origem também não conheço, ajuda a pensar nesses aspectos:

Certa lenda conta que estavam duas crianças patinando em cima de um lago congelado. Era uma tarde nublada e fria e as crianças brincavam sem preocupação. De repente o gelo se quebrou e uma das crianças caiu na água. A outra criança, vendo que seu amiguinho se afogava debaixo do gelo, pegou uma pedra e começou a golpear com todas as suas forças, conseguindo quebrá-lo e salvar seu amigo. Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino:

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– Como você fez isso? É impossível que você tenha quebrado o gelo com essa pedra e suas mãos tão pequenas!

Nesse instante apareceu um ancião e disse: – Eu sei como ele conseguiu.

Todos perguntaram: - Como?

– Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não poderia fazer! - respondeu o ancião

É preciso que os profissionais de saúde tomem para si uma função política que faz parte das boas práticas de saúde. É a função política de denunciar os modos de vida que não são saudáveis e produzir outras alternativas, saudáveis e fortalecedoras da vida. Há uma potencialidade de transformar os modos de vida em cada pequena ação. E é por isso que é preciso denunciar, tornar-se “impaciente” diante dos atendimentos que não ajudam a fazer isso, diante dos atendimentos que não são humanizados. Não somente naqueles em que existe um visível maltrato com o usuário (negligência, desleixo no atendimento, desdém ao seu modo de expressar-se, cobrança pelo atendimento que deve ser gratuito, etc.). Também quando os profissionais não querem preencher as fichas de investigação das relações entre as situações de adoecimento apresentadas pelas pessoas e o seu trabalho, por exemplo. Se a saúde é a capacidade de lutar contra o que produz sofrimento, não se pode ser “paciente” quando se está sendo cuidado. É preciso que os profissionais “desenganem” as pessoas adoecidas, o tempo todo, e que as pessoas mantenham sua impaciência, sua vontade de lutar, acesas o tempo todo. Senão, o que teremos não é somente doença, também morte, mesmo que o corpo continue vivo.

SAÚDE COMO PROJETO DE MUDANÇA

Para essa saúde maior, para esse projeto de sociedade mais saudável, é preciso mais solidariedade e mais participação de todos. A população ainda está muito acomodada, é preciso que reaprenda a tornar seu o caminho de uma sociedade mais justa e saudável e de um sistema de saúde conforme foi descrito na Constituição. Para isso precisamos formar profissionais mais humanos e capacitar conselheiros para sua função. É preciso “destramelar” a língua.

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Nossa sociedade, nossa família, as religiões e outras instituições ainda fazem com que se aprenda a calar sempre. Nós todos, usuários e profissionais de saúde, precisamos ensinar e aprender a falar, a “botar a boca no trombone”. É preciso participar das instâncias de controle social: Conselhos de merenda escolar, da criança e do adolescente, da saúde, da educação e da assistência, das associações de moradores, dos sindicatos, dos comitês da ação da cidadania, das audiências públicas nas câmaras de vereadores. A elaboração das leis que organizam o nosso ir e vir não são somente de responsabilidade dos prefeitos e vereadores. Também existem projetos de lei de iniciativa popular, que podem ser propostos pelos cidadãos quando julgarem que coisas podem ser mudadas. Essa acomodação é construída pelos governantes, pelos meios de comunicação, pelos interesses que dominam nossa sociedade, mas também nós nos acomodamos.

Quem trabalha na roça sabe que, quando se quer que os animais comam o pasto em uma área pequena é só amarrá-lo com uma corda curta. Soltando um pouco mais ele pode ir mais longe. A cada quatro anos nós ficamos assim: na véspera nos dão um pouco mais de corda e todos ficam felizes e votam, muitas vezes naqueles que amarram nossas cordas. Passa a eleição e encurtam a corda de novo. É preciso pensar nisso antes da eleição. O voto é uma arma poderosa para melhorar as condições de vida da gente. A participação também é um bom remédio.

