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A história dos estudos em comunicação na ciência surgiu nos EUA nos anos 1940, como decorrência do crescimento significativo e desordenado da literatura científica, que dificultava a recuperação de informações. Esses primeiros estudos objetivavam analisar os problemas do uso da informação por cientistas e tecnólogos (TARGINO, 2000).

Em comunicação, o termo mais difuso que conhecemos para relacionar a ciência com a sociedade é a “divulgação científica”, prática que entrou definitivamente na agenda do governo, e que pode, inclusive, ser atestada nas políticas públicas de comunicação da ciência atualmente. Como lembram Porto, Brotas e Bortoliero (2011), o objetivo do divulgador da ciência é fazer com o que o receptor entenda e discuta o conhecimento científico com propriedade, da mesma maneira como discute seu conhecimento cultural a respeito de fenômenos do mundo contemporâneo.

No Brasil, segundo Moreira e Massarani (2002), a divulgação científica tem pelo menos dois séculos de história, apresentando fases distintas, com finalidades e características que refletiam o contexto e os interesses da época, a exemplo de outros países.

Uma das primeiras tentativas de organização de associações com alguma preocupação com a difusão científica ocorreu com a criação da Academia Científica do Rio de Janeiro pelo marquês do Lavradio, em 1772. Em 1779, a academia fechou as portas e foi recriada pouco depois, com o nome de Sociedade Literária do Rio de Janeiro, mas acabou em 1794 por razões políticas. Ambas também tinham o objetivo de difundir aspectos determinados da ciência entre os interessados da elite local (MOREIRA e MASSARANI, 2002).

Já na segunda metade do século XIX, segundo Moreira e Massarani (2002), as atividades de divulgação se intensificaram em todo o mundo, depois da segunda revolução industrial na Europa. Com isso, os benefícios do progresso científico e técnico começaram a ter visibilidade, apesar da pesquisa científica ainda ser restrita, com quadro geral da instrução pública e da educação científica limitados a elite – o analfabetismo atingia mais de 80% da população brasileira. Nessa época, surgiu um interesse grande, embora difuso, por temas ligados às ciências. A divulgação científica que passou a ser realizada tinha como característica marcante a ideia de aplicação das ciências às artes industriais.

Em linhas gerais, apesar do conceito existir há muito tempo, a divulgação científica assumiu diferentes significados ao longo de sua história. A partir da década de 1950, seguindo a tradição de países anglo-saxônicos, o termo passou a ser utilizado como sinônimo de “popularização da ciência” para caracterizar atividades que buscam difundir o conhecimento científico para públicos não especializados. Outras expressões também são empregadas para caracterizar essas ações como: Comunicação Pública da Ciência, Vulgarização Científica e Jornalismo Científico (BAUMGARTEN, 2012).

De acordo com Caldas (2003, p. 75 e 76), a divulgação científica, e o jornalismo científico, como uma de suas vertentes, têm sido ferramentas utilizadas para a difusão e democratização do conhecimento para a inclusão social. Isso porque a percepção do papel educativo da mídia na formação da opinião pública e de uma consciência crítica sobre a influência da C&T no mundo moderno é fundamental para o exercício pleno de uma cidadania ativa. “A construção da cidadania é fruto do exercício democrático e participativo da informação como agente de transformação social”.

Essa proposição é corroborada por Oliveira (2002), para quem o acesso às informações sobre C&T é fundamental para o exercício da cidadania, pois o estabelecimento de uma democracia participativa, na qual grande parte da população tenha condições de influenciar, com conhecimento, em decisões e ações políticas ligadas à C&T. Por isso, o jornalismo científico requer, no mínimo, além de bom conhecimento de técnicas de redação, familiaridade com os procedimentos da pesquisa científica e tecnológica, atualização constante sobre os

avanços da ciência e contato permanente com as fontes – a chamada comunidade científica (OLIVEIRA, 2002).

Krieghbaum (1970) já apontava que a informação científica que o público recebe, deve dar condições para que ele participe significativamente de questões que envolvem decisões públicas e que são parte do processo democrático. Além disso, para que as notícias sobre ciência feitas pelos meios de comunicação sejam lidas, é fundamental fazer com que elas sejam compreensíveis e inteligíveis para o público leigo que o escritor está tentando alcançar. Aguiar (2012) parte do mesmo pressuposto que defende que é essencial divulgar C&T para a formação crítica da opinião pública que pode se transformar em parceira, defensora das atividades científicas.

