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CAPÍTULO II – O PEC-G COMO PROGRAMA

1. Programa Estudante Convênio de Graduação (PEC-G)

1.2. Processo de seleção

1.2.1. Divulgação

O processo de divulgação se inicia com um comunicado oficial do Itamaraty para as embaixadas brasileiras nos países, informando o calendário do processo seletivo do PEC-G e solicitando a sua divulgação. Tal ocorrerá e dependerá, em grande medida, do potencial interesse e condições operacionais da Embaixada brasileira em divulgar as informações amplamente, em diferentes veículos de comunicação social, ou apenas com ofícios às instituições e informativos, nos seus murais, sobre a abertura do processo de inscrição .

“Em abril nós mandamos o que chamamos de uma circular telegráfica, em que instrui os postos, (embaixadas). Ela (a seleção) é aberta a qualquer um que bater lá na porta da embaixada, e disser eu quero participar.”

Questionada sobre o acesso às informações e a necessidade de se chegar à Embaixada para conhecer o programa, a gestora no Itamaraty responde que qualquer pessoa pode alcançar os dados, principalmente por causa da Internet. Para todos os efeitos, as informações sobre os cursos, as vagas, os documentos e os procedimentos a serem cumpridos estão na internet. Para o gestor do MEC, a página do Itamaraty está muito organizada e contém todas as informações necessárias.

Cabe destacar, no entanto, que as informações sobre o PEC-G não estão centralizadas em um único portal. As duas instituições – DCE/MRE e SESu/MEC - coordenadoras mantém diferentes páginas virtuais24 com aspectos e linguagem diferenciadas. Ainda que as informações estejam nas páginas virtuais, a escolha do país de destino muitas vezes passa apenas pelo imaginário que os jovens tem (Andrade e Teixeira, 2009: 35). A desinformação é fato observado em diversos estudos realizados sobre a

24

Página do MEC é http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=530id=12276option=com_contentvimost e a página do MRE é http://www.dce.mre.gov.br/PEC/PECG.php

situação dos estudantes-convênio no Brasil (Subuhana, 2009; Andrade e Teixeira, 2009; Mungoi, 2006). Como o formato e a proposta de divulgação está focada na Internet, a questão que se coloca é o acesso à Internet – o que torna as possibilidades de acessos dos estudantes bastante desigual.

Segundo os dados do Index Mundi, em 2009, Angola possuía 100 mil usuários de internet25, em uma população de 19.618.43226, enquanto que Guiné Bissau possuía 37 mil

usuários27, em uma população de 1.547.06128. Ou seja, no caso de Angola, pouco mais de

0,5 % possuem acesso a internet, enquanto que na Guiné-Bissau, são aproximadamente 2,3% da população com algum acesso internet.

Para a gestora do Programa no MRE, o problema é que por mais informações que se

disponibiliza, os candidatos não acessam ou não leem,. O gestor do PEC-G no MEC complementa com a importância da ferramenta: “Mas internet é o mínimo. O candidato vai de um continente para o outro, o mínimo que ele tem que ver é pra onde ele vai”. No entanto, o fato do PEC-G, não contar com quase nenhuma parceria com os governos locais, mas apenas com a embaixada brasileira e com a internet para divulgar suas informações, inevitavelmente reduz o acesso ao programa - o que pode talvez explicar o baixo preenchimento de suas vagas.

A divulgação de informações sobre os cursos também é feita pelo site do MRE e do MEC no item Descrição sugestiva de alguns cursos oferecidos no PEC29. Para a gestora do PEC-G no MRE, as explicações sobre os cursos foram uma tentativa de estimular o interesse em outros cursos, para além dos mais concorridos - como medicina, jornalismo, direito, etc. Na página do MRE, no item Inscrições, pode-se encontrar orientação que “é importante que ele procure se informar acerca das Instituições de Ensino Superior participantes no Brasil e dos cursos oferecidos” 30

. Esta frase vem com a sinalização dos links para acesso as informações aos cursos e as IES.

Nota-se que a divulgação tem uma importância central no processo de seleção e está ligada diretamente com o momento da escolha pela profissão pelo estudante. Na entrevista com os gestores do MEC e MRE, diversas vezes foi referida a situação de mudança de curso, e que a informação é fundamental para evitar que “Às vezes tem alguém que vem querendo fazer um curso de Letras e dai percebe não, quero fazer psicologia…” ou 25 Disponível em : http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=118&c=ao&l=pt 26 Disponível em http://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.TOTL 27

Disponível em: http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=118&c=pu&l=pt 28

Disponível em http://data.worldbank.org/indicator/SP.POP.TOTL 29

Disponível em http://www.dce.mre.gov.br/PEC/G/cursos.html

“Ah, eu pedi administração, mas quem fez isso mesmo não fui eu, foi meu pai”… Alguns autores, como Subuhana (2007), destacam que a falta de informações sobre os cursos, e uma orientação sobre incide diretamente na escolha da carreira profissional. Os dados do autor apontam que muitas vezes os estudantes escolhem realizar um curso superior no Brasil sem ter ideia do que ele seja (Andrade e Teixeira, 2009: 36). A pesquisa feira por Andrade e Teixeira com uma amostra de 29 estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul concluiu que “44,8% dos alunos não estavam matriculados em sua primeira opção de curso superior” (Andrade e Teixeira, 2009: 36).

Dada a importância do conhecimento sobre o curso de graduação que se pretende fazer e, as implicações decorrentes da profissão, são importantes para a escolha do curso. Por isso, parece ser é central que os candidatos tenham acesso a estas informações. Portanto, tendo em vista as dificuldades de acesso à internet, presume-se importante uma maior atenção neste aspecto da divulgação para além do site, como por exemplo, nas escolas e nas feiras educacionais.

A dirigente e a gestora do PEC-G remetem à existência das feiras educacionais. Muitas das embaixadas solicitam materiais de divulgação para apresentar em exposições nas quais participam universidades, fundações e instituições de apoio a formação superior de estudantes. Segundo o material de orientação para a Comissão de Seleção, as embaixadas brasileiras organizaram ou organizaram feiras, como por exemplo, a XI Feira Internacional de Becas na Guatemala ou o III Workshop de Investigação Científica de São Tomé e Príncipe, realizado em colaboração com os ex-alunos do PEC-G e com o Ministério de Educação de São Tomé e Príncipe. A dirigente do MEC destaca que a divulgação é feita também em reuniões com as embaixadas dos países no Brasil.

Um dos entrevistados, o estudante da Guiné Bissau Paulo teve uma experiência decepcionante em relação à escolha do curso. Ele queria cursar Medicina mas como,. Segundo ele, não havia vaga para este curso, e o funcionário da embaixada sugeriu Enfermagem ou outros cursos da área de saúde. O jovem então solicitou inscrição para Enfermagem e Fisioterapia, mas disse que o funcionário da embaixada errou ao preencher, e o indicou para Ciências da Computação e Informática. Paulo se deu conta do erro ao ver que tinha sido selecionado para Ciências da Computação e recebeu o reconhecimento do erro por parte do funcionário da embaixada. A solução proposta foi vir ao Brasil cursar ciências da computação, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e com o plano de trocar de curso no segundo semestre. No entanto, isso não foi possível, já que não poderia, por força do protocolo, trocar de curso em áreas diferentes, ciências da computação para enfermagem. O estudante passou dois anos tentando trocar de curso, inicialmente ainda em

Santa Maria, mas queria trocar de cidade por não se adaptar ao clima da cidade, e hoje cursa arquitetura e urbanismo na UnB.