A participação muitas vezes dá medo, porque nós não estamos acostumados com ela. Mas a experiência que temos é que muitas coisas podem ser mudadas. No Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (CES/RS), muitas vezes nós temos que suspender os repasses de recursos do estado aos municípios porque os Conselhos Municipais de Saúde são esvaziados pelas Prefeituras ou porque os secretários de saúde fingem que não sabem que alguns profissionais e serviços estão cobrando pelos atendimentos prestados aos usuários do SUS. Boas brigas já fizemos em defesa do SUS e dos direitos dos cidadãos. Esse é o papel dos Conselhos. Mas, para que possam exercer seu papel, é importante que as pessoas também façam o seu, participando dos Conselhos e denunciando os serviços, os profissionais e os gestores que não cumprem o que determina o SUS. É preciso discutir bastante antes de aprovar projetos, planos de aplicação de recursos, relatórios de gestão e outros documentos que devem passar pelos

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Conselhos antes de sua aprovação. Eles definem o destino dos recursos dos nossos impostos e a qualidade dos serviços que nós receberemos depois.

Os profissionais de saúde são muito importantes nesse processo. Temos que saber diferenciar os bons e os maus profissionais e também temos que ajudá-los no seu processo de formação. Nós que participamos do SUS no Rio Grande do Sul temos tido boas experiências com os estudantes nos estágios e nos congressos realizados nesses últimos anos. Aprovamos os projetos da Secretaria da Saúde, como o Formação Solidária da Saúde e a aproximação com as universidades, porque cada vez temos visto mais estudantes (de todas as profissões), reconhecendo as possibilidades de trabalhar no SUS. Mas as universidades ainda não estão muito mobilizadas. É preciso que se leia sempre a legislação do SUS, que diz que temos a obrigação legal de interferir na formação dos profissionais. Não basta que os conselheiros de saúde e que os usuários fiquem esperando que as universidades chamem. Precisamos mostrar impaciência também com aquelas que resistem a reconhecer a participação das pessoas e a interferência do SUS.

Tem um desenho que eu uso para falar sobre a formação dos profissionais e que tem uma estrutura parecida com o desenho anterior. Ele também é formado por dois quadros. No primeiro, temos um profissional de saúde que quer “tomar conta” dos doentes, provocando dependência, que está diante de um poço. A terra onde o médico está é a “terra do conhecimento”. O poço (“poço da ignorância”) tem uma pessoa dentro dele. O profissional então joga no fundo do poço alguns medicamentos e manda que o “paciente” tome como ele prescreveu e que não faça nenhuma pergunta. No outro quadro, está um profissional que sabe ajudar os outros a aprender e estimula a independência das pessoas: ao invés de jogar os medicamentos ele joga uma corda. Esse profissional busca saber porque a pessoa adoeceu e como poderá ficar melhor. Ajudado a sair do poço, ao invés de agradecer a um “doutor”, o doente pode agradecer a um amigo. Para um atendimento humanizado de saúde, os profissionais precisam aprender a combinar seus conhecimentos com a sabedoria do povo.

Eu gosto de dizer muitas vezes que é preciso lutar para ter saúde e que, para isso, precisamos mudar a sociedade. É chocante e até irônico constatar situações em que a

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mesma sociedade que negou o pão para o ser humano VIVER, lhe oferece a mais alta tecnologia para BEM MORRER. Nós, que estamos fazendo o SUS cada vez mais legal, precisamos perceber que saúde não é apenas o uso de medicamentos. Nossa saúde tem muita pressa e, para isso, precisamos de muita luta para viver melhor, mesmo quando estamos adoecidos. Precisamos participar mais. Precisamos ter mais saúde.

PARA PENSAR

1. Que elementos a autora aponta como caminho na busca da humanização da atenção à saúde?

2. Que tipo de saúde a autora defende?

3. Qual o sentido, para autora, do trabalho na saúde?

TEXTO 2

Refletindo...

Reproduzindo a cultura institucional

Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo centro havia uma escada e, no topo da escada, um cacho de bananas.

Toda vez que um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato forte de água fria nos que estavam no chão. Depois de várias tentativas e de vários banhos de água fria, quando qualquer macaco tentasse subir a escada para pegar as bananas, os outros o agrediam, de forma a inibi-lo em sua intenção de pegar as bananas. Dessa forma, após algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.

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Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos por um outro macaco, cuja primeira atitude foi subir a escada para pegar as bananas. Essa tentativa foi imediatamente coibida pelos outros, que o agrediram. Depois de algumas “surras”, o novo integrante do grupo “desistiu” das bananas. Um segundo macaco foi substituído e o

mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto também participado da agressão ao novato. Dessa forma, foram substituídos o terceiro, o quarto e o quinto macacos.

Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo experimentado o banho frio, não tentaram mais pegar as bananas e não deixaram que qualquer um tentasse.

Se fosse possível perguntar a algum dos macacos por que batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “– Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...

“É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito” (Albert Einstein).

PARA PENSAR

1. Refletindo sobre o texto, como nossa história influencia no modo como pensamos e agimos?

2. Como podemos pensar em mudança no que pensamos e fazemos diante do: - sempre foi assim! ?

3. Na sua equipe, há dificuldades em pensar e agir de modo diferente? Por que?

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TEXTO 3

Recorte literal da revista Processo de Trabalho em Saúde

COMPONENTES DO PROCESSO DE TRABALHO

O modo como desenvolvemos nossas atividades profissionais, o modo como realizamos o nosso trabalho, qualquer que seja, é chamado de processo de trabalho. Dito de outra forma, pode-se dizer que o trabalho, em geral, é o conjunto de procedimentos pelos quais os homens atuam, por intermédio dos meios de produção, sobre algum objeto para, transformando-o, obterem determinado produto que pretensamente tenha alguma utilidade.

A reflexão crítica e contínua sobre o processo de trabalho e sua transformação é uma característica marcante da humanidade e constitui uma parte central do processo de desenvolvimento humano. O grau de dificuldade dessa reflexão aumenta com a complexidade e com a indeterminação dos processos de trabalho. Quanto mais complexo o processo de trabalho e quanto menos sistematizado ele for, mais difícil será refletir sobre ele.

Essas são características muito presentes na ABS e no PSF. Por isso, é fundamental que os profissionais aí inseridos desenvolvam habilidades para a aplicação de instrumentos que possibilitem a reflexão crítica e a transformação do seu processo de trabalho.

Em um processo de trabalho, as finalidades ou objetivos são projeções de resultados que visam a satisfazer necessidades e expectativas dos homens, conforme sua organização social, em dado momento histórico.

Os objetos a serem transformados podem ser matérias-primas ou materiais já previamente elaborados ou, ainda, certos estados ou condições pessoais ou sociais.

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Os meios de produção ou instrumentos de trabalho podem ser máquinas, ferramentas ou equipamentos em geral, mas também, em uma visão mais ampla, podem incluir conhecimentos e habilidades.

Os homens são os agentes de todos os processos de trabalho em que se realiza a transformação de objetos ou condições para se atingir fins previamente estabelecidos.

O conceito e o esquema geral dos processos de trabalho são oriundos da economia e ganharam utilidade especial na análise de processos de trabalho específicos na ergonomia e saúde do trabalhador, na engenharia de produção e na administração.

ESPECIFICIDADES DO PROCESSO DE TRABALHO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Em uma prestação de serviços, o que se pretende como produto não é a modificação de matérias-primas ou de matérias pré-elaboradas que resultem em objetos úteis para o consumo individual ou coletivo. Essa é a imagem que mais imediatamente vem à nossa mente quando pensamos no processo de trabalho em geral, ligado à produção de bens de consumo. Por exemplo: transformar a madeira em uma mesa.

Na prestação de serviços em geral, o objetivo é a criação ou produção de certas condições ou estados para os indivíduos demandantes dos serviços. Por exemplo: prestar uma informação, cortar o cabelo, passar uma roupa.

Em alguns desses casos realizam-se, portanto, modificações nos próprios consumidores do serviço. Nessas situações, é preciso considerar que os consumidores do serviço são, também, sujeitos ou agentes do processo de trabalho e são, ainda, em alguma dimensão de seu ser, objetos desse mesmo processo de trabalho. Esses são os casos, por exemplo, da saúde e da educação.

Por fim, deve-se considerar que, nos processos de trabalho em geral, também os agentes são modificados pelo exercício de sua atividade produtiva e pelos resultados de sua produção. Esse fato se apresenta ainda mais intenso e diretamente na prestação de serviços, que se baseia em relações interpessoais entre o prestador de serviço e o usuário ou cliente e cujo objetivo é alguma modificação sobre esse usuário ou cliente.

