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Do Envelhecimento Biológico e Psicológico ao Envelhecimento Social

Pinto (2009, citado por Fonseca, 2012), ao abordar a temática do envelhecimento biológico refere que existem duas teorias que o explicam: as teorias deterministas, nas quais o envelhecimento biológico nasce como uma consequência do sistema genético, e as teorias estocásticas que encaram o envelhecimento biológico como uma consequência

da exposição contínua a agentes agressores do meio ambiente que provocam alterações e lesões sucessivas no organismo humano.

Para McArdle, Katch e Katch (1998), o envelhecimento é a consequência da forte diminuição das trocas energéticas efetuadas no organismo. Com o aumento progressivo da idade, ocorre um declínio acentuado da regeneração da célula, gerando assim um en- velhecimento contínuo e progressivo dos tecidos corporais, ocorrendo alterações do aspe- to exterior como, por exemplo, o aparecimento de cabelos brancos, perdas de equilíbrio, diminuição da força muscular, entre outros (Sequeira,2010).

Segundo Henrard (s.d.) citado por Vaz, (2008, p.28), “o envelhecimento é um conceito de duplo sentido que engloba a senescência como expressão do desenrolar do tempo biológico, e o avanço da idade como desenrolar do tempo cronológico”. Por seu turno, a senescência é definida habitualmente como o conjunto dos processos biológicos que, na medida em que a idade avança, coloca os indivíduos mais sensíveis aos fatores suscetíveis de levar à morte. A morte pode acontecer após o declínio das capacidades de adaptação do organismo para manter as suas funções internas face às agressões exteriores tais como as doenças ou os acidentes. Os processos próprios à senescência respondem a quatro critérios largamente aceites: ser universal, progressivo, endógeno e degenerativo (Ibidem).

Já Birren e Schorrots (1996), classificam diferencialmente o processo de envelhe- cimento designando-o como primário secundário e terciário. No que concerne ao enve- lhecimento primário, os autores referem que esta primeira fase diz respeito ao conjunto de alterações intrínsecas que não são reversíveis ao longo do todo o processo de envelheci- mento. Relativamente ao envelhecimento secundário, os autores salientam que este surge com o aparecimento de patologias que estão associadas a este fenómeno enquanto o enve- lhecimento terciário está associado a uma fase terminal de declínio que antecede a morte do indivíduo.

Seguindo a teoria destes autores, existem três idades que complementam o proces- so de envelhecimento: a biológica, a social e a psicológica. Enquanto a idade biológica está relacionada com o envelhecimento dos orgãos do corpo humano e a diminuição da capacidade de autorregulação dos sistemas vitais do mesmo; a idade psicológica está in- timamente relacionada com as capacidades psicológicas do indivíduo.

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O conjunto de fenómenos psicológicos que afetam o indivíduo, mais precisamente a sua personalidade, reações emocionais, mecanismos percetivos, memória, aprendiza- gens e cognição (Fonseca, 2004), advêm de mudanças contínuas que ocorrem na vida dos idosos e que acarretam consigo algumas consequências que afetam a sua adaptação a no- vos papéis sociais, bem como, a capacidade de se (re) ajustar à estrutura do seu futuro. Segundo Zimernan (2000) as pessoas mais saudáveis, possuem melhores condições para se adaptarem às transformações que o processo de envelhecimento acarreta, uma vez que encaram “a velhice como um tempo de experiência acumulada, de maturidade, de liber- dade para assumir novas conceções e até mesmo de libertação de certas responsabilida- des” (Zimerman, 2000, p.25).

No que diz respeito ao envelhecimento social, este está intrinsecamente ligado a modificações significativas relativamente à participação ativa (ou não) do idoso na socie- dade. Nesta etapa da vida, os idosos são fortemente afetados por mudanças que ocorrem a diversos níveis. Para além de serem afetados ao nível dos vários papéis sociais que de- sempenham na sociedade, são afetados principalmente a nível laboral, familiar e ocupaci- onal, uma vez que nesta população subsiste, cada vez mais, uma disposição crescente para diminuir as suas capacidades sociais à medida que envelhece (Sequeira, 2010). O facto de alguns idosos se depararem com o afastamento de amigos e pessoas do seu seio familiar aumenta a necessidade de os mesmos reajustarem as suas redes de apoio infor- mal com vista a manter a sua independência, afirmação, participação e identidade na so- ciedade (Paúl, 2005).

O momento de desvinculação ao mundo laboral (reforma) por si só, desvaloriza e muitas vezes, diminui a importância do idoso na sociedade, sendo este visto por muitos como um ser inútil e problemático (Spar & La Rue, 2005). Pressupõe-se assim que o en- volvimento dos idosos em papéis sociais é um fator determinante para que o processo de envelhecimento seja bem-sucedido. Seguindo os ideais defendidos pela Organização Mundial de Saúde (2005) a participação do idoso na sociedade é um fator determinante para o seu bem-estar. Deste modo, torna-se crucial integrar o idoso na família, aproximá- lo da comunidade, reforçar os laços sociais existentes, pois desta forma estaremos a con- trariar a ideia que existe de relacionar a velhice com o isolamento e abandono (Araújo & Melo, 2011).

A perda de autoestima, resultante da crise de identidade provocada pela falta de participação e afirmação na sociedade; a entrada na reforma que exige por parte do indi-

víduo a capacidade de se reajustar e planear um novo trajeto/rumo de vida de forma a evitar o isolamento; a alteração de papéis no seio familiar, laboral e social, são alguns dos fatores que afetam direta ou indiretamente o seu relacionamento com outras pessoas (Zi- merman, 2000; Teixeira, 2004).

Denota-se que o envelhecimento social acarreta a modificação no status dos mais idosos, o que faz com que a necessidade de se criar novos relacionamentos, de aprender a viver novos estilos de vida com o objetivo de minimizar as perdas, seja extremamente importante (Ibidem).

Embora haja uma conotação negativa associada ao processo de envelhecimento, Simões (2006) refere que este não significa necessariamente doença, fragilidade, depen- dência ou até mesmo depressão. Pode e deve ser encarado, como um processo universal e intrínseco, que transforma e promove sucessivas aprendizagens. Acrescenta ainda, que embora não seja um processo determinado por fatores ambientais, é extremamente influ- enciado pelos mesmos.

Deste modo, podemos definir o envelhecimento como uma “(...) perda gradual das funções orgânicas, os handicaps, a mutilação, a separação, o sofrimento, o confronto com o desconhecido e a morte” (Berger, in Berger & Mailloux-Poirier, 1995, p.165).