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CAPÍTULO II – O PEC-G COMO PROGRAMA

1. Programa Estudante Convênio de Graduação (PEC-G)

1.2. Processo de seleção

1.2.2. Inscrição, documentação e Celpe-Bras

A inscrição para o PEC-G, segundo a página da DCE/MRE, é feita na Embaixada ou consulado do Brasil. No momento da inscrição, o candidato poderá indicar duas opções de curso e duas cidades onde morar. Apesar da orientação dada pela página do MRE de que o candidato deverá se informar mais sobre as IES, ele não escolhe a IES na qual quer estudar. O estudante saberá para qual universidade foi selecionado apenas após o exame de todas as candidaturas, feita pela Comissão de Seleção.

A inscrição na Embaixada brasileira e consiste no preenchimento de um Formulário31, que solicita informações gerais sobre o candidato, e deve ser feita na presença de um funcionário. Com isso, o Itamaraty espera evitar o que eventualmente acontece: a inscrição feita por outra pessoa que não seja o próprio candidato. Há relatos sobre isso: a gestora do Programa no MRE conta que houve um ano em que a assinatura não era do estudante, tendo sido escrita em letra de forma, por outra pessoa. Além do formulário de inscrição, a ser preenchido pelo funcionário da embaixada com o candidato, este deve entregar uma série de documentos.

O primeiro deles é o histórico escolar e o certificado de conclusão do ensino médio. Em relação a este ponto, é importante considerar se há algum tipo de equivalência ou acreditação do ensino médio. A gestora do Itamaraty esclarece que não há equivalência do ensino médio, e que a documentação apresentada pelo candidato é aceita. A conversão de notas é feita apenas no caso destas não serem decimais. Este é um trabalho feito pelo professor, que faz o cálculo da média do aluno durante a Comissão de Seleção.

Ou seja, os documentos que comprovam a realização do ensino médio ou equivalente são aceitos pela embaixada e pela coordenação do Programa. O cálculo para se chegar a uma nota de zero a dez é feito pelos professores participantes da Comissão de Seleção. Há, no entanto, problemas com a falsificação de documentos, o que levanta a questão sobre os procedimentos usados nos casos de falsificação, e se há uma comprovação sobre a veracidade das informações, inclusive na existência da escola de ensino médio. A gestora esclarece que se a embaixada suspeita de falsificação dos documentos, recorre ao Ministério da Educação e que, em muitos casos, os documentos

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chegam com carimbos e chancelas do próprio Ministério da Educação, que facilita o trabalho da embaixada.

O segundo documento listado na página do PEC-G no MRE é Cópia do certificado Celpe-Bras, de proficiência em língua portuguesa. O Protocolo PEC-G se tornou obsoleto com a publicação do Decreto. Para o Protocolo, os candidatos procedentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa estariam dispensados do certificado Celpe-Bras. O Celpe-Bras é um exame aplicado no Brasil e em vários outros países. Segundo a página virtual do MEC, o “Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) é conferido aos estrangeiros com desempenho satisfatório em teste padronizado de português, desenvolvido pelo Ministério da Educação”. No contexto do PEC- G, caso o país não conte com um posto de aplicação, o candidato poderá realizar o exame no Brasil apenas uma vez. Para o dirigente do MEC,

Uma das dificuldades que tem no programa é o baixo numero de postos que aplicam o CELPE. Muitos estudantes tem que vir para o Brasil fazer o CELPE e ficam um período aqui, as vezes ficam um ano, sem ser estudante, ou seja, sem ser PEC-G, e isso é um desafio, esse período sem vinculo.” (L.R)

O decreto obriga a apresentação do Celpe-Bras para todos os países, incluindo os PALOP, em até um ano após a chegada ao Brasil. Para a dirigente do MRE esta foi uma das principais mudanças propostas pelo Decreto 7.948/2011. Ainda que os países tenham o Português como idioma oficial, em muitos casos o nível de conhecimento escrito e de fala é baixo prejudicando em muito o acompanhamento do aluno ao curso. Os estudantes guineenses entrevistados, por exemplo, manifestaram suas dificuldades com a língua. Fátima comenta sobre uma prova de português realizada na Embaixada do Brasil em Bissau. Ela também cursou durante 6 meses na embaixada um curso de português, para aprender a diferença do português da Guiné e do Brasil.