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Nesse caso, o processo de trabalho é, necessariamente, um momento privilegiado e intenso na formação da subjetividade desse usuário e cliente. O profissional não pode estar alheio a essa dimensão de seu trabalho. Por um lado, porque ela é um de seus objetivos centrais e, por outro, porque a sua própria subjetividade também se forma e se transforma durante esse processo. A atividade produtiva é aí, então, direta e intensamente, produção de sujeitos, envolvendo os dois lados da relação: o usuário e o profissional. Assim é, como dissemos, na prestação de serviços em educação e saúde. Nesses casos, podemos dizer, portanto, que o próprio profissional é, também, de modo direto, objeto no processo de trabalho.

Esperamos ter ficado claro que o processo de trabalho na prestação de serviços se diferencia, em alguns aspectos, do processo de trabalho na produção de bens (produtos). Agora, veremos as especificidades da prestação de serviços na saúde e particularmente na Atenção Básica à Saúde.

Vamos, agora, aplicar ao processo de trabalho em atenção à saúde o esquema geral dos processos de trabalho, com a característica específica de ser uma produção de serviços e não de bens de consumo.

Entre as peculiaridades dos processos de trabalho na prestação de serviços, conforme exposto anteriormente, destacamos uma que é pertinente ao trabalho em saúde: o usuário é o objeto no processo de trabalho, mas é também um agente. Isso porque é em sua existência que as alterações buscadas irão ou não ocorrer. Por isso, é evidente que ele deve estar ativamente envolvido para que elas ocorram, por exemplo, fornecendo informações ou cumprindo recomendações que implicam, muitas vezes, mudanças de hábitos de vida (parar de fumar, emagrecer, etc.). Ou seja, o objeto da ação também age.

Na prática clínica, isso quer dizer que, muitas vezes, as prescrições e orientações dos profissionais de saúde sempre passarão pelo crivo do usuário, que é, enfim, quem decidirá o que será ou não feito. Podemos dizer que este fato é:

 Pouco menos importante ou desprezível em urgências e emergências e essencial em atenção básica;

 Menos presente nas doenças e eventos agudos, sendo determinante no acompanhamento de casos crônicos;

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 Pouco relevante quando a abordagem clínica se restringe ao aspecto biológico e a terapêutica se restringe à intervenção farmacológica ou cirúrgica;

 Importante quando se consideram aspectos psicossociais (inclusive comportamentais) na abordagem do problema e no plano terapêutico.

PARA PENSAR

1. O que se entende, segundo o texto, por processo de trabalho? 2. Quais os componentes que constituem o processo de trabalho? 3. Qual o produto do processo de trabalho na saúde?

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AULA 2 - TRABALHO EM EQUIPE

TEXTO 1

TRABALHO EM EQUIPE

É quando um grupo resolve criar um esforço coletivo para resolver um problema. Possibilita a troca de conhecimento e agilidade no cumprimento de metas e objetivos compartilhados. Na sociedade em que vivemos, o trabalho em equipe é muito importante, pois cada um precisa da ajuda do outro. (Wikipédia – Enciclopédia Livre)

Um grupo de trabalho é uma coleção de pessoas que trabalham na mesma área ou foram reunidas para desempenharem uma tarefa, mas não necessariamente formam uma unidade ou atingem melhorias significativas de desempenho.

Uma verdadeira equipe é formada por pessoas com habilidades complementares que confiam umas nas outras e estão comprometidas com um propósito comum, metas comuns de desempenho e uma abordagem comum pela qual se consideram mutuamente responsáveis. Estão comprometidas em trabalhar em conjunto com sucesso para atingir um fim comum.

Existem vários tipos de equipes em uma organização:

Grupo de trabalho – são equipes tradicionais, formal que atuam em uma mesma área ou setor.

Equipes de projeto e desenvolvimento - trabalham em projetos de longo prazo. Tem tarefas específicas e formam novas equipes para novos projetos.

Equipes paralelas - operam separadamente da estrutura regular de trabalho da organização numa base temporária. Sua tarefa é recomendar soluções para problemas específicos, tais como força-tarefa, equipe de qualidade ou segurança. É útil entender por que os grupos se formaram; como se transformaram em equipes; e porque os grupos algumas vezes não conseguem transformar-se em equipes.

