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Capítulo II. Institucionalização

2.3 Processo de Adaptação

Quando se fala de um processo de institucionalização, importa mencionar e desta- car um conjunto de fatores que são essenciais para o seu sucesso, nomeadamente as cara- terísticas pessoais, o plano de acolhimento inicial, o clima social, bem como todas as ca- raterísticas da instituição e dos seus colaboradores (ISS, 2005).

Como já mencionamos anteriormente, a entrada num lar está associada a grandes mudanças que afetam também o plano das relações interpessoais exigindo dos “idosos um esforço de adaptação para a sua reconfiguração identitária e bem-estar social” (Vieira, 2014, p.118), uma vez que este processo, por vezes, está associado a representações nega- tivas o que dificulta a aceitação plena dos idosos.

Pimentel (2001) reforça esta ideia ao salientar que a mudança para um lugar novo, e muitas das vezes, estranho, representa, para muitos o abandono, a morte, a separação, o sofrimento e a sua degradação enquanto ser humano. Por esse motivo, a entrada em lar só deve acontecer se o idoso demonstrar interesse e vontade para tal, o que não acontece na realidade como sabemos, pois, essa decisão é muitas vezes feita sob pressão e por vezes com ameaça por parte dos familiares.

A fase de acolhimento, sendo uma das fases mais importantes para a integração do idoso, pressupõe a existência de um conjunto de recursos humanos para fazer todo o a- companhamento e acolhimento nas mais diversas vertentes, desde a adaptação aos servi- ços, às relações interpessoais. Para isso torna-se necessário que haja trabalho de equipa que realize um estudo prévio da história de vida, da personalidade, das relações sociais e familiares, dos interesses, gostos, cultura e hábitos, angústias e dificuldades, de forma a conhecer e compreender melhor as atitudes e comportamentos do idoso. Somente assim, este se sentirá mais tranquilo e seguro.

Este trabalho, na perspetiva de Pimentel (2001) é muito importante, pois muitos equipamentos sociais não valorizam os desejos e motivações dos idosos, cingindo-se a satisfazer as suas necessidades fisiológicas, esquecendo-se das necessidades sociais, afe- tivas e sexuais, ou seja, esquecem-se de encorajar a autonomia, a independência (Cardão, 2009).

Segundo Fernandes (2010) os fatores que contribuem para que o processo de insti- tucionalização seja negativo, e que contribui para a falta de interesse e baixa autoestima, passa essencialmente pela ausência de privacidade, pelo tratamento massificado e iguali- tário, pela perda de responsabilidades das decisões pessoais, pela desvinculação do nú- cleo familiar, que em muitos casos é total, e pela ausência de estímulos e atividades que desenvolvam a parte inteletual e física. Este conjunto de fatores contribui para um au- mento da desintegração social, acabando muitas vezes, por aumentar a dependência ex- cessiva dos cuidadores na realização e manutenção de atividades e tarefas diárias. Assim pressupõe-se que a instituição deve centrar a sua atuação ou intervenção no idoso, visto que este é o principal agente de todo este processo.

No que concerne à equipa de trabalho esta deve possuir, para além de um conjunto de competências técnicas, uma postura correta, uma capacidade para interagir numa rela- ção que se baseie essencialmente no respeito pelas diferenças dos sujeitos.

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Esta atitude de cuidado, de prestação, de disponibilidade, acessibilidade, abertura ao outro, implica que o profissional desenvolva a capacidade de empatia com os utentes, favorecendo todo o seu trabalho enquanto agente social e promotor de mudança.

Deste modo, deve ser feita uma avaliação do idoso (aspetos emocionais, físicos, comportamentais, cognitivos, formativos, etc) para que se elabore um projeto/plano de vida que potencie e trabalhe todas as suas capacidades, potencialidade e até mesmo ligei- ras dificuldades. Para tal, a instituição deve estar dotada de recursos humanos e materiais, para que se exerçam diversas atividades que ajudam a construir ou a melhorar o projeto de vida ativa já iniciada (Fernandes, 2010). Para além da importância dos planos indivi- duais, não poderíamos deixar de frisar a importância de envolvermos os idosos nas ativi- dades realizadas dentro e fora da instituição, independentemente das suas limitações físi- cas.

Sousa (2006) ao debruçar-se sobre esta temática, concluiu que o idoso só se senti- rá totalmente integrado e adaptado se as razões que o levaram à institucionalização forem pessoais, ou seja, se o indivíduo concordar livremente com o internamento ou se estiver num estado passivo de demência que facilitará a decisão. Outro fator está relacionado com a opinião que o sujeito tem do lar, ou seja, como o define, se o lar é um bom lugar para residir, se corresponde ou não às suas expetativas, etc. Por fim, outra das razões que podem levar o idoso a sentir-se integrado diz respeito aos princípios e valores que regem a instituição como, por exemplo, a dignidade, autonomia, privacidade, independência, identidade, entre outros aspetos.

Uma vez que cada idoso tem as suas próprias defesas e mecanismos, é importante que a equipa multidisciplinar se preocupe em saber se o utente está ou não satisfeito com os serviços prestados. Caso não se sinta satisfeito, deve haver a capacidade de adaptar e criar mecanismos que lhe proporcionem o bem-estar pretendido.

Sabendo que os lares de idosos existem com a finalidade de dar resposta às neces- sidades diagnosticadas, elevar o empowerment do indivíduo de maneira a que este fique capacitado para desempenhar as suas atividades, torna-se um objetivo primordial para estas entidades sociais atingir esses objetivos.

No que diz respeito às atividades socioeducativas estas são cada vez mais impor- tantes neste meio social. O sentido de responsabilidade em participar nas atividades soci-

oeducativas, promove não só o seu bem-estar social, físico e psicológico, como facilita a sua adaptação ao meio. Segundo Moss e Lemke (1994), todas as atividades deveriam ser planeadas com os idosos, de forma a que sua autoestima, valorização pessoal e gostos fossem respeitados.