Caso o candidato não consiga o certificado no primeiro ano, este deverá voltar ao seu país de origem. Segundo o gestor do MEC, muitos candidatos que insistem em ficar, mas a coordenação do Programa não permite. Segundo ele, o candidato deve inclusive pagar sua passagem de volta, já que para vir ao Brasil fazer o Celpe-Bras ele entregou na embaixada um Termo de Responsabilidade Financeira (ANEXO 7), declarando ter condições para o financiamento de seus gastos de deslocamento e permanência no Brasil.

O número de estudantes que estão no Brasil realizando o Celpe-Bras, tendo sido aprovados, reprovados ou que permaneceram ilegalmente no país é um dado que esta pesquisa não conseguiu levantar. Mas o Decreto 7.948/2013 regulamenta a aplicação do Celpe Bras no âmbito do PEC-G ao estabelecer que as IES que ofertantes de vagas no

curso de Português para Estrangeiros, preparatório para o exame Celpe-Bras aos estudantes-convênio deverão fazê-lo mediante assinatura de Termo específico, a ser firmado com o Ministério da Educação.

Os gastos com passagens aéreas e permanência no Brasil são de inteira responsabilidade do candidato. Para garantir este requisito, o PEC-G solicita a apresentação do Termo de Responsabilidade Financeira, que em muitos casos é assinado por algum familiar ou agregado da família, ou pela instituição financiadora das bolsas de estudo. Na inscrição, o candidato também deve apresentar sua certidão de nascimento e a dos pais. Além do Termo, em alguns casos são entregues comprovantes de renda e de capacidade de manutenção do estudante. O Termo pode ser assinado pelo assinado pela mãe, pai ou qualquer adulto, podendo ser inclusive algum vizinho, explica a gestora do MRE, e conta que é muito comum ser o tio do candidato. Na inscrição o responsável declara a renda, e alguns dão inclusive o holerite, contracheque, aluguel do apartamento, e se tem outros filhos estudando no exterior.

No protocolo do PEC-G, em vigor até o início de 2013, os candidatos devem ter entre 18 e 25 anos, e ter concluído ou estar em fase de conclusão do ensino médio. O decreto diminui a idade limite para 23 anos. para as inscrições. Trata-se de uma questão importante, já que os estudantes estarão convivendo com jovens brasileiros e, segundo o gestor do MEC, por que:

“com 25 anos, eles vão chegar aqui com 26, a idade de entrada dos nossos alunos esta cada vez mais nova, 16, 17, então a gente acha que isso pode dar um certo desconforto,….e ainda falando um português com sotaque, acha que vai ficar muito em evidência…”

A inscrição no PEC-G também exige a apresentação de um atestado médico. Os estudantes-convênio estão amparados pelo Sistema Único de Saúde. Para a gestora do PEC-G no MRE, o atestado médico não serve para impedi-los de vir, mas para que a coordenação do Programa não seja surpreendida. Ela conta o caso de um rapaz que chegou ao Brasil e foi internado com tuberculose e não se tinha conhecimento da condição de saúde do estudante. Os gestores do Programa não identificam casos de falsificação de exame médico, mas sim de que o exame indicava uma boa saúde para jovens que, ao chegar ao Brasil, são direcionados ao hospital.

O exame médico também auxilia no processo de distribuição das vagas, durante a avaliação da Comissão. A gestora no MRE explica que a ideia do exame médico é poder direcioná-los para lugares de clima propício, de acordo com eventuais problemas de saúde - como no caso de uma menina que declarou ter asma controlada. A gestora conta que isso

fez com que a coordenação do Programa não a colocasse em uma cidade muito úmida. Portanto, as condições de saúde dos estudantes podem condicionar a decisão sobre a cidade onde este realizará seus estudos de graduação. De fato, o estudante Paulo relata que teve muitos problemas de adaptação no Rio Grande do Sul, antes de conseguir a transferência para a UnB. Segundo ele, não contava com qualquer roupa de frio e recebeu doações de funcionários da universidade.