(29)

As atividades em grupo se desenvolvem com a convivência das pessoas, no passar do tempo, porém, é necessário que se esteja atento para os comportamentos e movimentos dos grupos. À medida que os grupos se desenvolvem, participam de várias atividades, entre elas:

 Formação – os membros do grupo tentam estipular a regra básica sobre os tipos de comportamento aceitáveis – regras de convivência

 Tumulto – surgem hostilidades e conflitos e as pessoas competem por posição de poder e status – campo de disputa;

 Normatização – os membros do grupo concordam com suas metas partilhadas e as normas, juntamente com relações mais próximas se desenvolvem.

 Desempenho – o grupo canaliza suas energias para o desempenho de sua tarefa.

Os grupos que se deterioram passam para um estágio de declínio, e grupos temporários, acrescentam um estágio de intervalo ou de finalização. Os grupos terminam quando completam suas tarefas ou se desfazem devido ao fracasso ou perda de interesse.

As melhores equipes trabalham com afinco no desenvolvimento de um entendimento comum sobre como trabalharão em conjunto para atingir seus propósitos. Discutem e concordam sobre como as tarefas e funções serão distribuídas e como o grupo tomará decisão. A equipe precisa desenvolver normas para examinar suas estratégias de desempenho e acolher a mudança quando for adequado.

Deve ficar claro para cada um que todos trabalham muito, contribuem de maneira concreta para o trabalho da equipe e são responsáveis pelos outros membros a equipe. A responsabilidade mútua é aspecto essencial para um bom trabalho em equipe. A responsabilidade mútua inspira o comprometimento e a confiança mútua.

Uma das mais importantes propriedades de uma equipe de trabalho é a coesão que se refere a quanto a unidade de trabalho é atrativa para seus membros e até que ponto eles estão motivados a permanecerem na equipe, e ao grau em que os membros da equipe influenciam uns aos outros. Em geral, refere-se a quão estritas são as relações na equipe.

Nas equipes sempre haverá conflitos e administrá-lo adequadamente é fundamental para preservação da mesma. O conflito surge pelo próprio número de

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contatos, ambigüidades, diferenças de metas, competição por recursos escassos e perspectivas e horizontes de tempo diferente.

Entretanto, podemos dizer que o conflito pode contribuir para o crescimento da equipe, pois a maioria deles nasce das diferenças e diversidades de pensamentos e comportamentos entre as pessoas.

Os conflitos são construtivos quando melhoram a qualidade das decisões, estimulam a criatividade e inovação, além de encorajar interesses e a curiosidade entre membros de equipes, fornecem meios pelos quais os problemas podem ser manifestados, diminuindo tensões, e fomentam um ambiente de auto-avaliação e mudança (Bacal 2004).

Pesquisas revelam que há três tipos de conflitos: de tarefa, de relacionamento e de processo.

- O conflito de tarefa está relacionado ao conteúdo do trabalho e metas estipuladas para o trabalho;

·- O conflito de relacionamento envolve situações complexas, movidas por diferentes motivos e preocupações, sobre metas pessoais dos indivíduos, o relacionamento destes com outras pessoas e as metas de outras pessoas e;

·- O conflito de processo está relacionado ao fato de como o trabalho é executado, ou seja, ao processo de trabalho.

Os processos de conflito que envolve desempenho da equipe são originários da distribuição de tarefas, podendo, posteriormente, evoluir para um caso mais amplo de conflitos de relacionamentos entre os membros das equipes, podendo comprometer a estrutura do processo e seus procedimentos.

Na Estratégia de Saúde da Família o trabalho quando é executado em equipes coesas, que gerencia seus conflitos de forma a promover novas e criativas formas de executar suas atividades, sem dúvida facilita a construção de metas e objetivos, especialmente pela complexidade do objetivo de promover saúde que cabe a cada integrante das equipes de saúde.

Assim, reflita nas palavras abaixo:

Como você gerencia os conflitos na sua equipe de trabalho? O que levou você a ter esta percepção?

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PARA PENSAR

1. A partir do texto, qual tipo de equipe a sua se encaixa?

2. Qual a importância do ACS no trabalho das equipes de atenção básica? 3. Em sua unidade, o que dificulta o trabalho em equipe?