No caso específico da divulgação científica, jornalistas e cientistas precisam usar o poder que têm para compartilhar o saber com a sociedade em geral. Não podem deixar que diferenças de cultura interfiram neste processo. Pelo contrário, devem utilizar as diferenças, exatamente, para garantirem a distribuição do saber, do conhecimento, em benefício público, para que a sociedade possa participar ativamente dos processos decisórios sobre assuntos que interferem diretamente no cotidiano (CALDAS, 2010, p. 40).

Por essa razão, Monteiro (2006) lembra que a construção do “cenário” da divulgação/comunicação da ciência implica avaliar e fundamentar alguns pontos em relação aos três dos principais atores sociais envolvidos nessa tarefa de fazer a ciência e tecnologia “conversarem” com a sociedade: a imprensa, o público e o cientista. E sendo considerada prática fundamental para o acesso da sociedade ao conhecimento científico, faz-se importante verificar os diferentes modelos de comunicação da ciência.

De acordo com Rothberg e Resende (2013), a literatura especializada sugere a existência de ao menos quatro modelos de comunicação pública de C&T, sendo dois deles denominados “modelo de déficit cognitivo” e “modelo contextual”, considerados unidirecionais porque pressupõem a comunicação como via de mão única, na qual o papel do receptor como ator do processo político não é devidamente considerado.

Enquanto a comunicação realizada sob o modelo de déficit cognitivo não busca conhecer as respostas do público, o modelo contextual prevê a construção das mensagens de acordo com as realidades particulares dos públicos-alvo, mas ainda apreciadas de maneira superficial e intuitiva (ROTHBERG E RESENDE, 2013, p. 62).

Os dois modelos consideram a comunicação como um processo linear que começa num emissor, utilizando os diferentes meios para transmitir uma mensagem a um receptor. Partindo desse pressuposto, é possível perceber que, no âmbito das informações sobre ciência, sempre

houve predomínio destes modelos que “alfabetizam cientificamente” o público por meio de informações fornecidas pelos cientistas.

Entretanto, mais recentemente, o advento das tecnologias digitais tem modificado essa prática da comunicação, com uma informação mais democrática e participativa, haja vista a divulgação da ciência através de blogs e páginas nas redes sociais. Essa premissa molda as outras duas concepções de comunicação de C&T, denominadas “modelo de experiência leiga” e “modelo de participação pública”, que tendem a considerar o público como sujeito político, capaz de participar das esferas de decisão sobre os rumos da produção científica e tecnológica.

O modelo de experiência leiga supõe que o conhecimento obtido pelo público, adquirido por meio de suas vivências, pode ser importante para a formulação da decisão política. Já o modelo de participação pública posiciona a informação como meio de emancipação e aprofundamento da cidadania, instrumento necessário para dar condições à participação na discussão de prioridades da produção de C&T (ROTHBERG E RESENDE, 2013, p. 62).

No processo de crescimento da divulgação da ciência, há de se ressaltar também a contribuição das ideias de Merton, que, na década de 70, já defendia a importância e a necessidade da ciência em tornar público o conhecimento, pois para fazer a ciência avançar, não basta conceber ideias frutíferas, elaborar novos experimentos, formular novos problemas ou estabelecer novos métodos, as invenções devem ser efetivamente comunicadas a outros. Afinal de contas, isto é o que entendemos por contribuição à ciência: é algo que se dá ao fundo comum do conhecimento (MERTON, 1977).

Sob a perspectiva da comunicação entre ciência e sociedade, Monteiro (2006, p. 4) enfatiza que o papel e o poder da imprensa tornaram-se consideravelmente maiores na era contemporânea, contribuindo para modificar a relação entre a ciência e o público. “Ela passou a desempenhar um papel dominante tanto na formação como na reformulação da imagem pública da ciência”. Mas a autora afirma que o desejado “modelo do diálogo”, com cientistas que se dispõem a compreender melhor o público e ampliar sua disposição para o diálogo, ainda não é abrangente.