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1.4 Literatura relevante

1.4.1 Do papel para o digital

Na história da humanidade o registo da informação utilizou diferentes suportes, desde as tabuinhas de argila, ao papiro, pergaminho, papel e suportes digitais. Darnton considera que a informação e a consequente história do livro tiveram basicamente quatro estágios evolutivos que culminam na sua disseminação tecnológica dos dias atuais:

a) A aprendizagem da escrita pelos humanos por volta de 4000 a.C. sendo considerado o avanço tecnológico mais importante da humanidade.

b) A substituição do pergaminho pelo códice – assim denominado o formato dos livros com páginas que são viradas, diferentemente dos rolos de papiro que precisavam ser desenrolados para a leitura. Isto se deu por volta do século III.

c) A invenção da imprensa em 1450 por Gutenberg, a qual permitiu o acesso mais amplo ao livro por uma quantidade maior de leitores, aliado ao aumento nos processos e meios educacionais de alfabetização e acesso à palavra impressa.

d) A quarta e grande mudança, a comunicação eletrônica, cujo marco mais expressivo é a internet criada em 1974 (Darnton (2010) apud Nunes e Araújo, 2011, p. 355).

Podemos entender o papel como pertencente a um passado tecnológico e em contraste a tecnologia digital como sua opositora, diremos aniquiladora? Parece-nos que, uma resposta prudente não permite assumir o sim como definitivo. A realidade demonstra que a produção digital não anula a utilização das fontes em papel em muitas circunstâncias.

Embora no que ao livro (impresso) diz respeito, há quem advogue que não terá vida longa. O conceituado historiador Lucien Febvre no prefácio da obra O aparecimento do

livro de Henry-Jean Martin que considera o seu aparecimento em meados do século XV,

como um instrumento fundamental na construção das civilizações modernas, entrevê o seu desaparecimento não muito longínquo. «Na metade do século XX, não temos certeza

de que [o livro] possa ainda por muito tempo continuar a desempenhar seu papel, ameaçado como está por tantas invenções baseadas em princípios totalmente diferentes» (Martin e Febvre, 1992, p. 14).

No caso concreto das obras digitalizadas, podemos afirmar que, embora reportando uma imagem do conteúdo original, não têm as mesmas características. Primam pela novidade resultante da inovação tecnológica e de fato cumprem a mesma função primordial que é permitir a leitura, mas são diferentes, inclusive, pelos públicos que atingem. Acrescentamos, ainda, que os documentos digitalizados são «transformados» em suporte papel em diversas situações. São elucidativas as conclusões do inquérito sob a forma de questionário de Lopes (2010), que teve como objetivo aferir sobre o uso do papel e das novas tecnologias. O questionário composto por dez questões foi aplicado a um grupo de alunos portugueses do ensino superior da área de Ciências da Informação. A sua análise permitiu concluir que: «o papel continua a usar-se para a produção de registos de informação e para, depois do processamento intermédio (que pode ser feito com auxílio de novas tecnologias digitais), se guardar a mesma informação impressa em papel (que pode também ser guardada em suporte digital)» (Lopes, 2010, p. 44). Se há cada vez mais a consciência de que se deve evitar o uso do papel por uma questão ecológica, nomeadamente nas impressões, há situações em que o papel é indispensável:

«sem dúvida que se usa cada vez mais tecnologia digital no domínio da gestão da

informação, mas o papel continua a ter o seu lugar muito peculiar nesse ambiente de que é parte importante» (Lopes, 2010, p. 44).

Estamos, portanto, numa fase em que as tecnologias podem e devem em algumas situações substituir o papel, mas este, continua a ser necessário e até imprescindível, noutras. Em alguns momentos faz papel auxiliar, noutros, papel principal.

No que respeita à digitalização de obras, não se pretende que substitua o original em papel. A transferência de suportes (do papel para o digital) altera o “estatuto” do original dado que a disponibilização do respetivo conteúdo virtualmente, remete-o para uma situação nova, ou seja, a partir da digitalização o acesso ao original terá de obedecer a critérios novos com vista à preservação a que está doravante sujeito:

O material impresso presente no setor, estaria, a partir da digitalização, totalmente voltado para a preservação, tornando-se necessária uma política de restrição de acesso aos livros, exigindo justificativas para o contato com o original, uma vez que o conteúdo estaria disponível on-line. A ampliação da política de preservação e conservação do acervo garante, também, que o material seja uma fonte de validação das informações dispostas em meio digital (Greenhalgh, 2011, p. 162).

A digitalização não pode significar a eliminação do original: «A digitalização deve ser vista como forma de preservação do material e não como meio de descarte dos originais» (Greenhalgh, 2011, p. 161).

Referindo-se a bibliotecas académicas e aos suportes utilizados pelos respetivos utilizadores, Garcez e Rados afirmam a importância das bibliotecas se focarem nas necessidades informacionais dos vários tipos de utilizadores:

Os off campus, os remotos e os presenciais, uma vez que os mesmos têm necessidade do contato com as bibliotecas convencionais e seus recursos para facilitar e concretizar suas pesquisas locais, porque o meio impresso ainda é muito mais abrangente, mais rico e mais seguro em relação ao meio digital, em contrapartida o meio digital possibilita o acesso mais rápido e menor custo na posse da informação (2002, p. 44).

No que respeita aos serviços de informação sobressai uma interação entre o papel e as novas tecnologias, pois haverá utilizadores para os diferentes suportes, sendo o papel das bibliotecas «identificar pequenos grupos de usuários e oferecer serviços mais especializados de valor agregado, com grande flexibilidade e criatividade em sua realização e forma, por meio do diagnóstico do que o usuário deseja, realizado de uma forma continuada» (Garcez e Rados, 2002, p. 46).