TEXTO 2

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO EM EQUIPE NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

No Programa Saúde da Família (PSF) o trabalho em equipe está colocado como um dos pilares para o alcance de sua finalidade, como uma estratégia para a mudança do atual modelo de saúde. Porém, as equipes ainda experimentam comportamentos divergentes, relações que muitas vezes são difíceis de compreender e é muito comum as pessoas não se motivarem tão facilmente pela socialização, pelo “fazer juntos”, procurando fazer sua parte. As equipes sofrem com competitividade, conflitos e hostilidade entre seus membros. Contrariando a idéia de que a equipe aumenta a satisfação com o trabalho, as evidências indicam que as pessoas experimentam um estresse substancial e contínuo enquanto membro de uma equipe (ROBBINS, 2002).

As equipes de saúde da família são estruturadas através da contratação de trabalhadores de diferentes categorias, alocadas no mesmo espaço físico, com atribuições definidas pela organização, caracterizando assim grupos formais que, segundo Robbins (2002, p. 211),

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[…] são definidos pela estrutura da organização, com atribuições de trabalho que estabelecem tarefas. Nesses grupos, o comportamento das pessoas é estipulado e dirigido em função das metas organizacionais […].

O trabalho em saúde implica interação constante e intensa de um conjunto de trabalhadores para realização da tarefa assistencial, do atendimento integral, de reconstrução dos modos de lidar com os saberes e disciplinas, necessários para o atendimento em saúde. Esse é um dos desafios dos componentes da equipe do PSF.

Piancastelli, Faria e Silveira (2005) definem equipe como:

[...] conjunto ou grupo de pessoas com habilidades complementares, comprometidas umas com as outras pela missão comum, objetivos comuns (obtidos pela negociação entre os atores sociais envolvidos) e um plano de trabalho bem definido [...].

Outra visão que complementa a anterior citada vem de Robbins (2002),

[...] As equipes multifuncionais representam uma forma eficaz de permitir que pessoas de diferentes áreas possam trocar informações, desenvolver novas idéias e solucionar problemas. Evidentemente, essas equipes não são nada fáceis de administrar. Seus primeiros estágios de desenvolvimento costumam ser bem trabalhosos e demorados, enquanto as pessoas aprendem a lidar com a diversidade e complexidade. Leva algum tempo para que se desenvolva a confiança e o espírito de equipe, especialmente entre pessoas com diferentes históricos, experiências e perspectivas.

Reconhece-se a necessidade da conscientização da diversidade de conhecimentos e habilidades entre os membros da equipe e que é possível articular as ações desenvolvidas pelos diferentes profissionais no sentido de interagir entre si, ter compromisso ético, respeito com o outro e com a clientela, motivação, planejamento, responsabilidade, e, acima de tudo objetivos claros, possibilitando assim a construção de um projeto comum. Corroborando com isso, Almeida e Mishima (2001) disseram:

[...] se esta integração não ocorrer,corremos o risco de repetir o modelo de atenção desumanizado, fragmentado, centrado na recuperação biológica, individual e com rígida divisão do trabalho e desigual valorização social dos diversos trabalhos [...].

Miura (2005) enfatiza que os componentes da equipe devem ser conscientes de que o trabalho em equipe é um processo dinâmico, onde os indivíduos desempenham papéis

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(comportamentos exibidos por cada membro) que podem se alterar de acordo com o momento e que podem influir na produtividade e alcance dos objetivos.

Se os papéis assumidos pelos membros da equipe do PSF não se adaptarem às necessidades, essa se torna ineficaz e não atinge o seu objetivo.Fortuna (2005) afirma que “trabalhar em equipe não significa ser igual. Significa trabalhar com diferenças e conflitos”.

Dentro da equipe cada membro pode apresentar um tipo de comportamento e se identificar com um papel que pode facilitar ou dificultar o seu desempenho.

Como comportamento facilitador podemos citar:

– comportamento de estabelecer – são pessoas que ajudam o grupo a iniciar o caminho. Propõem tarefas e objetivos, definem problemas, estabelecem regras e levantam idéias e sugestões ambíguas. Focam suas atenções nas alternativas e resultados antes do grupo. – comportamento de persuadir – requisita fatos e informações relevantes ao problema. Solicita sentimentos e valores. Pede sugestões e idéias. Responde aberta e francamente aos outros. Encoraja e aceita contribuições dos outros, expressando-se oralmente ou não verbalmente.

– comportamento de envolver – assegura que todos os membros participem do processo de tomada de decisão. Mostra a relação entre as idéias. Pode restabelecer um levantamento de sugestões com o grupo todo. Sumariza e oferece decisões potenciais para o grupo aceitar ou rejeitar. Pergunta para saber se o grupo está próximo a uma decisão. Tenta reconciliar pontos de desacordo e facilita a participação de todos na decisão. Ajuda a manter os canais de comunicação abertos, com o intuito de reduzir tensões, deixar as pessoas explorarem as diferenças, reconhecer e valorizar as contribuições.

– comportamento de monitorar – ouve tão bem quanto fala. Fácil para conversar. Encoraja sugestões vindas do grupo e tenta entender tão bem quanto ser entendido. Registra contribuições para serem usadas mais tarde. Demonstra envolvimento e evita interrupções.

E como comportamento de dificultador podemos citar:

– comportamento de manipular – responde ao problema rigidamente e persiste em usar respostas estereotipadas. Faz repetidas tentativas de usar soluções ineficazes para

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atingir os objetivos grupais. Seleciona e interpreta informações, assim como valida opiniões pessoais e censura sugestões.Responde com motivações, desejos e aspirações pessoais excluindo as públicas. Esforça-se na tentativa de ter as pessoas “como aliadas” à sua posição. Julga observações e anotações antes que o grupo entenda e examine. – comportamento de dominar – afirma sua posição pessoal dominante num esforço para a sua própria maneira, desconsiderando a dos outros. Pode reagir com hostilidade em direção aos aspectos do problema quando surgem bloqueios no processo.

– críticas e censuras são oferecidas diretamente ou através de sarcasmo e insinuações. Refuta a cooperação através de rejeição de idéias, do monopólio ou interrupção da conversação e da ação autoritária. Pode também se engajar em outros comportamentos agressivos como intimidações, desqualificação, rebaixamento do outro, exaltando a si mesmo.

– comportamento de dependência - encara as pessoas como “figura de autoridade”. Pode concordar com as pessoas, mostrando-se um “líder aberto”, mas abdica da solução do problema a outros e espera que alguém lidere a situação para a solução. Reluta em usar os recursos de outros ou de si mesmo como líder. Para escapar da tensão utiliza-se do humor, diversão ou comportamentos inadequados. Embaraça-se facilmente, é muito vulnerável à crítica. Utiliza-se freqüentemente de apologias. Busca constantemente o encorajamento e a liderança nos outros. Esforça-se para parecer simpático [...].

Na equipe do PSF é importante a alocação de papéis para que não haja centralização do trabalho em um só indivíduo, havendo assim complementaridade. Para que isso aconteça é necessário que haja: disposição de compartilhar objetivos, decisões, responsabilidade e também resultados, clareza da importância de construir em conjunto um plano de trabalho e definir a responsabilização de cada membro para alcançar o objetivo, consciência de necessidade de avaliação constante dos processos e resultados, percepção de que o fracasso de um pode significar o fracasso de todos e que o sucesso de um é fundamental para o sucesso da equipe. É importante também que haja disposição dos membros em ouvir e considerar as experiências um dos outros.

Como diz Fortuna (2005), “trabalhar em equipe não é algo harmonioso. Existem momentos de conflitos e esses não são negativos, ruins ou algo a ser evitado, mas são inerentes às relações, são possibilidades de crescimento que foram trabalhadas”.

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A comunicação é considerada como a principal ferramenta para que os conflitos sejam convertidos em crescimento para a equipe, um aprende com o outro e esse aprendizado é que promove crescimento.

Segundo Ribeiro, “o grupo é um campo de força, onde cada um atua sobre o outro e onde cada um é a miniatura do outro”.

O que leva a pensar que trabalhar em equipe é um desafio, onde cada membro desta deve estar consciente de que existe a necessidade de comunicação aberta, de uma prática democrática, que permita a cada integrante o exercício da prática individual,

porém integrada, criativa e saudável, evitando assim a rotulação e deterioração das relações interpessoais.

A conscientização dos membros pode se dar através de treinamento, mas é necessário garantir a educação permanente de todos os membros da equipe.

PARA

PENSAR

4. A partir do texto, qual tipo de equipe a sua se encaixa?

5. Qual a importância do ACS no trabalho das equipes de atenção básica? 6. Em sua unidade, o que dificulta o trabalho em equipe?

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AULA 3: DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E

TRABALHO EM SAÚDE

TEXTO 1

DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE TRABALHO

Ora bolas Nao me amole Com esse papo

De emprego, Nao ta vendo Nao to nessa E o que eu quero é

Sossego..

(Composição: Tim Maia [1942-1998], 1978).

Certamente você já ouviu essa música sendo cantarolada por aí, ela expressa uma opinião sobre o trabalho. Por que será que o autor diz que não quer saber de emprego, conseqüentemente, de um trabalho, ou ocupação? O que significa o trabalho para ele? Acreditamos que a realidade hoje seja diferente. Talvez uma questão importante que ocupa grande parte do tempo dos jovens na atualidade seja a busca por um emprego, para, através deste, poder conquistar dignidade e respeito entre seus familiares e/ou comunidade, adquirir mercadorias e produtos que julgue necessário, entre tantas outras coisas que o trabalho proporciona. Para tanto, empenha-se em um longo período de preparação. Entretanto, os seres humanos vivem uma contradição, tanto podem satisfazer-se pelo trabalho conquistando seus objetivos, quanto o trabalho pode significar sofrimento, cansaço, a monotonia das atividades repetitivas ou a exploração de suas capacidades físicas e intelectuais.

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Podemos pensar o que se entende por trabalho? Sempre foi da forma como é realizado hoje? Quais os significados que o trabalho vem adquirindo no decorrer da história? Para as sociedades atuais qual a importância do trabalho?

O QUE É TRABALHO?

Parece tarefa fácil definir o que significa o termo trabalho. Entretanto, quando nós iniciamos essa atividade, percebemos a complexidade do conceito, que pode ser visto sob vários prismas e adquirir significados diversos, desde o uso cotidiano, quando se fala “o trabalho da máquina escavadeira” ou “a mulher entrou em trabalho de parto,” até explicações filosóficas, que procuram entender as

dimensões do trabalho para o homem e para a vida em sociedade.

Na Filosofia, o conceito de trabalho é visto como a expressão das forças espirituais ou corporais em atividade, tendo em vista um fim que deve ser alcançado. Mesmo que não se produza nada imediatamente visível (trabalho intelectual) como um resultado exteriormente perceptível, um produto ou uma mudança de estado (trabalho corporal), pode existir uma separação entre o trabalho intelectual e o braçal, e essas duas formas de trabalho encaixam-se nesta definição.

Mas será que podemos separar trabalho intelectual e trabalho corporal? O pedreiro não utiliza inteligência e raciocínio para erguer uma parede de tijolos? O escritor não tem desgaste físico ao escrever um livro? Para pensadores, como Karl Marx (1818-1883), é por meio do trabalho que o homem modifica a natureza e o mundo para satisfazer as necessidades humanas (pessoais ou sociais) e assim transformar a natureza em objetos de cultura, ou seja, ao mesmo tempo em que a natureza é transformada, o mesmo ocorre com o homem.

Saibamos, o que distingue o trabalho humano dos animais é que naquele há consciência e intencionalidade, enquanto os animais trabalham por instinto, sem consciência. Outra característica do trabalho humano é que ele expressa a liberdade

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humana, visto que não podemos ser programáveis como um robô, podemos realizar as tarefas de formas variáveis e até nos realizarmos nelas.

PARA PENSAR

1. Utilizando a classificação do trabalho em trabalho corporal e trabalho intelectual, reflita como o trabalho do ACS se organiza nestas duas esferas?

TEXTO 2

A DIVISÃO DO TRABALHO

O termo divisão do trabalho refere-se às diferentes formas que os refere-seres humanos, ao viverem em sociedades históricas, produzem e reproduzem a vida. As variações encontradas no termo divisão do trabalho podem ser organizadas em grupos, cada uma referindo-se a diferentes

fenômenos sociais relativos às formas de produzir bens e serviços necessários à vida: As duas principais:

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